Zé Dirceu é um gênio do mal bem trapalhão. Seu saco de
maldades ainda não está vazio. Esperemos para ver de que ele ainda será capaz
de aprontar até à morte. Deve viver ainda uns quarenta anos, pois, como diz a
sábia gente do interior, erva ruim geada não mata...
Confesso que já tive alguma simpatia por ele. Sua imagem se
misturou por uns tempos à imagem dos operários do ABC Paulista. Sua transformação
em gênio do mal foi rápida. Parece que o gênio do mal estava à espera de seu
líder abocanhar o poder para germinar com a força da boa semente. Minha
simpatia por ele esvaiu-se junto com aqueles dossiês que ele inventava sobre
alguém que ele queria botar pra fora do governo, no início do primeiro mandato
de Lula. Eram feitos, esses dossiês, com grande crueldade e revelavam o caráter
de quem os inventava. Coisa de crápula, não existe adjetivo melhor para definir
o caráter de Zé Dirceu do que este: crápula. Quando não se tem nada para atacar
alguém, inventa-se, este é o lema.
Ainda bem que é trapalhão, erra na dose de suas maldades, e
a maldade acaba se voltando contra ele. Não fosse isso, seria insuportável o
convívio com ele. O povo unido teria de expulsá-lo do país ou apedrejá-lo.
Se fosse mais esperto não teria caído na esparrela do Mensalão.
Tem gente que rouba muito mais que ele e sai ileso. Ele não. Confiou tanto na
impunidade que se deixou abocanhar por um simples Roberto Jeferson.
Sua prisão foi meio cá meio lá. Quase que o soltam com
pedido de desculpas, como fizeram com o ladrão Paulo Roberto Costa ao ser
demitido da Petrobras. Não se deve, contudo, brincar com Zé Dirceu. Dê-lhe um
celular de bom alcance e ele pode – se já não o faz – arrumar confusões e
mamatas de porte mundial.
No período eleitoral nada de braçada rumo ao pódio. Eu
estava assessorando um político catarinense – Leonel Pavan, 2009/2010 – e as
lideranças de PSDB, DEM e PMDB haviam firmado um pacto com ele, de que seria o
candidato a governador apoiado pelo seu partido, o PSDB, em coligação com DEM e
PMDB. Roeram a corda a algumas semanas antes da convenção partidária e deixaram
o pobre Pavan a ver navios.
Zé Dirceu mandava na revista Isto É, através de uma aliança
com o dono Domingos Alzugaray. O bombardeio contra Pavan começara com uma
denúncia de que ele “mordera” cem mil reais de uma empresa fluminense para
impedir, como vice-governador, que ela tivesse seu cadastro de contribuinte
cassado em Santa Catarina, onde tinha várias operações no comércio de
combustíveis.
A denúncia tinha um dos pés quebrados, pois a empresa
“pagou” os cem mil reais a Pavan, mas mesmo assim teve seu alvará cassado. O caso
teve uma repercussão espetaculosa, bem acima do que merecia, pois o que menos importava
era condenar Leonel Pavan e sim fazê-lo desistir da candidatura. Como bom tribuno
que é, Pavan paparia fácil aquelas eleições.
No auge das repercussões sobre o caso, também inflamadas
pelo blog de Zé Dirceu, sai uma revista Isto É, com duas páginas de mentiras
contra Pavan, com um conteúdo com certeza orientado pelo chefe do Mensalão.
Não se sabe ao certo qual foi a motivação de Zé Dirceu em
entrar pesado nesse caso; há vários possíveis motivos:
1º)- Facilitar a vida da
candidatura do PT em Santa Catarina, único partido que se preparava para
enfrentar a coligação PSDB, DEM, PMDB, com Ideli Salvatti.
2º)- Nacionalizar e ampliar uma
primeira denúncia de corrupção do PSDB, que viria a ser o grande adversário do
PT nas eleições presidenciais de 2010.
3º)- Proteger seu grande
amigo, Edson Piriquito, prefeito do Balneário de Camboriú, da ascensão de
Leonel Pavan. Piriquito nasceu na política pelas mãos de Leonel, mas a partir
de 1909 a sombra do padrinho começava a ofuscar o afilhado.
4º)- Um pouco de cada uma
dessas coisas também é uma hipótese nada desprezível.
A menção à amizade entre
Dirceu e Edson Piriquito ilustra bem as benesses que o poder distribui a quem
sabe usá-lo, da maneira mais despudorada. De vez em quando, Zé passava uns dias
no mais aprazível balneário do Sul do país – Camboriú. Casa ampla, super
confortável, de frente para o mar, despensa e geladeira lotadas com o bom e o
melhor que se pode conseguir numa região litorânea, vinhos de primeiríssima
qualidade, tudo era fornecido pela prefeitura por exigência do ilustre
visitante. Moeda de troca oferecida por Zé Dirceu: agilização de processos do
interesse do município na tramitação em Brasília.
(Caricatura de Zé Dirceu feita por Aroeira)