23/12/2017

UMA SAÍDA PARA OS JORNALISTAS!

        Neste 17 de dezembro de 2017, um domingo, recebi a visita, em casa, em Vinhedo, SP, do meu amigo Raul Bastos e de sua companheira de tantos anos, Beatriz Revoredo... Matamos a saudade, conversamos, almoçamos... Fazia mais de 20 anos que não nos víamos... Foi na antevéspera do meu aniversário de 70 anos... Emoções indescritíveis!

        Pra quem não sabe, Raul Bastos é uma lenda do jornalismo brasileiro. Se houvesse uma academia dos imortais do jornalismo, deveria ser entronizado como presidente emérito e vitalício... Foi meu guru, incentivador e inspirador.

        Ao longo da vida, não cheguei a conhecer ninguém com sua argúcia, sua percepção fina da notícia, sua dedicação ao trabalho jornalístico... Raul sempre foi jornalista nas 30 horas do dia! 

         E é denso! Sempre leu muito... Na visita, presenteou-me com “História da Riqueza no Brasil”, de Jorge Caldeira... Comecei a ler... Tenho de me preparar para um mergulho profundo na história deste país que ainda insisto em amar...

        UMA REDE IMORTAL

        Foi Raul Bastos quem montou, tijolo a tijolo, passo a passo, a Rede de Sucursais e Correspondentes do jornal O Estado de São Paulo, hoje uma referência histórica de qualidade em jornalismo...

        Nomeava o jornalista e depois o orientava, acompanhava seu trabalho, incentivava voos cada vez mais altos e mais seguros... Tive o privilégio de entrar para a rede em 1973 pela Sucursal do ABC. 

        Em 1975, eu já trabalhava ao lado dele em São Paulo, no antigo prédio da Major Quedinho... Então, ele me mandou, ao lado do Chefe da Sucursal de Campinas, Roberto Godoy, e do fotógrafo Waldemar Padovani (já falecido), para fazer uma primeira reportagem sobre Itaipu... Iriam começar as obras de construção da maior hidrelétrica do mundo em Foz do Iguaçu e na zona da fronteira de Brasil, Paraguai e Argentina...

        Antes da partida, chamou-me para uma conversa: foram trinta minutos de orientação sobre o trabalho que esperava que eu fizesse... Uma orientação clara, ampla, profunda: saí em viagem compenetrado de que a região que eu iria visitar era especialíssima – fora palco da Guerra do Paraguai, território indígena dizimado, envolvida por questões geopolíticas relevantes...

        Coincidiu que um ano depois, fui enviado pelo mesmo Raul Bastos para reestruturar a Sucursal de Curitiba e lá fiquei por 16 anos, como responsável pela cobertura da construção de Itaipu, da assinatura do tratado Brasil-Paraguai, em 1971, até a inauguração de quase todas as turbinas, em 1998...

        Foi a primeira orientação de Raul Bastos que iria balizar todo o meu trabalho de mais de 15 anos em Foz do Iguaçu... Mais do que isso, aquela conversa de 30 minutos influenciaria toda minha vida de repórter e de jornalista, pois aprendi ali que uma informação é sempre muito mais do que se registra no caderno de anotações... Nunca mais enxerguei Itaipu como uma simples usina hidrelétrica e sim como uma obra estratégica, que ainda há de mudar a história da economia do Paraguai, representando uma super-arma num possível conflito Brasil/Argentina – se as comportas de Itaipu forem abertas de uma só vez quase metade do território argentino será inundada...

         DOIS LIVROS, UMA MISSÃO

        De volta ao almoço de Vinhedo, digo que dois assuntos dominaram a conversa... O primeiro, provocado por mim, é a necessidade emergente de escrevermos dois livros – o primeiro contará a história da rede de sucursais e correspondentes do jornal O Estado de São Paulo e o segundo contará a história da criação e do desenvolvimento da Agência Estado...

        A rede foi, sem dúvida, um capítulo importantíssimo da história do jornalismo brasileiro, um capítulo que precisa ser documentado em livro para que não se percam da memória nacional experiências e iniciativas de um jornalismo que pretendeu ser nacional num território imenso, servido por telex, telégrafo e uma rede de telefonia precaríssima... Só mesmo Raul Bastos para produzir qualidade em condições tão adversas...

        Foi Raul quem criou a Agência Estado... Ela nasceu em 1970 como agência de notícias e foi transformada em agência de informações por Rodrigo Mesquita a contar de 1989. Uma agência de notícias produz material informativo para mídias (reprodução) e uma agência de informações fornece notícias e dados também para mercados, para orientar operações de compra e venda de ativos financeiros, como exemplo...

         Eu participei de ambas as experiências... Fui chefe de duas sucursais (ABC e Curitiba) da rede de Raul Bastos e diretor da Agência Estado nos tempos de Rodrigo Mesquita... Talvez por isso, tenha sido escalado para coordenar o projeto de ambos os livros e já peço ajuda de todos os jornalistas que de algum modo foram envolvidos por um ou por ambos os projetos... Rodrigo Bastos, um dos filhos de Raul, já embarcou no projeto com entusiasmo...  Entramos na fase de catalogar sugestões...

        PREOCUPAÇÃO À PARTE

        Durante o almoço, com alguma apreensão e tristeza, falamos da condição de jornalistas da nossa faixa de idade – dos 60 aos 80 anos – que vivem em dificuldades causadas, de um lado pelas transformações arrasadoras dos meios de comunicação, e de outro pela miserabilidade do sistema previdenciário...

         Pessoas sábias, experientes, que já não encontram empregos minimamente decentes obrigadas a viver de uma aposentadoria ridícula e a pedir ajuda aos filhos para sobreviver com dignidade... 


         Em artigo anterior em meu blog (“Capacho Sindical”), reclamei com severidade da falta de um sindicato para liderar uma discussão mais ampla que trouxesse luz e apoio aos jornalistas nesta hora de disrupção violenta dos meios de comunicação...

        Relembre aqui: 

        "Poucas profissões - escrevi em meu Blog -  têm sofrido um impacto tão forte com as mudanças decretadas pela evolução das tecnologias de informação, quanto a do jornalista, transformado, de verdade, numa borboleta perdida na tempestade... E o Sindicato (dos jornalistas do Estado de São Paulo) poderia neste momento ser um “think-tank”, ou seja, um centro de conhecimento e um farol a iluminar os caminhos do presente e do futuro...

        Só que não!
        
        O Sindicato que já foi de Audálio Dantas, depois de submergir nas trevas e nela permanecer por muitos anos, resolve transformar-se numa espécie de capacho do PT e do Lula!

         Isto é uma vergonha, diria Bóris Casoy, aquele mesmo jornalista que em maio de 1979 impediu que a redação da Folha de São Paulo parasse em razão de uma greve que fora decretada pela primeira influência nefasta da CUT, à qual o Sindicato está até hoje filiado...”

        COOPERATIVAS, UMA SAÍDA

         Pois bem, na falta de um “think-tank”, eu mesmo proponho uma possível saída: que tal começarmos a criar “cooperativas temáticas” que possam remunerar os  jornalistas por produção? Meu amigo Elmar Bones, lá do Rio grande do Sul, poderia se envolver e nos passar detalhes de sua experiência na Coojornal, uma memorável experiência de cooperativismo entre jornalistas...

         Pelo pouco que eu entendo das novas e novíssimas mídias que surgem na esteira do desenvolvimento da internet, digo que a ideia pode dar muito certo... Meu amigo Rodrigo Mesquita, uma das cabeças mais sintonizadas com as mudanças do mercado de comunicações no Brasil, tem-nos mostrado que a informação, hoje, está nas redes sociais, canais de acesso a todas as fontes...

         Vejo que captar, selecionar, tratar (preparar para divulgação), curar (sinônimo de validar ou certificar), informações disponíveis nas redes deve representar um valor que pode ser precificado... Todas essas funções devem ser entregues a boas cooperativas temáticas, pois vão de encontro a tudo aquilo que o jornalista experiente sabe fazer.... 

         É claro que a ideia precisa ser amplamente discutida, ampliada, melhorada, aperfeiçoada, mas dou a largada na discussão indicando duas cooperativas que poderiam ser criadas já, sem mais hesitação – a Cooperativa da Agricultura Familiar e a Cooperativa de Arquitetura e Urbanismo... 

         O campo para produção de conteúdos para a primeira delas é imenso... A Agricultura Familiar vive um momento especial na medida em que tem todas as condições de acompanhar o ritmo acelerado de desenvolvimento do agronegócio... Suas carências – incorporação de novas tecnologias, barreiras da comercialização, como exemplos – podem ser atendidas a começar pela difusão de conteúdos apropriados...

          Já a cooperativa de arquitetura e urbanismo poderia centrar fogo nas questões da acessibilidade urbana e nas novas tecnologias aplicadas às cidades, do saneamento básico às edificações... Onde houver uma inovação, uma solução urbana, haverá um jornalista cooperativado pensando em compartilhá-la...

         Entenda-se que o cooperativismo pode abrir espaços também a bons ilustradores, chargistas, fotógrafos, especialistas na produção de vídeos... Antes de tudo, é preciso que se entenda que todo e qualquer espaço só poderá ser aberto por boas iniciativas empreendedoras...

         O empreendedorismo há de vencer a perplexidade e a inércia!



Um  trio que teve fortes ligações com a rede de sucursais e correspondentes do Estadão...Tanto Adhemar quanto Rodolfo já são falecidos...





Raul Bastos, Toninho, Armindo, Adhemar, Realindo e Olivier, um sexteto comprometido com a rede de sucursais e correspondentes do jornal O Estado de São Paulo...


Rodrigo Mesquita



Obras de Itaipu:






13/12/2017

CAPACHO SINDICAL!

        Escolhi o jornalismo por duas razões: queria, digamos, amplificar um pouco minha influência política e conquistar alguma segurança pra me defender da sanha da Ditadura Militar que então multiplicava seus tentáculos repressores por toda parte, sem fazer distinção de sexo, idade, credo, ideologia ou prática política....

        Vivíamos uma época de muito medo!

        Creio que acertei na escolha! Meus escritos, sempre em contínua evolução tanto na forma quanto em conteúdo, venceram em pouco tempo os limites regionais para ganhar amplitude nacional... Passei menos de três anos como repórter do Diário do Grande ABC (vi de muito perto a ascensão de Lula) e pulei, já como chefe de Sucursal, para o Estadão e Jornal da Tarde - meu primeiro ícone em jornalismo...

        A carteirinha de jornalista serviu-me de escudo muitas vezes, nenhuma delas tão decisiva quanto aquela em que eu e um amigo (Ariverson Feltrin, já falecido) fomos levados de taxi por um SS do Exército, do centro de São Paulo ao quartel da Rua Tutóia, memorável centro de tortura, onde fomos submetidos a interrogatório pesado e só liberados quando descobriram a identidade de jornalista que ambos guardávamos em meio aos documentos que já haviam confiscado... Queriam apenas saber onde o meu amigo havia conseguido a jaqueta de uso privativo do Exército que ele ostentava ao ser abordado no centro-velho de São Paulo...

        O curioso é que eu já desdenhava da importância de um sindicato para defender os interesses de profissionais cuja ferramenta chama-se “massa encefálica”, ainda que muitos não a tivessem em volume minimamente razoável... Sempre encarei o jornalismo como uma função missionária e o jornalista como um profissional liberal com discernimento para negociar com os patrões suas condições de trabalho...

        COM A MORTE DE HERZOG

        Nem pensava em me sindicalizar quando mataram no Doi-Codi – em sessões de tortura – o jornalista da TV Cultura, Wladimir Herzog... Iria descobrir o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, então transformado numa trincheira de resistência à Ditadura pelo presidente, Audálio Dantas.

        E lá estava eu no ato ecumênico em memória de Herzog, coroado pela missa celebrada por dom Evaristo Arns na Catedral da Praça da Sé; em mais alguns dias, o Doi-Codi iria matar sob tortura, outra vez em São Paulo, o operário Manoel Fiel Filho e a mobilização da sociedade paulista, a partir da reação dos jornalistas, forçou o governo do general Ernesto Geisel a substituir o comandante  do II Exército, Ednardo D’Ávila Mello... E São Paulo foi momentaneamente pacificada...

        Descobriu-se, então, que a morte de Herzog e Fiel Filho era uma tentativa, nos porões da Ditadura, de reacender a lucrativa “indústria da repressão e da tortura”, revigorada pelo combate às organizações de esquerda que em 1975 já haviam sido desmanteladas... E o jornalista e o sindicato tiveram peso específico naquela que foi uma primeira batalha para conter os excessos do regime...

        Sindicalizei-me e paguei religiosamente as mensalidades do sindicato, mesmo depois de me transferir para o Paraná onde permaneci por 16 anos... Em Curitiba, onde vivi de 1976 a 1993, tive, digamos, uma atividade sindical esdrúxula: lá, como funcionário da Sucursal do Estadão, eu seguia a orientação do Sindicato de São Paulo, mas por solidariedade participava das movimentações realizadas pelo sindicatos locais... Era como estar entre fogo cruzado e, pelo que me recordo, nenhum sindicato, nem em São Paulo e nem no Paraná, obteve algum êxito mais substancial em campanhas salariais e outras do gênero... Dono de jornal sempre foi uma pessoa muito poderosa...

         PAREI DE PAGAR

        Não me lembro em que ano deixei de pagar o Sindicato... Sei dizer que ao retornar de Curitiba, em 1993, já havia me afastado completamente da vida sindical e voltava a desdenhar da importância do sindicato na vida profissional de um jornalista.

        De 2003 a 2005 vivi os horrores da crise que, em 2009, iria tirar de circulação o jornal Gazeta Mercantil, onde fui diretor por seis anos... Em artigo recente, conto em detalhes como foi a desastrada  tentativa do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo de ajudar os funcionários da Gazeta que amargavam vários meses de total inadimplência salarial... Pode-se dizer que o Sindicato mais atrapalhou do que ajudou...

        DECEPÇÃO AINDA MAIOR

        Poucas profissões têm sofrido um impacto tão forte com as mudanças decretadas pela evolução das tecnologias de informação, quanto a do jornalista, transformado, de verdade, numa borboleta perdida na tempestade... E o Sindicato poderia neste momento ser um “think-tank”, ou seja, um centro de conhecimento e um farol a iluminar os caminhos do presente e do futuro...

        Só que não!
       
        O Sindicato que já foi de Audálio Dantas, depois de submergir nas trevas e nela permanecer por muitos anos, resolve transformar-se numa espécie de capacho do PT e do Lula!

        Isto é uma vergonha, diria Bóris Casoy, aquele mesmo jornalista que em maio de 1979 impediu que a redação da Folha de São Paulo parasse em razão de uma greve que fora decretada pela primeira influência nefasta da CUT, à qual o Sindicato está até hoje filiado...





Vladimir Herzog



04/12/2017

CHICO BUARQUE, GERALDO VANDRÉ E OS MENINOS DE CAMPINAS

        Houve uma época em que a esquerda – ela mesma, a esquerda – criticava Chico Buarque de Holanda por suas músicas “intimistas” e cheias de frases que induziam ao comodismo, ao conformismo, à inépcia...

        “O grande ato revolucionário que Chico praticou – diziam – foi colocar o povo na janela pra ver a banda passar cantando coisas de amor!”
        
        As músicas de Chico eram sempre um convite à espera, como se dissessem “ei você aí, cruze os braços, fique tranquilo que o novo dia virá ao seu encontro” e “só então você vai poder cobrar com juros tudo que lhe fizeram”.

        Reparem, por exemplo, na letra de “Apesar de Você”:

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro”

        É uma síntese de tudo o que as esquerdas deploravam em Chico Buarque... Não tenho informações, mas acho que Geraldo Vandré escreveu a sua “Pra não dizer que não falei das flores” para dar um recado a Chico Buarque: “Vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”, exatamente o oposto do que Chico pregava.

        A censura amaldiçoou, mas as esquerdas aplaudiram... E transformaram a música de Vandré numa espécie de hino das oposições à Ditadura...

        SÓ A PSICANÁLISE EXPLICA

        Não sou psicanalista, mas acho que no subconsciente do compositor e do homem Chico Buarque de Holanda ficou engavetada a ideia de um estado repressor, de um estado que impõe sacrifícios à população, e de uma sociedade que precisa cobrar com juros todo o mal que este lhe fez...

        O débito é enorme, infindável e a ordem é cobrar, cobrar e cobrar, com juros, com muitos juros...

         Se não for através da Psicanálise, não conseguiremos uma resposta minimamente razoável para a liga, tenaz, indestrutível, de Chico ao PT, a Lula, Dilma, a Cuba, a Fidel Castro...É a ideologia, opina um meu amigo e eu até admito que seja sim, mas creio que exista um fator psicanalítico que vai além das ideologias...

        A incapacidade deste país em se mobilizar; em pelo menos tentar ajudar na solução de um problema é assustadora. Diante de qualquer adversidade, a prática no Brasil é cruzar os braços e esperar que o poder público, a mãe, o pai, o avô, a avó da nação, tome as devidas providências...

        Estamos divididos entre os seguidores de Chico – muitos! – e os seguidores de Vandré – poucos! Há os que cruzam os braços e esperam; e há os que arregaçam as mangas e vão à luta!

        SEGUIDORES DE VANDRÉ AO SUL

        Vamos ver primeiro do que é capaz o seguidor de Vandré, espécie de brasileiro que não fica à espera do estado-mãe, representado pela prefeitura, pelo governo estadual, governo federal ou por uma empresa estatal... Ele tem iniciativa e começa a agir sem cruzar os braços, e, tanto quanto possível, faz as coisas acontecer...

          Em Joinville, Santa Catarina, uma das cidades de forte colonização alemã, ainda existe um corpo de bombeiros formado exclusivamente por voluntários; pessoas da comunidade que recebem treinamento e são capazes de se mobilizar, a qualquer hora do dia ou da noite, para apagar um incêndio. É trabalho vo-lun-tá-ri-o! Sem nenhuma remuneração!

          Em Maringá, no Paraná, e em São José, Santa Catarina, funciona já há algum tempo o Observatório Social, pessoas da comunidade reunidas por uma Ong para fiscalizar, via licitação pública, todos os atos da prefeitura. Em ambas as cidades, a iniciativa já conseguiu conter e denunciar o desvio de milhões de reais...

          O fato dessas iniciativas terem surgido no Sul do País não será mera coincidência. O Sul do Brasil é a região que mais age sob impacto da cultura europeia e talvez por isso as comunidades consigam afastar essa malemolência típica brasileira e que partidos como o PT ajudam a aumentar e fomentar...

          A FACE BONITA DA TRAGÉDIA

        Como repórter, eu cobri e vi de perto as enchentes devastadoras ocorridas em Santa Catarina em 1975 (Tubarão), 1982 (Blumenau) e 1985 (Brusque)...Foi simplesmente fantástico ver como as comunidades dispõem de um estoque infindável de energia e solidariedade para reagir em situações de emergência...

        Em Blumenau, como exemplo, depois da grande enchente vêm as enxurradas, inundações de menor porte que castigam os bairros após qualquer chuva mais forte pois as galerias pluviais entraram em colapso...as enxurradas se repetem e se repetem e a comunidade lava e lava tudo outra vez, lava e pinta as guias de branco, uma, duas, vinte vezes se necessário for - o que a cidade não suporta é ser surpreendida cheia de lama e outras imundícies...

         SEGUIDORES DE CHICO, EM BRASÍLIA

        Já os seguidores de Chico são muito mais numerosos e influentes... Pululam no Congresso Nacional, barram toda e qualquer reforma que tente de algum modo reduzir a dependência da sociedade ao estado-mãe...No fundo, percebem que a redução da “maternidade” estatal significa perda de poder, perda da capacidade de “ajudar” a população...

        Na atitude dos seguidores de Chico está a essência do fisiologismo, do compadrio, da corrupção, a essência da péssima qualidade da política brasileira que faz dos partidos e dos sindicatos entidades parasitárias...

        Em essência, somos um país de parasitas, um país governado por parasitas que transforma o dinheiro dos impostos num grande butim...

         EXEMPLO EM CAMPINAS

         Há uma imensidão de exemplos do que são capazes os seguidores de Chico, mas eu vou ficar com apenas um, claro, insofismável, para ilustrar a índole que faz a desgraça deste país...

        É simples e singelo: a EPTV é a TV Globo da região de Campinas. E eles têm lá um ótimo jornalismo sob comando da jovem Eliane Vieitz...

        Há dias atrás, daqui de Vinhedo, onde moro, eu vejo uma das matérias do que chamam de “acompanhamento” – a reportagem vai a um bairro, identifica um problema e cria uma espécie de agenda do assunto que ficará em aberto até a solução...

        Na primeira da série, as câmeras mostraram um terreno baldio cheio de mato; o local já fora um campo de futebol, mas o esporte foi paralisado pelo crescimento do mato...

        De um lado, via-se o terreno encoberto pelo capim, de outro, via-se um bando de 10 ou 15 adolescentes, todos aparentemente saudáveis e à espera da prefeitura pra “limpar” o terreno...

        A TV intermediou a situação e um dos secretários municipais deu entrevista se comprometendo a realizar a capinação do terreno em mais alguns dias... Na segunda reportagem, os mesmos meninos aparecem alegres, felizes jogando bola no terreno já capinado pela Prefeitura...

        “Ainda falta erguer este alambrado”, exortava o repórter da EPTV, enquanto as câmeras mostravam um alambrado de arame tombado... Vão ficar à espera da Prefeitura por mais algumas semanas, de braços cruzados, para erguer o alambrado, como talvez recomendasse Chico Buarque de Holanda, caso morasse em Campinas...

        Esse é bem o retrato do Brasil!


Chico Buarque de Holanda lança a sua A Banda no festival da Record

Geraldo Vandré canta a sua "Pra não dizer que não falei das flores"