12/12/2014

Rodrigo Mesquita, amizade que se aprofundou na cancha de bocha

        Há sempre um idiota, aqui e ali, a achar que não pode existir amizade leal e sincera, entre patrão e empregado, igual esta que passou a haver entre eu e Rodrigo Mesquita, filho de Rui Mesquita, herdeiro e acionista do Grupo Estado, onde trabalhei por mais de 20 anos. Nunca dei nenhuma bola para eles, e, quando exageram, reajo com indignação.
        Quem presenciou meu relacionamento com Rodrigo durante aqueles dez anos que, sob a liderança dele, conseguimos tirar a Agência Estado do quase ostracismo para transformá-la num símbolo de modernidade de fazer inveja a todas as demais mídias do País, sabe dizer o quanto fui profissional, sem espaço para sabujismo, puxa-saquismo, e outros “ismos”, sinônimos de submissão ou falta de caráter.
        Nossa amizade, pode-se dizer, teve três fases; começou com a preocupação com a preservação ambiental; Rodrigo e seu amigo Randau Marques, repórter especializado em meio ambiente do Jornal da Tarde, dedicavam grande parte de seu tempo à luta pela preservação da região de Iguape-Cananéia, último reduto de Mata Atlântica ainda razoavelmente preservado; nessa época, Rodrigo estava a caminho de se tornar editor-chefe do Jornal da Tarde e eu já era chefe da Sucursal do Paraná que atendia os interesses de ambos os jornais da família Mesquita – Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde.
        Rodrigo pautava a sucursal e eu colocava sempre os melhores repórteres da sucursal para atendê-lo. Seu repórter preferido era ninguém mais que o hoje famoso Laurentino Gomes. Havia uma oportuna conjunção de interesses em atender bem os pedidos de um Mesquita, em primeiro lugar porque todos os repórteres adoravam escrever para o Jornal da Tarde pela dignidade com que aproveitava  os materiais sobre assuntos de seu especial interesse. E atrás do Laurentino eu mesmo ia me enfiando até tornar-me sócio fundador da SOS Mata Atlântica.
        A segunda fase foi aquela em que trabalhamos juntos – 1988 a 1998 – na Agência Estado, ele como diretor geral e eu, começando como editor-executivo, tornei-me diretor comercial, cuidando de uma equipe de quase 200 vendedores e técnicos em informática espalhados por todo o país. Essa experiência valeu-me por dois ou três diplomas extras, fora o jornalismo: informática, marketing e gestão empresarial.
        A Agência Estado foi, antes de tudo, uma escola para mim. O trabalho, embora rico em aprendizado, era tenso nas 24 horas do dia, algo natural num empreendimento feito de pura inovação. Quando me afastei da Agência (1998), minha relação com Rodrigo estava muito desgastada, vínhamos tendo um atrito sério por dia. Comecei a sentir a hora que iríamos começar a nos desrespeitar. Apertei, para conseguir minha demissão. E ela veio.
        No último dia de trabalho, amistosamente, entreguei-lhe um bilhete em que sugeria o início da terceira fase, que perdura até os dias de hoje. Escrevi: “A partir de hoje não deveríamos mais voltar a trabalhar juntos; ficarmos apenas como parceiros de bocha”.


(Caricatura de Rodrigo Mesquita feita por Marguerita Bornstein)

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