30/07/2019

O ENCONTRO DO FEIO E BONITO NO INCÊNDIO AMAZÔNICO


Por Dirceu Pio

        Grande parte das minhas raízes está ligada à agricultura: meu pai era agricultor, meus irmãos mais velhos foram agricultores e eu nasci dentro de um cafezal florido no distrito de Macucos, município de Getulina, noroeste do Estado de São Paulo....

        Com 26 anos, já casado e jornalista, com meu primeiro filho, ainda bebê, fui-me embora de São Paulo para Curitiba com a missão de chefiar a sucursal do Paraná dos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde...

        Nos quase 20 anos que passei por lá, minhas atenções de jornalista estiveram sempre divididas à metade entre a temática rural e a urbana...

        Vi de bem perto, portanto, o lento desenvolvimento da agropecuária desde a sua fase predatória, meramente extrativista, até chegar ao perfil atual que já começa, verdadeiramente, a produzir cultura, ou seja, a descoberta da importância da qualidade e da preservação do solo e das matas para que seja possível lucrar com a atividade...

        Presenciei os primórdios do plantio direto!

        A ignorância – enfim, os agricultores descobriram – custa muito caro a todos: eu vi famílias inteiras contaminadas por agrotóxico; eu vi o surgimento de áreas desérticas em algumas regiões do Paraná; eu vi a erosão causando danos graves a comunidades inteiras.

        Eu vi de perto o desespero de inúmeras famílias com as restrições impostas por barreiras sanitárias para evitar o alastramento da aftosa ou da vaca louca...

        Eu vi também a consciência despertada a fórceps pelas barreiras sanitárias impostas pelos países importadores de nossas commodities agrícolas...

CERCA DE PINHEIROS

        E ouvi muitas histórias comoventes e dramáticas, quando daquela vez que eu e minha família – mulher e quatro filhos – de mãos dadas não conseguimos abraçar o tronco de um majestoso pinheiro araucária, preservado por mero valor estético ou histórico num parque público do município catarinense de Fraiburgo, enquanto um homem, que fizera parte da colonização do lugar, nos contava:
- Quando a gente chegou aqui nessa região havia tantos pinheiros dessa grossura pra mais que, para evitar o ataque dos caititus no roçado, a gente derrubava uma árvore dessas pra lá, outra pra cá, mais uma lá na frente, formando um quadrado que nenhum bicho do mato conseguia pular...

        Em 1979, ao lado do repórter Paulo Anfreoli, produzimos uma série de reportagens sobre corrupção no antigo IBC (Instituto Brasileiro do Café), trabalho que me valeu especialização em sabor de café... A série produziu uma CPI na Câmara de Deputados e eu tive de depor...

        Em 1982, na crise da carne, viajei de carro mais de 20 mil quilômetros pelas regiões de pecuária extensiva do Brasil e da Argentina à procura do boi gordo que havia desaparecido dos frigoríficos e dos açougues... Sou, portanto, desses raros jornalistas que sabe identificar um boi gordo e quando ele está ou não em ponto de abate...

FOGUEIRAS MONUMENTAIS

        Tempos depois, acompanhei de perto a tentativa fracassada do Banco Bamerindus (de origem paranaense) de abrir uma fazenda de pecuária na Amazônia... Assisti pela televisão aquele que foi o maior incêndio florestal até então registrado no mundo, captado por satélite, na fazenda amazônica da Volkswagen, outro fracasso...

        Vi de perto também, já pela Gazeta Mercantil, os primeiros experimentos de agricultura de precisão (maquinas agrícolas monitoradas por satélite depositam no solo enquanto sulcam a terra apenas aquela quantidade de nutriente indicada por análises) empreendidos pelo grupo Algar, no Triângulo mineiro....

        Fui também o primeiro jornalista a entrevistar o agrônomo Roberto Rodrigues (2006) tão logo se afastou do Ministério da Agricultura do governo Lula... Foi quando tomei conhecimento, em detalhes, que a pecuária extensiva que ainda ocupava 200 milhões de hectares no Brasil há 20 anos atrás, com o avanço da genética animal e a evolução das técnicas de confinamento, começava a devolver à agricultura bem mais da metade dessa área, assim aliviando severamente a pressão pelo desmatamento da Amazônia...

O FEIO E O BONITO NAS CHAMAS


        Em 2011, eu começava a escrever um romance (ainda inconcluso) para contar a saga da abertura de uma mega fazenda a norte do Pará, iniciada com um incêndio apoteótico, descrito neste trecho por um pistoleiro de nome Ataíde:

- A gente veio aqui pra ajudar o Patrão a botar fogo no mato. O que correu de onça e veado dessas matas foi uma desgraça. O Patrão é vivo. Antes de ordenar o incêndio, que demorou quatro dias para findar, ele arrastou isso e aquilo de madeira de dentro da mata, de dentro de suas terras e de fora delas, daquele eitão de solo também queimado para intenções futuras de expansão do território, o senhor entende. Esse eito de terra livre onde o senhor avista essa imundície de colonião ficou entupido de monte de tora e tora da boa. Ele separava tudo: mandava o trator acomodar peroba num canto, castanheira no outro, o tal de mogno, então, parecia praga ali dentro. No começo, ele queria construir as nossas casas todas de madeira. Chegou a implantar aquela serra elétrica que o senhor viu lá nos fundos. Depois, os homens de Sinop que mexem com madeira vieram aqui e... Devem ter oferecido uma dinheirama danada pelas toras... Por que o Patrão vendeu tudo, só ficaram pra uso da gente umas dez dúzias de troncos, talvez nem isso. Madeira dura pra lasca de cerca tem pela pastagem à fora. Não existiu fogo que acabasse com elas. Pra quem não tem compaixão com os bichinhos rasteiros, esses quatis e cotias, pacas e tatu, preguiça e tamanduá, o fogo foi bonito de se ver. O João Piancó aproveitou um tatu assado que apareceu naquele varejamento de cinzas, ali perto donde hoje ele mora. Foi uma perdição, seu Julinho. O feio e o bonito se encontraram no meio da chama que alvoroçou esse mundo de mata sem fim” .

        Está guardado... Como me acusam de não ser mais jornalista, quem sabe termino o romance, publico, ganho prêmios e vou viver de Literatura, sonho impossível de ser realizado num país em que a população perde o prazer da leitura... rsrsrs.





24/07/2019

DISTRIBUIDORES DE PENICO


Por Dirceu Pio

        Era um caminhão de carroceria alta, gradeada, sem lona para mostrar a carga: penicos, apenas e exclusivamente penicos!

        Eu acabara de visitar, a serviço da Agência Estado, o jornal da Família Collor em Maceió (AL) e ao sair do prédio, em companhia de um dos editores, topei com o caminhão estacionado ao lado do meu carro.

        Ao perceber minha cara de espanto ao observar aquela carga inusitada, o editor explicou:

        - O patrão está em campanha para o Senado e essa carga faz furor no agreste, para onde esse caminhão seguirá daqui a pouco...

        O patrão, claro, era Fernando Collor de Mello que concorria a um cargo eletivo pela primeira vez após a renúncia. Deve ter faltado penico, porque daquela vez não se elegeu!

EM BRASÍLIA

        A imagem me persegue deste então: homens engravatados chegando a Brasília para ocupar cargos na Câmara, no Senado, nos gabinetes e palácios após uma farta distribuição de penicos nos grotões nordestinos.

        Como são poderosos esses distribuidores de penico: nos últimos 30 anos, três deles ocuparam a presidência da República; nos últimos 15 anos, dois deles ocuparam a presidência do Senado e dois deles – um presidente da República e um presidente do Senado – afrontaram o STF.

        E como são corruptos! Quase todos os escândalos que abalaram a república brasileira nos últimos 40 anos, desde o famoso Escândalo da Mandioca, passando pelos Anões do Orçamento, pelo assalto à Petrobras, pela roubalheira na Odebrecht (nascida na Bahia), tem sempre um distribuidor de penico na coordenação e um punhado deles na rapinagem...

        O sujeito que escondeu dinheiro na cueca deve ter distribuído muito penico no Ceará e o sujeito que lotou um apartamento de malas de dinheiro distribuía penicos na Bahia...

GRANDE UTILIDADE

        O penico é um objeto muito útil para as famílias do Agreste que ainda não foram apresentadas a um vaso sanitário. O triste é ver que, a depender da maioria dos políticos nordestinos, nunca serão apresentadas...

        Em outra viagem ao Nordeste, no final dos 1990, então pelo jornal Gazeta Mercantil, sou informado que no sertão cearense, os políticos boicotam a abertura de poços artesianos em regiões promissoras, pois sabem que água farta é sinônimo de prosperidade e liberdade... E seca sempre foi sinônimo de miséria e submissão...

        Em outras palavras, a água e fartura são parceiras do vaso sanitário e seca e miséria, parceiras do penico... Enquanto o vaso sanitário liberta, o penico oprime e escraviza...

UM SÍMBOLO DA QUALIDADE

        Não, não podemos dizer que o penico seja um símbolo da população nordestina... O penico é sim um símbolo da qualidade da maioria dos políticos nordestinos...

        Nessa batalha campal pela reforma da Previdência, o Brasil que deseja o fim do desemprego e a retomada do desenvolvimento tropeça a todo instante nos penicos nordestinos...

        Foram eles que barraram até agora a inclusão de estados e municípios na Reforma... Eles não querem reformar nada, pois estão satisfeitos com o estado calamitoso das contas públicas e sabem que em última instância a União os socorrerá...

        E quando surge um presidente que resolve afrontá-los, protestam, ameaçam, fazem cara feia e beicinho... Têm saudade de Lula e Dilma, por certo...

        Neste instante, o distribuidor de penico que se elegeu governador da Bahia ameaça boicotar a votação do segundo turno da reforma da previdência em represália ao discurso “ofensivo” de Bolsonaro ao povo nordestino...

        Distribuir penico deve fazer mal ao caráter que nunca tiveram!



14/07/2019

VENENOS MIDIÁTICOS


Parte superior do formulário
Por Dirceu Pio

        Acusam o governo Bolsonaro de não ter um plano de vôo, mas não é verdade – ele tem sim e é consistente!

        Anda nesta quinta-feira,11-06,  na calada da noite, no Jornal da Globo, a voz potente de Arnaldo Jabor entrou no vasto coro que parece amaldiçoar o novo governo: “É um governo sem rumo, sem projeto...”

        São tendenciosos, preconceituosos, agourentos e mal informados. Se não, vejamos: deixemos de lado o super Ministério da Economia e o da Justiça e Segurança (de tão consistentes, ninguém ousa criticá-los) e prestemos atenção nos demais, por exemplo, no Itamaraty, no Agronegócio e no Meio Ambiente, os mais criticados...

        Há ação – e ação vigorosa! – em todos eles. Pode-se dizer com segurança que enquanto os cães ladram, a caravana passa...

        Em seis meses, o navio das relações internacionais que foi visto como próximo do naufrágio já foi colocado novamente no rumo certo e tem queimado etapas na conquista de patamares nunca antes sequer sonhados.

        Sim, seremos parceiros privilegiados no desenvolvimento das tecnologias de ponta de Israel; ingressaremos na OCDE com apoio dos Estados Unidos; já fechamos o almejado acordo do Mercosul com a União Europeia; fortalecemos as relações comerciais com o mundo árabe; assinamos a Carta de Paris; tomamos posição firmes contra todas as ditaduras do continente (Cuba, Venezuela, Nicarágua) e sinalizamos que não nos interessa a volta do bolivarianismo via Cristina Kurchner na Argentina... Nada mal para um “desastre iminente”, não ?

MENTIRAS DE PERNAS LONGAS

        O problema está em que o fakenews, a notícia enviesada, propositalmente retorcida, corre bem mais que a verdade.... Observem com atenção as informações que, recentemente, circularam nas mídias nacionais e internacionais sobre o desmatamento na Amazônia: “Nos seis primeiros meses deste ano (o que vale dizer, no governo Bolsonaro) o desmatamento na Amazônia aumentou 88% em relação ao mesmo período de 2018”.

        É uma manchete que carrega duplo sentido: pode significar tudo e ao mesmo tempo nada... Oitenta e oito por cento do que, cara pálida? A resposta quase nunca aparece, é propositalmente escondida ou surge numa analogia indecifrável: “A área desmatada corresponde a uma Belo Horizonte (???)" - assustar o mundo externo, eis a intenção...

        O ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles, na entrevista recente ao time da Globonews e à Jovem Pan, esclareceu muita coisa sobre o desmatamento da Amazônia e chamou atenção para duas causas importantes: abusos por Ongs na aplicação dos recursos milionários do Fundo para Preservação da Amazônia, mantido pelos governos da Noruega e da Alemanha e o abandono das famílias retiradas das unidades de conservação.

        Os governos do PT – explicou Salles - criaram diversas unidades de preservação na Amazônia e deixaram em todas elas um enorme contencioso, formado pelas famílias de ocupantes retirados das áreas e esquecidos, sem indenização ou realocação.

Indignadas, muitas dessas pessoas começaram a desmatar... ”Se quisermos conter o desmatamento temos de socorrer essa gente... é o que estamos fazendo”, disse Ricardo Salles.
       
        O município de Belo Horizonte tem pouco mais de 300 quilômetros quadrados de área territorial; estima-se que a área total desmatada na região Amazônica seja de 754.840 quilômetros quadrados, quer dizer menos de 10% da área total de floresta, estimada em 5 milhões e 500 mil quilômetros quadrados...

MA FÉ SE AMPLIA

        A má fé e a má vontade se repetem nas informações que perpassam o mundo sobre o uso de agrotóxicos pelo agronegócio. Em seis meses, o governo federal liberou mais agrotóxicos do que em todo o governo Dilma Rousseff, dizem manchetes sensacionalistas em mídias que adoram driblar a verdade.

        O assunto já foi exaustivamente explicado tanto pela ministra do Agronegócio, Tereza Cristina, como pelo ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles. Não adiantou porque o propósito não é informar, é malhar o governo.

        Nenhum agrotóxico é liberado para uso no campo sem passar por filtros de três ministérios diferentes: Meio-Ambiente, Agronegócio e Saúde (Anvisa). Nos governos de Dilma e Michel Temer – explicou Ricardo Salles – a análise de novos produtos começou a atrasar e isto é muito complicado porque o agronegócio perde o ciclo evolutivo do fabricante, na oferta de produtos cada vez menos tóxicos e mais eficazes.

        O que fez o atual governo? Ricardo Salles responde: “Ampliou a capacidade de análise da Anvisa tornando-a mais ágil. É isso que explica a liberação de um número maior de produtos este ano, um procedimento que só favorece o agronegócio e os consumidores de produtos agrícolas no Brasil e no mundo”. 

Vistas aérea da Selva Amazônica