25/02/2020

A OUTRA FACE DA ESQUERDA


Por Dirceu Pio


Não é preciso ser psicanalista para saber que toda pessoa que entra pra valer na luta armada teve, antes, de destruir seus valores éticos mais entranhados.
Em nome de uma causa, aceitam roubar, matar, sequestrar, praticar atos de terrorismo e torturar – por que não ?

Diria que a reconstrução desses valores em tempos de normalidade democrática é muito difícil, se não impossível...Os presídios brasileiros que abrigam toda sorte de lombrosianos comprovam isso, tal a enormidade de reincidência que registram diante, inclusive, do completo fracasso dos programas de ressocialização.

Só isso poderá explicar a onda avassaladora de corrupção que se constituiu na marca registrada de quase todos os governantes nos três níveis da Federação durante esses 16 anos de domínio da  esquerda, que a grosso modo pode ser chamada de quadrilhas escondidas atrás da ideologia socialista, inclusive do chamado “socialismo democrático”, do PSDB.

EXEMPLOS NÃO FALTAM

Há exemplos clamorosos dessa verdade, toda ela materializada na figura do todo poderoso ministro do governo Lula, o ex-guerrilheiro Zé Dirceu. Se existe um personagem que jogou a ética na lata do lixo, esse é o Zé. Roubou muito durante seu tempo de governo e continuou – talvez continue – roubando, desbragadamente.

As histórias de bastidores sobre o que ele aprontou - após deixar o governo - em Balneário Camboriu, Santa Catarina, são de deixar ruborizado Guido Mantega, um santo se comparado aos ex-guerrilheiros que o cercavam, entre os quais a “presidenta” que o nomeou.

Tudo isso sem contar que seu nome aparece na lista (pura indignidade) das pessoas que receberão até morrer gordas indenizações (33,7 mil todo mês, valor acima do teto constitucional) , como “reparação” econômica por terem sido “perseguidos”, punidos, demitidos ou cassados durante o regime militar.

HISTÓRICO INDECENTE

O histórico dessas indenizações, aliás, mais do que ratifica a ideia da perda irrecuperável dos valores éticos dessa gente.

Num país onde nada menos de 13,5 milhões de pessoas (2018) permaneciam em extrema pobreza,  contingente maior que toda a população de países como Bélgica e Portugal, embolsar todos os meses quantias acima de 5 mil reais é uma atitude pra lá de indecente.

Para se ter uma ideia desse escândalo, o tipo de “reparação econômica” beneficia mais de dez mil pessoas e o desembolso pra pagar essa gente somava mais de 13, 4 bilhões de reais, segundo cálculo da Agência Brasil, em 2017 . E há mais: os valores pagos em indenização a anistiados políticos são isentos do Imposto de Renda e não podem ser objeto de contribuição à Previdência Social.

Mas será que em meio a essa gente não existiu ninguém que tenha conseguido recuperar seus valores éticos ? Há sim e eu conheci um deles: o poeta e jornalista  Ferreira Gullar, que ao ser indagado, em vida, se iria pleitear a indenização que era paga a todos os ex-guerrilheiros, respondeu:

- Eu não ! Ninguém me mandou fazer o que fiz !

Ferreira Gullar: "Ninguém me mandou fazer o que fiz !"

16/02/2020

SAÚDE, MEU REI !

Por Dirceu Pio

        Ao ver aquela foto de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, deprimido, entrevado numa cadeira de rodas, me bateu um sentimento de tristeza e de profunda nostalgia. Deus – ou a Natureza, não sei – não tinham o direito de fazer isso com ele.

        Desde criança, aprendi a amar o futebol, a magia do drible, do chapéu bem dado, da cabeçada certeira, do passe preciso à mais longa distância, do gingado, da antecipação. Parece haver sempre o dedo de Deus em toda essa magia que reinava soberana na trajetória de Pelé, inigualável.

        Eu o conheci pessoalmente e houve um curto período de tempo (de 1970 a 1973) – algo que sempre me encheu de orgulho – em que ele me chamava pelo sobrenome, Pio.

        Eu chefiava a sucursal do ABC do jornal o Estado de S. Paulo e costumava entrevistar o empresário Mário Cordeiro de Menezes, dono de uma das maiores concessionárias da Chevrolet do país, a Diasa, hoje Vigorito, em Santo André, muito ligado ao Santos. O famoso Gilmar dos Santos Neves, goleraço do Santos, foi gerente de sua loja e, posteriormente, depois de abandonar o futebol, abriu também uma concessionária da GM em SP.

        Era comum o empresário reunir os jogadores do Santos em sua Loja para um churrasco e foi ali que eu me encontrei com Pelé várias vezes. Tive com ele uma conversa do tipo inesquecível: estávamos aos fundos da loja (garçons servindo deliciosos petiscos e bebidas) quando uma menina, filha de um dos amigos do empresário, aproxima-se de Pelé e pergunta:

- Qual foi o gol mais bonito de sua carreira ?

        Pelé respondeu sem hesitar:

- Foi contra o Juventus em que eu dei três chapéus nos zagueiros, um atrás do outro !

        Eu estava por perto e me atrevi a comentar:

- Não vi esse gol, mas até hoje o gol mais bonito que o vi fazer foi em Bauru, Santos contra o Noroeste. O Edu cruzou uma bola a meia altura para a área e você se enfiou no meio de três zagueiros que o marcavam, puxou a bola de calcanhar e bateu de direita sem que ela pingasse no chão!

        Pelé ouviu e comentou:

- É, eu me lembro desse gol, de fato foi muito bonito, mas não adianta citar...não havia televisão e vão pensar que eu inventei !

FOI O MAIOR DIPLOMATA DA HISTÓRIA DO BRASIL


        Ninguém fez mais que ele pela diplomacia brasileira. A maioria das histórias todos conhecem. Aproveito para contar uma, muito pouco conhecida e que é uma síntese da presença de sua imagem no imaginário de praticamente todos os povos do mundo.

        Quem me contou foi o já falecido Mário Cordeiro  de Menezes que viajava muito com o Santos pelo Brasil e pelo exterior:

- O Brasil – contou-me Mário – já ganhara três copas do mundo e o Santos de Pelé fazia uma excursão pela Europa e em Atenas, na Grécia, um famoso empresário resolveu levar os jogadores para um passeio em seu iate pelo mar Jônico... O iate estava atracado em Ítaca, uma ilha distante, para se proteger de uma tempestade... Ninguém desembarcou, mas de repente espalhou-se pela ilha, ocupada por uma população bastante primitiva (nem os gregos falavam o dialeto local), a informação de que Pelé estava dentro daquele barco. A população enlouqueceu e não houve quem a segurasse: invadiu o iate para abraçar e beijar seu ídolo!

MINHA FRUSTRAÇÃO DE ESCRITOR

        Outra vez, eu passava por Bauru- SP (2002) e ganhei um pequeno livro, escrito por um radialista, que contava as histórias do menino Pelé que vivera na cidade por vários anos, até ser levado, ainda adolescente, para o Santos. É um livro tocante, mas de linguagem rápida, objetiva demais... Botei na cabeça que um dia pediria autorização a Pelé para reescrever aquelas histórias.

        De 1973 a 2007, estive com Pelé poucas vezes e era perceptível – e compreensível – que ele já se esquecera de mim. Em 2007, estive no lançamento da sua biografia em SP. Comprei o livro e sentei-me na frente dele para o autógrafo. A velhice já pusera suas impressões digitais tanto no rosto como na memória.

        Nem cheguei a perguntar se ele se lembrava de mim... Pedi autorização para escrever o livro e descubro que ele já não era dono de si mesmo. Deu-me o nome de um assessor a quem deveria procurar e este me passou para outro e para outro... Triste perceber que o ídolo dos brasileiros não pertence a si mesmo... Pertence a contratos...

        Lembro-me que os maiores cientistas do esporte do Brasil já definiram o corpo de Pelé como uma rara perfeição atlética. Ele tem as medidas certas para a prática de qualquer tipo de esporte. Um corpo que não merece estar numa cadeira de rodas...




09/02/2020

SEBASTIÃO SALGADO, MISÉRIA INTELECTUAL

Por Dirceu Pio

        Ele é um dos fotógrafos mais premiados do planeta. Há muitos anos especializou-se em fotografar a miséria; onde há um pobre, seja na Somália, nos grotões da América Latina, lá estará ele, de máquinas, filtros e lentes em punho, captando a estética da miséria.

        Suas fotos são tão bonitas e tecnicamente perfeitas que quem as vê enxerga mesmo uma certa harmonia na miséria.

        Mas não vamos falar das fotos, até porque, ele, que viveu muitos anos às margens do Rio Doce, não fez uma só delas da tragédia de Mariana e nem de Brumadinho – omitiu-se, com certeza, para poupar uma de suas grandes patrocinadoras.

        Falemos primeiro de seus, digamos assim, “pensamentos políticos”! Agora mesmo seu nome aparece entre as mil e poucas “celebridades” - Caetano Veloso, Juninho Pernambucano, Benedita da Silva e Jean Willys, entre elas - que assinam o manifesto contra o que eles chamam de “escalada autoritária” do Governo Bolsonaro e com o objetivo de “condenar estes atos de violência e de aparelhamento burocrático e ideológico do Estado, para que não se configure em um programa eficiente e regular de censura”.

MINHA PRESIDENTA

        Sebastião Salgado é daquela espécie de “intelectual” que chamava Dilma Rousseff de “presidenta” e encarava como verdadeira e real a informação de que Lula “colocou 35 milhões de brasileiros saídos da linha de pobreza na classe média”, como declarou em recente entrevista a El País.

        Na mesma entrevista – e é aí que reside a qualidade intelectual do entrevistado – ele declarou que a Vale do Rio Doce, co-responsável pelo desastre de Mariana e única responsável pela tragédia de Brumadinho “é uma das empresas mais razoáveis do ponto de vista ambiental”.

        O manifesto que ele assina pode ser descrito como um apanhado de mentiras – ou de covardias, segundo diria Carlos Vereza, este sim um intelectual honesto – e desonestidades intelectuais, basta dizer que ele menciona o discurso de Roberto Alvim sem dizer que este foi sumariamente demitido pelo presidente Jair Bolsonaro.

        Sebastião Salgado conhece a Vale do Rio Doce mais do que todos nós, pois além de ter nascido em Minas Gerais (Aimoré) e vivido muitos anos às margens do Rio ainda tem uma Ong (“Instituto Terra”), que desde as origens nadou de braçadas nas gordas verbas da mineradora.

        Ele sabe muito bem, portanto, que ambos os desastres foram criminosos, pois as empresas – a Samarco e a Vale – foram previamente avisadas dos riscos de rompimento por geólogos da maior idoneidade e não fizeram nada para evitá-lo !

        Ele deve saber, portanto, o quanto há de falso no manifesto que assinou.


Sebastião Salgado: patrocinado pela Vale do Rio Doce