04/10/2019

Os Assassinatos do PT

        Publiquei este artigo neste blog em 18 de junho de 2016 e, ao relê-lo, ontem, 04-10, surpreendi-me em ver o quanto continua atual....só faria uma única correção: o número de testemunhas mortas no Caso Celso Daniel subiu de 08 para 10, num roteiro de mistério e impunidade assombroso....uma boa leitura para todos...

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        Ninguém me tira da cabeça que foi a cúpula do PT que planejou e executou o assassinato de dois de seus prefeitos, os mais proeminentes, que comandavam duas das prefeituras mais ricas do país – Antônio da Costa Santos (Toninho do PT), de Campinas, e Celso Daniel, de Santo André, no ABC Paulista.
        Foi no comecinho do Novo Século, quando começaram a circular também fortes boatos de que havia um terceiro nome a ser eliminado: Antônio Palocci, prefeito de Ribeirão Preto, considerada a capital do Agronegócio Brasileiro.
        Um passeio rápido por essa época nos ajudará a entender as razões dessa minha tese: Lula começava a aquecer as baterias para uma nova eleição presidencial e seu partido avaliara cuidadosamente as razões de três derrotas consecutivas, a primeira para Fernando Collor e as outras duas para Fernando Henrique Cardoso.
        Havia grande convergência interna de que o PT sofrera as três derrotas por falta de recursos.
        Parece que assisti às reuniões da cúpula do Partido que decidiram a quarta candidatura, em 2002. 
        Lula bateu o pé: “Sem dinheiro, eu não vou mais entrar... Escolham outro para a missão” (Isso chegou a ser noticiado pelos jornais).
        O Partido estava convencido de que “ou era com Lula, ou não seria com mais ninguém”. Sua única alternativa, portanto, era abarrotar seus cofres.
        Como então conseguir o dinheiro que Lula exigia? Aí entra com mão pesada Zé Dirceu, o gênio do mal.
        O PT avançava celeremente a cada eleição. Avançava sobretudo na conquista de prefeituras de cidades ricas, como Campinas (a segunda maior cidade do interior paulista) e fincara uma boa cunha na região-berço do partido, o ABC Paulista, elegendo para um segundo mandato o economista Celso Daniel. Ainda em São Paulo, conquistara a prefeitura da capital do agronegócio brasileiro, Ribeirão Preto, território dominado pelo médico Antônio Palocci.

TORPEZA ENTRA EM CENA

Zé Dirceu propôs:
        - Temos de buscar dinheiro onde há dinheiro: não vamos nos esquecer de que as três prefeituras mais ricas de São Paulo, depois da Capital, estão nas mãos do partido – Santo André, Campinas e Ribeirão Preto. Esses três prefeitos têm de criar um caixa para estas eleições que levarão o partido ao topo do poder.
        Atraente, a proposta de Zé Dirceu foi aprovada com louvor. Nascia também ali a revitalização da tese que Zé Dirceu voltaria a usar para urdir e implementar o Mensalão – os fins justificam os meios (Maquiavel direto na veia).
        Havia detalhes para acertar: as prefeituras “doadoras” precisariam de um “fiscal” permanente para garantir o fluxo do dinheiro; não há informação de quem foi mandado para Campinas e Ribeirão Preto. Para Santo André, com certeza, foi mandado o fiel escudeiro de Lula, aquele jovem oriundo do Paraná que seria o homem da mais absoluta confiança de seu gabinete, Gilberto Carvalho.
        Quando vi Gilberto Carvalho posando de assessor de gabinete do prefeito assassinado Celso Daniel (Santo André) consegui imaginar tudo o que efetivamente havia acontecido.
        Conheci Gilberto Carvalho nos anos 80 em Curitiba. Era o grevista de plantão. Tinha um discurso bem articulado, o que chamou a atenção da Executiva Nacional do PT. Recepcionava Lula nas viagens que fazia a Curitiba.
        Foi Lula que o tirou de Curitiba e o levou para São Paulo. Ficaram muito amigos.
        Para mim, já não foi surpresa quando Gilberto Carvalho é acusado de levar dinheiro em seu carro de Santo André para São Paulo. Ele nega, sem explicar o que um homem bem posicionado na hierarquia do partido fazia numa prefeitura de uma cidade com 400 mil habitantes, se tanto.

        "MATEM TODOS ELES!"

        Nos pensamentos sórdidos de Zé Dirceu começaram a brotar, eu imagino, uma futura ameaça: a possibilidade de um desses prefeitos dar com a língua nos dentes, mais tarde, quando tudo passasse. Entra em cena outro preceito fundamental de Maquiavel, autor de cabeceira de Zé Dirceu: “faça o bem aos poucos, devagarinho; já o mal, faça de uma só vez”.
        Os prefeitos “doadores” tinham, portanto, de ser eliminados. Imagino que Antônio Palocci, de Ribeirão Preto, tenha escapado do fuzilamento graças aos seus pendores intelectuais e ao seu caráter gelatinoso. Foi o primeiro a ser chamado a Brasília para compor o governo de seu amigo, Luís Ignácio Lula da Silva, iniciado em 2003.
        Toninho do PT, como era conhecido em Campinas, na época com pouco mais de um milhão de habitantes, foi assassinado a tiros por homens que o perseguiram de moto logo após ter saído, de carro, do Shopping Iguatemi, dia 14 de junho de 2001.
        A viúva de Toninho, Roseana Garcia, investigou o assassínio e reuniu fortes indícios de que a morte do marido foi crime encomendado. Pensava em revelar tudo, pessoalmente, a Lula, já empossado na Presidência da República.
        Esperava que Lula fosse visitá-la na primeira viagem presidencial a Campinas, logo no início de seu governo. Está à espera do ilustre visitante até hoje. Roseana descobre, indignada, que Lula não é de prestar qualquer solidariedade às mulheres do PT que perderam seus maridos precocemente e em condições misteriosas e estúpidas.
        Pouco mais de seis meses depois, no dia 18 de janeiro de 2002, foi também assassinado Celso Daniel, prefeito de Santo André, no ABC Paulista; Luiz Ignácio Lula da Silva foi metalúrgico e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, cidade vizinha a Santo André.
        Celso Daniel foi sequestrado por homens fortemente armados enquanto era conduzido para casa, em Santo André, no carro do mesmo “amigo” que lhe serviu de companhia no último jantar de sua vida, no refinado restaurante Rubayiat, em São Paulo. O “amigo” era Sérgio Gomes da Silva, conhecido por Sombra. 
        Dali, Celso Daniel foi levado para uma favela em Diadema e da favela para um lugar ermo da BR 116, estrada que liga São Paulo a Curitiba, onde foi executado por 11 tiros à queima roupa, segundo a perícia.
        A partir daí o caso é envolvido em mistério atrás de mistério, nenhum deles realmente desvendado. Todas as pessoas, num total de oito, que tinham algo a revelar sobre autoria, mandantes, intermediários, etc., foram mortas.
        Com certeza, uma força oculta e poderosa fez todos os esforços para que o assassinato de Celso Daniel permanecesse encoberto por uma nuvem infindável de mistérios. Não foi algo que apenas a província pretendeu esconder, embora toda província seja também perversa e ardilosa.

IMPRENSA EM DECLÍNIO

        Quem quiser hoje aproximar-se da verdade no caso Celso Daniel, tem de procurar os arquivos virtuais de blogs e sites informativos. Diria que a Internet, com seu espírito libertário, foi a mídia que mais noticiou o caso e, consequentemente, mais se aproximou da verdade.
        A verdade, a verdade mesmo, ainda está por ser desvendada.
        Eu mesmo recorri aos arquivos do Blog de Reinaldo Azevedo para conhecer, um a um, todos os crimes associados à morte do prefeito. Está tudo lá, claro, explícito, contundente.
        O escândalo que poderia ter mudado a história da República, começando por derrubar Lula da Presidência e expurgar o PT do poder, precocemente, algo muito pior que Whatergate, não teve o seu Washington Post.
        Reinaldo de Azevedo não tem a força institucional do meio impresso.
        Os envolvidos no assassinato de Celso Daniel e Toninho do PT foram altamente beneficiados pela crise que progressivamente destrói a mídia impressa como um câncer que se espalha em metástase.
        A crise já corria solta, impetuosa, no início deste Século quando teve início o reinado do PT. Os petistas se queixam com veemência da “imprensa golpista” que joga em seu caminho algumas cascas de banana.
        Imagino o que seriam capazes de dizer se ela ainda operasse com a força de outrora, quando, por exemplo, um dos grandes jornais brasileiros tinha no ABC Paulista um time qualificado para investigar, muitas vezes, à frente da polícia. Sei disso porque já chefiei também a Sucursal do ABC do Estadão.
        Há mais de 20 anos, a mídia impressa estava transformada num arremedo do que já foi, perdia toda a sua estrutura e ficou sem recursos para apuração. Alguns jornais nem arremedo conseguem ser, transformados que foram em mídias partidárias, aduladoras do poder.
        Foi o que aconteceu inclusive com o Diário do Grande ABC, onde já trabalhei no início da carreira. A crise anda tão brava que o Diário do Grande ABC é controlado hoje por um “empresário” – Ronan Maria Pinto – que já foi acusado de envolvimento no caso Celso Daniel.
        Deve ter comprado a única mídia impressa da região para defender-se de acusações como essa e também para produzir chantagens e ameaças de porte nacional.
        A sociedade brasileira ainda vai descobrir quais segredos Ronan Maria Pinto guarda para receber do amigo de Lula, José Carlos Bumlai, que esteve preso em Curitiba, metade do empréstimo fraudulento obtido junto ao Banco Schahin (6 milhões de reais).
        Esse dinheiro jamais teria sido repassado a Ronan sem ordem
expressa de Lula. Releia este artigo e conclua junto comigo: Ronan
conhece os mandantes do assassinato de Celso Daniel e Lula sabe
que ele sabe. 
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(Toninho ao lado de Roseana)