31/07/2015

O raquitismo da TV aberta (I)

Quarta-feira à noite (15/07), a TV Globo me oferece Asa de Arapiraca versus Palmeiras; como não sou palmeirense, comecei a rodar os canais para ver se descobria algo mais interessante para ver; descobri  várias coisas, a começar pela certeza de que a Globo não gosta de futebol; ela gosta muito de dinheiro, mas de futebol... Não fosse assim, como explicar que na noite de um jogo importante pela Libertadores (Internacional x Santa Fé) ela tenha optado por transmitir Arapiraca e Palmeiras ?
A segunda descoberta é que a TV aberta brasileira parece ter desistido de competir e resolvido deixar o caminho livre para a emissora-líder. Começa que a Record, onde durante algum tempo se enxergou algum punch competitivo, ganhou o direito de transmissão dos jogos de Toronto, mas os esconde, parecendo envergonhada ou arrependida de ter ganhado. Descobri que a Record estava transmitindo os jogos por mero acaso, advertido que fui pela Globo de que o direito de transmissão não lhe pertencia.
Confesso que não consigo compreender qual a  estratégia competitiva da Record, se é que ela mantém alguma que não seja aproveitar as sobras da Globo, como foi a contratação de Xuxa Meneguel. Triste momento da TV brasileira!
A líder em audiência é também líder em criatividade; volta e meia desova uma novidade, resultado de suas áreas de criação, de invenção;  é raro que ela lance mão de alguma idéia nascida lá fora, no exterior. Convenhamos, a reforma do Zorra deixou o programa bem legal!
As demais emissoras, ao contrário, só conseguem dar esmolas com a mão alheia. Enquanto a líder transmite Arapiraca, o SBT insiste no seu programa de humor para quem ri por qualquer coisa (Chaves, de origem mexicana) ou na novela Carrossel, para crianças descompensadas. E a Bandeirantes, hem?  O que dizer de uma emissora que teve de vender seu horário nobre para uma das igrejas evangélicas? Seu programa de maior sucesso (o humorístico CQC) é de origem argentina; o outro sucesso (Master Chef) nasceu no Reino Unido.
Digo tudo isso com tristeza, pois gostaria de ver a televisão brasileira mais aguerrida; seria muito bom para o Brasil, se assim fosse. Teríamos, em primeiro lugar, um jornalismo com mais qualidade e diversidade. Depois, abriríamos mais espaço para artistas e criadores de modo geral. Teríamos menos proselitismo religioso e menos noticiário policial.
Já trabalhei em televisão e sei o quanto é difícil competir fora da grande audiência; a emissora líder abocanha de 70 a 80 por cento do bolo publicitário e o resto – em alguns horários sobram migalhas – é dividido entre as pequenas emissoras, quase alternativas. Produzir uma programação de qualidade custa caríssimo.
O que eu noto, entretanto, é que as emissoras, digamos, alternativas, não chegam onde podem chegar. Falta inteligência, perspicácia, e em algumas, como no SBT, parece faltar vontade. Não sei o que será do SBT quando seu dono passar desta para uma melhor. De suas filhas, apenas uma foi iniciada no ofício do pai; é simpática, comunicativa, mas não parece ter herdado a esperteza empresarial do pai. Será presa fácil dos gaviões que certamente começarão a sobrevoar a emissora, assim que o dono do Baú bater asas.

Continuaremos a comentar o assunto – O Raquitismo da TV Aberta – num próximo texto.

27/07/2015

Mais um jornal se foi

        Um amigo deixou um exemplar do Brasil Econômico sobre minha mesa há cerca de dois meses e apenas ontem de manhã, depois de informado que o jornal foi fechado, dei uma folheada nele para tentar responder a pergunta que me faço com certa frequência: porque os jornais de economia não conseguem imitar o pioneiro Gazeta Mercantil, que parou de circular  há cerca de quatro  anos e continua até hoje inigualável ? O Brasil Econômico, editado pelo grupo português Engesa, durou seis anos, mas quem acompanhou sua trajetória sabia dizer que seria um jornal de “voo curto”, embora tenha introduzido no mercado algumas inovações de formato e paginação. Era um tabloide colorido e, digamos, bem bonitinho.
        Formato e cor – ficou comprovado – não são capazes de penetrar na alma dos leitores tanto quanto penetrou a Gazeta Mercantil, cujo desaparecimento deixou muita saudade até hoje sentida. Mesmo o Valor Econômico, resultado de uma estratégia pensada por Folha de S. Paulo e O Globo com objetivo de ocupar o espaço que estava sendo deixado pela Gazeta, já metida em profunda crise, não conseguiu até agora emular o jornal que inspirou seu lançamento.
        O Brasil Econômico se vai agora e, a não ser os profissionais que nele trabalhavam, não haverá ninguém a lamentar. Foi um jornal que não pegou.
        A Gazeta Mercantil foi, enquanto durou, um jornal necessário às corporações empresariais de todo o país. Era utilizado para monitoramento de todos os mercados. Publicava diária e infalivelmente páginas e mais páginas com os indicadores financeiros. Era insubstituível para consultas. O noticiário servia para permitir análises vigorosas do desempenho de setores, destacando negociações, fusões, incorporações, inovações importantes, tudo calçado por boa visão dos mercados regionais.
        Fui diretor regional da Gazeta durante seis anos. Trabalhava como “Publisher”, de modo que estive em contato direto com leitores e assinantes. O jornal era venerado por seu público. A crise, que eclodiu com furor no comecinho do novo século, causou consternação. Há certos produtos de sucesso que são mesmo inimitáveis.
        Certa vez, marquei uma conversa com um dos diretores do Brasil Econômico com intenção de vender a ideia de por o jornal no mercado de tempo real. Tinha uma longa e sólida experiência na difusão de informações pelo meio eletrônico e achava que a sustentação de jornais de economia e negócios dependeria da receita que poderia vir do “real time”. Saí da conversa indignado. O homem “entendia” mais de tempo real que eu.
        É a arrogância – uma praga – que mata a inovação e o desenvolvimento de muitas empresas. Uma pena!



21/07/2015

A solidão do cadeirante

        Quando bate, a solidão de um cadeirante é muito mais solidão; isto por várias razões, mas a principal delas é a imobilidade bem casada com a inacessibilidade.
        Mesmo em casa, a falta de acesso é exasperante, por maior que seja o apoio de familiares e cuidadores. É um eterno precisar das pessoas ao seu redor, muitas vezes ao dia – para ligar o computador (puseram o raio de uma tomada atrás da mesa); para fazer xixi (algumas coisas), e cocô (para quase tudo); para deitar na cama e levantar; tomar remédios (e são muitos!) na hora certa e por aí vai... Devo passar pela terceira internação no Lucy Montoro por esses dias; lá eles trabalham muito a independência  dos pacientes, espero sair de lá nesta terceira vez ainda menos dependente do cuidador, e se nada atrapalhar, posso até sair andando. Deus o permita!
        Sinto uma saudade imensa de meus amigos da Ibiraquera (uma praia encantadora de Imbituba, Santa Catarina). Passei lá mais de 20 dessas férias anuais, longas, onde construímos, uma depois da outra, três canchas de bochas, sempre atrás do bar do Zequinha, que durante muito tempo nos servia uma cachaça curtida no butiá, uma das delícias da vida.         Hoje, o bar do Zequinha transformou-se num desses restaurantes metidos a besta para veranistas e perdeu todo o charme e o encanto, não serve mais a cachaça com butiá e nem os deliciosos peixinhos fritos pescados pelo dono, exímio tarrafeiro. Ah, ia me esquecendo de dizer: os filhos do Zequinha, ex-pescadores transformados em pequenos empresários, esticaram o restaurante lá para trás até não poder mais e demoliram a cancha de bocha, transformada em algo que nunca lhes trouxe boas lembranças.
        Meus amigos da Ibiraquera (Jaime, Fermiano, Sadi, Volnei, Alcebíades, Pão-de-Milho, Mestre Artur, Zezo, Sérgio Grando, Zequinha), hoje, parecem fugir de mim como o diabo foge da cruz. Nunca nenhum deles me fez uma visita, me deu um telefonema, me escreveu uma carta ou mandou-me um e.mail. Todos sabem o que aconteceu comigo em julho de 2013. Como me disse uma vez meu filho mais velho, Eli, “amor de praia não sobe a serra”.

(Praia Ibiraquera)

15/07/2015

A corrosão do caráter

“Pensava em escrever um artigo sobre o caso Maria Júlia Coutinho – a jovem negra atacada severamente pela Internet, não se sabe se por ser negra ou por ser competente, talvez pelos dois predicados ao mesmo tempo –, quando lembrei-me que já havia escrito um texto para o Observatório da Imprensa, em março de 2013, falando da pusilanimidade, cada vez mais em voga, de atacarem pessoas pela web, escondidos atrás do anonimato. Reli e resolvi transcrevê-lo na íntegra, abaixo. O assunto é cada vez mais atual”.

        Em seu irretocável A Corrosão do Caráter (Editora Record, 2008), o sociólogo americano Richard Sennett nos mostra o quanto podem ser deletérias para a dignidade do ser humano essas novas relações de trabalho, de um novo capitalismo, efêmeras, voláteis, cada vez mais parecidas com o regime de facção. Quisera que Senett se dedicasse a estudar também a dilapidação do caráter das pessoas absorvidas por um certo ativismo político onde finalidades abjetas passam a justificar também os meios mais abjetos. Seria extraordinário que ele o fizesse.
        Um bom exemplo do quanto já foi corrompido o caráter desses ativistas a que me refiro pode ser observado durante a visita que nos fez neste final de fevereiro de 2013 a jornalista cubana Yoani Sánchez. Que o diga o jornalista Sandro Ângelo Vaia, autor do livro A Ilha Roubada, ed. Barcarolla, 2009 – de leitura obrigatória para quem desejar entender o significado político do fenômeno Yoani Sánchez.
        Sobre a ruidosa manifestação de ativistas, ditos de esquerda, contra a presença de Yoani em território brasileiro, Sandro Vaia escreveu:


        “A grosseria, a incivilidade e a estupidez são algumas das características mais desagradáveis do ser humano e foram usadas em larga escala não só na Bahia, mas também no plenário da Câmara Federal por algumas pessoas que ainda vegetam no estado primário do processo civilizatório. Até aí, nada a fazer. Não podemos exigir uma nação de fidalgos nem exigir algum tipo de racionalidade de quem confunde a militância política com a barbárie. Ninguém é obrigado a gostar de Yoani Sánchez como ninguém pode ser proibido de admirar e cultuar ditaduras. Infelizmente, a história da humanidade é recheada de massas ululantes que seguem ditadores e homens providenciais de camisas verdes, negras, pardas, boinas vermelhas ou uniformes verde-oliva (“Democracia, agite antes de usar”, blog do Noblat, 22/2/2013 e reprodução neste OI).


         Mentira, pura invenção


        Como autor do livro sobre Yoani, é natural que Sandro tivesse sido procurado pela mídia para falar da jornalista durante sua visita ao Brasil. Em programa de TV, um dos ativistas que defendem abertamente as manifestações contra Yoani quase não permitiu que Sandro se manifestasse. Sandro foi também um dos jornalistas que entrevistaram Yoani no Roda Viva (TV Cultura), quando teve então a oportunidade de fazer perguntas que contribuíram para que os telespectadores melhor entendessem o fenômeno.
        Para os ativistas que já têm uma montanha de gelatina no lugar do caráter é, contudo, inadmissível que um jornalista escreva com tanta liberdade contra os ditadores do presente e do passado e torne público seu repúdio a manifestações tão descabidas. Sua credibilidade tem de ser atacada, ainda que seja através daquela mentira que é irmã siamesa da pusilanimidade.
        Sandro Vaia voltou, então, a ser agredido em diferentes espaços da web reservados a certo tipo de ativismo que se manifesta, geralmente, à sombra do anonimato. Vários blogs reproduziram um velho texto, com letras datilografadas para torná-lo crível, algo que lembra um antigo BO (boletim de ocorrência), onde Sandro Vaia aparece “denunciando” o sindicalista Antônio Galdino de atividades subversivas durante o regime militar. É tudo mentira, pura invenção. Antônio Galdino é amigo de Sandro. Foi Galdino quem arranjou o primeiro emprego de jornalista para Sandro Vaia. São amigos desde jovens, nunca brigaram.
       
        A ignomínia foi disparada pela primeira vez pelo Twitter, assinada por um tal de @JornalismoWando. Sandro identificou a pessoa, pressionou. Este ao menos teve a dignidade de ouvir o “acusado”, Antônio Galdino, e publicou um outro texto desmentindo tudo. O próprio Sandro publicou várias vezes o desmentido no Twitter, atribuindo a autoria do tal “documento” à polícia da época da ditadura. “É evidente – reclama Sandro – que os canalhas leram o desmentido, mas fingem que não leram, pois não interessa a eles acreditar que é mentira.”
        São, enfim, episódios degradantes hoje potencializados pela web. A falta de caráter nunca foi privilégio das pessoas alienadas, que não professam nenhuma ideologia. Mas, antigamente, disseminar uma infâmia como essa contra pessoas dignas era muito mais difícil. Espalhadas pelo boca-a-boca, as ignomínias eram muitas vezes vencidas pelas dificuldades de propagação. Hoje, não! A internet, com sua capacidade de disseminação na velocidade da luz, dá a elas uma dimensão mundial. Pior que isso: infâmias iguais a essa, assacada contra Sandro Vaia, vagam por essa torrente de “bits” de que é feita a web e continuarão a produzir efeitos daninhos pela eternidade. Nada improvável que os tataranetos de Sandro Vaia ainda possam tropeçar nela daqui a cem anos.
        Com sua flexibilidade de uso, a web transformou-se numa espécie de paraíso do mau caráter. É possível lançar sobre as pessoas de bem uma montanha de lama e ficar protegido pelo anonimato. Os “debates” e o repercutório tão em voga na web têm sempre a autenticidade solapada pelas pessoas que se escondem atrás de pseudônimos e registram uma série de e-mails com nomes falsos, registram perfis falsos nas mídias sociais, por não terem coragem e dignidade de assumir, publicamente, aquilo que dizem. Em última instância, se o desejo for o de cometer um desses crimes virtuais e dificultar o máximo possível a identificação de autoria, é possível registrar e-mails e sites no exterior e assim fazer chegar a infâmia ao Brasil.
         Ruim com a web, pior sem ela, devem dizer pessoas como Sandro Vaia e Yoani Sánchez, por acreditarem muito na democracia.



(Yoani Sánchez e Maria Julia Coutinho: vítimas da intolerância e da covardia)

13/07/2015

Um código de sobrevivência

        Não sou o que se poderia chamar de fã ou admirador de cantores sertanejos do tipo de Cristiano Araújo ou Luan Santana, mas, pela comoção que a morte de Cristiano provocou percebe-se que eles devem ter algum valor para despertarem tanta paixão em tanta gente.
        O tipo de morte sofrida por Cristiano e a namorada, Eliana de Moraes, uma menina de apenas 19 anos, morte estúpida, em acidente com o carro em que viajavam de madrugada, após um show do cantor em Itumbiara, a 208 km de Goiânia, é algo que se repete com uma frequência alarmante. Esses acidentes, que já mataram João Paulo (1997), Jessé (2007), Gonzaguinha (2009), entre outros; e quase matam o filho do cantor Leonardo, o também cantor Pedro Leonardo (2012) têm causas e circunstâncias bem parecidas; ocorrem geralmente no deslocamento dos artistas de um show para outro, ou após um show que foi terminar de madrugada; cansaço, alta velocidade, pressa de chegar ao local de mais um show ou chegar em casa para o convívio com a família, como aconteceu com Cristiano. São circunstâncias que tornam esses deslocamentos procedimentos de altíssimo risco.
        Esses acidentes envolvem, além dos riscos a pessoas queridas por tanta gente, uma questão ética importante: ao tomarem uma rodovia cansados, muitas vezes exaustos, estão também ameaçando a vida de muitas outras pessoas que passam pelas mesmas rodovias nos mesmos horários. Apenas por sorte o acidente que matou Cristiano não atingiu outros veículos que transitavam por ali no mesmo horário. É quase a mesma atitude de quem dirige embriagado ou drogado.
        Os artistas mais antigos poderiam liderar um movimento para estabelecer algumas normas de segurança – que seriam também normas éticas – a esses deslocamentos. Ofereço, como sugestão, um texto básico para expressar meu pensamento a respeito:
Artigo 1 — Devem ser evitados – ou proibidos – os shows que obriguem um artista, músico, cantor, cantora, dançarino, dançarina,humorista e de outros gêneros, a viajar à noite, de madrugada, por rodovias movimentadas.
Artigo 2 — Devem ser evitadas – ou proibidas – as viagens de carro sem descanso de pelo menos seis horas do condutor do veículo.
Artigo 3 — O condutor do veículo será responsável, frente à categoria dos artistas, pelas condições do veículo junto com o proprietário. Terá, portanto, de conferir se o veículo tem condições de viajar; se está bem calçado; se passou por revisão de mecânica, suspensão, etc.
Artigo 4 — O condutor terá por obrigação também exigir que todos os passageiros – da frente ou de trás, em veículos pequenos, vans ou ônibus – estejam no uso do cinto de segurança.
        É algo tão simples que não sei porque ninguém pensou em adotar um código como esse  até hoje. Será porque os artistas têm sido obrigados a obedecer o poder de mando de empresários? Não é o caso de as entidades de classe – sindicatos ou associações – imporem um código como esse?


09/07/2015

Números escandalosos

Há sete anos, calculava-se em 10 bilhões de dólares a soma de recursos desviados da Petrobras; foi no comecinho da operação Lava Jato. O cálculo hoje está em 19 bilhões de dólares, ou sejam: mais de 60 bilhões de reais. A conta ainda não foi fechada: ninguém pode duvidar que, mesmo sem correção desse dinheiro, o desvio chegue a 30 bilhões de dólares ou mais; sabemos lá o volume de sujeira enfiado embaixo do tapete.
Fiquemos em 19 bilhões. Já é, sem a menor dúvida, o maior roubo perpetrado contra uma instituição pública no mundo.Um recorde que vai-nos envergonhar por muitos e muitos anos. Façamos o registro histórico: o roubo teve início no último governo Lula e foi intensificado loucamente no governo Dilma.
Sejamos honestos: um roubo desse porte não passa despercebido pela cúpula governamental, pois reflete em orçamento, execução de obras, desempenho do governo em quase todos os setores. Tanto Lula quanto Dilma sabiam do andamento da roubalheira, como já afirmou a revista Veja e se não deram nenhum alarme é porque de algum modo tiravam proveito da roubalheira.  Se é impossível combater a corrupção, o negócio é nos locupletarmos – pensaram. Deveriam no mínimo ser – os dois – responsabilizados por negligência, omissão, conivência.
A operação Lava Jato – faça-se justiça a seus autores e executores – é da autoria de juízes e promotores, sem nenhum incentivo do governo, muito pelo contrário. Ainda em recente entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Dilma fez críticas à metodologia da Operação, o que vale dizer que ela não teve mesmo nada a ver com isso.
Quando a soma total do roubo estava em dez bilhões de dólares, há sete anos, foi feito um estudo publicado pelo jornal Folha de S. Paulo que mostrava que o montante representava um valor maior ou equivalente ao PIB de 52 países, entre os quais estavam Haiti, Laos, Macedônia, Armênia.  Acho esse estudo pouco elucidativo da dimensão da roubalheira. Muitas e muitas pessoas nem sabem o que é PIB (Produto Interno Bruto) e nem como é calculado.
Achei melhor encontrar um indicador mais palatável para a grande massa da população: a cesta básica, que durante o mês de junho custava 370 reais no Rio de Janeiro. Usei o Rio como base do cálculo por ser um estado de custo médio da cesta, nem o preço mais alto (SP), nem o mais baixo (SE).
Com o dinheiro surrupiado da Petrobras até agora, 19 bilhões de dólares ou 61 bilhões e 370 milhões de reais, seria possível adquirir 16 milhões de cestas básicas a R$ 370 cada uma. Com isto, alimentar:
·       3 milhões e 455 mil famílias por um ano;
·       ou um milhão 727 mil famílias por dois anos;
·       ou um milhão 151 mil 839 famílias por três anos; 
·       ou 863.879 famílias por quatro anos;  
·       ou 431.939 famílias por oito anos;
·       ou ainda 345.551 famílias por dez anos.
Este é um cálculo grosseiro, que não leva em conta o que é possível fazer, na forma de benefícios sociais, apenas com os juros desse dinheiro. O assalto à Petrobras foi o que pode ser chamado de crime hediondo – esse roubo vai perpetuar o estado de miséria de milhares de famílias brasileiras.

(Imagem do Blog do Parrini)




06/07/2015

Terceirização, mais uma tese demagógica do PT

        É uma espécie de Lei de Murphy: se uma relação de trabalho precisa ser “terceirizada”, ela será terceirizada, não importa a legislação ou qualquer outro tipo de legalismo. Sempre foi assim. É uma imposição do mercado de trabalho, nem sempre rejeitada pelos trabalhadores.
        A pequena empresa sempre dependeu da terceirização para sobreviver. O problema é que o PT entende mais de corrupção do que de pequena empresa, uma lástima. As lideranças do partido se aferram ao legalismo da relação de trabalho, esquecendo-se que o emprego, no Brasil, foi de tal modo sobrecarregado de obrigações sociais que, em muitos casos, só vai sobreviver pela informalidade ou pelo que o PT chamaria de ilegalidade. E o que é mais vantajoso para a classe trabalhadora? Um emprego terceirizado, mas um emprego, ou nenhum emprego, desemprego e recessão da economia?
        A opção é bem essa, em muitos casos. O empresário sabe fazer conta: a arcar com encargos sociais que podem representar até 200% de acréscimo na folha de pagamento, ele muitas vezes vê-se obrigado a terceirizar para deixar o custo do emprego ao alcance de sua empresa; é, antes de tudo, uma questão de sobrevivência.
        O PT talvez não saiba disso, mas deveria saber que nem todas as atividades da grande empresa podem ser terceirizadas. Serviços de atendimento a clientes, por exemplo, não podem; a relação com clientes tem de ficar sempre no core-business, ou seja, na formalidade; no mundo inteiro, empresas que terceirizaram atividades do atendimento a clientes tiveram de voltar atrás.
        A pequena empresa sempre teve relações de trabalho muito saudáveis com seus colaboradores, na total informalidade. É possível pagar salários melhores na informalidade, de modo que muitos trabalhadores preferiam a informalidade, sempre que conseguiam uma relação franca, honesta, transparente com seus patrões, o que nunca foi exceção à regra.
        Se o PT conseguir impor barreiras intransponíveis à terceirização, temos de nos preparar para o pior; a primeira consequência será o surgimento de um abismo intransponível entre o país e o pleno emprego; a segunda consequência será uma profunda recessão, da qual não conseguiremos sair tão cedo.


02/07/2015

Seres interativos

Faz quase 20 anos que não vejo pesquisa, estudo, análise, levantamento sobre a interatividade no Brasil. Na metade dos anos 90, tive contato com uma pesquisa bem interessante sobre o tema – a interatividade – entre  usuários de computador na Grande São Paulo. Quem a fez – lembro-me vagamente – foi uma agência de publicidade, de modo que o levantamento tinha um forte viés mercadológico. Ainda assim, revelava que os “interativos” na região eram em torno de 25% dos usuários, ou seja, pessoas que usavam os meios de comunicação disponíveis à época para reclamar de produtos; comentar artigos; externar opiniões, desejos, propor soluções, etc.
A banda da Internet ainda era bastante estreita e os meios – tv, jornais, revistas – ainda não apostavam na interação com seu público tanto quanto apostam agora, na era dos canais bidirecionais. Ao conjunto de meios vieram se acrescentar o blog, o twiter, o whatsApp,  o Facebock , algumas das inúmeras possibilidades abertas  aos cidadãos de todos os matizes – profissionais, empreendedores sociais, militantes políticos – de travarem comunicação direta com públicos específicos ou com a sociedade.
Hoje, tenho dúvidas de que os interativos cheguem a tanto (25% dos usuários de computador); o celular e sua, digamos, melhoria técnica, expandiu fortemente a interatividade, mas é diferente. Pelo celular, conectado às chamadas redes sociais, circula uma interatividade fortemente voltada para o entretenimento; o celular, eu diria, sustenta um Stand-up eletrônico entre milhões de pessoas, ao vivo e em cores.
Interesses pessoais, de grupos, comerciais, profissionais mantêm a  interatividade em toda parte, ampliando-a ou reduzindo-a de acordo com o interesse dos chamados seres interativos. A audiência dos blogs de moda, por exemplo, é espantosamente  elevada – o segredo dos blogueiros é alimentar os endereços com material do interesse das mulheres. Menos de 10% dessa audiência de milhares e até milhão de pessoas interagem, seja para pedir mais informações  ou criticar um assunto.
Há pouco mais de um ano fiz minha estréia como blogueiro. Comecei devagar e a intenção era não perder a embocadura do jornalismo. O blog tem para mim uma função terapêutica – exercitar mãos e memória. Virou uma distração, um passa-tempo. Faço observações diria que interessantes, sobre os seres interativos, as pessoas que entram no blog para comentar o que escrevo.
Divido os “interativos” – menos de 10 % dos meus leitores – em “famílias”. A primeira delas é formada por parentes e amigos. Alguns escrevem sempre, outros, apenas ocasionalmente, quando o assunto lhes toca de um modo especial. Todos me incentivam, é agradável receber as mensagens, elas me dão sempre um bom feed-back. São também pessoas que compartilham aquilo que escrevo, de modo que não consigo medir o alcance do meu blog, sempre maior do que aparenta.
Meu blog está também no facebook  e, por ali, a resposta é sempre maior. Publico geralmente de dois a três textos por semana e calculo ter mais ou menos – a depender do assunto – uns cinco mil leitores semanais. Quando o assunto é política a audiência sobe. É complicado captar o interesse do leitor.
Meu recorde de audiência foi uma crônica sobre Alexandre Nero, o protagonista da novela global, “Império”. Foi surpreendente ver a reação  do público-fã do artista; a crônica teve mais de cinco mil visualizações num só dia. Recorde também de comentários, todos elogiosos. Recebi 10 comentários, ou seja, menos de 10% das pessoas que leram a crônica se dispuseram a escrever.
Retomando a classificação por “família”, tenho também o que eu chamo de “desesperançados”. Por exemplo, escrevi uma crônica sobre a “imaturidade” de Neymar e recebo um comentário assim: “Eu quero mais é que o Neymar e a Seleção Brasileira se fodam”. Não é muito freqüente o tipo de comentário, mas de vez em quando os desesperançados aparecem.
Outra família, que eu chamo de”turma dos agressivos”, são aqueles que querem ter seu dia de glória em cima do blogueiro. Tem geralmente uma compreensão tosca daquilo que está escrito e despejam um texto longo, geralmente mal escrito, feito de pura agressão. Os ataques podem vir em qualquer tipo de texto, mas os preferidos dos “agressivos” são os da política. Vai mexer com certos interesses, vai...

Existe, por último, a turma que o blogueiro Reinaldo Azevedo chama de Petralhas, e que eu, cá no meu canto, chamo de o “grupo  dos indigestos”. São os defensores do PT ou do Lula ou da Dilma. Para os “indigestos”, os petistas merecem o Reino de Deus, e pronto, fim de papo. Não cometem erros, não metem a mão no dinheiro da Petrobras, não se metem em falcatruas. Não há o que se possa escrever contra  o PT que os “indigestos” não contestem com deboche, ironia sórdida, cara-de-pau, arrogância e petulância. Haja saco!