Quarta-feira
à noite (15/07), a TV Globo me oferece Asa de Arapiraca versus Palmeiras; como
não sou palmeirense, comecei a rodar os canais para ver se descobria algo mais
interessante para ver; descobri várias
coisas, a começar pela certeza de que a Globo não gosta de futebol; ela gosta
muito de dinheiro, mas de futebol... Não fosse assim, como explicar que na
noite de um jogo importante pela Libertadores (Internacional x Santa Fé) ela
tenha optado por transmitir Arapiraca e Palmeiras ?
A
segunda descoberta é que a TV aberta brasileira parece ter desistido de
competir e resolvido deixar o caminho livre para a emissora-líder. Começa que a
Record, onde durante algum tempo se enxergou algum punch competitivo, ganhou o
direito de transmissão dos jogos de Toronto, mas os esconde, parecendo
envergonhada ou arrependida de ter ganhado. Descobri que a Record estava
transmitindo os jogos por mero acaso, advertido que fui pela Globo de que o
direito de transmissão não lhe pertencia.
Confesso
que não consigo compreender qual a
estratégia competitiva da Record, se é que ela mantém alguma que não
seja aproveitar as sobras da Globo, como foi a contratação de Xuxa Meneguel.
Triste momento da TV brasileira!
A
líder em audiência é também líder em criatividade; volta e meia desova uma
novidade, resultado de suas áreas de criação, de invenção; é raro que ela lance mão de alguma idéia
nascida lá fora, no exterior. Convenhamos, a reforma do Zorra deixou o programa
bem legal!
As
demais emissoras, ao contrário, só conseguem dar esmolas com a mão alheia.
Enquanto a líder transmite Arapiraca, o SBT insiste no seu programa de humor
para quem ri por qualquer coisa (Chaves, de origem mexicana) ou na novela
Carrossel, para crianças descompensadas. E a Bandeirantes, hem? O que dizer de uma emissora que teve de
vender seu horário nobre para uma das igrejas evangélicas? Seu programa de
maior sucesso (o humorístico CQC) é de origem argentina; o outro sucesso
(Master Chef) nasceu no Reino Unido.
Digo
tudo isso com tristeza, pois gostaria de ver a televisão brasileira mais
aguerrida; seria muito bom para o Brasil, se assim fosse. Teríamos, em primeiro
lugar, um jornalismo com mais qualidade e diversidade. Depois, abriríamos mais
espaço para artistas e criadores de modo geral. Teríamos menos proselitismo
religioso e menos noticiário policial.
Já
trabalhei em televisão e sei o quanto é difícil competir fora da grande
audiência; a emissora líder abocanha de 70 a 80 por cento do bolo publicitário
e o resto – em alguns horários sobram migalhas – é dividido entre as pequenas
emissoras, quase alternativas. Produzir uma programação de qualidade custa
caríssimo.
O
que eu noto, entretanto, é que as emissoras, digamos, alternativas, não chegam
onde podem chegar. Falta inteligência, perspicácia, e em algumas, como no SBT,
parece faltar vontade. Não sei o que será do SBT quando seu dono passar desta
para uma melhor. De suas filhas, apenas uma foi iniciada no ofício do pai; é
simpática, comunicativa, mas não parece ter herdado a esperteza empresarial do
pai. Será presa fácil dos gaviões que certamente começarão a sobrevoar a
emissora, assim que o dono do Baú bater asas.
Continuaremos
a comentar o assunto – O Raquitismo da TV Aberta – num próximo texto.