Faz quase 20 anos que não vejo pesquisa,
estudo, análise, levantamento sobre a interatividade no Brasil. Na metade dos
anos 90, tive contato com uma pesquisa bem interessante sobre o tema – a interatividade
– entre usuários de computador na Grande
São Paulo. Quem a fez – lembro-me vagamente – foi uma agência de publicidade,
de modo que o levantamento tinha um forte viés mercadológico. Ainda assim,
revelava que os “interativos” na região eram em torno de 25% dos usuários, ou
seja, pessoas que usavam os meios de comunicação disponíveis à época para
reclamar de produtos; comentar artigos; externar opiniões, desejos, propor
soluções, etc.
A banda da Internet ainda era bastante estreita e os
meios – tv, jornais, revistas – ainda não apostavam na interação com seu
público tanto quanto apostam agora, na era dos canais bidirecionais. Ao
conjunto de meios vieram se acrescentar o blog, o twiter, o whatsApp, o Facebock , algumas das inúmeras possibilidades
abertas aos cidadãos de todos os matizes
– profissionais, empreendedores sociais, militantes políticos – de travarem
comunicação direta com públicos específicos ou com a sociedade.
Hoje, tenho dúvidas de que os
interativos cheguem a tanto (25% dos usuários de computador); o celular e sua,
digamos, melhoria técnica, expandiu fortemente a interatividade, mas é
diferente. Pelo celular, conectado às chamadas redes sociais, circula uma
interatividade fortemente voltada para o entretenimento; o celular, eu diria,
sustenta um Stand-up eletrônico entre milhões de pessoas, ao vivo e em cores.
Interesses pessoais, de grupos,
comerciais, profissionais mantêm a interatividade em toda parte, ampliando-a ou
reduzindo-a de acordo com o interesse dos chamados seres interativos. A
audiência dos blogs de moda, por exemplo, é espantosamente elevada – o segredo dos blogueiros é
alimentar os endereços com material do interesse das mulheres. Menos de 10%
dessa audiência de milhares e até milhão de pessoas interagem, seja para pedir
mais informações ou criticar um assunto.
Há pouco mais de um ano fiz minha
estréia como blogueiro. Comecei devagar e a intenção era não perder a
embocadura do jornalismo. O blog tem para mim uma função terapêutica – exercitar
mãos e memória. Virou uma distração, um passa-tempo. Faço observações diria que
interessantes, sobre os seres interativos, as pessoas que entram no blog para
comentar o que escrevo.
Divido os “interativos” – menos de 10 %
dos meus leitores – em “famílias”. A primeira delas é formada por parentes e
amigos. Alguns escrevem sempre, outros, apenas ocasionalmente, quando o assunto
lhes toca de um modo especial. Todos me incentivam, é agradável receber as
mensagens, elas me dão sempre um bom feed-back. São também pessoas que
compartilham aquilo que escrevo, de modo que não consigo medir o alcance do meu
blog, sempre maior do que aparenta.
Meu blog está também no facebook e, por ali, a resposta é sempre maior.
Publico geralmente de dois a três textos por semana e calculo ter mais ou menos
– a depender do assunto – uns cinco mil leitores semanais. Quando o assunto é
política a audiência sobe. É complicado captar o interesse do leitor.
Meu recorde de audiência foi uma crônica
sobre Alexandre Nero, o protagonista da novela global, “Império”. Foi
surpreendente ver a reação do público-fã
do artista; a crônica teve mais de cinco mil visualizações num só dia. Recorde
também de comentários, todos elogiosos. Recebi 10 comentários, ou seja, menos
de 10% das pessoas que leram a crônica se dispuseram a escrever.
Retomando a classificação por “família”,
tenho também o que eu chamo de “desesperançados”. Por exemplo, escrevi uma
crônica sobre a “imaturidade” de Neymar e recebo um comentário assim: “Eu quero
mais é que o Neymar e a Seleção Brasileira se fodam”. Não é muito freqüente o
tipo de comentário, mas de vez em quando os desesperançados aparecem.
Outra família, que eu chamo de”turma dos
agressivos”, são aqueles que querem ter seu dia de glória em cima do blogueiro.
Tem geralmente uma compreensão tosca daquilo que está escrito e despejam um
texto longo, geralmente mal escrito, feito de pura agressão. Os ataques podem
vir em qualquer tipo de texto, mas os preferidos dos “agressivos” são os da
política. Vai mexer com certos interesses, vai...
Existe, por último, a turma que o blogueiro
Reinaldo Azevedo chama de Petralhas, e que eu, cá no meu canto, chamo de o
“grupo dos indigestos”. São os
defensores do PT ou do Lula ou da Dilma. Para os “indigestos”, os petistas
merecem o Reino de Deus, e pronto, fim de papo. Não cometem erros, não metem a
mão no dinheiro da Petrobras, não se metem em falcatruas. Não há o que se possa
escrever contra o PT que os “indigestos”
não contestem com deboche, ironia sórdida, cara-de-pau, arrogância e
petulância. Haja saco!
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