31/07/2015

O raquitismo da TV aberta (I)

Quarta-feira à noite (15/07), a TV Globo me oferece Asa de Arapiraca versus Palmeiras; como não sou palmeirense, comecei a rodar os canais para ver se descobria algo mais interessante para ver; descobri  várias coisas, a começar pela certeza de que a Globo não gosta de futebol; ela gosta muito de dinheiro, mas de futebol... Não fosse assim, como explicar que na noite de um jogo importante pela Libertadores (Internacional x Santa Fé) ela tenha optado por transmitir Arapiraca e Palmeiras ?
A segunda descoberta é que a TV aberta brasileira parece ter desistido de competir e resolvido deixar o caminho livre para a emissora-líder. Começa que a Record, onde durante algum tempo se enxergou algum punch competitivo, ganhou o direito de transmissão dos jogos de Toronto, mas os esconde, parecendo envergonhada ou arrependida de ter ganhado. Descobri que a Record estava transmitindo os jogos por mero acaso, advertido que fui pela Globo de que o direito de transmissão não lhe pertencia.
Confesso que não consigo compreender qual a  estratégia competitiva da Record, se é que ela mantém alguma que não seja aproveitar as sobras da Globo, como foi a contratação de Xuxa Meneguel. Triste momento da TV brasileira!
A líder em audiência é também líder em criatividade; volta e meia desova uma novidade, resultado de suas áreas de criação, de invenção;  é raro que ela lance mão de alguma idéia nascida lá fora, no exterior. Convenhamos, a reforma do Zorra deixou o programa bem legal!
As demais emissoras, ao contrário, só conseguem dar esmolas com a mão alheia. Enquanto a líder transmite Arapiraca, o SBT insiste no seu programa de humor para quem ri por qualquer coisa (Chaves, de origem mexicana) ou na novela Carrossel, para crianças descompensadas. E a Bandeirantes, hem?  O que dizer de uma emissora que teve de vender seu horário nobre para uma das igrejas evangélicas? Seu programa de maior sucesso (o humorístico CQC) é de origem argentina; o outro sucesso (Master Chef) nasceu no Reino Unido.
Digo tudo isso com tristeza, pois gostaria de ver a televisão brasileira mais aguerrida; seria muito bom para o Brasil, se assim fosse. Teríamos, em primeiro lugar, um jornalismo com mais qualidade e diversidade. Depois, abriríamos mais espaço para artistas e criadores de modo geral. Teríamos menos proselitismo religioso e menos noticiário policial.
Já trabalhei em televisão e sei o quanto é difícil competir fora da grande audiência; a emissora líder abocanha de 70 a 80 por cento do bolo publicitário e o resto – em alguns horários sobram migalhas – é dividido entre as pequenas emissoras, quase alternativas. Produzir uma programação de qualidade custa caríssimo.
O que eu noto, entretanto, é que as emissoras, digamos, alternativas, não chegam onde podem chegar. Falta inteligência, perspicácia, e em algumas, como no SBT, parece faltar vontade. Não sei o que será do SBT quando seu dono passar desta para uma melhor. De suas filhas, apenas uma foi iniciada no ofício do pai; é simpática, comunicativa, mas não parece ter herdado a esperteza empresarial do pai. Será presa fácil dos gaviões que certamente começarão a sobrevoar a emissora, assim que o dono do Baú bater asas.

Continuaremos a comentar o assunto – O Raquitismo da TV Aberta – num próximo texto.

2 comentários:

  1. Pio, lamento que você nao seja palmeirense. Essa falha pode acontecer nas melhores famílias. Mas sejamos justos: o jogo Palmeiras x Asa de Arapiraca foi transmitido só para o Estado de Sao Paulo. O jogo Internacional x Santa Fé foi transmitido para o resto do país.Nossos 16 milhoes de torcedores com certeza deram à Globo maior audiência do que daria a transmissao do jogo do time gaúcho, que interessava sobremaneira à metade da populaçao do Rio Grande do Sul.Com as demais consideraços, concordo.

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  2. Sandro, aguarde, por favor, o Raquitismo da TV Aberta, parte II, e vai entender o que eu quis de fato dizer. Obrigado pela audiência, tê-lo como leitor para mim é uma honra, embora minhas cores preferidas sejam outras...

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