Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento
da Petrobras, é perito em cometer crime e violência contra a sociedade de seu
País; um dos maiores ladrões da Petrobras, delator da Lava Jato, perpetrou,
talvez inconscientemente, uma violência recente contra o Brasil ao pronunciar a
frase indecorosa “Virei um leproso”.
O termo “lepra” deve ser banido de uma
vez por todas da fala do brasileiro; ele se faz sempre acompanhar de uma carga
enorme de preconceito, ainda muito viva na memória das pessoas; para facilitar
o esquecimento, foi instituído o termo “hanseníase”, muito menos estigmatizante
como sinônimo da doença. Isto ainda em 1995. Foi necessário criar uma lei para
regulamentar a substituição.
Homens como Paulo Roberto Costa, 62
anos, adoram viver acima da lei dos homens. Imagine que ele vai prestar atenção
numa “lei menor” ou querer agir dentro do que todos os mortais consideram
politicamente correto.
Passemos a palavra à Sociedade
Brasileira de Hanseníologia - SBH:
O
jornal Folha de S. Paulo deste domingo, 8, traz uma manchete que nos causa
preocupação e indignação. O título “Virei um leproso após Lava Jato, diz
delator Costa” não é um simples recurso linguístico para dar clareza ao
discurso. É o reflexo de um preconceito enraizado em todas as classes sociais
do Brasil – país, aliás, que ocupa o segundo lugar no número de casos de
hanseníase no mundo, atrás da Índia.Aqui a doença é considerada endêmica e mais
de 30 mil casos novos são descobertos a cada ano.
Tão
grave quanto o alto número de pacientes é o preconceito que recai pesadamente
contra cada doente de hanseníase no Brasil. A hanseníase tem sua gravidade,
assim como muitas outras doenças. Porém, tem cura, tem tratamento gratuito em
todo o sistema público brasileiro e, uma vez em tratamento, o paciente não
transmite a hanseníase a seus comunicantes. Mas isso poucas pessoas sabem.
Uma
das grandes batalhas da Sociedade Brasileira de Hansenologia, desde 1947,
quando foi fundada, é contra o preconceito. O tratamento adequado permite que o
paciente tenha uma vida normal, trabalhe e estude sem representar risco algum à
integridade física de seus amigos, colegas, familiares.
Uma
tentativa de diminuir os estigmas da doença, o nome ‘lepra’ foi substituído por
‘hanseníase’ em 1995, com a Lei n° 9.010, de 29 de março de 1995. No entanto,
desde a publicação da Portaria n° 165, de 14/05/1976, do Ministério da Saúde,
estava proibido o uso do termo ‘lepra’ e seus derivados nos documentos oficiais
do órgão.
Mesmo
assim, o preconceito arraigado em toda a sociedade se apresenta com força nos
discursos das pessoas comuns, das autoridades, dos formadores de opinião e até
de educadores. A gravidade desta
situação se reflete no abandono do debate sobre uma das mais antigas doenças
conhecidas da humanidade, já extinta em muitos países e que cresce silenciosa e
assustadoramente no Brasil.
A
Sociedade Brasileira de Hansenologia e o Ministério da Saúde têm alertado para
o grande número de novos casos em crianças menores de 15 anos. Porém, nas
escolas, os programas de ensino se esqueceram de abordar a hanseníase e a falta
de esclarecimento leva a todo tipo de preconceito em cadeia na sociedade. Isso
tem dificultado o trabalho dos hansenologistas no Brasil. São profissionais que
estudam, pesquisam, fazem intercâmbio de informações com grandes centros de
pesquisa no mundo, enquanto outros vão a campo, em comunidades desfavorecidas no
interior do Brasil, numa peregrinação a aldeias, vilarejos, lugares esquecidos,
onde a informação não chega, mas chega e impera o preconceito. É importante
ressaltar que, mesmo sendo uma doença característica de populações
economicamente desfavorecidas, municípios com alto índice de IDH, de economia
pujante e respeitados polos de pesquisa, apresentam índices ainda endêmicos da
doença.
No
Brasil, a prevalência da hanseníase é de 1,27 casos para cada 10.000
habitantes. Há muito tempo, o país poderia estar com menos de 1 caso de
prevalência, como estipula a Organização Mundial de Saúde para considerar a
hanseníase sob controle.
O
diagnóstico da hanseníase é clínico e as pessoas precisam ter informações
básicas para chegarem aos serviços de saúde antes do surgimento de complicações
e do aparecimento de incapacidades.
A
hanseníase é a doença que mais cega no mundo. Diabetes e hanseníase são as
maiores causadoras de feridas no Brasil – país em que as feridas são
consideradas problema de saúde pública.
Conviver
com um cenário preconceituoso não é fácil para um paciente de hanseníase.
Outros, nem pacientes chegam a ser, tamanho o preconceito.
Assim,
a Sociedade Brasileira de Hansenologia solicita um esclarecimento sobre as
declarações do Sr. Paulo Roberto Costa na referida reportagem. Ainda que a
declaração não tenha sido emitida pelo jornal Folha de S. Paulo, mas pelo
entrevistado, o papel de formador de opinião deste periódico é imensurável, mas
conhecidamente de peso.
Oportunamente,
a Sociedade Brasileira de Hansenologia propõe que a imprensa debata sobre a
hanseníase e colabore com uma luta que, por falta de eco na sociedade, também
tem sido silenciosa.
Sociedade Brasileira de Hansenologia
Fundada
em 1947. É a realizadora do Simpósio Brasileiro de Hansenologia e do Congresso
Brasileiro, realiza também cursos de atualização para profissionais de saúde
(de várias áreas) por todo o país e promove ações de busca ativa de casos.
Marco Andrey Cipriani Frade
Presidente
da Sociedade Brasileira de Hansenologia