Ela destruiu mil hectares (eu disse MIL) de terras férteis no município de Siderópolis, no sul de Santa Catarina. Só eucalipto cresce nos lugares por onde ela passou e olhe lá. Há lagos contaminados com rejeitos de carvão mineral que são puros reservatórios de veneno. O solo ali tornou-se pestilento!
Mas, afinal, quem foi a famosa Marion? Foi uma drag-line ou simplesmente draga de proporções gigantescas; tinha uma caçamba que media 23 metros cúbicos e uma lança (guindaste) de 70 metros de altura. Eu já a vi em operação: o guindaste erguia a caçamba lá para cima e depois a soltava. E ela, a caçamba, caia de boca no solo. A operação chegava a provocar tremores na terra. Depois vinham escavadeiras e caminhões para remover o material arrancado do solo numa só paulada.
Foi a maneira portentosa que a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), estatal do aço, encontrou para retirar o carvão mineral que ali em Siderópolis surgiu em pouca profundidade; foi necessária apenas uma metodologia do tipo “arrasa quarteirão” para arrancar o carvão e deixar tudo revirado; a imensa área “trabalhada” pela Marion chegou a ser conhecida no mundo inteiro como “a paisagem lunar brasileira”.
Como se vê agora em Mariana, os homens da mineração brasileira detestam a natureza e o meio ambiente. Amam as burras cheias de dinheiro!
Não foi apenas a CSN que cometeu esse tipo de crime ambiental no Sul de Santa Catarina: outra criminosa, na exploração do carvão mineral a céu aberto, foi a Treviso, que chegou a usar cinco dragas no estilo da Marion, mas de porte menor. A regra era arrancar o carvão e tchau, deixar o solo naquela condição deplorável.
As dragas só desapareceram do Sul catarinense depois de 1990, quando o presidente Fernando Collor (ele mesmo!) suspendeu a lei criada por Getúlio Vargas que tornava obrigatório às siderúrgicas nacionais usar 20% de carvão mineral brasileiro para alimentar seus fornos. Com o fim da obrigatoriedade, a atividade mineradora do Sul de Santa Catarina entrou em recesso e interrompeu aquele ciclo irracional que poderia ser chamado de “a farra do carvão”.
A farra do carvão, bem pior do que aquela outra invenção catarinense, “a farra do boi”, não se restringiu às imensas áreas de exploração à céu aberto. Toda a atividade mineradora da região prosperou de costas viradas tanto para a natureza quanto para o homem. Em artigo anterior, denunciamos a morte de milhares de homens atacados por pneumoconiose. Não falei das atrocidades cometidas contra o meio ambiente.
O carvão sai da mina envolto num rejeito chamado de pirita, puro veneno. Pior que isso: a pirita reage com a chuva e libera uma fumaça branca (gás sulfídrico) com cheiro de ovo podre; as populações de Criciúma, Siderópolis, Lauro Muller e tantas outras localidades da área carbonífera passaram anos e anos respirando aquele cheiro de ovo podre, pois havia montanhas de pirita por todos os lados.
A recomposição de áreas e recursos naturais degradados pela mineração carbonífera é uma atividade super complexa - (segue link com detalhamento: (http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/1674/1/Tiago%20Alexandre%20Manenti%20Silvestrini.pdf) - mas o Ministério Público Federal impôs esta obrigatoriedade a todas as empresas infratoras do Sul catarinense em 1993. Mais da metade delas não levou a exigência a sério, de modo que só em 2007 ficaram prontos os projetos que tentavam reestruturar tudo aquilo que foi destruído. Com a lentidão presumível, muita coisa foi feita nesses últimos dez anos.
SÃO HISTÓRIAS QUE TORNAM INADMISSIVEL A CONTINUIDADE EM MINERAÇÃO DE EMPRESAS, COMO A SAMARCO, QUE OPERAM SEM A MENOR POSTURA ÉTICA.
ASSINEM MEU ABAIXO-ASSINADO PELA CASSAÇÃO DA OUTORGA DE MINERAÇÃO À SAMARCO:
https://www.change.org/p/cassem-a-outorga-de-extra%C3%A7%C3%A3o-mineral-da-samarco
(Ei-la: a Drag-line Marion em plena atividade. É só destruição!)
(Paisagem Lunar de Siderópolis, como ficou conhecida no mundo inteiro a área destruída pela Marion)
(Ela, em seu tempo, era imbatível: foi a maior Drag-line do Mundo)
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