26/10/2015

O Homem e a Cadeira de Rodas (3)

        Eu proibi meus filhos de terem e pilotarem motos; nunca concebi a ideia de ter uma delas, nem depois de ter assistido a Easy Rider. Em outras palavras, a fantasia de que a moto amplia sua liberdade nunca me seduziu; que me desculpem os apaixonados por motos e os fabricantes, mas moto para mim sempre foi símbolo de morte súbita ou de tragédia familiar das mais pesadas e aflitivas.
        Se tivesse algum poder no Brasil, proibiria o uso de motos para entregas ou faria cumprir com grande rigor, em toda cidade brasileira com mais de 50 mil habitantes, aquilo que determina o Código Nacional de Trânsito ao estabelecer que a moto deve ocupar o lugar de um veículo de quatro rodas no trânsito, lei que nunca foi obedecida.
        O atestado de que sempre agi com acerto está lá no Instituto Lucy Montoro (rede de reabilitação mantida pelo SUS e apoiada pelo governo do Estado de São Paulo) onde não param de chegar os acidentados de motos, vindos de todas as regiões do país; chegam geralmente paraplégicos, ou seja, uma das versões mais graves da lesão medular, pois a paralisia atinge as duas pernas. Eles não se livram facilmente da cadeira de rodas.
        Para eles, o peso da cadeira de rodas é geralmente bem maior pois estavam acostumados com ampla mobilidade, aniquilada de uma só vez por um acidente que não costuma poupar nem condutores e nem caroneiros; por mais brutal que tenha sido o acidente, nem sempre este consegue destruir a paixão que muitos sentem por elas, as motos, algo patológico.
        Não me esquecerei facilmente dos dois irmãos baianos que conheci no Lucy Montoro, um deles “premiado” com uma paraplegia adquirida em acidente com sua moto de alta cilindragem; seu sonho era voltar a andar para poder comprar uma moto ainda mais possante que aquela que o levou, talvez para sempre, a uma cadeira de rodas.
        Deu no Jornal Nacional há cerca de três meses:
        - Os números para quem anda de moto nas ruas brasileiras são preocupantes: 12 mil pessoas morrem por ano em acidentes com esse tipo de veículo. Uma pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia identificou o perfil dos acidentados. Quase 90% são homens. A maioria, jovens, entre 18 e 30 anos. E mais da metade usa a moto pra trabalhar.


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