21/11/2015

Frase indigesta de um pulha

        Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, é perito em cometer crime e violência contra a sociedade de seu País; um dos maiores ladrões da Petrobras, delator da Lava Jato, perpetrou, talvez inconscientemente, uma violência recente contra o Brasil ao pronunciar a frase indecorosa “Virei um leproso”.
        O termo “lepra” deve ser banido de uma vez por todas da fala do brasileiro; ele se faz sempre acompanhar de uma carga enorme de preconceito, ainda muito viva na memória das pessoas; para facilitar o esquecimento, foi instituído o termo “hanseníase”, muito menos estigmatizante como sinônimo da doença. Isto ainda em 1995. Foi necessário criar uma lei para regulamentar a substituição.
        Homens como Paulo Roberto Costa, 62 anos, adoram viver acima da lei dos homens. Imagine que ele vai prestar atenção numa “lei menor” ou querer agir dentro do que todos os mortais consideram politicamente correto.
        Passemos a palavra à Sociedade Brasileira de Hanseníologia - SBH:

Hanseníase não é crime

       O jornal Folha de S. Paulo deste domingo, 8, traz uma manchete que nos causa preocupação e indignação. O título “Virei um leproso após Lava Jato, diz delator Costa” não é um simples recurso linguístico para dar clareza ao discurso. É o reflexo de um preconceito enraizado em todas as classes sociais do Brasil – país, aliás, que ocupa o segundo lugar no número de casos de hanseníase no mundo, atrás da Índia.Aqui a doença é considerada endêmica e mais de 30 mil casos novos são descobertos a cada ano.

        Tão grave quanto o alto número de pacientes é o preconceito que recai pesadamente contra cada doente de hanseníase no Brasil. A hanseníase tem sua gravidade, assim como muitas outras doenças. Porém, tem cura, tem tratamento gratuito em todo o sistema público brasileiro e, uma vez em tratamento, o paciente não transmite a hanseníase a seus comunicantes. Mas isso poucas pessoas sabem.

       Uma das grandes batalhas da Sociedade Brasileira de Hansenologia, desde 1947, quando foi fundada, é contra o preconceito. O tratamento adequado permite que o paciente tenha uma vida normal, trabalhe e estude sem representar risco algum à integridade física de seus amigos, colegas, familiares.

       Uma tentativa de diminuir os estigmas da doença, o nome ‘lepra’ foi substituído por ‘hanseníase’ em 1995, com a Lei n° 9.010, de 29 de março de 1995. No entanto, desde a publicação da Portaria n° 165, de 14/05/1976, do Ministério da Saúde, estava proibido o uso do termo ‘lepra’ e seus derivados nos documentos oficiais do órgão.

      Mesmo assim, o preconceito arraigado em toda a sociedade se apresenta com força nos discursos das pessoas comuns, das autoridades, dos formadores de opinião e até de educadores.  A gravidade desta situação se reflete no abandono do debate sobre uma das mais antigas doenças conhecidas da humanidade, já extinta em muitos países e que cresce silenciosa e assustadoramente no Brasil.

         A Sociedade Brasileira de Hansenologia e o Ministério da Saúde têm alertado para o grande número de novos casos em crianças menores de 15 anos. Porém, nas escolas, os programas de ensino se esqueceram de abordar a hanseníase e a falta de esclarecimento leva a todo tipo de preconceito em cadeia na sociedade. Isso tem dificultado o trabalho dos hansenologistas no Brasil. São profissionais que estudam, pesquisam, fazem intercâmbio de informações com grandes centros de pesquisa no mundo, enquanto outros vão a campo, em comunidades desfavorecidas no interior do Brasil, numa peregrinação a aldeias, vilarejos, lugares esquecidos, onde a informação não chega, mas chega e impera o preconceito. É importante ressaltar que, mesmo sendo uma doença característica de populações economicamente desfavorecidas, municípios com alto índice de IDH, de economia pujante e respeitados polos de pesquisa, apresentam índices ainda endêmicos da doença.

       No Brasil, a prevalência da hanseníase é de 1,27 casos para cada 10.000 habitantes. Há muito tempo, o país poderia estar com menos de 1 caso de prevalência, como estipula a Organização Mundial de Saúde para considerar a hanseníase sob controle.

      O diagnóstico da hanseníase é clínico e as pessoas precisam ter informações básicas para chegarem aos serviços de saúde antes do surgimento de complicações e do aparecimento de incapacidades.
A hanseníase é a doença que mais cega no mundo. Diabetes e hanseníase são as maiores causadoras de feridas no Brasil – país em que as feridas são consideradas problema de saúde pública.

          Conviver com um cenário preconceituoso não é fácil para um paciente de hanseníase. Outros, nem pacientes chegam a ser, tamanho o preconceito.
Assim, a Sociedade Brasileira de Hansenologia solicita um esclarecimento sobre as declarações do Sr. Paulo Roberto Costa na referida reportagem. Ainda que a declaração não tenha sido emitida pelo jornal Folha de S. Paulo, mas pelo entrevistado, o papel de formador de opinião deste periódico é imensurável, mas conhecidamente de peso. 

       Oportunamente, a Sociedade Brasileira de Hansenologia propõe que a imprensa debata sobre a hanseníase e colabore com uma luta que, por falta de eco na sociedade, também tem sido silenciosa.

Sociedade Brasileira de Hansenologia
Fundada em 1947. É a realizadora do Simpósio Brasileiro de Hansenologia e do Congresso Brasileiro, realiza também cursos de atualização para profissionais de saúde (de várias áreas) por todo o país e promove ações de busca ativa de casos. 

Marco Andrey Cipriani Frade
Presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia



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