Pois bem, os mineradores de carvão do sul do Brasil, hoje homens que devem figurar na galeria dos seres mais ricos do país, mataram várias gerações de mineiros de pneumoconiose... e sem nenhuma piedade!
Pode-se dizer que a pneumoconiose é uma doença profissional que ataca, por exemplo, os mineiros que trabalham nas minas subterrâneas de carvão mineral. Para quem não sabe, o carvão mineral aparece em veios horizontais extensos e a uma profundidade que no sul de Santa Catarina (região de Criciúma) atinge em torno de 100 metros.
O veio do carvão mineral tem quando muito um metro e meio de altura; para extraí-lo, os mineiros fazem furos em cima do veio e enfiam neles bananas de dinamite; depois, explodem.
Eu já assisti a uma dessas explosões. Elas levantam tanta poeira que o ar parece ter ficado sólido; deixar homens respirando aquele ar é um crime pra lá de hediondo.
Depois de alguns meses respirando pura poeira, surge a pneumoconiose; é um pequeno grânulo, do tamanho de um grão de arroz, feito de pura sílica, que se instala nos dois pulmões, um em cada. A sílica, componente de quase toda a crosta terrestre, é fibrogênica. O organismo tenta expulsar o grânulo, não consegue e vai envolvendo-o de fibra, em expansão contínua até tomar todo pulmão. A evolução é lenta, pode levar em alguns casos três ou quatro anos.
Eu já toquei um pulmão atacado pela doença: tem a consistência de um tijolo ou algo assim, como se fosse uma pedra. Também já estive com vários homens atacados pela pneumoconiose em diferentes estágios da doença. Um deles estava hospitalizado, em estado terminal: “De repente, meu coração começa a soquear, soquear... dá impressão que vou morrer”, ele me disse com a voz ofegante, puxando pelo ar que não aparecia.
Outros três eu fui visitar na Praia do Rincão, a mais próxima de Criciúma. Têm todos algumas características em comum: são ainda jovens, musculosos, bonitos. Todos condenados à morte com menos de 35 anos. Podem sair da mina, mas a doença continua avançando até deixá-los absolutamente sem respiração. Parece coisa do demônio.
Foi em 1988, eu estava em Criciúma num barzinho quando vejo um jato cruzar o céu, fazendo um risco branco em quase toda abóbada celeste. Pessoas que estavam próximas de mim comentaram com naturalidade: “Lá vai o Guglielmi, talvez para mais uma reunião de negócios em Brasília”. O Guglielmi (Santos Guglielmi, falecido em 2001), eu já sabia, era uma espécie de “Rei do Carvão”, dono de várias minas na região de Criciúma. Provoquei uma senhora que estava sentada a meu lado: “Ele tem muito dinheiro?” e ela deu uma resposta do tipo inesquecível: “Olha, meu filho, se juntarmos todas as escrituras dos imóveis desse homem, podemos encher uma piscina olímpica!”
Não acho que ganhar dinheiro seja crime, mas tenho um dado do tipo também inesquecível: as minas de carvão do sul de Santa Catarina foram mecanizadas durante a década de 70; unidos, os empresários foram às compras no exterior; por medida de economia não trouxeram os equipamentos destinados a combater o pó nas frentes de extração, como aspersores. Não é preciso dizer mais nada, não é?
BOM, MEUS AMIGOS E MINHAS AMIGAS: NOSSO ABAIXO-ASSINADO JÁ PASSOU DAS 200 ASSINATURAS; PRECISAMOS MANTER A CHAMA ACESA ! A VITÓRIA NA CASSAÇÃO DA OUTORGA DA SAMARCO SÓ ACONTECERÁ COM MILHARES DE ADESÕES.
SEGUE LINK: https://www.change.org/p/cassem-a-outorga-de-extra%C3%A7%C3%A3o-mineral-da-samarco
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