29/08/2014

De volta à vida

        A ingestão do “soro da verdade”, pelo que já li em alguns depoimentos, não deve ser algo tão mais pesado que a anestesia e outras drogas que lhe aplicam quando você se submete a uma cirurgia para implantação de três pontes cardíacas seguidas de AVC. A dosagem exata e suas implicações eu não sei e desconfio que, por falta de curiosidade, nunca irei saber. 
        Só sei que voltei à “normalidade” muito lentamente e tendo pesadelos, um após o outro, alguns dos quais, imagino, jamais me abandonarão, como aquele em que a comunidade médico-científica da Unicamp me acusava de haver contaminado com urina um laboratório inteiro, do qual dependia para sobreviver uma enorme quantidade de pacientes. Eram pesadelos terríveis, traumatizantes, porque misturavam personagens que eu fisgava nos momentos de lucidez - e eram todos reais - com outros que mal acabara de conhecer no período de internação, médicos, enfermeiros, minhas visitas.
        Eu ainda não tinha a menor ideia do que ocorrera comigo - não sabia do AVC, que me paralisara o braço e a perna direitos - e sentia alguma dificuldade com a memória, que não respondia com a mesma precisão e alcance de antes. Os médicos haviam previsto que eu ficaria no máximo dois dias na UTI, fiquei nove ou dez, não sei precisar.
        O relato do que me aconteceu, digamos, nos quatro dias pós-cirurgia é uma mistura de realidade e fantasia e hoje que eu recobrei plenamente o “juízo” ainda sinto dificuldade de separar o joio do trigo, ou seja, aquilo que foi acontecimento daquilo que foi pura imaginação. Como minha internação na UTI estendeu-se para além daquela fase de pesadelos e conturbação mental, algumas coisas eu pude confirmar - sim, foi real - ainda no período de hospitalização.
        Por exemplo: a UTI da Unicamp funciona em biombos  separados por muretas de alvenaria. São muretas baixas que deixam escapar o som de um biombo para outro e permitem que um paciente tenha uma pálida percepção do que se passa a seu redor. Num dos leitos  a meu lado ficou um senhor que havia feito transplante de coração e recebeu o órgão de um menino de 12 anos de idade. Não tenho muita certeza, pode ter sido fruto da imaginação.
        Num desses dias que passei na UTI, o hospital da Unicamp viveu o que poderia ser chamado de uma “noite de cão”, e a UTI se encheu de acidentados, infartados, e vários outros casos desses que costumam infelicitar as famílias nos horários mais impróprios. Até um Suserano que tentou suicídio à punhaladas veio se aninhar ao lado da minha cama enchendo de indignação médicos e enfermeiros que passaram até de madrugada na preparação de plasma para todos os que iam precisar de sangue. Acho que esse relato é uma mistura das duas coisas, fantasia e realidade. Usei até amigos que trabalham na Unicamp para tentar confirmar a internação de um Suserano - ou alguém com um título que o valha - e não consegui nenhuma informação, nenhuma.
        O mundo atual, por outro lado, está cheio de suseranos - o título vem da Idade Média e significa dono de muitas terras e de muitos vassalos - mas não conheço nenhum país ou comunidade que tenha “importado” o título medieval.  Senti muito não estar no meu juízo perfeito para poder observar a comunidade Unicamp - médicos, enfermeiros, enfermeiras - diante de uma situação que arranhava os limites da Ética, ter de dividir os parcos recursos de uma Instituição Pública com um suicida que resolveu acabar com a vida, pelo que percebi, por motivos religiosos ou culturais, não sei bem. De qualquer modo, pelo que notei, o Suserano, ou seja, lá quem diabos for, foi tratado com a mesma dignidade com que eu mesmo fui tratado.


(Imagem da realidade distorcida)

25/08/2014

Amigos & Amigos

          Morei mais de 15 anos em Curitiba, onde cultivei muitos amigos, alguns dos quais já vieram me visitar em Vinhedo, apesar da distância. Eu não era tão amigo do Mazza (Luiz Geraldo Mazza, célebre jornalista do Paraná), mas nos dávamos bem. Uma noite, após participarmos de um jantar de fim de ano, oferecido pela Volvo, o Mazza, que não dirigia, pegou carona comigo até o centro da cidade. Passava da meia-noite, o trânsito da cidade se esvaziara e eu mantinha uma conversa animada com meu companheiro de viagem, de modo que ficamos ali dentro do carro, protegidos do sereno, mais de duas horas.
          De repente desce por uma das ruas que cruzavam a praça, meio inclinada, um táxi que mais parecia um bólido, e atropelou um garoto que atravessava a rua em companhia de um amigo. O corpo do rapaz ficou estendido no asfalto e seu amigo permaneceu ali do seu lado, em pé, paralisado por um choque nervoso. Mais velho do que eu, vivido e experiente, o Mazza desceu do carro como um tufão e, ao que tudo indica, já sabendo o que iria fazer: sem hesitar, deu um tapa na cara do rapaz que se mantinha de pé, imóvel, trêmulo, chorando nervosamente. Mazza gritou:
       - Deixa de ser covarde, rapaz! Ajuda teu amigo, vamos!
        Funcionou, o rapaz “acordou” e passou a nos ajudar a retirar o amigo do asfalto, e colocar na calçada onde esperamos a chegada de socorro.
          Por que contei essa história? Porque hoje aqui na minha cadeira de rodas lamento a ausência de muitos amigos que, suponho, foram acometidos de algum “ataque nervoso” que os impede de vir aqui em casa me visitar. Um deles arriscou uma visita há meses, entrou em meu quarto onde tivemos uma conversa muito animada e ao sair despediu-se da minha mulher aos prantos. É muita sensibilidade pro meu gosto!
Um outro me escreveu um e-mail admitindo sua falta de coragem:
         - Meu querido amigo Pio. Tenho lido suas postagens e nota-se que, apesar de tudo, continua sendo um grande jornalista! É lamentável que sejam sobre uma página difícil da sua vida, melhor seriam se fossem sobre outras experiências, tais como passeios, viagens etc. Deus está com você e você está no meu coração. Peço perdão por não visitá-lo com mais frequência, mas é que todas as vezes que vou aí, volto meio pra baixo e gosto de cultivar a imagem daquele Pio alegre, extrovertido. Grande abraço meu querido e impagável amigo.
       Se a ausência persistir por mais algumas semanas acho que vou recorrer ao Mazza e sua terapia de choque para ensinar a esses amigos o que é solidariedade.

(Homem recebendo um tapa na cara)

22/08/2014

Um caminho seguro para quem quer parar de fumar

A informação era de que eu ficaria no máximo dois dias na UTI após a cirurgia de revascularização; fiquei nove dias. Os cirurgiões não contavam com o AVC. Uma médica residente que acompanhou a cirurgia veio me dizer, quando eu já estava fora da UTI, que a equipe que me operou ficou muito impactada pela ocorrência e lamentou que tivesse acontecido logo comigo, um jornalista que eles sabiam ser especializado em comunicação médico-paciente.
Algo me diz que eu tinha um encontro marcado com a morte em 2013 e estou convencido que a cirurgia salvou minha vida. Eu tinha a artéria principal que abastece o coração entupida. Não tive um infarto fulminante antes porque o sangue encontrou caminhos alternativos para chegar ao coração. Eu estava com forte angina (dor no peito decorrente do mau funcionamento das artérias que irrigam o coração) e a explosão do sistema viria, mais dia menos dia.
Não conheço os médicos que me operaram. Eles se comportaram dentro da marca registrada da relação médico-paciente na Unicamp, a da impessoalidade. Passado um ano da cirurgia creio que já posso cumprimentá-los pela excelência do trabalho, pois não tive até agora nenhuma intercorrência relacionada com a revascularização. Minha pressão foi normalizada, minha diabetes está sob controle, os demais indicadores são todos muito bons.
A notícia da cirurgia chegou-me lentamente, de degrau em degrau, mas ainda assim foi um susto muito grande. Eu parei de fumar uns trinta dias antes da cirurgia. Já havia brigado com o cigarro um ano e meio atrás, quando decidi não tragar mais. Acendia o cigarro, mantinha a fumaça na boca por alguns segundos e jogava fora. Vários amigos vieram me dizer que isso era bobagem, que eu continuaria me intoxicando do mesmo jeito, mas saí da experiência muito satisfeito. Mesmo que não viesse a notícia dos meus problemas coronários, acredito que não demoraria muito a parar de fumar. Eu havia quebrado pela espinha minha relação com o cigarro. Não sentia mais prazer, crescia em mim um sentimento de ódio pelo fumo. Quando tive de parar, parei, sem nenhum sofrimento a registrar.

Fumei desbragadamente por mais de quarenta anos, lutando contra a oposição da mulher e dos filhos. Ao fazer, hoje, um balanço dos danos que o cigarro causou à minha saúde, chego à conclusão que fumar foi apenas uma estupidez. O cigarro, creio, mais do que as gorduras, entupiu minhas coronárias e quase me mata; destruiu meus dentes; tenho ainda uma pequena dilatação da aorta, que não chega a caracterizar um aneurisma, mas vai precisar de monitoramento médico para todo o sempre, amém. Você ainda não está livre de ter um câncer de pulmão, me disse Laurinha, uma sobrinha médica radicada em Vitória, no Espírito Santo. Chega ou querem mais?

(Arte com o símbolo Proibido Fumar)

19/08/2014

Outro mundo dentro da Unicamp


Sabia que o doutor Otávio Rizzi Filho, o primeiro cardiologista a me atender na Unicamp, havia pedido exame específico do coração, um ecocardiograma. Perguntei as razões e ele respondeu, objetivamente, “precisamos conhecer os estragos que tanto tempo de cigarro e pressão alta produziu no seu coração”. Eu já estava me habituando às más notícias: já havia feito o cateterismo que detectara obstruções em três coronárias - uma principal, já totalmente entupida e duas laterais com 80% de oclusão – e já me preparava para cirurgia. Só me falta agora descobrir que o coração também foi detonado pelo cigarro, pensava.
Já era tarde quando um enfermeiro que eu nunca tinha visto entra no meu quarto e pergunta pelo meu nome. Vou levá-lo para um exame do coração em tal andar, disse-me ajudando-me a deitar numa maca de um modo bem gentil e simpático. E lá foi ele conduzindo a maca, nós dois em silêncio, subindo e descendo elevadores, atravessando de labirinto, em labirinto, em labirinto, como diz Caetano numa das suas canções. De repente vira à esquerda e entra numa sala com enfermeiras e pacientes. Era uma sala pequena para a imensidão daquele prédio. Minha primeira sensação foi de claustrofobia. A sala dava impressão de ficar no centro daquele prédio imenso, cercada de corredores por todos os lados. O enfermeiro deixa a maca e se retira. Chegamos, pensei.
Uma enfermeira conduz a maca alguns metros à frente e me deixa em meio a outros pacientes. Foram gestos mecânicos, em silêncio. Comecei a notar que enfermeiros, enfermeiras, médicos passavam por mim, me viam, mas era como se eu fosse invisível, ninguém me cumprimentava, me dirigia a palavra ou me dava sequer um “oi”. Achei estranho porque considerava o corpo de enfermagem da Unicamp, até então, muito caloroso e simpático. Esperei uma meia hora ali naquele pequeno corredor até me levarem, com indiferença, para uma saleta próxima onde me puseram deitado numa pequena cama. Estava confortável, apesar de a sensação claustrofóbica haver aumentado.
Logo entra um primeiro médico, que, sem dizer palavras, começa a passar-me no peito o sensor do aparelho de ecocardiograma. Pede para me virar de um lado e de outro e ao terminar suas averiguações deixou a sala depois de me avisar: “O senhor agora vai precisar esperar a vinda de um outro médico para conferir”. “E meu coração, como está?", doutor. A pergunta estava entalada na garganta e eu não podia deixar de fazê-la antes que saísse. A resposta foi a primeira boa notícia que eu receberia naqueles dias de muita angústia: “Seu coração está ótimo!”
Algo surpreendente e esclarecedor ocorreria logo a seguir, enquanto eu digeria aquela ótima notícia naquele lugar que mais parecia um abrigo antiaéreo; assim que o médico saiu me vem uma vontade insuportável de fazer xixi. Fui levado até então a pensar no pior, ninguém vai-me ajudar neste labirinto. Passou uma enfermeira em frente à saleta e eu gritei, meio no desespero: - Enfermeira! – O inesperado então aconteceu: ela entrou imediatamente na saleta, e já próxima da cabeceira da minha cama disse “pois não?” Foi um dos mais maravilhosos “pois não” que eu já tinha ouvido na vida. Expliquei rapidamente a situação para ela e ela se prontificou a me levar ao banheiro. Acompanhou-me, assistiu-me como uma enfermeira exemplar. Na volta, como jornalista que eu nunca deixo de ser, perguntei-lhe: -Há quanto tempo você trabalha aqui nesta sala? – A resposta esclarecia tudo, o passar diante de você como se você fosse invisível, a indiferença, a automação de gestos e movimentos:
- Estou aqui nessa mesma função há 27anos.
(Corredor de um hospital)

16/08/2014

Hóspedes Inconvenientes

Ah, ia esquecendo-me de relatar uma história super interessante que se passou comigo logo no início dessa minha aventura (ou seria desventura?) de saúde!   Moro numa chácara em Vinhedo (SP) e meu passa-tempo preferido é lidar com as plantas, que incluem parreiras, flores e uma variedade grande de frutíferas. Uma tarde, noto um ajuntamento enorme de moscas atraídas pelas goiabas que apodreciam no chão. Peguei rastelo e comecei a recolher as goiabas num só monte para  assim facilitar a vida do jardineiro que viria no dia seguinte. Notei que as moscas sentaram à vontade nas minhas pernas e no pedaço de barriga  que deixava  escapar por baixo da camisa. Terminado o serviço, entrei em casa, tomei um bom banho, jantei e fui para a frente da  TV. Bem mais tarde comecei a perceber a novidade: uma coceira persistente eclodiu em três pontos do  meu corpo - proximidade do joelho esquerdo, alto das costas e umbigo.
    Meu filho caçula, Ives, cuidador dos nossos cães, foi  o primeiro  a suspeitar: - Tá parecendo berne! - ele disse, para meu espanto. E eram três bernes, diagnóstico confirmado por um dos médicos do Pronto Socorro de Valinhos a que procurei com o desejo de me livrar no mais rápido possível dos hóspedes inconvenientes. Eram três horas da tarde, às seis horas eu ainda estava lá à espera de a pressão baixar para o médico poder dar um pico com bisturi e poder retirar os invasores. Negativo. A pressão não queria baixar. O procedimento teve de ser adiado para o dia seguinte. E lá fui eu para casa levando agora duas preocupações: uma com meus hóspedes e outra com  a pressão que novamente escapara do controle. O maior incômodo era saber que havia três bichinhos nojentos enterrados dentro de mim, se alimentando da minha carne.
      No dia seguinte, um sábado, mudei os planos. Ao invés de ir para Valinhos procurei a UPA - Unidade de Pronto Atendimento, de Vinhedo. A descoberta foi interessante: minha cidade dispõe – e eu não sabia – de um centro de atendimento de urgência bem equipado e com um time de médicos e de  enfermeiros de primeiríssima qualidade. Em menos de dez minutos, o médico e o enfermeiro começaram os procedimentos para me livrar dos hóspedes tão incômodos. Um dos bernes – o da perna – saiu fácil. O das costas e do umbigo foram cobertos com uma bandagem e retirados no dia seguinte. Os invasores saíram, mas me deixaram uma grande inquietude: eu não podia demorar para voltar ao cardiologista.
      Voltei dois ou três meses depois, ainda sem saber que a vida me reservava um assento (que espero não seja cativo) numa cadeira de rodas.

(Close no olho de uma mosca)

12/08/2014

Uma linda e destemida mulher

Passei dois dias escrevendo um artigo pelo qual eu pretendia homenagear minha amiga Mara Gabrilli.  Só Deus sabe o que é pra mim digitar um artigo de, digamos, 1.200 toques. Eu era um digitador veloz. Sou do tempo em que o curso de datilografia era obrigatório para quem queria arranjar um emprego. Hoje, cato milho. Conforme o tamanho do artigo  fico dois dias em cima dele. É que durante uma cirurgia cardiovascular que fiz ainda em julho do ano passado sofri um AVC isquêmico que me levou embora toda a destreza de digitador. Digitar para mim hoje é pura terapia ocupacional, viu Amanda?
Quando ia encaminhar o artigo para divulgação em meu Blog lembrei-me da legislação eleitoral. Caminho mais curto para atingir meu objetivo, escrevi à própria Mara perguntando se havia restrições. Ela me respondeu no dia seguinte bem cedo: “Tem sim, Dirceu. Você não pode referir-se à política, à minha campanha, ao meu número, à minha candidatura”. Foi como se ela tivesse dito, agradeço, mas você só vai poder publicar alguma coisa após as eleições, dia 5 de outubro. Não quis arriscar.
 Minhas lembranças voaram longe e foram parar lá na década de 60, quando a ditadura militar impôs censura prévia aos jornais. Havia censores em carne e osso dentro das redações de O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, jornais para os quais eu trabalhava na época como repórter da sucursal do ABC,  examinando matéria por matéria das que chegavam para publicação no dia seguinte. Alguém por lá teve a brilhante idéia de publicar versos de Camões (Estadão) e receita de bolo (Jornal da Tarde) nos espaços que a censura deixava em branco. Eu mesmo tive várias matérias minhas que viraram ou versos de Os Lusíadas ou receita de bolo. Uma delas foi sobre o surto de meningite meningocócica que atacava a Grande São Paulo. Soubemos que havia muitas famílias fugindo do ambiente abafado da grande cidade e escapando para o litoral. Passamos um dia inteiro parando carros na Via Anchieta, única via de acesso ao litoral na época, tentando confirmar os boatos. Os boatos foram confirmados, falamos com dezenas de “fujões”, mas tudo virou receita de bolo.
Foi com essas histórias na cabeça que eu resolvi presentear os leitores do meu Blog, privados da leitura do artigo sobre Mara Gabrilli – que está preparado com o título Uma Linda e Destemida Mulher – com uma bela receita de pão de calabresa que me foi enviada de Vitória, Espírito Santo, por minha irmã Laura (a Mara, com certeza, vai gostar se não do gesto ao menos do pão, uma delícia).


PÃO FÁCIL DE CALABRESA PICANTE

Ingredientes:
  • ·        1 xícara de farinha de trigo branca
  • ·        ½ xícara de farinha de trigo integral fina
  • ·        ½ xícara de fubá fino
  • ·        2 colheres de sopa de farinha de linhaça
  • ·        10g de fermento biológico seco instantâneo (para pão)
  • ·        ½ xícara de leite integral
  • ·        ½ xícara de azeite
  • ·        4 ovos médios
  • ·        1 colher de chá de sal refinado
  • ·        ½ colher de chá de açúcar refinado
  • ·        250g de linguiça calabresa picante cortada em pedaços pequenos          (ou toucinho ou presunto ou frango)
  • ·        ½ cebola picada
  • ·        ½ xícara de chá de cebolinha picada
  • ·        ½ xícara de chá de salsinha picada
  • ·        ½ xícara de chá de hortelã pimenta picada

Modo de fazer:

- Aqueça uma frigideira com um pouco de azeite. Frite a linguiça picada até dourar e então acrescente a cebola. Refogue até a cebola amolecer e boa parte da umidade evaporar. Tempere com sal e, se gostar, um pouco de vinagre balsâmico e pimenta do reino. Reserve e aguarde esfriar.
- Enquanto isso, pré-aqueça o forno a 180ºC e unte uma forma com azeite (ou óleo ou manteiga) e farinha integral (ou fubá).
- Prepare a massa: misture os ovos, o leite e o azeite. Aos poucos, acrescente as farinhas, o fubá, o sal, o açúcar e o fermento, mexendo constantemente.
- Quando estiver homogêneo, incorpore a linguiça com a cebola e transfira a mistura para a forma untada. E espere crescer.
- Leve ao forno pré-aquecido por cerca de 45 minutos, ou até a superfície dourar.

(Mara Gabrilli sorrindo ao lado de uma criança de olhos azuis, cabelo  loiro encaracolado)

07/08/2014

Uma tese sobre o uso de novas tecnologias em Medicina

       Por tudo o que eu li a respeito da cirurgia que eu fiz no Hospital das Clínicas da Unicamp, o que causou o AVC isquêmico que eu sofri foi a chamada circulação extracorpórea, que, no meu caso, calculo que tenha durado em torno de três horas. Eu havia lido dias antes da cirurgia vários textos - pesquisa Google com a pergunta “quais os riscos de AVC e outras intercorrências produzidas pela Circulação Extracorpórea?”, com inúmeros artigos / estudos / ensaios, de vários pesquisadores de muitas universidades brasileiras - que mostravam muito claramente a elevação dos riscos de intercorrências causados pela substituição de coração e pulmões pela máquina. Tentei evitá-la, mas descubro angustiado que o Hospital não tinha para me oferecer nenhuma alternativa menos agressiva, mais amigável e com menos riscos.
        Por que não tinha? Porque certamente nunca teve uma agenda que levasse a instituição a pesquisar outras alternativas. Se tivesse pesquisado certamente hoje poderia ser capaz de propiciar a seus pacientes alternativas terapêuticas menos agressivas nas diferentes patologias cardíacas. Quem procura acha, diz o velho e sábio ditado popular, aqui usado no bom sentido. Pensando em voz alta com várias pessoas que me visitavam eu deixava a imaginação correr e mostrava um certo inconformismo com minha nova condição de cadeirante. É possível fazermos a cirurgia com a técnica do coração batendo?  “No seu caso, dada a complexidade das obstruções, não há tempo. A única alternativa é fazermos a cirurgia com circulação extracorpórea” foi a resposta do cardiologista  Otávio Rizzi  Filho, o primeiro da especialidade a me atender na Unicamp.
        Eu havia lido muita coisa sobre a técnica da cirurgia sem o uso da circulação extracorpórea, e com a técnica do coração batendo e sabia, portanto, que os riscos de ela produzir AVC e outras intercorrências graves é infinitamente menor que na circulação extracorpórea.
Sabia que ela está em franca evolução em vários centros de saúde do país. De fato, ela ainda não pode ser aplicada em casos como o meu, que precisava de duas pontes de safena e uma mamária e ia necessitar talvez de seis horas ou mais ininterruptas de cirurgia.
 É possível que com a evolução de outras práticas, como a do uso de robótica e células tronco na terapia coronariana, uma pessoa que busque terapias menos agressivas  em centros de saúde de ponta encontrem, daqui a poucos anos, respostas mais satisfatórias do que aquele implacável não do doutor Otávio Rizzi, que, por sinal, é um excelente médico de sua especialidade.
        Por mais que eu tivesse lido a respeito recebi  apenas uma vaga noção do caráter invasivo dessa cirurgia de ponte de safena. A noção exata você tem dias depois de enxergar a cicatriz no peito, de mais de palmo de comprimento e as várias cicatrizes na coxa, para retirada da veia safena. É de pensar: como foi que eu sobrevivi? Tem certas coisas que você precisa vivenciar para sentir o que é.
O que estou querendo dizer com tudo isso? Muitas coisas. A primeira delas é que o corpo clínico da Unicamp já tem qualificação segura em cirurgias cardíacas, pois realiza centenas delas ao ano. Já tem pronto um ‘’plano de vôo” para realização de cirurgias semelhantes a que eu fiz. Tanto que não tive nenhuma intercorrência  diretamente associada à cirurgia, que apartada do AVC, foi um sucesso.
       O problema que eu vejo está na instituição. Se você observar o histórico da área de cardiologia da Unicamp dá para ver o momento em que a instituição, tangida pela demanda crescente na região de Campinas, faz sua opção por um pacote tecnológico, que inclui a circulação extracorpórea e todas as demais técnicas agressivas dessas cirurgias. A poderosa instituição meio que virou as costas para o desenvolvimento de alternativas menos invasivas. Na minha modesta opinião, a sociedade espera mais dessas instituições. Espera LIDERANÇA em pesquisa que apontem caminhos  humanos e seguros nas áreas que mais afetam a população.
        O tal pacote tecnológico pode representar o caminho mais curto e eficaz para propiciar a cura de milhares de pessoas que como eu são acometidas por cardiopatias graves, mas com certeza alongou o caminho – podemos dizer isso com segurança dada a importância nacional da Unicamp – que o país terá de percorrer no desenvolvimento de terapias mais amigáveis para os males do coração.


(Desenho ilustrando a circulação extracorpória)

01/08/2014

Trauma na emergência - Unicamp

Se você passar mal procure a emergência, me disseram tantas vezes isso e com tanta insistência que passei a acreditar que esse era um bom caminho para acesso ao tratamento especializado do hospital da Universidade Estadual de Campinas. Não que houvessem outros caminhos mais adequados, é que eu não tinha nenhuma experiência com essas instituições públicas e era obrigado a jogar o jogo conforme a bola me era passada. Sai da experiência com uma sensação de grande frustração e com a certeza de que o serviço tira pontos da imagem da instituição ao invés de somar. Poderia somar, mas tira.
Na boca de entrada da emergência pode-se notar um primeiro erro estratégico: não é feita uma triagem minimamente rigorosa e os pacientes se misturam de um modo grotesco; cardíacos são colocados em macas ao lado de drogados, psicóticos, ou pessoas que tiveram crise renal ou algo que o valha. Uma senhora vomitou sangue sobre mim e mais quatro outros pacientes. As macas não param de chegar. No começo da madrugada já preenchem um quadrado enorme, que parece esticar para todos os lados, disforme, imprevisível. Foram umas trinta horas de angústia e sofrimento que com bom senso a instituição poderia evitar. A experiência lembra uma internação num daqueles hospitais de campanha realimentado pelos horrores da guerra.
Acho que nada justifica tanta impessoalidade. Os pacientes das instituições públicas, por mais numerosos que sejam, merecem ser tratados pelo nome e terem à sua disposição médicos e enfermeiros que possam ser chamados de “meu médico” ou ”meu enfermeiro” em todas as circunstâncias. A quantidade não pode justificar o distanciamento e nem a despersonalização do atendimento em níveis próximos da barbárie.
Metodologia e critérios humanísticos na gestão ajudariam a compor um cenário de atendimento bem mais adequado às emergências do hospital de clínicas da Unicamp.



(Símbolo da emergência médica)