01/08/2014

Trauma na emergência - Unicamp

Se você passar mal procure a emergência, me disseram tantas vezes isso e com tanta insistência que passei a acreditar que esse era um bom caminho para acesso ao tratamento especializado do hospital da Universidade Estadual de Campinas. Não que houvessem outros caminhos mais adequados, é que eu não tinha nenhuma experiência com essas instituições públicas e era obrigado a jogar o jogo conforme a bola me era passada. Sai da experiência com uma sensação de grande frustração e com a certeza de que o serviço tira pontos da imagem da instituição ao invés de somar. Poderia somar, mas tira.
Na boca de entrada da emergência pode-se notar um primeiro erro estratégico: não é feita uma triagem minimamente rigorosa e os pacientes se misturam de um modo grotesco; cardíacos são colocados em macas ao lado de drogados, psicóticos, ou pessoas que tiveram crise renal ou algo que o valha. Uma senhora vomitou sangue sobre mim e mais quatro outros pacientes. As macas não param de chegar. No começo da madrugada já preenchem um quadrado enorme, que parece esticar para todos os lados, disforme, imprevisível. Foram umas trinta horas de angústia e sofrimento que com bom senso a instituição poderia evitar. A experiência lembra uma internação num daqueles hospitais de campanha realimentado pelos horrores da guerra.
Acho que nada justifica tanta impessoalidade. Os pacientes das instituições públicas, por mais numerosos que sejam, merecem ser tratados pelo nome e terem à sua disposição médicos e enfermeiros que possam ser chamados de “meu médico” ou ”meu enfermeiro” em todas as circunstâncias. A quantidade não pode justificar o distanciamento e nem a despersonalização do atendimento em níveis próximos da barbárie.
Metodologia e critérios humanísticos na gestão ajudariam a compor um cenário de atendimento bem mais adequado às emergências do hospital de clínicas da Unicamp.



(Símbolo da emergência médica)

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