Se você passar mal procure a emergência,
me disseram tantas vezes isso e com tanta insistência que passei a acreditar
que esse era um bom caminho para acesso ao tratamento especializado do hospital
da Universidade Estadual de Campinas. Não que houvessem outros caminhos mais
adequados, é que eu não tinha nenhuma experiência com essas instituições
públicas e era obrigado a jogar o jogo conforme a bola me era passada. Sai da
experiência com uma sensação de grande frustração e com a certeza de que o
serviço tira pontos da imagem da instituição ao invés de somar. Poderia somar, mas
tira.
Na boca de entrada da emergência
pode-se notar um primeiro erro estratégico: não é feita uma triagem minimamente
rigorosa e os pacientes se misturam de um modo grotesco; cardíacos são
colocados em macas ao lado de drogados, psicóticos, ou pessoas que tiveram
crise renal ou algo que o valha. Uma senhora vomitou sangue sobre mim e mais
quatro outros pacientes. As macas não param de chegar. No começo da madrugada
já preenchem um quadrado enorme, que parece esticar para todos os lados,
disforme, imprevisível. Foram umas trinta horas de angústia e sofrimento que
com bom senso a instituição poderia evitar. A experiência lembra uma internação
num daqueles hospitais de campanha realimentado pelos horrores da guerra.
Acho que nada justifica tanta
impessoalidade. Os pacientes das instituições públicas, por mais numerosos que
sejam, merecem ser tratados pelo nome e terem à sua disposição médicos e
enfermeiros que possam ser chamados de “meu médico” ou ”meu enfermeiro” em todas
as circunstâncias. A quantidade não pode justificar o distanciamento e nem a despersonalização
do atendimento em níveis próximos da barbárie.
Metodologia e critérios humanísticos na
gestão ajudariam a compor um cenário de atendimento bem mais adequado às
emergências do hospital de clínicas da Unicamp.
(Símbolo da emergência médica)
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