25/08/2014

Amigos & Amigos

          Morei mais de 15 anos em Curitiba, onde cultivei muitos amigos, alguns dos quais já vieram me visitar em Vinhedo, apesar da distância. Eu não era tão amigo do Mazza (Luiz Geraldo Mazza, célebre jornalista do Paraná), mas nos dávamos bem. Uma noite, após participarmos de um jantar de fim de ano, oferecido pela Volvo, o Mazza, que não dirigia, pegou carona comigo até o centro da cidade. Passava da meia-noite, o trânsito da cidade se esvaziara e eu mantinha uma conversa animada com meu companheiro de viagem, de modo que ficamos ali dentro do carro, protegidos do sereno, mais de duas horas.
          De repente desce por uma das ruas que cruzavam a praça, meio inclinada, um táxi que mais parecia um bólido, e atropelou um garoto que atravessava a rua em companhia de um amigo. O corpo do rapaz ficou estendido no asfalto e seu amigo permaneceu ali do seu lado, em pé, paralisado por um choque nervoso. Mais velho do que eu, vivido e experiente, o Mazza desceu do carro como um tufão e, ao que tudo indica, já sabendo o que iria fazer: sem hesitar, deu um tapa na cara do rapaz que se mantinha de pé, imóvel, trêmulo, chorando nervosamente. Mazza gritou:
       - Deixa de ser covarde, rapaz! Ajuda teu amigo, vamos!
        Funcionou, o rapaz “acordou” e passou a nos ajudar a retirar o amigo do asfalto, e colocar na calçada onde esperamos a chegada de socorro.
          Por que contei essa história? Porque hoje aqui na minha cadeira de rodas lamento a ausência de muitos amigos que, suponho, foram acometidos de algum “ataque nervoso” que os impede de vir aqui em casa me visitar. Um deles arriscou uma visita há meses, entrou em meu quarto onde tivemos uma conversa muito animada e ao sair despediu-se da minha mulher aos prantos. É muita sensibilidade pro meu gosto!
Um outro me escreveu um e-mail admitindo sua falta de coragem:
         - Meu querido amigo Pio. Tenho lido suas postagens e nota-se que, apesar de tudo, continua sendo um grande jornalista! É lamentável que sejam sobre uma página difícil da sua vida, melhor seriam se fossem sobre outras experiências, tais como passeios, viagens etc. Deus está com você e você está no meu coração. Peço perdão por não visitá-lo com mais frequência, mas é que todas as vezes que vou aí, volto meio pra baixo e gosto de cultivar a imagem daquele Pio alegre, extrovertido. Grande abraço meu querido e impagável amigo.
       Se a ausência persistir por mais algumas semanas acho que vou recorrer ao Mazza e sua terapia de choque para ensinar a esses amigos o que é solidariedade.

(Homem recebendo um tapa na cara)

2 comentários:

  1. ACABEI DE SENTIR UM TAPA NA CARA !!!!! ABRAÇO!! JOAO

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    1. João- coragem! venha me visitar. estou com muita saudade e, por enquanto, não estou mordendo. rs rs rs

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