22/08/2014

Um caminho seguro para quem quer parar de fumar

A informação era de que eu ficaria no máximo dois dias na UTI após a cirurgia de revascularização; fiquei nove dias. Os cirurgiões não contavam com o AVC. Uma médica residente que acompanhou a cirurgia veio me dizer, quando eu já estava fora da UTI, que a equipe que me operou ficou muito impactada pela ocorrência e lamentou que tivesse acontecido logo comigo, um jornalista que eles sabiam ser especializado em comunicação médico-paciente.
Algo me diz que eu tinha um encontro marcado com a morte em 2013 e estou convencido que a cirurgia salvou minha vida. Eu tinha a artéria principal que abastece o coração entupida. Não tive um infarto fulminante antes porque o sangue encontrou caminhos alternativos para chegar ao coração. Eu estava com forte angina (dor no peito decorrente do mau funcionamento das artérias que irrigam o coração) e a explosão do sistema viria, mais dia menos dia.
Não conheço os médicos que me operaram. Eles se comportaram dentro da marca registrada da relação médico-paciente na Unicamp, a da impessoalidade. Passado um ano da cirurgia creio que já posso cumprimentá-los pela excelência do trabalho, pois não tive até agora nenhuma intercorrência relacionada com a revascularização. Minha pressão foi normalizada, minha diabetes está sob controle, os demais indicadores são todos muito bons.
A notícia da cirurgia chegou-me lentamente, de degrau em degrau, mas ainda assim foi um susto muito grande. Eu parei de fumar uns trinta dias antes da cirurgia. Já havia brigado com o cigarro um ano e meio atrás, quando decidi não tragar mais. Acendia o cigarro, mantinha a fumaça na boca por alguns segundos e jogava fora. Vários amigos vieram me dizer que isso era bobagem, que eu continuaria me intoxicando do mesmo jeito, mas saí da experiência muito satisfeito. Mesmo que não viesse a notícia dos meus problemas coronários, acredito que não demoraria muito a parar de fumar. Eu havia quebrado pela espinha minha relação com o cigarro. Não sentia mais prazer, crescia em mim um sentimento de ódio pelo fumo. Quando tive de parar, parei, sem nenhum sofrimento a registrar.

Fumei desbragadamente por mais de quarenta anos, lutando contra a oposição da mulher e dos filhos. Ao fazer, hoje, um balanço dos danos que o cigarro causou à minha saúde, chego à conclusão que fumar foi apenas uma estupidez. O cigarro, creio, mais do que as gorduras, entupiu minhas coronárias e quase me mata; destruiu meus dentes; tenho ainda uma pequena dilatação da aorta, que não chega a caracterizar um aneurisma, mas vai precisar de monitoramento médico para todo o sempre, amém. Você ainda não está livre de ter um câncer de pulmão, me disse Laurinha, uma sobrinha médica radicada em Vitória, no Espírito Santo. Chega ou querem mais?

(Arte com o símbolo Proibido Fumar)

Um comentário:

  1. Uma estupidez, sem dúvida. Mas perfeitamente contornável se parar de fumar antes de completar 40 anos. De preferência nem começar.

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