A informação era de que eu ficaria no máximo dois dias na UTI após a
cirurgia de revascularização; fiquei nove dias. Os cirurgiões não contavam com
o AVC. Uma médica residente que acompanhou a cirurgia veio me dizer, quando eu
já estava fora da UTI, que a equipe que me operou ficou muito impactada pela
ocorrência e lamentou que tivesse acontecido logo comigo, um jornalista que
eles sabiam ser especializado em comunicação médico-paciente.
Algo me diz que eu tinha um encontro marcado com a morte em 2013 e estou
convencido que a cirurgia salvou minha vida. Eu tinha a artéria principal que
abastece o coração entupida. Não tive um infarto fulminante antes porque o
sangue encontrou caminhos alternativos para chegar ao coração. Eu estava com
forte angina (dor no peito decorrente do mau funcionamento das artérias que
irrigam o coração) e a explosão do sistema viria, mais dia menos dia.
Não conheço os médicos que me operaram. Eles se comportaram dentro da
marca registrada da relação médico-paciente na Unicamp, a da impessoalidade.
Passado um ano da cirurgia creio que já posso cumprimentá-los pela excelência
do trabalho, pois não tive até agora nenhuma intercorrência relacionada com a
revascularização. Minha pressão foi normalizada, minha diabetes está sob
controle, os demais indicadores são todos muito bons.
A notícia da cirurgia chegou-me lentamente, de degrau em degrau, mas
ainda assim foi um susto muito grande. Eu parei de fumar uns trinta dias antes
da cirurgia. Já havia brigado com o cigarro um ano e meio atrás, quando decidi
não tragar mais. Acendia o cigarro, mantinha a fumaça na boca por alguns
segundos e jogava fora. Vários amigos vieram me dizer que isso era bobagem, que
eu continuaria me intoxicando do mesmo jeito, mas saí da experiência muito
satisfeito. Mesmo que não viesse a notícia dos meus problemas coronários,
acredito que não demoraria muito a parar de fumar. Eu havia quebrado pela
espinha minha relação com o cigarro. Não sentia mais prazer, crescia em mim um
sentimento de ódio pelo fumo. Quando tive de parar, parei, sem nenhum
sofrimento a registrar.
Fumei desbragadamente por mais de quarenta anos, lutando contra a
oposição da mulher e dos filhos. Ao fazer, hoje, um balanço dos danos que o
cigarro causou à minha saúde, chego à conclusão que fumar foi apenas uma
estupidez. O cigarro, creio, mais do que as gorduras, entupiu minhas coronárias
e quase me mata; destruiu meus dentes; tenho ainda uma pequena dilatação da
aorta, que não chega a caracterizar um aneurisma, mas vai precisar de
monitoramento médico para todo o sempre, amém. Você ainda não está livre de ter
um câncer de pulmão, me disse Laurinha, uma sobrinha médica radicada em
Vitória, no Espírito Santo. Chega ou querem mais?
(Arte com o símbolo Proibido Fumar)
Uma estupidez, sem dúvida. Mas perfeitamente contornável se parar de fumar antes de completar 40 anos. De preferência nem começar.
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