Passei dois dias escrevendo um artigo pelo qual
eu pretendia homenagear minha amiga Mara Gabrilli. Só Deus sabe o que é pra mim digitar um artigo
de, digamos, 1.200 toques. Eu era um digitador veloz. Sou do tempo em que o
curso de datilografia era obrigatório para quem queria arranjar um emprego. Hoje,
cato milho. Conforme o tamanho do artigo fico dois dias em cima dele. É que durante uma
cirurgia cardiovascular que fiz ainda em julho do ano passado sofri um AVC
isquêmico que me levou embora toda a destreza de digitador. Digitar para mim hoje
é pura terapia ocupacional, viu Amanda?
Quando ia encaminhar o artigo para divulgação em meu
Blog lembrei-me da legislação eleitoral. Caminho mais curto para atingir meu
objetivo, escrevi à própria Mara perguntando se havia restrições. Ela me
respondeu no dia seguinte bem cedo: “Tem sim, Dirceu. Você não pode referir-se
à política, à minha campanha, ao meu número, à minha candidatura”. Foi como se
ela tivesse dito, agradeço, mas você só vai poder publicar alguma coisa após as
eleições, dia 5 de outubro. Não quis arriscar.
Minhas
lembranças voaram longe e foram parar lá na década de 60, quando a ditadura
militar impôs censura prévia aos jornais. Havia censores em carne e osso dentro
das redações de O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, jornais para os quais
eu trabalhava na época como repórter da sucursal do ABC, examinando matéria por matéria das que
chegavam para publicação no dia seguinte. Alguém por lá teve a brilhante idéia
de publicar versos de Camões (Estadão) e receita de bolo (Jornal da Tarde) nos
espaços que a censura deixava em branco. Eu mesmo tive várias matérias minhas
que viraram ou versos de Os Lusíadas ou receita de bolo. Uma delas foi sobre o
surto de meningite meningocócica que atacava a Grande São Paulo. Soubemos que
havia muitas famílias fugindo do ambiente abafado da grande cidade e escapando
para o litoral. Passamos um dia inteiro parando carros na Via Anchieta, única
via de acesso ao litoral na época, tentando confirmar os boatos. Os boatos
foram confirmados, falamos com dezenas de “fujões”, mas tudo virou receita de
bolo.
Foi com essas histórias na cabeça que eu resolvi
presentear os leitores do meu Blog, privados da leitura do artigo sobre Mara
Gabrilli – que está preparado com o título Uma Linda e Destemida Mulher – com
uma bela receita de pão de calabresa que me foi enviada de Vitória, Espírito
Santo, por minha irmã Laura (a Mara, com certeza, vai gostar se não do gesto ao
menos do pão, uma delícia).
PÃO FÁCIL DE CALABRESA PICANTE
Ingredientes:
- · 1 xícara de farinha de trigo branca
- · ½ xícara de farinha de trigo integral fina
- · ½ xícara de fubá fino
- · 2 colheres de sopa de farinha de linhaça
- · 10g de fermento biológico seco instantâneo (para pão)
- · ½ xícara de leite integral
- · ½ xícara de azeite
- · 4 ovos médios
- · 1 colher de chá de sal refinado
- · ½ colher de chá de açúcar refinado
- · 250g de linguiça calabresa picante cortada em pedaços pequenos (ou toucinho ou presunto ou frango)
- · ½ cebola picada
- · ½ xícara de chá de cebolinha picada
- · ½ xícara de chá de salsinha picada
- · ½ xícara de chá de hortelã pimenta picada
Modo de fazer:
- Aqueça
uma frigideira com um pouco de azeite. Frite a linguiça picada até dourar e
então acrescente a cebola. Refogue até a cebola amolecer e boa parte da umidade
evaporar. Tempere com sal e, se gostar, um pouco de vinagre balsâmico e pimenta
do reino. Reserve e aguarde esfriar.
- Enquanto
isso, pré-aqueça o forno a 180ºC e unte uma forma com azeite (ou óleo ou
manteiga) e farinha integral (ou fubá).
- Prepare
a massa: misture os ovos, o leite e o azeite. Aos poucos, acrescente as farinhas,
o fubá, o sal, o açúcar e o fermento, mexendo constantemente.
- Quando
estiver homogêneo, incorpore a linguiça com a cebola e transfira a mistura para
a forma untada. E espere crescer.
- Leve
ao forno pré-aquecido por cerca de 45 minutos, ou até a superfície dourar.
(Mara Gabrilli sorrindo ao lado de uma criança de olhos azuis, cabelo loiro encaracolado)
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