31/01/2015

Volta pro sax, Malaquias!

        Meu vizinho é saxofonista, e dos bons ! Tê-lo como vizinho é um privilégio. É bastante conhecido no meio musical de Campinas e adjacências. Tem uma – ou tinha, não sei –  banda de jazz das melhores do país. Digo que ser seu vizinho é um privilégio porque quando chega esta época do ano, festas e carnaval, ele reunia os músicos de sua banda para ensaios e tínhamos- seus vizinhos- ali pelas 18 horas um magnífico concerto de jazz que seguia firme até quase 22 horas. O som vazava de sua pequena chácara, uma flora, onde ele, até o ano passado, mantinha um  bar – piano, vinhos, lanche, e sax. Eu gostava, mas a iniciativa não deu muito certa – bom músico, mau empreendedor.
        Faz já um bocado de tempo, quando dirigi o jornal Gazeta Mercantil na região de Campinas, contratei Malaquias e seus músicos para tocar em eventos promovidos pela empresa; uma vez, num desses eventos, ele nos brindou com um  Funeral à New Orleans, onde não faltou, é claro, um extenso repertório da tradicional música da capital do jazz norte-americano.
        Eu não sabia, mas a mulher de Malaquias, Maria de Lourdes, encontrou-se com minha mulher, Susana, no supermercado e passou-nos uma triste notícia: os concertos do crepúsculo acabaram.  Os músicos começaram a brigar muito e Malaquias resolveu  suspender os ensaios por um bom tempo.

        Desde a suspensão, há um mês, o sax de Malaquias silenciou. Estou aqui na torcida para que ele volte para o seu sax. E isto por duas razões: dizem que os músicos de instrumento de sopro não podem ficar muito tempo sem tocar, pois correm o risco de perderem a “embocadura” e se isso acontecer babau, não voltam mais a tocar com qualidade. Segunda,  pode ser que ele repita o que fez no ano passado: trocar o sax pela serra elétrica, ninguém merece...


28/01/2015

Super show com Rita e Dayse !

        Não sei onde elas encontraram tanta vitalidade, mas sei que cantaram quase até o amanhecer. Vou arriscar um palpite: foram buscar energia na alma de cantora. Não demonstraram cansaço, não desafinaram, apenas cantaram, cantaram e cantaram. A impressão que deu era que cantariam ainda mais, sem esmorecer, se eu não tivesse dado sinais de cansaço.
        Um determinado momento Rita olhou para mim e perguntou: está bom? Eu, pensando mais nelas que em mim, respondi: sim, Rita, está ótimo, vocês agora precisam comer alguma coisa e descansar. Ainda ficaram mais umas duas ou três horas de papo com a plateia ou o que sobrou dela, alguns sessentões meus amigos até então hipnotizados pela harmonia, pela graça das duas cantoras, pela generosidade de tanta música de boa qualidade. Eu nunca havia assistido a um show tão generoso e com tanta qualidade musical.
        Na verdade, Rita e Dayse começaram a cantar logo depois das 7 horas da noite e foram parar depois das duas horas da manhã, quase sem intervalos. Uma maravilha!
       No artigo anterior, eu contei como as conheci e como evoluiu nossa amizade. Queria dizer algumas palavras sobre elas, o repertório de extremo bom gosto. Rita é alemã e Dayse é descendente de. Ambas falam seis idiomas ou mais, português, espanhol, inglês, francês, italiano e alemão. E falam e cantam nos seis, sem sotaque, uma perfeição. Dayse tem 68 anos de idade e Rita, 70 anos. Gostam de ser chamadas de “The Tuned Oldies” (As Velhinhas Sintonizadas). E eu já disse a elas que não gosto do título, pois não há nada no show que apresentam que lembre a idade que têm, ao contrário, como bem disse o jornalista Mauro Martins, meu amigo, Rita e Dayse lembram duas meninas que cantam e encantam.
        Deve ter sido a opinião de todas as demais pessoas da plateia, desde minha mulher Susana, meu filho Eder, sua esposa Sílvia, minha nora Daniela, cujo marido, Edu, está nos Estados Unidos e pelo Facebook lamentou não estar presente para ver mais uma vez as cantoras que ele considera “magníficas”, minhas sobrinhas Selma e Seide, empresárias de setor de gastronomia em Americana, o marido de Seide, o dentista Delmo; meu sobrinho Sandro que veio acompanhado da esposa e do filhinho; meus amigos da bocha que não perdem nenhum evento que organizo, Argentino, João Vitamina, Martins, Coringa, também um excelente cantor de MPB. Augusta e Virna, sogra e cunhada de meu filho Eder; por tudo isso foi que eu descrevo como uma noite inesquecível, i-nes-que-cí-vel!!! 
        Ah, ainda faltou dar umas pinceladas no repertório de Rita e Dayse: elas cantam só música que estão em nosso imaginário, começam por I Love Paris (Cole Porter), evoluem por Summertime (George Gershim), passam pelos clássicos nacionais A Felicidade (Tom e Vinícius), O Samba do Avião (tom e Vinícius), Ronda (Paulo Vanzolini). Só vendo mesmo para sentir a enxurrada de encantamento e bom gosto.




(Dayse e Rita)

25/01/2015

Super cantoras, minhas amigas !

         Elas estiveram em casa, em Vinhedo, e cantaram, cantaram e cantaram, como dois rouxinóis, dois encantadores pássaros canoros de rara plumagem. Primeiro conheci Rita, em Valinhos, na casa de um amigo, Celso Zangelmi, há uns três anos; Rita cantava sozinha, sua especialidade era verter para o alemão as melhores páginas do Cancioneiro Brasileiro – Cartola, Pixinguinha, Adoniran Barbosa.
         Era belíssima mas, era fácil perceber, ao final de cada show, sempre a platéia reservada, que sobrava-lhe energia. Era evidente que Rita precisava de uma parceria para se complementar, para dar vazão a todo seu imenso repertório. Não demorou muito e ela encontrou a parceira perfeita, Dayse (pronuncia-se Deise) de Jundiaí. Rita mora na vizinha Atibaia e é surpreendente que tenham demorado tanto tempo para se conhecerem e começarem a cantar juntas – uma parece ter nascido parceira da outra.
         Eu estava recebendo em casa um pequeno grupo de amigos jornalistas do sul e de outras localidades do Brasil. Todos profissionais sensíveis, experientes. Combinei com as duas e programamos um show, na minha casa. Convidei Celso Zangelmi, que não perde nenhuma oportunidade de revê-las, e ouvi-las. Celso é uma figura super sensível e experiente; já residiu em quase 100 países diferentes, como consultor da UNIDO (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial). É amigo de Rita e Dayse e diz para quem quiser ouvir que o show com as duas é uma das coisas mais encantadoras que ele já viu em todo o mundo.
         Eu convidei para juntar-se ao grupo de privilegiados o meu amigo escritor Laurentino Gomes, que veio acompanhado de sua mulher, Carmem. Pedi que me enviassem cada um cinco linhas de avaliação do show, ainda estou aguardando, mas deixaram naquela noite impressões de que adoraram o que viram.
         O mesmo pedido eu fiz aos meus amigos da comitiva do Sul; ainda faltam alguns, mas vejam só o que quatro deles escreveram:

         Mauro Bastos—consultor em marketing político, reside hoje em Itajaí, Santa Catarina:
         “A Dayse e a Rita são duas meninas que decidiram cantar para as pessoas, em um momento de suas vidas em que a maioria decide calar, engavetar sonhos e abraçar o triste travesseiro das frustrações. Elas cantam e celebram a alegria de viver nos versos das canções que não envelhecem. Fazem isso com graça e leveza. São duas meninas encantadas com a capacidade revelada de seduzir as pessoas. Fazem isso com surpreendente elegância. São biscoito fino, daqueles que adoçam momentos felizes.”

         Ivan Bueno, fotógrafo, editor e especialista em marketing político:
         “Cantam muito, são simpáticas, agradáveis, alegres. Nos proporcionaram uma NOITE INESQUECÍVEL. Nos quatrocentos e poucos quilômetros até Curitiba vim ouvindo o CD que as garotas nos presentearam, pena  que eram, daquele imenso e  excelente repertório, somente 7 músicas. Pensei, descendo uma das serras até Curitiba, que às contrataria para cantarem, se soubesse a data,  para a minha subida aos CÉUS no dia  que o corpinho, que muitas mulheres amaram (hahahahahahaha) for CREMADO”.

         Américo Vermelho, fotógrafo e cinegrafista dos melhores do Rio de Janeiro:
         "Rita e Dayse, The Tunned Oldies": se as duas não existissem nessa atual versão (não quero entrar em detalhes sobre o que faziam antes de formarem a dupla), teriam que ser rapidamente inventadas por um cientista maluco beleza! Isto porque, com sua energia, vigor, qualidade vocal e de repertório, elas estão num patamar pouco visto no panorama musical brasileiro. Testemunhei isto neste fim de semana. Foram 7 horas de pura música e alegria. 
         Que tenham mais 140 anos de estrada. Vieram para ficar.”

         Irmo Celso Vidor, fotógrafo e advogado de Apucarana, interior do Paraná:
         “O show das meninas é de arrepiar! Afinal, cantar mais de cinco horas para essa platéia, só com muita paixão e entusiasmo, o que não falta pra elas. Mas as gatinhas não deixaram por menos e depois de tanto cantar, cantar e cantar, ainda tiveram a "coragem" de fazer companhia por mais duas ou três horas a fio para esses cinco sessentões (levemente embriagados). Rita e Dayse, The Tunned Oldies, um ponto fora da curva, se considerarmos o nível dos músicos brasileiros de hoje.
         A afinação da Deyse é incomum. E a Rita, então? Que mulher!”


         Ainda falta falar muita coisa sobre esse memorável show de Rita e Dayse. Voltarei ao assunto no próximo artigo.

(Dayse e Rita, um show inesquecível)

22/01/2015

O PT já morreu, Marta. Só esqueceram de enterrar.

        Marta Suplicy, senadora pelo PT, lançou em entrevista ao Estadão o desafio: “Ou o PT muda ou vai acabar”. Lamento informar, senadora, o seu partido já morreu faz tempo, só esqueceram de enterrar. É por isso que ele ainda aparece aqui e ali com aquele cheiro nauseabundo, vagando entre um cofre público e outro, saqueando, saqueando, saqueando. Saquear é a função que restou ao cadáver, as pessoas se afastam para não sentir o cheiro e ele aproveita para rapar o fundo do cofre, até o último centavo. Como diria Boris Casoy “é uma vergonha!
        Dá para situar, inclusive, no tempo e no espaço, o dia da morte: ocorreu em 2010 no exato instante em que seu líder maior, aquela farsa barbuda, vocês sabem quem é, como presidente da República vetou os dispositivos da Lei Orçamentária aprovada pelo Congresso que bloqueavam despesas de contratos assinados com a Petrobras consideradas superfaturadas pelo Tribunal de Contas da União-TCU. Com isto a ”Farsa Barbuda” escancarou as porteiras para a estupenda “Farra do Boi” com recursos da estatal que presenciamos atualmente.
        O veto que decretou a morte do Partido dos Trabalhadores, que hoje poderia ser chamado de Partido dos Afanadores, foi encaminhado ao Congresso Nacional pela Mensagem no. 41, de 26-01-2010, da Casa Civil da presidência da República, cuja ministra-chefe era nada mais nada menos que a ilustríssima senhora Dilma Roussef.
        Depois de publicar, com destaque, a entrevista da senadora Suplicy, o Estadão foi atrás de quatro “importantes intelectuais” brasileiros – José Arthur Giannotti, Maria Celina D’Araújo, Francisco Foot Hardman, Jairo Nicolau – perguntando-lhes se achavam que o PT encontra-se de fato na encruzilhada sugerida por Marta. A resposta veio em forma de longos artigos que ocuparam todo um caderno do Estadão. Foi uma presepada enorme, sem o menor sentido. Ninguém falou do cadáver como cadáver, todos insistiram que ele continua vivo.
        É o que acontece com todo cadáver insepulto. Ninguém joga a última pá de cal e enquanto isso ele vaga, vaga, vaga. A própria senadora Marta fala da Farsa Barbuda como se ele fosse Deus. É tudo um grande descaramento. Um partido que recebe autorização do presidente da República para roubar deixou de ser um partido para ser um conglomerado de ladrões. Quem insiste em chamá-lo de partido ou é tolo ou pessoas de má fé... Convenhamos, tola ou tolos a senadora Marta e esses “importantes intelectuais” ouvidos pelo jornal nunca foram, logo...


20/01/2015

Olha aí o Pretume, cuidado !

        Dona Nora, uma balzaquiana-curitibana, foi vizinha e locadora do meu filho mais velho, Eli, na fase de seu primeiro casamento. Eli morava com a mulher, Katiuscia, numa simpática casa de madeira – coisas típicas de Curitiba, onde o casario de tábuas  pintadas à óleo convive até hoje na paisagem urbana ao lado de mansões de alvenaria e edifícios. No fundo,  havia um gramadinho de uso comum entre proprietários e inquilinos. Era nesse gramadinho que Nora gostava de por suas calcinhas, depois de lavadas, para quarar.
        Pretume era o apelido que nosso cachorro, o mestiço labrador, inteiramente preto, recebera da vizinha de Nora, uma alemã cujo marido, também de origem alemã, segundo comentários que meu filho ouviu na vizinhança, era simpatizante de Adolf Hitler. Pretume - ou Dadinho, o nome verdadeiro, dado pelo meu filho – virou o terror de todos ali, merecia vigilância diuturna.
        Ainda filhote, Pretume gostava de apanhar as calcinhas de Nora, agitar na boca para um lado e para outro e depois atirá-las amontoadas a um canto. Era mesmo de despertar a ira de Nora e amigas vizinhas.
- Cuidado, Nora, o Pretume chegou! Recolhe rápido suas calcinhas.
        Ele nasceu em Vinhedo, onde moro até hoje, mas ainda filhote brincalhão Eli separou-o da ninhada de seis belos cachorrinhos e disse “esse é meu; vou levar para Curitiba”. E assim fez por uns tempos enquanto morou em casa com quintal. No prazo de alguns anos, Eli separou-se de Katiuscia e mudou-se para apartamento. Casou-se novamente, com Maira, uma linda professora de teatro. Continuou em apartamento. Vai ser pai em fevereiro de duas gêmeas, que já têm nome: Manuela e Isadora. Seu sonho, mais uma vez adiado, é voltar a morar em casa com quintal e ter um cachorro labrador, preto, que seja menos aloprado que Dadinho.
        Já faz alguns anos que Eli trouxe-o de volta a Vinhedo. Hoje em dia, com idade chegando, ele está um pouco mais calmo. Mas  já deu muito trabalho em Vinhedo. Adorava escapar para a rua. Ficávamos desesperados enquanto não o trazíamos de volta para casa. Agora havia uma preocupação a mais com ele - era também o cachorro de nosso primogênito, e nós uma espécie de depositários fiéis dele. Ah, se alguma coisa acontece com Dadinho e Eli fica sabendo que alguém aqui negligenciou! Pretume está numa casa em que todos amam e respeitam os animais.


17/01/2015

Humor bom pra cachorro !

        Dizem que o humor é exclusivo dos seres humanos, mas eu tenho um cachorro, Dadinho, mestiço labrador, que vive desafiando essa teoria. Ele é engraçadíssimo e usa o bom humor das pessoas para ficar a maior parte do tempo possível dentro de casa, perto de gente. Diria que aprecia muito pouco o convívio com seus pares, os demais cachorros da casa.
        O grande problema de Dadinho chama-se Susana, a dona da casa, minha mulher; Dadinho deve enxergá-la como uma espécie de extremista islâmico dos mais fanáticos e implacáveis. Ele a desafia pelo menos três vezes por dia. E ela não repara – nunca reparou – nas charges que desenha quando se vê encurralado.
        Uma dessas charges foi uma pintura e eu a tenho gravada na memória para jamais esquecer. Susana estava na sala da casa e ele, sorrateiramente, como sempre faz, penetra pela porta da cozinha. Ela ainda não o tinha visto e ele aproveitou para desafiá-la mais uma vez, entrou na sala e acomodou-se num de seus lugares preferidos, um tapete do meu lado, a menos de cinco metros dela. Os gritos de Susana ecoaram pela casa. “É muita cara de pau !!!! Muita cara de pau !!!” (sua indignação maior era perceber que ele a desafiava, parecia saber que seria enxotado mas procurava acomodar-se o mais próximo possível dela )
        Expulso da sala, Dadinho sai em direção à cozinha, dando a impressão que iria sair da casa tão rapidamente quanto entrou. Pura matreirice, a meio caminho da cozinha, sobe para o escritório, escada de madeira que faz ressoar pela casa cada passo de gente, é claro . Susana abandonou de vez o que fazia – preparava um lanche para a família – e saiu ao encalço de seu desafiante desaforado. Subiu a escada batendo os pés na madeira e foi também parar no escritório. Definitivamente, Dadinho não estava nos seus melhores dias: bem na porta do escritório, topou com meu filho caçula, Ives, que, solidário à mãe repetia as mesmas palavras de ordem, fora, fora, fora !
        Dadinho desceu apressado, e ao chegar, esbaforido à copa, separada da cozinha por um balcão, sacou lápis e papel e foi desenhando em nítidos contornos a sua melhor charge, improvisada pela astúcia de um ser bem humorado. Foi assim: ao adentrar à copa viu uma folha de jornal dupla flutuando pelo vento que soprava forte naquele instante; foi de encontro à ela de peito estufado e levou-a para fora da casa. Tinha várias opções se não quisesse me fazer rir, desviar-se; enfiar-se debaixo da folha; contorná-la de um lado ou de outro, mas preferiu aquela que lhe proporcionaria uma chegada à cozinha triunfal, apoteótica, digna de aplausos...levou a folha no peito! Foi o que fiz - aplaudi.
        Dadinho é meio meu e meio do meu filho mais velho, Eli. Mas isso eu conto em outro dia, com mais calma.


(Nosso Herói Dadinho descansando dentro de casa)

11/01/2015

Alexandre Nero, minha paixão quase inconfessável !

        Desculpe Chanshine ou Xanshine, não sei,  mas eu também, além de Cora e de milhões de telespectadoras, estamos apaixonados pelo seu Imperador. Antes que me detonem pela Internet – algo do gênero “olha lá esse velho estúpido, que resolveu virar viado aos 67 anos” – eu explico: minha paixão pelo Imperador nunca foi e nunca será sexual, até porque encarar aquela barba roçando no meu cangote é algo que não me atrai nenhum pouco, ao contrário, me repele. Minha paixão é feita de pura admiração pelo intérprete que vai além do que se espera dele.
        Posso dizer, assim, que já fui apaixonado por Marlon Brando em vários filmes, a começar pelo Poderoso Chefão (esse aí, se viado fosse, eu teria a esperançazinha de namorá-lo ardentemente, porque não usava barba e suas opções sexuais eram, digamos, bem extravagantes); por Charles Chaplin em quase toda a sua cinematografia; por Angelina Jolie, Al Pacino, para ficarmos com mais alguns poucos astros de Hollywood; por Alfredo Landa, Terele Pávez, Belén Ballesteros, Juan Sánchez e todos os demais atores e atrizes de Los Santos Inocentes, magistral filme espanhol de 1960, dirigido por Mario Camus, talvez o melhor filme que já vi na vida (Quem ainda não viu corra para a locadora mais próxima, é imperdível!).
        Isto no cinema, pois em teledramaturgia tenho de me lembrar do eterno Paulo Gracindo e de Lima Duarte, dono de algumas interpretações magníficas.
        Voltando ao Imperador, a paixão que sinto por ele, Alexandre Nero, dos melhores intérpretes que já desfilaram pelas novelas da Globo, estava ao que tudo indica reservada para ele há algum tempo, desde que meu filho mais velho, Eli , diretor de fotografia em cinema e publicidade, começou a me falar dele. Ambos moram em Curitiba e se conhecem. Eli já produziu um vídeo para o Alexandre Nero cantor de MPB, que serviu para ajudar no lançamento do disco Vendo Amor. Por sorte o cantor ficou por uns tempos na geladeira para dar lugar ao reino do intérprete, que a concluir pela estreia como protagonista em “Império” será longevo.
        Alexandre Nero esbanja carisma, algo raro na maioria dos intérpretes da teledramaturgia brasileira. Carisma, carisma, carisma. Sem ele, nenhuma novela consegue me manter por mais de 15 minutos na frente de uma TV. Com Alexandre Nero fico preso em pedaços da trama completamente inverossímeis, o que é difícil de admitir em outra novela, sem a marca registrada de um Dias Gomes. Fazia tempo que uma novela não despertava em mim o interesse que tenho por Império.
        O que um bom intérprete é capaz de fazer com a gente, não é?




09/01/2015

Algo além da intolerância !

        Não me parece que é apenas a intolerância que move o terror. Há algo que vai além, muito além disso. Algo forte, baseado nas frustrações, no desejo irrefreável de submeter o mundo a um regime de trevas, de absoluta escuridão. Quer dizer, uma estupenda utopia, que até uma criança de ainda tenra idade saberia dizer que é uma meta impossível de ser alcançada.
        Por que o humor tem sido alvo frequente dele, do terror? Sem nenhuma pretensão vou tentar encontrar uma resposta, aqui, em poucas linhas. Visto como “uma quebra brusca, repentina, de uma sequência lógica”, o humor é a única coisa, entre todas as atividades do Homem, difícil de controlar ou censurar. Pode-se prender o humorista, colocá-lo numa masmorra e mesmo assim um pequeno gesto seu, um aceno, pode ter força para provocar risos em seus carrascos e deste modo por o humor dentro de sua primordial função, provocar também bruscas alterações de comportamento nas pessoas atingidas.
        Vivemos uma época em que muitos jovens são induzidos a trocar o ideal por atos de terror, alimentando o ódio contra tudo e todos, só o ódio, nada mais que o ódio, querendo levar a humanidade para o mundinho deles, de puro ódio. Dizem que agem em nome de uma doutrina religiosa mas isso é falso como uma nota de 12 dólares. A religião que todos dizem professar é a do ódio, nada mais que ódio.
            
        Voltarei ao tema, mais para frente, com a cabeça mais fria.

(Torre Eiffel com as luzes apagadas em homenagem às vítimas do atentado ao jornal Charlie Hebdo)

06/01/2015

Genética e alimentação - (A saga do boi gordo - Parte 2)

        Na longa viagem que empreendi atrás do boi gordo comi carne de frango, de porco e até de capivara. A primeira evidência de que não havia carne bovina no mercado eu obtinha nas mesas das fazendas de pecuária, onde a carne de boi sumiu do mesmo modo que já havia ocorrido nos açougues de norte a sul do país. 
        Como toda atividade econômica, a pecuária de corte tem seus segredos. O que é proibido – ou deveria ser – é uma mídia da importância de uma TV de grande audiência entrar na cobertura de uma crise como aquela, do colapso no abastecimento da carne bovina, com um desconhecimento atroz sobre as causas da escassez. E a TV de maior audiência do país entrava na cobertura da maior crise até então enfrentada pela pecuária brasileira sabendo menos de pecuária que eu sabia sobre a produção de telenovelas.
        Era tudo o que o governo precisava para transferir a responsabilidade que era só sua para os pecuaristas. E assim foi feito.
        Na viagem por fazendas de gado eu aprendi a distinguir o boi realmente gordo, no ponto de abate, daquele outro ainda em processo de engorda. Fiquei craque: com menos de duas semanas de viagem já definia com acerto – está no ponto ou faltam dois ou três meses de pasto. Podia enxergar o animal no pasto a alguns metros de distância e definir se podia ou não ir para o frigorífico.
        Escrevi uma série de reportagens para o Jornal da Tarde que alcançou – suponho – ampla repercussão. Virei um “especialista” em boi gordo e fui convidado para participar de três programas de televisão em rede nacional. Fui chamado para ajudar a entrevistar o líder ruralista em ascensão, Ronaldo Caiado, no recém-inaugurado Roda Viva, na TV Cultura.
        Meu mérito foi agir com profissionalismo, apenas isso. Descobria os segredos da maciez da carne argentina: alimentação e genética, o que já abria um abismo entre o manejo do gado no Brasil, até hoje muito baseado na pecuária extensiva, e o modelo predominante na Argentina, intensivo, já naquela época. No extensivo o gado não para de andar, e assim vai enrijecendo a carne.
        A base da pecuária argentina ainda foi assentada sobre genética europeia, o que favorece – e muito-- a maciez da carne. A base da pecuária brasileira é indiana, o que favorece a rigidez.

         É a triste realidade com a qual ainda convivemos e temos conseguido transformar a passos de tartaruga.

(Engorda em confinamento desenvolve-se lentamente no brasil)

03/01/2015

Não é mole não ! (A saga do boi gordo - Parte 1)

        A carne argentina é mole; a carne brasileira é dura. Faz quase um século que tentamos amolecê-la, mas não conseguimos. Parece um carma a nos perseguir. Será que fomos condenados a mascar fibras pela eternidade? Os mortais já desistiram. A bola foi passada recentemente para os imortais - Tony Ramos, Roberto Carlos. Deus queira que tenham mais sucesso.
        Há menos de dois anos atrás comi um sanduíche numa cantina em frente a La Bombonera, em Buenos Aires. Tive dúvidas de que conseguiria romper com os dentes o bife colocado no meio do pão. Tinha uns cinco centímetros de espessura. Pois correu tudo maravilhosamente bem. Os dentes afundavam na carne como se esta fosse de creme. Fiquei morrendo de inveja deles.
        Em 1983, ano do plano Cruzado, viajei mais de dez mil quilômetros, de carro, a pedido do Jornal da Tarde, para tentar descobrir onde o boi gordo havia se escondido. Os açougues de todo o país estavam sem carne há meses. A carne no Brasil nunca foi lá essas coisas, mas ah se faltasse nos açougues! Mole ou dura sempre foi um produto essencial.
        Campo Mourão, Paranavaí, ainda no Paraná, depois Campo Grande, Corumbá, nos estados do Mato Grosso, depois Araçatuba, já em território paulista, Uberaba e Uberlândia, no Triângulo Mineiro -descobri aos poucos, quilômetro a quilômetro, que o boi gordo havia desaparecido por uma razão nunca admitida pelo governo. O Plano Cruzado elevara o poder aquisitivo da população em março e o consumo de carne foi parar na estratosfera. Em palavras simples, o povo comeu no primeiro semestre daquele ano a carne que seria usada no segundo semestre para formação do estoque regulador de preços.
        Era preciso, contudo, encontrar um culpado pelo “sumiço“ da carne. Os civis começavam a retomar o poder no Brasil com a mesma desfaçatez de antes. O governo Sarney desengavetou uma tal Lei Delegada e começou a prender pecuaristas - Malditos retentores de boi gordo no pasto!
        Eu havia percorrido dezenas de fazendas, constatado a farsa de todo o jeito e maneira, mas a voz de um jornalista de texto não conseguia abafar a voz da televisão. O Fantástico mostrava as pastagens repletas de “bois gordos”, gravados de helicóptero, de cima para baixo, de modo que era impossível saber se estavam gordos, no ponto de abate ou não; mas era no Fantástico que as pessoas queriam acreditar.