20/01/2015

Olha aí o Pretume, cuidado !

        Dona Nora, uma balzaquiana-curitibana, foi vizinha e locadora do meu filho mais velho, Eli, na fase de seu primeiro casamento. Eli morava com a mulher, Katiuscia, numa simpática casa de madeira – coisas típicas de Curitiba, onde o casario de tábuas  pintadas à óleo convive até hoje na paisagem urbana ao lado de mansões de alvenaria e edifícios. No fundo,  havia um gramadinho de uso comum entre proprietários e inquilinos. Era nesse gramadinho que Nora gostava de por suas calcinhas, depois de lavadas, para quarar.
        Pretume era o apelido que nosso cachorro, o mestiço labrador, inteiramente preto, recebera da vizinha de Nora, uma alemã cujo marido, também de origem alemã, segundo comentários que meu filho ouviu na vizinhança, era simpatizante de Adolf Hitler. Pretume - ou Dadinho, o nome verdadeiro, dado pelo meu filho – virou o terror de todos ali, merecia vigilância diuturna.
        Ainda filhote, Pretume gostava de apanhar as calcinhas de Nora, agitar na boca para um lado e para outro e depois atirá-las amontoadas a um canto. Era mesmo de despertar a ira de Nora e amigas vizinhas.
- Cuidado, Nora, o Pretume chegou! Recolhe rápido suas calcinhas.
        Ele nasceu em Vinhedo, onde moro até hoje, mas ainda filhote brincalhão Eli separou-o da ninhada de seis belos cachorrinhos e disse “esse é meu; vou levar para Curitiba”. E assim fez por uns tempos enquanto morou em casa com quintal. No prazo de alguns anos, Eli separou-se de Katiuscia e mudou-se para apartamento. Casou-se novamente, com Maira, uma linda professora de teatro. Continuou em apartamento. Vai ser pai em fevereiro de duas gêmeas, que já têm nome: Manuela e Isadora. Seu sonho, mais uma vez adiado, é voltar a morar em casa com quintal e ter um cachorro labrador, preto, que seja menos aloprado que Dadinho.
        Já faz alguns anos que Eli trouxe-o de volta a Vinhedo. Hoje em dia, com idade chegando, ele está um pouco mais calmo. Mas  já deu muito trabalho em Vinhedo. Adorava escapar para a rua. Ficávamos desesperados enquanto não o trazíamos de volta para casa. Agora havia uma preocupação a mais com ele - era também o cachorro de nosso primogênito, e nós uma espécie de depositários fiéis dele. Ah, se alguma coisa acontece com Dadinho e Eli fica sabendo que alguém aqui negligenciou! Pretume está numa casa em que todos amam e respeitam os animais.


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