06/01/2015

Genética e alimentação - (A saga do boi gordo - Parte 2)

        Na longa viagem que empreendi atrás do boi gordo comi carne de frango, de porco e até de capivara. A primeira evidência de que não havia carne bovina no mercado eu obtinha nas mesas das fazendas de pecuária, onde a carne de boi sumiu do mesmo modo que já havia ocorrido nos açougues de norte a sul do país. 
        Como toda atividade econômica, a pecuária de corte tem seus segredos. O que é proibido – ou deveria ser – é uma mídia da importância de uma TV de grande audiência entrar na cobertura de uma crise como aquela, do colapso no abastecimento da carne bovina, com um desconhecimento atroz sobre as causas da escassez. E a TV de maior audiência do país entrava na cobertura da maior crise até então enfrentada pela pecuária brasileira sabendo menos de pecuária que eu sabia sobre a produção de telenovelas.
        Era tudo o que o governo precisava para transferir a responsabilidade que era só sua para os pecuaristas. E assim foi feito.
        Na viagem por fazendas de gado eu aprendi a distinguir o boi realmente gordo, no ponto de abate, daquele outro ainda em processo de engorda. Fiquei craque: com menos de duas semanas de viagem já definia com acerto – está no ponto ou faltam dois ou três meses de pasto. Podia enxergar o animal no pasto a alguns metros de distância e definir se podia ou não ir para o frigorífico.
        Escrevi uma série de reportagens para o Jornal da Tarde que alcançou – suponho – ampla repercussão. Virei um “especialista” em boi gordo e fui convidado para participar de três programas de televisão em rede nacional. Fui chamado para ajudar a entrevistar o líder ruralista em ascensão, Ronaldo Caiado, no recém-inaugurado Roda Viva, na TV Cultura.
        Meu mérito foi agir com profissionalismo, apenas isso. Descobria os segredos da maciez da carne argentina: alimentação e genética, o que já abria um abismo entre o manejo do gado no Brasil, até hoje muito baseado na pecuária extensiva, e o modelo predominante na Argentina, intensivo, já naquela época. No extensivo o gado não para de andar, e assim vai enrijecendo a carne.
        A base da pecuária argentina ainda foi assentada sobre genética europeia, o que favorece – e muito-- a maciez da carne. A base da pecuária brasileira é indiana, o que favorece a rigidez.

         É a triste realidade com a qual ainda convivemos e temos conseguido transformar a passos de tartaruga.

(Engorda em confinamento desenvolve-se lentamente no brasil)

Nenhum comentário:

Postar um comentário