27/10/2017

Luiz Fernando Levy, ideias coerentes, práticas deletérias!

        Pode ser que tenha existido outro homem que conhecesse o Brasil tanto quanto ele; mais que ele, nem o presidente da República!

        Por várias vezes, ministros do governo FHC corrigiram seus dados, de obras, de investimento, de trabalhadores envolvidos, pelo levantamento realizado por Luiz Fernando Levy, falecido em Florianópolis neste outubro de 2017, controlador daquele que chegou a ser o maior jornal de economia e negócios da América Latina, a Gazeta Mercantil...

        Era o fim dos anos 1990 e o Brasil fervia, com a inflação controlada pelo Plano Real (1994) e sob a batuta do governo de FHC (1995 a 2003)! Parecia não haver uma só fábrica, uma só empresa, que não estivesse em ritmo de expansão.

        Pela unidade de Campinas, no interior de São Paulo, lançávamos mais um jornal regional, o Planalto Paulista... sua primeira edição, de quase 60 páginas, trazia um levantamento pormenorizado da explosão de novas unidades industriais que chegavam de toda parte, do Brasil e do mundo...

        Num procedimento transformado em rotina, um corretor imobiliário de Campinas foi ao aeroporto de Viracopos apanhar um investidor francês para ver terrenos para implantação de uma indústria de grande porte... O cliente desembarcou do avião com o celular no ouvido, viu um terreno, viu dois, viu três sem tirar o celular do ouvido... irritado, o corretor arrancou-lhe o aparelho das mãos e o atirou nas pistas da rodovia dos Bandeirantes... Quase provocou um incidente diplomático!

LEVY NADOU NESSA ONDA

        Luiz Fernando Levy nadou de braçadas nessa onda de prosperidade fazendo as duas coisas que mais gostava: viajar e comer bem (era um gourmet e tanto!). Incansável! Tinha grande sintonia com os empresários que o convidavam para conhecer projetos, obras de expansão, obras de infraestrutura...

        Viajava, conhecia detalhes de obras e depositava tudo num banco de dados que engordava bastante a cada mês, a cada semestre... Os dados serviam para preencher o mapa que ele usava em suas palestras. Suas palestras eram – digamos – altamente motivacionais: falavam de um Brasil muito pouco conhecido, o Brasil da prosperidade, o Brasil que conseguira, finalmente, manter a inflação em um dígito, o Brasil que demonstrava ter acordado da histórica letargia!

        Roberto Baraldi, meu contemporâneo na diretoria de unidade regional da Gazeta Mercantil (enquanto eu cuidava do interior paulista ele cuidava de Minas Gerais, depois de passar vários anos no comando da redação da Gazeta Latino-Americana) costuma dizer que LuIz Fernando Levy era um visionário que sentia que o Brasil tinha potencial para crescer aceleradamente, multiplicando a renda per capita e ganhando um novo papel estratégico no cenário mundial...

        “Ele – continua Baraldi – queria ver este Brasil de perto, de dentro, e queria que os jornalistas que o acompanhavam em seu projeto fossem juntos”.

        “Promovia – persistiu Baraldi  regularmente rodízios de jornalistas residentes entre as várias regiões do Brasil de modo que um profissional da redação tivesse contato com muitas realidades brasileiras, desenvolvendo uma visão nacional ampliada e mais elaborada. Além disto, Levy organizava reuniões regionais de toda a diretoria e comando da redação nos mais distintos pontos do Brasil, das Missões, no Rio Grande do Sul, ao Cariri, no Semiárido; da Amazônia a Ouro Preto, para difundir o que chamava de Novo Brasil, um país potencialmente rico e mais justo que estava em gestação. Seus argumentos eram concretos”.

        Baraldi continuou: “Ele organizava inventários bem fundamentados de investimentos em curso por todo o país. Muito antes da era Lula e do PAC, ele já listava todas as obras em planejamento e execução e antevia que este esforço de desenvolvimento da infraestrutura teria o poder de mudar a cara do Brasil, fazendo uma revolução logística e uma descentralização do crescimento econômico”.

        Eu convivi com Levy, antes da crise, menos tempo do que Roberto Baraldi... Ainda assim, foi possível enxergar muita coerência no plano que ele concebia para seu jornal...o problema, como já disse em artigos anteriores, foi a prática deletéria que uniu grande irresponsabilidade à falta de caráter...

        Numa das viagens que a empresa organizava, por exigência de seu controlador, a lugares incomuns, há um episódio que ilustra bem o jeito nada correto de Levy tocar o projeto de expansão do jornal. As lideranças da Gazeta – diretores, comando das redações e redatores, cerca de 80 pessoas – estavam hospedadas no Hotel Nacional, em Manaus. Era noite. No anfiteatro do hotel, havíamos assistido a  um concerto da Orquestra Filarmônica de Manaus, regida pelo fabuloso Júlio Medaglia...

        Logo após o jantar, fomos convidados a sair para o espaço que circundava a piscina, a céu aberto... era para presenciar a uma queima de fogos de artifício em homenagem à Gazeta Mercantil...

        Num prenúncio da grande crise, o 13º de todos ali já acumulava dois meses de atraso... durante o foguetório, o irônico Philip Balbi, diretor da Publicidade Legal, apontava o dedo para o alto e gritava: “Seu décimo terceiro acaba de explodir, puuuum!” E repetiu isso várias vezes...

        Os maus presságios me fizeram dormir inquieto aquela noite, embora já soubesse que no dia seguinte navegaríamos pelos rios amazônicos e conheceríamos o exótico hotel Ariaú, com direito a pernoite...Aquela e várias outras viagens foram das poucas coisas boas que a Gazeta Mercantil me proporcionou...

AVENTURAS EXTERNAS

        Roberto Baraldi e Bia Toledo ocuparam cargos de comando no projeto da Gazeta Latino-Americana, outra proposta extremante ousada de Levy, que naufragou pouco antes do jornal-mãe... Ambos me escreveram contando fragmentos da experiência:

Roberto Baraldi:

        “A visão de mundo de Luiz Fernando Levy era muito afinada com a de Fernando Henrique Cardoso e ambos imaginavam que o Brasil poderia ter mais e melhor inserção na América Latina. Ambos impulsionaram o Mercosul, inspirando-se no exemplo de integração europeia.

        O  Novo Brasil  sonhado por Levy seria o eixo estruturante do novo bloco econômico. Levy queria criar o jornal que ajudasse a integração.

        Em 1996, concebeu a Gazeta Mercantil Latino-Americana, semanário bilíngue que tinha duas sedes: em Buenos Aires e no Rio de Janeiro, onde ocupava um andar do Teleporto.

         O jornal fez acordos editoriais na Argentina, Paraguai e Uruguai, e circulava semanalmente em espanhol nestes países. Ele corria a região pregando pressa na formação do bloco. Imaginava que já àquela altura  estávamos maduros para a adoção de uma moeda única.

        Mas Luiz Fernando Levy achava que o Mercosul era pouco. Ele imaginava um bloco maior, que tomasse toda a América do Sul. Deu-lhe até um nome: Amercosul.

E abrimos conversações com parceiros e jornais do Chile, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia. Em sua visão, este bloco tinha que se relacionar ativamente com os Estados Unidos, principalmente a partir da porta de entrada representada por Miami/Flórida, e com a União Europeia, a partir de Portugal e Espanha.

        Fizemos acordos editoriais e a Gazeta Mercantil Latino-Americana passou a circular em Portugal e em Miami, em associação com importantes jornais locais.

        Ocorre, porém, que o Novo Brasil era uma visão que não tomou corpo. Muitas obras vitais não foram executadas ou concluídas. Muito esforço de planejamento emperrou em baixa capacidade de gestão.

        O país rico e eficiente ainda não se levantou do berço como se esperava. O Mercosul e a federação sul-americana também não amadureceram como poderiam. Nosso lugar no cenário mundial continua a ser tímido.
       
        Mas Luiz Fernando achava que o encontro do Brasil com seu destino glorioso era uma questão de tempo. Ele vinha trabalhando para trazer a Gazeta Mercantil à luz novamente, apostando que ainda havia espaço para o que o jornal representava em termos de visão de desenvolvimento e valorização da informação como ferramenta estratégica.

        Se o conheci bem, buscou formas de colocar o sonho em pé até o último segundo de consciência de sua vida".


Bia Toledo:

         "Luiz Fernando Levy sonhava em ter a sua Gazeta Mercantil fortíssima até na Península Ibérica... Chegou a nomear um diretor por lá, o Rodrigo Mesquita... A dívida da Gazeta fora do Brasil também cresceu assustadoramente... ficou devendo tanto na Argentina que a previdência social desse país estava atrás dele.
       
        Ele havia criado um Fórum de Líderes Empresariais da América Latina, emulando os fóruns brasileiros... Participei de vários eventos dos líderes do Mercosul.

        No Uruguai, a abertura do Fórum foi feita pelo Júlio Sanguinetti, na época presidente do pais. No Paraguai, a mesma coisa. Na abertura do Fórum da Argentina, estavam também presentes os maiores empresários do Brasil e da Argentina.

        Editamos várias revistas de sucesso, emulando também as publicações brasileiras. A primeira “1.000 Maiores Empresas Latino-Americanas” foi um tremendo sucesso comercial; faturou já na primeira edição quase a mesma coisa da tradicional Balanço Anual, editada no Brasil....

        Uma pena que tudo tenha naufragado!"

(No próximo e último artigo da série sobre Luiz Fernando Levy, falarei do eterno voo da galinha do Inwestnews, da gestão excrescente de Nelson Tanure e do lamurioso fim dos Fóruns empresariais da Gazeta Mercantil)
Luiz Fernando Levy

Roberto Baraldi

Bia Toledo

19/10/2017

Luiz Fernando Levy: voos altíssimos, sem asas!

        Quando assumi a direção da unidade da Gazeta Mercantil na região de Campinas (SP), em abril de 1998, eu já conhecia razoavelmente bem as operações do jornal por observar, de perto, o trabalho de dois diretores regionais – Valério Fabris e Cláudio Lachini – visto como exemplo na organização.

        Fui chefe da sucursal de Curitiba dos jornais Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde por 16 anos (de 1976 a 1991) e foi ali que eu me tornei amigo e admirador de ambos. Com Valério, aprendi a força que o relacionamento com empresários pode ter na vida de um jornal de economia e negócios. Valério Fabris passara oito anos na condição de correspondente da Gazeta Mercantil no Paraná. 

        Quando deixou Curitiba para assumir postos de maior importância na empresa, quase mil empresários de todos os calibres compareceram à festa de despedida! Quem lá esteve, como eu, ficou de queixo caído em observar o prestígio do jornalista junto ao público-alvo da Gazeta Mercantil.

        Com Cláudio Lachini (sua morte em 2015 me deixou desolado), aprendi muito sobre criatividade, inovação e espírito empreendedor... Ele fora mandado a Curitiba no começo dos anos 1980 para implantar a Unidade de Negócios do Paraná. Inventou uma espécie de “unidade itinerante” da Gazeta Mercantil pelo Estado e tornou o jornal presente e forte em todos os mercados dinâmicos do interior, de Apucarana a Londrina, de Maringá a Campo Mourão, de Cascavel a Foz do Iguaçu... Suas marcas de receita e prestígio nunca foram superadas.

REENCONTRO EM SÃO PAULO

        Em 1988, eu também retornava a São Paulo, a convite de Rodrigo Mesquita, para integrar o time de jornalistas que iria transformar a AE - Agência Estado (grupo Estado) de agência de notícias em agência de informações. Fui responsável então pela implantação de uma nova rede de sucursais da AE em todo o Brasil.

        Já tentara emular o modelo operacional da Gazeta Mercantil: um jornalista nomeado como espécie de Publisher, responsabilizando-se por todas as operações da empresa regionalmente. Era uma ótima fórmula, nunca tive qualquer dúvida...

        Reencontrei-me com Cláudio Lachini em São Paulo, eu como diretor comercial da AE e ele como diretor comercial da Gazeta Mercantil. Foi ele que me convidou a assumir a unidade de Campinas...

        Cláudio Lachini passou-me as instruções e junto com elas veio uma descrição sumária do que era o plano estratégico em andamento:

        - Com as unidades regionais, pretendemos realizar uma ocupação horizontal do país e seus principais mercados. Prepare-se para lançar logo mais o jornal regional de Campinas. Ele será o instrumento pelo qual a Gazeta Mercantil fará a sua inserção vertical, nos mercados regionais e na comunidade.

        Antes de tomar posse em Campinas, tive meu primeiro contato com Luiz Fernando Levy, o comandante. Foi um encontro rápido e frio. Aprofundou um pouco a orientação que me havia sido passada por Lachini e acrescentou:

        - Os assuntos relacionados ao institucional da Gazeta, você trata diretamente comigo. Pode me ligar quando tiver necessidade. 

        Em Campinas, saí a campo, já vestido com a camisa do Publisher.  Visitei empresários, executivos das grandes corporações, lideranças empresariais, políticas e sociais. Apresentava-me, falava do plano estratégico da empresa e deixava implícito que iríamos interagir dali em diante com intensidade. “Enxerguem na Gazeta uma ferramenta de ajuda na solução dos problemas que afligem o setor empresarial na região”, concluía assim as inúmeras reuniões. 

        Marcava eventualmente encontros de grupos de empresários ou visitas às empresas com a presença de Levy, que se mostrava sempre disposto a ajudar o seu time de diretores regionais, chamados de senadores internamente, não se sabe se por ironia ou respeito.

FRUTOS SURGIRAM EM POUCO TEMPO
  
        O trabalho frutificou. As pessoas estavam ansiosas por interagir com a Gazeta. Comecei a receber telefonemas, um deles, aliás, bastante curioso:

        - Você não sabe a alegria que eu tenho em ouvir a sua voz e descobrir que você está vivo. Liguei na certeza de que receberia a informação de que você havia morrido ontem, disse-me o então secretário do desenvolvimento da Prefeitura de Campinas, Manoel Carlos dos Santos. 

        Recorri rápido ao jornal da cidade e fui direto à coluna necrológica: no dia anterior havia morrido, em Campinas, um contador de nome Dirceu Pio. Alguém abrindo a vaga pra mim, imaginei.

        Lembrei-me também, nessa época, de uma das histórias contadas por Valério Fabris. Ao desembarcar em Florianópolis para assumir, no final dos anos oitenta, a unidade regional de Santa Catarina, Valério recebe um telefonema do então governador do estado, Espiridião Amin, que lhe dava as boas vindas. Marcaram um almoço para se conhecer pessoalmente já no dia seguinte. Valério, detalhista, disse ao governador:

        - Irei vestido com terno azul e gravata vinho. E o senhor?

        - Valério, eu não costumo usar peruca, replicou Espiridião Amin, o dono da calvície mais radical entre os políticos brasileiros.

        Formei a equipe – Ana Carolina Silveira, Ana Heloísa Ferrero, Agnaldo Brito, Maria Finetto, Angela Gusikuda, Cacalo Fernandes – cuidando da redação e Alberto Luiz Ferreira e Alexandre Catani cuidando das vendas de publicidade e de assinaturas – e intensifiquei contatos com empresários.

        Em menos de seis meses, começávamos a colher resultados: o gráfico das receitas iniciaria um longo e pronunciado curso de altas mensais e sucessivas...

        Aquilo que a Gazeta definira por Região de Campinas era bem amplo: incluía os municípios de Sorocaba, Jundiaí, Piracicaba, Americana, Limeira e dezenas de outras cidades menores, que no conjunto formavam uma megalópoles com mais de 4 milhões de habitantes – e era o segundo polo brasileiro em produção industrial, perdendo apenas para a Grande São Paulo...

        Haja pernas e disposição para fincar a bandeira da Gazeta em toda parte!

E SURGE O PLANALTO PAULISTA

        Em menos de um ano, lançávamos o jornal regional de Campinas. Chamava-se Planalto Paulista. Eram na verdade de seis a oito folhas encartadas de segunda a sexta-feira no jornal-mãe com circulação restrita nos municípios da região...

        A ideia era simplesmente sensacional e nunca entendi porque, mesmo após o desaparecimento da Gazeta, nenhum outro jornal a tenha copiado!  

        Em praticamente todas as visitas que eu fazia – e eram muitas! – encontrava sobre a mesa das principais lideranças empresariais exemplares do jornal regional rabiscados ou recortados em sinais evidentes de que era uma mídia útil e necessária... Foi possível perceber a importância da cobertura sistêmica de economia e negócios regional! 

        Em menos de um ano de circulação, os jornalistas a serviço do regional eram identificados em coletivas como repórteres do Planalto Paulista, quer dizer, o filhote  tomando o lugar da mãe...

IDENTIFICAR PROBLEMAS 

        Meu passo seguinte foi identificar os mais graves problemas regionais e examinar como a Gazeta poderia contribuir com a solução! Não demorei a trombar com o problema da água: a natureza e as circunstâncias não foram nada generosas com a região de Campinas...

        Começa que o sistema Cantareira, feito pra abastecer a Grande S. Paulo, rouba, lá na cabeceira, boa parte das águas dos rios (Jundiaí, Capivari-Cachoeira, Atibaia, Piracicaba) que passam pela região. Já descem mambembes e pelo caminho eram drasticamente detonados pelo lançamento de esgotos urbanos e industriais...

        Não bastasse essa dupla tragédia, havia o grave problema geológico: uma faixa enorme do território de Campinas e vários municípios vizinhos (Vinhedo, Valinhos, Paulínia, Jaguariuna) é revestida por um maciço granítico de tal espessura que torna impraticável a abertura de poços artesianos.

        A situação era dramática, mas os usuários, sobretudo a indústria, não eram suficientemente informados do cenário ameaçador!

        Foi fácil escrever o Projeto Água, executado com brilhantismo e entusiasmo pela equipe da Unidade!

        A estrutura do Projeto obedeceu a uma agenda muito bem calculada: começou com a edição de seis cadernos temáticos encartados no Planalto Paulista e terminou com um seminário que reuniu mais de mil pessoas no auditório do CIESP, em Campinas, para discutir a cobrança pelo uso da água.

        Num primeiro resultado do projeto, conseguimos alterar substancialmente a composição da estrutura dos organismos gestores da água doce no estado de São Paulo, com redução da participação do governo estadual e aumento da participação das comunidades. 

        “Água para todos, todos pela água”, rezava o cartaz, no formato de um pôster, que servia para difundir os objetivos do programa ... Nem nós que o idealizamos e o executamos conseguimos prever tanta repercussão – o Projeto Água conquistou vários prêmios regionais e chegou à finalíssima do Prêmio Esso. 

        O cartaz foi emoldurado e colocado nas paredes de um número incontável de empresas, Ongs e Prefeituras. Foi no comecinho do novo século...

NÚMERO DE ASSINANTES DISPAROU

        Recebeu ampla adesão de anunciantes; produziu, como já disse, transformações básicas na estrutura de gestão das águas em SP; impactou inúmeras indústrias regionais só então alertadas para a escassez da água regional. Pode-se dizer, com segurança, que foi o Projeto Água que intensificou a racionalização do uso da água pela indústria paulista.
       
        Lembro-me que um dos artigos publicados nos cadernos temáticos mostrava que, na França, o valor da tarifa pelo uso da água subia ou descia de acordo com os índices de poluição dos mananciais, num mecanismo extraordinário para incentivar a conservação por usuários e municípios... 

        Outro artigo apontava para os riscos da paralisia quando os governos açambarcam e tutelam os organismos de gestão: em nenhum dos países onde isso ocorreu houve avanço mais significativo na proteção de mananciais...

        Outro resultado fantástico do projeto foi o modo como ele incentivou a leitura do jornal-mãe, tanto que as assinaturas da Gazeta Mercantil na região de Campinas, até então estacionadas na casa das quatro mil, disparou impetuosamente para encostar na marca de 20 mil, simplesmente um arrojo para um jornal segmentado... Muito mais gente quis acompanhar os conteúdos do Projeto Água e para isso era convencida a assinar a Gazeta Mercantil...

MAIS E MAIS PROJETOS      

        Na sequência do Projeto Água, veio o Projeto Ambiental e na sequência deste veio o Projeto Socioambiental, este com duas novidades: a instituição de um Prêmio a empresas, prefeituras, ONGS, propriedades rurais que nos apresentassem os melhores programas socioambientais e estadualização das atividades (Por determinação de Luiz Fernando Levy eu havia assumido a direção de duas outras unidades, a do Vale do Paraíba e a de Ribeirão Preto, o que permitiu ampliar a área de alcance dos projetos para quase todo o Estado de São Paulo).

        Para quem estava de fora, foi bonito de ver: informadas de que ganharam um dos prêmios, prefeituras e empresas de cidades longínquas como Rio Claro, Penápolis, Caçapava e Jacareí formaram caravanas de ônibus e carros para vir a Jaguariúna, na Red Eventos, participar de um seminário e assistir à solenidade de entrega dos Prêmios – troféus confeccionados por crianças carentes de uma instituição de Campo Limpo Paulista, mais diplomas e cartelas de selos de qualidade socioambiental que as empresas poderiam colar em seus produtos...

        Ao derrubar as torres gêmeas de Nova Yorque, em 11 de setembro de 2001, Bin Laden certamente não poderia imaginar que estaria matando também o maior jornal de economia e negócios da América Latina...
        Ao concluir o Projeto Socioambiental, eu já sabia tudo o que estava na iminência de acontecer... depois dos atentados, a Gazeta iria amargar meses sem a entrada de um só anúncio pago e os funcionários iriam suportar meses de inadimplência salarial...

A FESTA ACABOU

        Quanto realizamos a festa de encerramento do Projeto Socioambiental – nada menos de 2.500 pessoas em grande animação na Red Eventos com direito a jantar, tudo pago pela CPFL, patrocinadora máster  -  já sabíamos que as unidades do interior paulista seriam fechadas...

        Luiz Fernando Levy, acovardado, já batera em retirada, entregando o comando da empresa para o inepto Sergio Thompson Flores... Meu amigo Cláudio Lachini é que esteve em Jaguariúna e deve ter percebido todo o meu desencanto...

        Lembrava-me dos meus tempos de Agência Estado... Monitorávamos a Gazeta Mercantil por saber que ela, com seus conteúdos especializados, seria um concorrente respeitável se entrasse na difusão de informações pela via eletrônica...

        Olhávamos com desconfiança para o barulho provocado pela implantação do plano estratégico de Levy em ritmo acelerado... Sabíamos que a Gazeta era uma empresa em crise... Há tempos não recolhia o FGTS de seus funcionários e não honrava nenhum dos contratos que assinara com as instituições que a socorrera... De onde será que vem o dinheiro pra tanta expansão? – nos perguntávamos.

        Até que um dia dois diretores da AE – Sandro Vaia e Eloi Gertel – conseguiram marcar um almoço com um consultor empresarial que – sabíamos – conhecia a fundo as movimentações da Gazeta... limitou-se a contar aos perplexos Sandro e Eloi a seguinte anedota:

        - Sentado ao lado de um papagaio, um executivo fazia um voo internacional de longa distância...depois de iniciado o serviço de bordo, ambos fizeram pedidos à aeromoça, que passava pra lá e pra cá sem atendê-los... Em menos de dois minutos de espera, o papagaio já a destratava, xingando-a de tudo quanto é nome... Já o executivo suportou calado a espera de quase uma hora até que, enfim, ensandecido, resolveu imitar o papagaio e também xingou a moça de prostituta pra cima... deu azar, o comandante viu tudo, pegou os dois – papagaio e executivo – e atirou pela janela do avião... O executivo despencando em alta velocidade vê o papagaio, alegrinho, formoso, batendo as asinhas, aproximar-se dele pra dizer: - Pra quem não tem asa, você tem uma coragem que é um espanto!

        Foi a melhor definição do Luiz Fernando Levy que já ouvi: um executivo sem asas, mas com uma coragem assombrosa!

        (No próximo capítulo da série você vai ler tudo sobre o Investnews, o serviço eletrônico da Gazeta Mercantil, e a ideia extravagante de Luiz Fernando Levy de criar o Amercosul) 





10/10/2017

Um doidivanas no comando da Gazeta Mercantil!

        O patrono da Gazeta Mercantil, Dr. Herbert Levy, era pontual. Apoiado na mesma bengala que o acompanhou nos últimos dez anos de vida, foi o primeiro convidado a chegar ao evento que organizávamos em Campinas para lançamento de um guia de cultura e lazer dos municípios que margeiam as rodovias Bandeirantes e Anhanguera.

        Eu dirigia há cinco meses a URN - Unidade Regional de Negócios de Campinas (SP) e já fora informado que Herbert Levy tinha um carinho especial para com o interior paulista de onde saíram os votos que o elegeram deputado federal por vários mandatos...

        Recebi-o, acomodei-o numa poltrona à beira da piscina do hotel Royal Palm Plaza. Ainda envolvido com os preparativos do evento, não tive como dar-lhe atenção, tarefa que repassei a amigos, diretores do jornal em São Paulo, seus velhos conhecidos.

        Assim que me vi livre das preocupações com o evento, aproximei-me dele em tempo de presenciar um diálogo memorável:

        - Retornamos ainda ontem do Nordeste onde lançamos três jornais regionais, informava-lhe um dos diretores da sede, em São Paulo.

        - Três jornais regionais!!?? Mas que maravilha! Esse meu filho Luiz Fernando  é um grande empreendedor, um empresário com uma visão extraordinária...

        - E tem mais, dr. Herbert: no próximo mês, vamos lançar mais três jornais regionais aqui, no interior de São Paulo, disse-lhe o mesmo interlocutor, certamente empolgado pela reação ao informe sobre as iniciativas do Nordeste.

        - Mais três??!! Escuta, não é muito não!?

        Falecido em janeiro de 2002, o dr. Herbert não teve o desgosto de ver o filho entregar sua empresa, já destroçada, ao salafrário Nelson Tanure... E nem chorar pela última edição do jornal (junho de 2009) que ele fundara no longínquo 1922.

        Mas aquele diálogo nas bordas da piscina do Royal Palm Plaza num dia qualquer de setembro de 1998, além de ser premonitório, foi também uma síntese primorosa de tudo o que aconteceria com o maior jornal de economia e negócios da América Latina na primeira década do Novo Milênio...

        Se fosse possível encontrar-me com ele, hoje, eu lhe diria: “Foi muito sim dr. Herbert... E como! Seu filho empreendedor e de visão extraordinária quis implementar em dois ou três  anos um plano estratégico que o bom senso recomendaria execução gradual em 10 ou 12 anos”.

        Nenhuma empresa do mundo teria resistido, por mais sólida que fosse, a tanta ousadia, açodamento e irresponsabilidade...o culpado pelo imenso desastre que se abateu sobre a Gazeta Mercantil, matando-a, foi um homem só e se chama Luiz Fernando Ferreira Levy, falecido em Florianópolis (SC), de causas naturais, aos 72 anos (e não 77, como foi divulgado), na primeira semana de outubro de 2017...

        O plano estratégico que poderia ter levado o jornal Gazeta Mercantil a ser o maior diário de economia e negócios das Américas era consistente e funcionava, como eu mesmo consegui demonstrar com as operações da URN de Campinas !
   
        (Pretendo contar a história dessa comprovação no próximo capítulo desta série; por ora, detalharei o plano estratégico e a ousadia e a irresponsabilidade de sua desastrada implementação!)

MALDITO ANO 2000

        O ano da virada do século – 2000 – foi o melhor ano econômico da história da Gazeta Mercantil! Antes estacionada na casa dos 150/160 milhões/ano, em 2000 as receitas ultrapassaram - e muito! – a casa dos 200 milhões!

        Tornou-se assim um ano maldito, pois foi graças a esse desempenho que Levy afundou o pé no acelerador na implementação de seu plano estratégico, então acrescido da entrada do jornal em televisão ! Foi a chamada “acelerada fatal”!

        Já era pura megalomania, mas Levy decidiu enfiar o jornal de cabeça na TV Gazeta negociando com os diretores da Fundação Casper Líbero, detentora do canal com penetração razoável em São Paulo: “Precisamos aproveitar as benesses da homonimia”, justificava sem detalhar os termos do contrato que certamente impunha ao jornal mais um ônus insuportável!

        Com ou sem talento para TV, jornalistas do impresso passaram a ocupar várias horas de vídeo com uma programação improvisada, sem nenhum planejamento!

MAPA PONTILHADO

        Nido Meirelles, o diretor de circulação, costumava dizer aos diretores regionais:

        - Querem ver o Luiz Fernando feliz, mostrem pra ele o mapa do Brasil salpicado de unidades da Gazeta Mercantil?!

        E era verdade!  Em seus delírios expansionistas, nada animava mais o condutor do projeto que o convite para inaugurar uma nova unidade, para lançar mais um jornal regional ou apenas para participar de um evento que simbolizasse iniciativas e ações estratégicas...

        O plano estratégico era feito de quatro pontos bem demarcados:

        1)- Ocupação horizontal do Brasil com implantação de URNs em todos os mercados dinâmicos, do Oiapoque ao Chuí, literalmente...Para cuidar do Rio Grande do Sul, nomeou o dinâmico Hélio Gama; pra cuidar, lá em cima, do Pará, nomeou a experiente Cíntia Sasse; Guilherme Pena foi cuidar do Triângulo mineiro, território sensível por que era ali que, no município de Romaria, Levy tinha a fazenda onde enfiou, segundo me revelou um empresário de Campinas,  alguns milhões dos recursos do jornal....Em dois anos, nasceram nada menos de 20 unidades da Gazeta, quer houvesse recursos para tanto ou não...

        2)- Ocupação vertical, de todos os mercados dinâmicos, através dos jornais regionais...Ele mesmo definia: “O jornal nacional traz os acontecimentos de economia e negócios do país e do mundo; e o jornal regional – na verdade um caderno de circulação local encartado no jornal-mãe – traz o noticiário dos municípios e deve servir de instrumento para penetração da Gazeta nas comunidades, verticalmente”.
    
        3)- Descentralização da planta gráfica...A Gazeta Mercantil foi pioneira no deslocamento da impressão do jornal para fora da cidade onde estava localizada a planta-matriz (SP). No início, os arquivos do jornal, já diagramado e pronto para impressão, eram transmitidos por um sofisticado sistema a laser...Levy pegou os primórdios do alargamento das bandas de internet e deu como missão aos diretores regionais a viabilização de acordos com gráficas locais que permitiriam a impressão local. ”O leitor da Gazeta em Belém do Pará ou em Manaus vai receber o jornal no mesmo horário em que o jornal é entregue em São Paulo”, orgulhava-se Levy...

        4)- Todas as unidades regionais têm de ser autossuficientes, ou seja, devem faturar o suficiente pra pagar seus gastos locais e bancar os gastos com as operações do jornal nacional...essa era a meta e os diretores regionais tinham de pensar em estratégias que permitissem alcançá-la no menor prazo possível...Preocupado com o tema, Levy começara a mandar alguns diretores regionais até para o exterior com o objetivo de qualificá-los em gestão....



OUSADIA CEGA E CARÁTER GELATINOSO

        Com tantas extravagâncias, o caixa da empresa gemia; mas o condutor não era de se importar com estouros do orçamento. Uma vez, num encontro de diretores e editores do jornal em Uberlândia, enquanto fazia xixi no banheiro do hotel, foi informado que as contratações que ele acabara de autorizar, fariam explodir o orçamento da empresa e ele reagiu: “Xiii! O financeiro vai comer meu rabo!”

        Financeiro e RH tentavam barrar o festival de contratações pois enxergavam com clareza que havia um desencontro feérico entre o ritmo da expansão e o caixa, mas Levy foi implacável ! Em novo encontro das lideranças em Vitória, no Espírito Santo, anunciou a demissão das pessoas que tentavam retardar a implementação de seu plano e foi aplaudido de pé pela plateia que incluía os diretores regionais!

        A irresponsabilidade não era tudo! Luiz Fernando Ferreira Levy levara para o comando da empresa suas duas compulsões: a de não pagar o que deve e a de trair os amigos, não importava o que haviam feito por ele ou por sua empresa...

        Não pagava credores, não pagava nenhuma fatura que viesse do governo e costumava dizer que o governo é que financiaria a expansão da Gazeta... Não cumpriu nenhum dos acordos firmados com as instituições que socorreram a Gazeta (Fundos de Pensão, Bofa, entre outras). Nos últimos tempos, a Gazeta só recolheu o FGTS, de seus empregados de salários maiores, do ano de 2000...

        Era também um traidor inveterado... Traiu a todas as pessoas que o ajudaram – Cláudio Lachini, Mário de Almeida, Roberto Muller, Mathias Molina, Delmo Moreira e tantos outros...Nunca o vi preocupado com os dramas que a sua irresponsabilidade provocou... Soube há pouco tempo que um dos seus mais diletos amigos atirou-se do quinto andar de um prédio em São Paulo; conheço inúmeras outras histórias de sofrimento causado pela falência da Gazeta Mercantil, entre as quais está a do vendedor Alexandre Catani, de Campinas, que teve sua vida completamente desestruturada com a perda da casa, a perda da mulher, a perda da auto-estima... Só recentemente Catani conseguiu emergir da profunda depressão...foi o vendedor mais criativo com quem já trabalhei...

        O saldo de caixa do ano 2000 foi rapidamente consumido pelo tresloucado plano de TV. Tudo indicava, pelo desempenho da receita no primeiro semestre, que 2001 seria tão bom quanto o ano anterior... A sucessão de crises ocorridas a contar de junho – crise do Apagão, crise da Argentina, 11 de setembro – transformou a Gazeta Mercantil em espécie de borboleta perdida em meio à tempestade.

        Tinha mesmo de sucumbir...




04/10/2017

Requiem para Luiz Fernando Levy (I)

Salvo engano, fui o jornalista que ficou ao lado dele por mais tempo durante a tempestade final ! Acompanhei de muito perto a derrocada da Gazeta Mercantil e o desmoronamento dos Fóruns de Líderes que ele tentava salvar, à margem do jornal, que havia sido arrendado (2004) ao deletério Nelson Tanure...

Não tenho palavras para qualificar essa perda: não digo “já foi tarde” ou “que pena”, nem “uma grande perda” ou apenas “coitado, se foi!”... a morte de Luiz Fernando Ferreira Levy, neste 3 de outubro de 2017, em Florianópolis (SC), não mexeu comigo... mexeu mais com minha advogada, Daniela Freitas, que já me disse que vai ficar mais difícil para recebermos um resíduo importante da indenização trabalhista...

Eu trabalhei próximo dele por vários anos! Na época, eu amargava o estigma de quem trabalhara numa empresa insolvente... Não recebia propostas... além disso, já previa as dificuldades que teria para receber o meu passivo da Gazeta, que havia aumentado a valores nada desprezíveis... Se eu ficar mais próximo dele, será mais fácil receber, pensei... Foi um grande equívoco!

A vida é assim mesmo, feita de erros e acertos! Eu já havia errado antes, ao me desligar da Agência Estado pensando em empreender... Optei por trabalhar na Gazeta Mercantil e sepultei, talvez para sempre, a vocação inata de empreendedor...

Não me arrependo de nada do que fiz ou deixei de fazer... Mesmo passando por dificuldades nos últimos 15 anos (minha situação só foi melhorar há pouco tempo, após receber uma parte da indenização da Gazeta), consegui preservar intacto, firme como uma rocha, o bem mais precioso que um homem pode ter: o caráter!

O mesmo não se pode dizer do falecido!

Cláudio Lachini, meu dileto amigo, que infelizmente já partiu, como grande conhecedor da cultura da Gazeta (foi ele que me convenceu a aceitar o cargo de diretor regional de Campinas), havia me alertado para o caráter “gelatinoso” de Levy, mas eu, sem outra opção de curto prazo, resolvi pagar pra ver...

CRISE DE COMUNICAÇÃO

No livro que acabo de publicar sobre comunicação empresarial – "A Força Transformadora da Comunicação Interna", simplíssimo.com – dou a crise da Gazeta como exemplo de tudo aquilo que as organizações em crise não devem fazer! Escrevi que antes de morrer abatida por uma crise financeira, a Gazeta foi arrastada para o abismo por uma monumental crise de Comunicação...

E isto é relativamente fácil de explicar: as operações da Gazeta eram decentralizadas... o total das receitas da empresa era resultado da soma das receitas obtidas por suas 20 unidades regionais... o modelo operacional da Gazeta era fortemente baseado na figura do diretor de unidade, que fazia o papel do Publisher junto aos mercados regionais...

Assim que enxergou a possibilidade de comprar a Gazeta Mercantil, o deletério empresário Nelson Tanure , já arrendatário da marca do Jornal do Brasil, firmou um nefasto acordo de “cooperação” com Levy pelo qual a venda de publicidade de ambos os jornais seria centralizada... O comando será da Gazeta, "facilitou" o esperto Tanure...
  
A função de Publisher do diretor de unidade foi suspensa... Claramente baseado na tese de que quanto pior fosse a gestão da Gazeta, mais fácil seria a negociação com Levy, Tanure atacara no ponto certo... Se havia em todo país empresários dispostos a ajudar a Gazeta, faltaram interlocutores (os diretores regionais) capazes de transformar essa ajuda em realidade...

Sei do que falo: eu mesmo consegui salvar uma fatura de 350 mil reais do balanço do Banco da Amazônia... Estava por acaso na sala do diretor comercial Xerxes Gusmão (já falecido), em São Paulo, vi-o tenso, apreensivo, perguntei o que se passava e ele respondeu num tom de desespero: “Perdemos o balanço do Banco da Amazônia para o Valor Econômico!”

PERDAS ATRÁS DE PERDAS

Só mesmo quem estava ali vivendo os horrores da crise podia enxergar o significado de uma perda daquela grandeza: agi rápido! Consegui o telefone do banco e em menos de dez minutos negociava com o diretor de marketing do banco... soube então o que acontecera: anunciante antigo e cativo da Gazeta, o banco, meio a contragosto, negociara a publicação de seu balanço no Valor Econômico na certeza de que pagaria menos da metade do que gastaria com a mesma publicação na Gazeta Mercantil...a informação era falsa...alguém que não soubemos descobrir quem foi falara com o banco em nome da Gazeta informando preços absurdos... 

Com aprovação de Xerxes, ofereci um desconto de 20% ao preço de tabela e reverti a negociação em cinco minutos...

Do Oiapoque ao Chuí, toda a atividade comercial da Gazeta Mercantil era apoiada pelos diretores regionais, todos jornalistas experimentados, por exigência da Empresa... Tanure sabia disso e com certeza agiu de má fé... Perdas iguais - ou piores - que essa, do Banco da Amazônia, ocorreram em toda parte... uma tristeza...

Ao centralizar a área comercial, Levy eliminou qualquer possibilidade de sobrevivência de sua empresa...jogou também na lata do lixo a capacidade intelectual de suas lideranças em encontrar saídas para a crise. As lideranças da Gazeta foram alijadas do processo decisório...

Visto como um líder empresarial altivo e imponente durante alguns anos, Luiz Fernando Levy , mal começou a crise, enclausurou-se em seu gabinete de onde tomava, solitária e tecnocraticamente, as decisões mais desastradas...quando a crise se aprofundou, em 2002, acovardado, bateu em retirada e entregou o comando da empresa ao inepto Sérgio Thompson Flores que só fez agravar todos os problemas...

Ao retomar o comando, dali a um ano, Levy encontrou uma empresa destroçada e mutilada com tal violência que já não foi possível fazer mais nada, a não ser enfiar o rabo entre as pernas e arrendar a marca ao inefável Tanure...

(No próximo artigo desta série, falarei do plano de Luiz Fernando Ferreira Levy – aparentemente ardiloso, mas estúpido pelo prazo acelerado de implantação – de transformar a Gazeta Mecantil no maior jornal de economia e negócios das Américas!)

 Luiz Fernando Levy