Salvo
engano, fui o jornalista que ficou ao lado dele por mais tempo durante a tempestade final !
Acompanhei de muito perto a derrocada da Gazeta Mercantil e o
desmoronamento dos Fóruns de Líderes que ele tentava salvar, à margem do jornal, que havia sido arrendado (2004) ao deletério
Nelson Tanure...
Não
tenho palavras para qualificar essa perda: não digo “já foi
tarde” ou “que pena”, nem “uma grande perda” ou apenas
“coitado, se foi!”... a morte de Luiz Fernando Ferreira Levy,
neste 3 de outubro de 2017, em Florianópolis (SC), não mexeu
comigo... mexeu mais com minha advogada, Daniela Freitas, que já me
disse que vai ficar mais difícil para recebermos um resíduo
importante da indenização trabalhista...
Eu
trabalhei próximo dele por vários anos! Na época, eu amargava o
estigma de quem trabalhara numa empresa insolvente... Não recebia
propostas... além disso, já previa as dificuldades que teria para
receber o meu passivo da Gazeta, que havia aumentado a valores nada
desprezíveis... Se eu ficar mais próximo dele, será mais fácil
receber, pensei... Foi um grande equívoco!
A
vida é assim mesmo, feita de erros e acertos! Eu já havia errado
antes, ao me desligar da Agência Estado pensando em empreender...
Optei por trabalhar na Gazeta Mercantil e sepultei, talvez para
sempre, a vocação inata de empreendedor...
Não
me arrependo de nada do que fiz ou deixei de fazer... Mesmo passando
por dificuldades nos últimos 15 anos (minha situação só foi
melhorar há pouco tempo, após receber uma parte da indenização da Gazeta), consegui preservar intacto, firme como uma rocha, o bem
mais precioso que um homem pode ter: o caráter!
O
mesmo não se pode dizer do falecido!
Cláudio
Lachini, meu dileto amigo, que infelizmente já partiu, como grande
conhecedor da cultura da Gazeta (foi ele que me convenceu a aceitar o
cargo de diretor regional de Campinas), havia me alertado para o
caráter “gelatinoso” de Levy, mas eu, sem outra opção de curto
prazo, resolvi pagar pra ver...
CRISE
DE COMUNICAÇÃO
No
livro que acabo de publicar sobre comunicação empresarial – "A
Força Transformadora da Comunicação Interna", simplíssimo.com
– dou a crise da Gazeta como exemplo de tudo aquilo que as
organizações em crise não devem fazer! Escrevi que antes de morrer
abatida por uma crise financeira, a Gazeta foi arrastada para o
abismo por uma monumental crise de Comunicação...
E
isto é relativamente fácil de explicar: as operações da Gazeta
eram decentralizadas... o total das receitas da empresa era resultado
da soma das receitas obtidas por suas 20 unidades regionais... o
modelo operacional da Gazeta era fortemente baseado na figura do
diretor de unidade, que fazia o papel do Publisher junto aos mercados
regionais...
Assim
que enxergou a possibilidade de comprar a Gazeta Mercantil, o
deletério empresário Nelson Tanure , já arrendatário da marca do
Jornal do Brasil, firmou um nefasto acordo de “cooperação” com
Levy pelo qual a venda de publicidade de ambos os jornais seria
centralizada... O comando será da Gazeta, "facilitou" o
esperto Tanure...
A
função de Publisher do diretor de unidade foi suspensa...
Claramente baseado na tese de que quanto pior fosse a gestão da
Gazeta, mais fácil seria a negociação com Levy, Tanure atacara no
ponto certo... Se havia em todo país empresários dispostos a ajudar
a Gazeta, faltaram interlocutores (os diretores regionais) capazes de
transformar essa ajuda em realidade...
Sei
do que falo: eu mesmo consegui salvar uma fatura de 350 mil reais do
balanço do Banco da Amazônia... Estava por acaso na sala
do diretor comercial Xerxes Gusmão (já falecido), em São Paulo,
vi-o tenso, apreensivo, perguntei o que se passava e ele respondeu
num tom de desespero: “Perdemos o balanço do Banco da Amazônia para o Valor
Econômico!”
PERDAS
ATRÁS DE PERDAS
Só
mesmo quem estava ali vivendo os horrores da crise podia enxergar o
significado de uma perda daquela grandeza: agi rápido! Consegui o
telefone do banco e em menos de dez minutos negociava com o diretor de
marketing do banco... soube então o que acontecera: anunciante
antigo e cativo da Gazeta, o banco, meio a contragosto, negociara a
publicação de seu balanço no Valor Econômico na certeza de que pagaria menos da metade do que gastaria com a mesma publicação na Gazeta Mercantil...a informação era falsa...alguém que não soubemos descobrir quem foi falara com o banco em nome da Gazeta informando preços absurdos...
Com
aprovação de Xerxes, ofereci um desconto de 20% ao preço de tabela
e reverti a negociação em cinco minutos...
Do
Oiapoque ao Chuí, toda a atividade comercial da Gazeta Mercantil era
apoiada pelos diretores regionais, todos jornalistas experimentados,
por exigência da Empresa... Tanure sabia disso e com certeza agiu de
má fé... Perdas iguais - ou piores - que essa, do Banco da Amazônia, ocorreram
em toda parte... uma tristeza...
Ao
centralizar a área comercial, Levy eliminou qualquer possibilidade
de sobrevivência de sua empresa...jogou também na lata do lixo a
capacidade intelectual de suas lideranças em encontrar saídas para
a crise. As lideranças da Gazeta foram alijadas do processo
decisório...
Visto
como um líder empresarial altivo e imponente durante alguns anos,
Luiz Fernando Levy , mal começou a crise, enclausurou-se em seu
gabinete de onde tomava, solitária e tecnocraticamente, as decisões
mais desastradas...quando a crise se aprofundou, em 2002, acovardado,
bateu em retirada e entregou o comando da empresa ao inepto Sérgio
Thompson Flores que só fez agravar todos os problemas...
Ao
retomar o comando, dali a um ano, Levy encontrou uma empresa
destroçada e mutilada com tal violência que já não foi possível
fazer mais nada, a não ser enfiar o rabo entre as pernas e arrendar
a marca ao inefável Tanure...
(No
próximo artigo desta série, falarei do plano de Luiz Fernando
Ferreira Levy – aparentemente ardiloso, mas estúpido pelo prazo
acelerado de implantação – de transformar a Gazeta Mecantil no
maior jornal de economia e negócios das Américas!)
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