A mineradora Kinross, de origem canadense e
localizada em Paracatu (MG), enviou uma extensa resposta a artigos que
publiquei em meu blog (O Sobrevivente) para denunciar práticas insalubres na
exploração de minério de ouro; publico a resposta da Kinross e acrescento ao
fim uma “nota do editor” para a qual chamo da mesma forma a atenção de meus
leitores.
RESPOSTA DA KINROSS:
“Em relação à localização da empresa, vale observar que a Kinross
fica na cidade de Paracatu, na região Noroeste de MG e não é vizinha de
Mariana, que fica na mesorregião metropolitana de Belo Horizonte, no
Quadrilátero Ferrífero do Estado. O nome Paracatu que se ouviu naquele caso se
refere às localidades de “Paracatu de Cima e Paracatu de Baixo”, que fazem
parte daquele município (Mariana).
Sobre o suposto aumento de casos de câncer provocados pela mineradora, é
importante dizer que dois estudos, um do Centro de Estudos Epidemiológicos e
Ambientais de Minas Gerais (CEMEA) de 2012 e outro do Centro de Tecnologia
Mineral (CETEM), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação de 2014, confirmam que as taxas de câncer em Paracatu são equivalentes
às registradas em Minas Gerais, tipicamente menores para o Brasil, no geral, e
bem abaixo das taxas em algumas outras cidades. O Hospital de Câncer de
Barretos, no período citado, 2014, realizou mais de 1 mil procedimentos em
cerca de 100 pacientes de Paracatu - e não mais de 1 mil pacientes, como foi
veiculado. Esses dados podem ser fornecidos pela própria Diretoria do Hospital
de Barretos, que os enviou à prefeitura de Paracatu, por meio de carta, no ano
passado.
Além disso, os estudos já realizados por instituições de
reconhecida seriedade, como o CETEM e o Centro de Toxicologia Ambiental da
Universidade de Queensland (Entox), não identificaram qualquer problema de
saúde causado por arsênio. O estudo do CETEM examinou 44 casos de doenças
crônicas de pele em Paracatu e não encontrou evidências de arsenicose, ou seja,
lesões na pele mais comumente associadas ao envenenamento crônico por arsênio.
Sobre a questão do arsênio, vale ressaltar que, no início deste
ano, foram apresentados os resultados de um outro estudo (Avaliação da
Exposição ao Arsênio da População de Paracatu), nos dias 27 de janeiro e 22 de
fevereiro, em reuniões realizadas em Paracatu e Belo Horizonte respectivamente,
com representantes da imprensa, lideranças comunitárias e poder público. Dados
obtidos durante sete anos de estudos realizados por cientistas reconhecidos
nacional e internacionalmente mostraram que a exposição ao arsênio em Paracatu
é baixa.
O estudo foi coordenado pelo Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia em Recursos Minerais Água e Biodiversidade (INCT-Acqua) em parceria
com a Universidade de Queensland e o Centro de Toxicologia Ambiental da
Universidade de Queensland na Austrália (Entox) e revelou que os níveis de
arsênio na água, solo, poeira e alimentos em Paracatu estão abaixo dos padrões
de segurança nacionais e internacionais. O estudo baseou-se na análise das
principais fontes de exposição que a população local está submetida, sendo:
inalação de poeira, ingestão de água potável, alimentos e ingestão não
intencional de solo. As contribuições relativas das várias rotas de exposição
para o consumo diário total de arsênio foram calculadas e as principais
conclusões são:
✓ A exposição ao arsênio é
considerada baixa uma vez que a exposição (ingresso) total, considerando todas
as fontes, está abaixo de 10% da dose de referência estabelecida pela
Organização Mundial da Saúde (OMS).
✓ O risco à saúde humana é
baixo uma vez que a exposição é baixa.
✓ A contribuição da
mineração, via poeira e solo, para a exposição ao arsênio é inferior à
exposição via ingestão de alimentos e água. Além disso, ela também é inferior a
2% da dose de referência estabelecida pela OMS e, portanto, o risco para a
saúde é baixo.
✓ Níveis baixos de
exposição ao arsênio por meio da água: O valor médio máximo de 1,34 µg/L
(microgramas/litro) da concentração de arsênio nas amostras de água potável de
superfície e de água dos poços comunitários mostrou-se sete vezes inferior ao
limite de 10 µg/L, estabelecido pela legislação brasileira e recomendado pela
OMS. A maioria dos valores de concentrações de arsênio em água mostraram-se
abaixo de 0,3 µg/L. Esses resultados indicam que a exposição via consumo de
água, a mais importante do ponto de vista dos casos mundiais de contaminação de
população por arsênio, não apresenta riscos significativos à saúde.
✓ O ingresso total
calculado de arsênio de todas as fontes, para adultos e crianças, é, no seu
valor máximo, cerca de 8%, do valor de BMDL0.5 (Benchmark Dose Lower Limit) que
é de 3 μg/kg pc por dia (microgramas por kg de peso corporal por dia).
✓ O risco de aumento de câncer associado à
exposição total máxima de 0,25 μg/kg pc (micrograma/kilo do peso corpóreo),
considerando todas as vias de exposição (solo, poeira, alimentos e água) em
Paracatu é similar (para adulto) ou inferior (para criança) ao risco de se
beber água contendo 10 µg/L de arsênio, concentração considerada como um limite
seguro pela OMS e pela legislação brasileira.
Este estudo faz parte de uma série de medidas que a Kinross adota
para garantir a segurança e a sustentabilidade de suas operações. Tais medidas
incluem monitoramento ambiental rigoroso, procedimentos de controle de poeira,
elaboração de relatórios periódicos para as autoridades ambientais, avaliação
anual das instalações de rejeitos e exames médicos voluntários bianuais para
todos os empregados. A Kinross adota práticas de mineração consolidadas e está
comprometida com a segurança do meio ambiente e das comunidades locais.
Os líderes do projeto
O projeto foi coordenado pelos Professores Virginia Ciminelli, especialista em
Hidrometalurgia Ambiental do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de
Materiais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Massimo Gasparon,
geoquímico da Faculdade de Ciências Geológicas da Universidade de Queensland
(Austrália); e Professor Jack Ng, toxicologista credenciado do Centro Nacional
de Pesquisa sobre Toxicologia Ambiental da Universidade de Queensland.
NOTA DO EDITOR:
1- O arsênio é largamente empregado em processos de fundição de metais e na
conservação de madeira. Quando aquecido, é liberado no ar como poeira, e pode
ser inalado pelos trabalhadores. A intoxicação por arsênio provoca, em casos
menos graves, o aparecimento de feridas na pele que não cicatrizam e diminuição
da produção de glóbulos vermelhos. Em um estado mais crítico da contaminação,
podem aparecer gangrenas, danos a órgãos vitais, câncer de pele e até levar à
morte (da biblioteca virtual chamada Google).
2 - Em recente entrevista à TV (Bandeirantes), o diretor do hospital de câncer de Barretos, Boian Pretov, confirmou que só em 2014 foram realizados
1.153 atendimentos de pacientes, vindos de Paracatu (cidade-sede da Kinross).
3 - Também em entrevista à TV
(Bandeirantes) Evane Lopes,
representante da ONU e da Defensoria dos Direitos Quilombolas, denunciou ter sido obrigada a deixar o trabalho que realizava nas comunidades carentes de Paracatu por pressão da Kinross. “Cheguei a sofrer
ameaças de morte”, denunciou Evane Lopes.
4 - Outra que foi obrigada a deixar Paracatu
é a assistente social Rafaela Xavier .
Ela relatou à TV que fazia triagem de pacientes com câncer na cidade para
levá-los ao hospital do câncer de Barretos. Contou que vive até hoje escondida
e com proteção policial. Denunciou que começou a receber ameaças de morte
depois que relatou a Barretos o aparecimento de até 12 casos novos de câncer
por dia.
5 - Já foram exibidas pela televisão imagens
da zona de mineração da Kinross quase sempre encoberta por uma espessa nuvem branca, resultado das explosões de rochas. Essas nuvens – relatou a TV – são
impregnadas de arsênio que as pessoas inalam diariamente e que depois
contaminam rios, lagos e outras fontes de água potável.
6 - "Teores de Arsênio em sedimentos superficiais do córrego Rico,
Paracatu-MG"
Trabalho de Pós-graduação
em Geoquímica Ambiental, Instituto de Química, Universidade Federal Fluminense,
Niterói, RJ, Brasil, apresentado em 2016.
Autores: Marcos M.
FERREIRA , Alana R. C. SÁ, Sambasiva R. PATCHINEELAM , Zuleica C. CASTILHOS ,
Wolfgang CALMANO.
Conclusão do trabalho: Os resultados encontram-se
superiores aos indicados pelos valores de referência para qualidade dos
sedimentos e apontam uma elevada contaminação, sendo grande a probabilidade de
ocorrerem efeitos tóxicos prejudiciais à comunidade biológica local.
7 - "Variação espacial e temporal das concentrações de arsênio
associado ao material particulado atmosférico em Paracatu (MG)"
Dissertação de Mestrado apresentada, em 2014, ao Curso de
PósGraduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense.
Conclusão do trabalho: As concentrações
de Arsênio encontradas estão dentro do esperado pela literatura, contudo acima
dos limites de risco à saúde definidos por diferentes órgãos internacionais.
http://www.repositorio.uff.br/jspui/handle/1/1578
8 - “O Ouro e a Dialética Territorial em Paracatu – MG: Opulência e
Resistência”
Autor: Márcio José dos Santos.
Dissertação apresentada em 2012 ao Curso de Mestrado em
Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília.
Conclusão do trabalho: "Este estudo, por seus resultados, expôs claramente a fragilidade do processo de licenciamento ambiental da
RPM/Kinross. A mineradora escondeu os perigos do empreendimento e os órgãos
licenciadores não questionaram o projeto, o que seria um dever. Pior ainda, à
empresa foi concedido o automonitoramento, que nunca foi acompanhado por quem
tinha a obrigação de fiscalizar. Prova disso é que os relatórios da Rio Tinto,
divulgados abertamente em 2004, apontaram índices elevados de cianeto e arsênio
na poeira fugitiva da mina do Morro do Ouro, e esse fato foi ignorado pelos
órgãos licenciadores."
A responsável pelo maior desastre ambiental do país – a mineradora SAMARCO – permanece sem punição há quase sete meses. Entre neste link e assine, ajude a caçarmos a outorga de mineração dela no país:
Mineração a céu aberto em Paracatu
Evane Lopes, representante da
Onu e defensoria dos direitos quilombolas. Diz sofrer ameaças de morte!
Boaian Pretov. Diretor do hospital do Câncer
de Barretos. Diz que foram realizados 1.153 atendimentos de pacientes,
vindos de Paracatu.
Fumaça provocada pela Kinross após explosões.