17/05/2016

Resposta da Kinross

A mineradora Kinross, de origem canadense e localizada em Paracatu (MG), enviou uma extensa resposta a artigos que publiquei em meu blog (O Sobrevivente) para denunciar práticas insalubres na exploração de minério de ouro; publico a resposta da Kinross e acrescento ao fim uma “nota do editor” para a qual chamo da mesma forma a atenção de meus leitores.

RESPOSTA DA KINROSS:
“Em relação à localização da empresa, vale observar que a Kinross fica na cidade de Paracatu, na região Noroeste de MG e não é vizinha de Mariana, que fica na mesorregião metropolitana de Belo Horizonte, no Quadrilátero Ferrífero do Estado. O nome Paracatu que se ouviu naquele caso se refere às localidades de “Paracatu de Cima e Paracatu de Baixo”, que fazem parte daquele município (Mariana).
 Sobre o suposto aumento de casos de câncer provocados pela mineradora, é importante dizer que dois estudos, um do Centro de Estudos Epidemiológicos e Ambientais de Minas Gerais (CEMEA) de 2012 e outro do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação de 2014, confirmam que as taxas de câncer em Paracatu são equivalentes às registradas em Minas Gerais, tipicamente menores para o Brasil, no geral, e bem abaixo das taxas em algumas outras cidades. O Hospital de Câncer de Barretos, no período citado, 2014, realizou mais de 1 mil procedimentos em cerca de 100 pacientes de Paracatu - e não mais de 1 mil pacientes, como foi veiculado. Esses dados podem ser fornecidos pela própria Diretoria do Hospital de Barretos, que os enviou à prefeitura de Paracatu, por meio de carta, no ano passado.
Além disso, os estudos já realizados por instituições de reconhecida seriedade, como o CETEM e o Centro de Toxicologia Ambiental da Universidade de Queensland (Entox), não identificaram qualquer problema de saúde causado por arsênio. O estudo do CETEM examinou 44 casos de doenças crônicas de pele em Paracatu e não encontrou evidências de arsenicose, ou seja, lesões na pele mais comumente associadas ao envenenamento crônico por arsênio.
Sobre a questão do arsênio, vale ressaltar que, no início deste ano, foram apresentados os resultados de um outro estudo (Avaliação da Exposição ao Arsênio da População de Paracatu), nos dias 27 de janeiro e 22 de fevereiro, em reuniões realizadas em Paracatu e Belo Horizonte respectivamente, com representantes da imprensa, lideranças comunitárias e poder público. Dados obtidos durante sete anos de estudos realizados por cientistas reconhecidos nacional e internacionalmente mostraram que a exposição ao arsênio em Paracatu é baixa.
O estudo foi coordenado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Recursos Minerais Água e Biodiversidade (INCT-Acqua) em parceria com a Universidade de Queensland e o Centro de Toxicologia Ambiental da Universidade de Queensland na Austrália (Entox) e revelou que os níveis de arsênio na água, solo, poeira e alimentos em Paracatu estão abaixo dos padrões de segurança nacionais e internacionais. O estudo baseou-se na análise das principais fontes de exposição que a população local está submetida, sendo: inalação de poeira, ingestão de água potável, alimentos e ingestão não intencional de solo. As contribuições relativas das várias rotas de exposição para o consumo diário total de arsênio foram calculadas e as principais conclusões são:
    A exposição ao arsênio é considerada baixa uma vez que a exposição (ingresso) total, considerando todas as fontes, está abaixo de 10% da dose de referência estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
    O risco à saúde humana é baixo uma vez que a exposição é baixa.
    A contribuição da mineração, via poeira e solo, para a exposição ao arsênio é inferior à exposição via ingestão de alimentos e água. Além disso, ela também é inferior a 2% da dose de referência estabelecida pela OMS e, portanto, o risco para a saúde é baixo.
    Níveis baixos de exposição ao arsênio por meio da água: O valor médio máximo de 1,34 µg/L (microgramas/litro) da concentração de arsênio nas amostras de água potável de superfície e de água dos poços comunitários mostrou-se sete vezes inferior ao limite de 10 µg/L, estabelecido pela legislação brasileira e recomendado pela OMS. A maioria dos valores de concentrações de arsênio em água mostraram-se abaixo de 0,3 µg/L. Esses resultados indicam que a exposição via consumo de água, a mais importante do ponto de vista dos casos mundiais de contaminação de população por arsênio, não apresenta riscos significativos à saúde.
    O ingresso total calculado de arsênio de todas as fontes, para adultos e crianças, é, no seu valor máximo, cerca de 8%, do valor de BMDL0.5 (Benchmark Dose Lower Limit) que é de 3 μg/kg pc por dia (microgramas por kg de peso corporal por dia). 
    O  risco de aumento de câncer associado à exposição total máxima de 0,25 μg/kg pc (micrograma/kilo do peso corpóreo), considerando todas as vias de exposição (solo, poeira, alimentos e água) em Paracatu é similar (para adulto) ou inferior (para criança) ao risco de se beber água contendo 10 µg/L de arsênio, concentração considerada como um limite seguro pela OMS e pela legislação brasileira.
Este estudo faz parte de uma série de medidas que a Kinross adota para garantir a segurança e a sustentabilidade de suas operações. Tais medidas incluem monitoramento ambiental rigoroso, procedimentos de controle de poeira, elaboração de relatórios periódicos para as autoridades ambientais, avaliação anual das instalações de rejeitos e exames médicos voluntários bianuais para todos os empregados. A Kinross adota práticas de mineração consolidadas e está comprometida com a segurança do meio ambiente e das comunidades locais.
Os líderes do projeto
O projeto foi coordenado pelos Professores Virginia Ciminelli, especialista em Hidrometalurgia Ambiental do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Massimo Gasparon, geoquímico da Faculdade de Ciências Geológicas da Universidade de Queensland (Austrália); e Professor Jack Ng, toxicologista credenciado do Centro Nacional de Pesquisa sobre Toxicologia Ambiental da Universidade de Queensland.

NOTA DO EDITOR:

1- O arsênio é largamente empregado em processos de fundição de metais e na conservação de madeira. Quando aquecido, é liberado no ar como poeira, e pode ser inalado pelos trabalhadores. A intoxicação por arsênio provoca, em casos menos graves, o aparecimento de feridas na pele que não cicatrizam e diminuição da produção de glóbulos vermelhos. Em um estado mais crítico da contaminação, podem aparecer gangrenas, danos a órgãos vitais, câncer de pele e até levar à morte (da biblioteca virtual chamada Google).

2 - Em recente entrevista à TV (Bandeirantes), o diretor do hospital de câncer de Barretos, Boian Pretov,  confirmou que só em 2014 foram realizados 1.153 atendimentos de pacientes, vindos de Paracatu (cidade-sede da Kinross).

3 - Também em entrevista à TV (Bandeirantes) Evane Lopes, representante da ONU e da Defensoria  dos Direitos Quilombolas, denunciou ter sido obrigada a deixar o trabalho que realizava nas comunidades carentes de Paracatu por pressão da Kinross. “Cheguei a sofrer ameaças de morte”, denunciou Evane Lopes.

4 - Outra que foi obrigada a deixar Paracatu é a assistente social  Rafaela Xavier . Ela relatou à TV que fazia triagem de pacientes com câncer na cidade para levá-los ao hospital do câncer de Barretos. Contou que vive até hoje escondida e com proteção policial. Denunciou que começou a receber ameaças de morte depois que relatou a Barretos o aparecimento de até 12 casos novos de câncer por dia.

5 - Já foram exibidas pela televisão imagens da zona de mineração da Kinross quase sempre encoberta por uma espessa nuvem branca, resultado das explosões de rochas. Essas nuvens – relatou a TV – são impregnadas de arsênio que as pessoas inalam diariamente e que depois contaminam rios, lagos e outras fontes de água potável.

6 - "Teores de Arsênio em sedimentos superficiais do córrego Rico, Paracatu-MG" 
Trabalho de Pós-graduação em Geoquímica Ambiental, Instituto de Química, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil, apresentado em 2016.
Autores: Marcos M. FERREIRA , Alana R. C. SÁ, Sambasiva R. PATCHINEELAM , Zuleica C. CASTILHOS , Wolfgang CALMANO.    
Conclusão do trabalho: Os resultados encontram-se superiores aos indicados pelos valores de referência para qualidade dos sedimentos e apontam uma elevada contaminação, sendo grande a probabilidade de ocorrerem efeitos tóxicos prejudiciais à comunidade biológica local.

7 - "Variação espacial e temporal das concentrações de arsênio associado ao material particulado atmosférico em Paracatu (MG)"
Dissertação de Mestrado apresentada, em 2014, ao Curso de PósGraduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense.
Conclusão do trabalho: As concentrações de Arsênio encontradas estão dentro do esperado pela literatura, contudo acima dos limites de risco à saúde definidos por diferentes órgãos internacionais.
http://www.repositorio.uff.br/jspui/handle/1/1578

8 - “O Ouro e a Dialética Territorial em Paracatu – MG: Opulência e Resistência”
Autor: Márcio José dos Santos.
Dissertação apresentada em 2012 ao Curso de Mestrado em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília.
Conclusão do trabalho: "Este estudo, por seus resultados, expôs claramente a fragilidade do processo de licenciamento ambiental da RPM/Kinross. A mineradora escondeu os perigos do empreendimento e os órgãos licenciadores não questionaram o projeto, o que seria um dever. Pior ainda, à empresa foi concedido o automonitoramento, que nunca foi acompanhado por quem tinha a obrigação de fiscalizar. Prova disso é que os relatórios da Rio Tinto, divulgados abertamente em 2004, apontaram índices elevados de cianeto e arsênio na poeira fugitiva da mina do Morro do Ouro, e esse fato foi ignorado pelos órgãos licenciadores."


A responsável pelo maior desastre ambiental do país – a mineradora SAMARCO – permanece sem punição há quase sete meses. Entre neste link e assine, ajude a caçarmos a outorga de mineração dela no país:

Mineração a céu aberto em Paracatu

Evane Lopes, representante da Onu e defensoria dos direitos quilombolas. Diz sofrer ameaças de morte!

Boaian Pretov. Diretor do hospital do Câncer de Barretos. Diz que foram realizados 1.153 atendimentos de pacientes, vindos de Paracatu.

Fumaça provocada pela Kinross após explosões.



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