Ao ver aquela foto de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, deprimido, entrevado numa cadeira de rodas, me bateu um sentimento de tristeza e de profunda nostalgia. Deus – ou a Natureza, não sei – não tinham o direito de fazer isso com ele.
Desde criança, aprendi a amar o futebol, a magia do drible, do chapéu bem dado, da cabeçada certeira, do passe preciso à mais longa distância, do gingado, da antecipação. Parece haver sempre o dedo de Deus em toda essa magia que reinava soberana na trajetória de Pelé, inigualável.
Eu o conheci pessoalmente e houve um curto período de tempo (de 1970 a 1973) – algo que sempre me encheu de orgulho – em que ele me chamava pelo sobrenome, Pio.
Eu chefiava a sucursal do ABC do jornal o Estado de S. Paulo e costumava entrevistar o empresário Mário Cordeiro de Menezes, dono de uma das maiores concessionárias da Chevrolet do país, a Diasa, hoje Vigorito, em Santo André, muito ligado ao Santos. O famoso Gilmar dos Santos Neves, goleraço do Santos, foi gerente de sua loja e, posteriormente, depois de abandonar o futebol, abriu também uma concessionária da GM em SP.
Era comum o empresário reunir os jogadores do Santos em sua Loja para um churrasco e foi ali que eu me encontrei com Pelé várias vezes. Tive com ele uma conversa do tipo inesquecível: estávamos aos fundos da loja (garçons servindo deliciosos petiscos e bebidas) quando uma menina, filha de um dos amigos do empresário, aproxima-se de Pelé e pergunta:
- Qual foi o gol mais bonito de sua carreira ?
Pelé respondeu sem hesitar:
- Foi contra o Juventus em que eu dei três chapéus nos zagueiros, um atrás do outro !
Eu estava por perto e me atrevi a comentar:
- Não vi esse gol, mas até hoje o gol mais bonito que o vi fazer foi em Bauru, Santos contra o Noroeste. O Edu cruzou uma bola a meia altura para a área e você se enfiou no meio de três zagueiros que o marcavam, puxou a bola de calcanhar e bateu de direita sem que ela pingasse no chão!
Pelé ouviu e comentou:
- É, eu me lembro desse gol, de fato foi muito bonito, mas não adianta citar...não havia televisão e vão pensar que eu inventei !
FOI O MAIOR DIPLOMATA DA HISTÓRIA DO BRASIL
Ninguém fez mais que ele pela diplomacia brasileira. A maioria das histórias todos conhecem. Aproveito para contar uma, muito pouco conhecida e que é uma síntese da presença de sua imagem no imaginário de praticamente todos os povos do mundo.
Quem me contou foi o já falecido Mário Cordeiro de Menezes que viajava muito com o Santos pelo Brasil e pelo exterior:
- O Brasil – contou-me Mário – já ganhara três copas do mundo e o Santos de Pelé fazia uma excursão pela Europa e em Atenas, na Grécia, um famoso empresário resolveu levar os jogadores para um passeio em seu iate pelo mar Jônico... O iate estava atracado em Ítaca, uma ilha distante, para se proteger de uma tempestade... Ninguém desembarcou, mas de repente espalhou-se pela ilha, ocupada por uma população bastante primitiva (nem os gregos falavam o dialeto local), a informação de que Pelé estava dentro daquele barco. A população enlouqueceu e não houve quem a segurasse: invadiu o iate para abraçar e beijar seu ídolo!
MINHA FRUSTRAÇÃO DE ESCRITOR
Outra vez, eu passava por Bauru- SP (2002) e ganhei um pequeno livro, escrito por um radialista, que contava as histórias do menino Pelé que vivera na cidade por vários anos, até ser levado, ainda adolescente, para o Santos. É um livro tocante, mas de linguagem rápida, objetiva demais... Botei na cabeça que um dia pediria autorização a Pelé para reescrever aquelas histórias.
De 1973 a 2007, estive com Pelé poucas vezes e era perceptível – e compreensível – que ele já se esquecera de mim. Em 2007, estive no lançamento da sua biografia em SP. Comprei o livro e sentei-me na frente dele para o autógrafo. A velhice já pusera suas impressões digitais tanto no rosto como na memória.
Nem cheguei a perguntar se ele se lembrava de mim... Pedi autorização para escrever o livro e descubro que ele já não era dono de si mesmo. Deu-me o nome de um assessor a quem deveria procurar e este me passou para outro e para outro... Triste perceber que o ídolo dos brasileiros não pertence a si mesmo... Pertence a contratos...
Lembro-me que os maiores cientistas do esporte do Brasil já definiram o corpo de Pelé como uma rara perfeição atlética. Ele tem as medidas certas para a prática de qualquer tipo de esporte. Um corpo que não merece estar numa cadeira de rodas...
É triste, mas a aceitação alivia a alma
ResponderExcluirQuem teve a sorte de ver o Pelé jogar sabe que jamais houve um atleta q chegasse perto...sorry, Maradona. Flamengo Santos, Maracanã, acho q 72 ou 73. 42 min do 2o tempo Fla 1x0 e a torcida comemorando! Escanteio, Pelé, o craque café, cabeceia exímio cabeceador q era e empata. 44 min. O Fla da a saída no meio campo. Pelé, rouba a bola, dribla o time inteiro do Flamengo, numa arrancada fulminante e na saída do goleiro,vdribla este também e e z 2x1. O juiz encerra a partida. Silêncio na arquibancada. Até a charanga cala. Torcedores se entreolham sem saber se chora ou aplaude. Ninguém jamais havia feito isso no Maraca! Não e possível. Alguém começa a aplaudir e aos poucos a torcida do Flamengo inteira acompanha e aplaude seu verdugo. Já não fazia sentido a tristeza. Cada um q ali estava havia testemunhado o impossível, o ápice do esporte futebol na figura do jogador. Na figura do rei do Rei Pelé.
ResponderExcluirBelíssimo o seu relato, Dany....parabéns....abraço
ResponderExcluirQue satisfação ler alguém que dá transparência aos fatos. Encho-me de orgulho. Acabei de te conhecer e já virei sua fã desde sempre. Parabéns!
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