30/12/2015

A Samarco não merece respeito

        Talvez porque não tinha nada para preencher o buraco deixado pelo fim do CQC, a Bandeirantes fez lá um salamaleque e pos no ar, nesta segunda-feira 28 de dezembro, uma síntese das denúncias que o programa havia feito da atuação da Samarco, a responsável pelo maior desastre ambiental da história do país, em Mariana (MG).
        A prosopopéia serviu ainda para combater os boatos de que havia o dedo da empresa no desaparecimento do CQC. Pode ser também uma reação dos donos da marca do programa, argentinos, ao modo abrupto, intempestivo e desrespeitoso com que a emissora retirou o programa do ar.
        De qualquer modo, o fim do programa beneficia a empresa belgo-brasileira que não merece nenhum respeito no Brasil pelo que fez ao Vale do Rio Doce.

        Vamos varrer a influência da SAMARCO da face do Brasil; apoie o abaixo-assinado pela cassação da sua outorga de mineração:

(Equipe de resgate rasteja em lama à procura de vítimas em Mariana)

23/12/2015

O último CQC

       Foi triste. Dan Stulbach, Marco Luque, Rafael Cortez, Juliano Dip, Lucas Salles, Maurício Meirelles e Erick Krominski fizeram, nesta segunda-feira, dia 21 de dezembro de 2015, o último Custe o que Custar, o CQC, incomparavelmente o melhor programa da TV brasileira; todos eles, exceto Juliano Dip e Erick Krominski, riram e fizeram rir do próprio desemprego.
        Juliano Dip encerrou sua participação com coragem e audácia: tudo o que deve ter sido proibido de dizer da Samarco, descarregou sobre outra mineradora (tinha de ser uma mineradora!) – a Kinros,  que extrai ouro das terras de Minas Gerais (Paracatu, a noroeste do Estado), exporta para o Canadá e deixa nuvens de arsênio (um veneno pra lá de cancerígeno) de presente para a comunidade.
        Erick  Krominski foi com uma equipe de cinco pessoas mostrar a insegurança nos ônibus de Paraty, ela mesma, a “encantadora” cidade do litoral sul-fluminense que todos os anos abriga a maior festa literária do Brasil, a Flip. Há poucas semanas, 16 pessoas foram atropeladas e mortas num ponto de ônibus da cidade. Krominski foi à prefeitura cobrar providências para as questões de segurança no transporte coletivo e foram recebidos, ele e toda sua equipe, a socos e pontapés. Tudo na frente do prefeito Carlos José Gama Miranda, o popular Casé, que ainda em maio diz ter sido vítima de um atentado, quando levou dois tiros.
        O último CQC nem mencionou o nome da Samarco. Curiosamente, o programa vinha apresentando a melhor cobertura do MAIOR DESASTRE AMBIENTAL do País, causado por negligência da empresa belgo-brasileira, que em 2014 teve nada menos de US$ 2,5 bilhões de lucro. Seria capaz de apostar que há o dedo dela no desaparecimento do CQC.
        O fim do CQC deixa a televisão brasileira bem mais pobre.

VAMOS REDUZIR A INFLUÊNCIA NEFASTA DA SAMARCO NA VIDA BRASILEIRA. ASSINEM O ABAIXO-ASSINADO:


19/12/2015

Mariana: saldo tenebroso!

        A mídia – jornais, TV, sites noticiosos – já começa a esquecer o MAIOR DESASTRE AMBIENTAL da história do País de modo que Mariana (MG) vai ficar lá, destruída, violentada, pisoteada, enlameada e logo mais ninguém vai se lembrar dela, como se nada tivesse acontecido. A vida seguirá “normal” em toda parte, a presidente continuará no cargo a prometer punição drástica aos infratores, as entidades ambientalistas farão mais reuniões se comprometendo a salvar a TERRA da destruição, todos se esquecerão de que um País que não consegue salvar um rio deveria ter vergonha de revelar suas pretensões de salvar o Planeta.
        As informações sobre as multas já aplicadas à SAMARCO são desencontradas e não é de todo improvável que ela mesma, a empresa, ajude a espalhar notícias desencontradas com o objetivo de confundir a opinião pública e, assim, mais uma vez, conseguir escapar ilesa, sem nenhuma punição.
        A verdadeira punição para a monstruosidade que ela cometeu é a cassação de sua outorga de mineração, como pede o abaixo-assinado: https://www.change.org/p/cassem-a-outorga-de-extra%C3%A7%C3%A3o-mineral-da-samarco

        Ainda é cedo para fazermos um balanço da destruição causada pelo MAIOR ACIDENTE DA HISTÓRIA DO BRASIL. Já se  sabe, por exemplo, que a lama da SAMARCO fez desaparecer para sempre algumas espécies de peixe endêmicas, ou sejam, encontradas apenas no Rio Doce; há também algumas espécies de plantas só encontradas nas matas ciliares desse rio e que foram duramente atingidas; entre estas, estão o jacarandá-cabiúna, a braúna e o palmito. Segundo o Ibama, a lama causou a destruição de 1.469 hectares de mata nativa.
        Segundo a revista Época, os animais continuam assustados na região da tragédia. Muitos morreram, muitos se feriram e alguns chegaram a ser "petrificados" pela lama ressecada de rejeitos de minério.
        Um grupo de ONGs e voluntários dos direitos dos animais, no entanto,  tenta resgatar a maior quantidade de bichos possível. Eles se uniram ao Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal (FNPDA) para tentar arrecadar recursos e organizar melhor esse atendimento, crucial para a saúde dos animais.
        ÉPOCA conversou com Vania Nunes, diretora técnica do FNPDA, sobre esses esforços. Segundo ela, 300 animais foram resgatados. Veja trechos da entrevista:

ÉPOCA - Como funciona a operação de resgate dos animais em Mariana?

Vania Nunes - Eu estou em contato com a doutora Ana Liz Bastos, da ONG Associação Ouropretana de Proteção Animal, que é parte do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal. Ela foi para lá na noite do acidente, e realmente a situação era bem crítica. Logo que eles chegaram, não puderam entrar, estava tudo molhado, sujo, tinha a Defesa Civil. Quando amanheceu, algumas pessoas já vinham com animais. Esses foram os primeiros a ser atendidos. Tinha cachorro, galinha, passarinho, gado. Os animais estavam muito assustados, muitos sujos, alguns feridos. Elas prestaram esses primeiros atendimentos. No começo, os animais foram para o centro de zoonose de Mariana, que era o local mais próximo. Os que tinham dono, à medida que as pessoas foram realocadas em casas ou hotéis, os donos levaram. Mas para você ter uma ideia tinha cavalo, porco, galinha, não tinha como as pessoas levarem todos.

ÉPOCA - Houve um atendimento inicial, de emergência? Qual era o estado dos animais?

Vania Nunes - Eles estavam muito assustados. Se foi uma cena dantesca para as pessoas, também foi para os animais. Eles são capazes de perceber que aconteceu uma coisa muito ruim. Quando a água desceu, estava muito fria. Então a primeira coisa foi hidratar os animais e tentar aquecê-los. Tirar a lama, que estava ressecando, ficando dura que nem uma pedra. Limpar, porque aquele minério pode ser absorvido e intoxicar o animal. Se eles estavam bem, em ordem, já recebiam vacina, vermífugo, coleiras. Mas não vai achando que os animais eram todos dóceis, calmos, é só pegar e ir embora. Às vezes tem trabalho para abordar o animal, porque ele esta com medo, assustado. Tem que ser uma ação multiprofissional. Sem isso, você não consegue fazer nada.

ÉPOCA - O foco do resgate é em animais domésticos, certo?


Vania Nunes - Animais domésticos não são só os de estimação. Porcos, galinhas, gado, são muito importantes para as famílias. Lá é uma região rural, que tinha grande quantidade de animais. Um dia salvaram um monte de galinhas, vieram com elas debaixo do braço. No domingo, foram resgatados cinco cavalos. Muitos animais, principalmente bois e cavalos, ficaram presos na lama. A lama foi endurecendo e eles ficaram solidificadados ali, vivos. Muitos animais precisaram ser eutaniziados ali, infelizmente. A situação é caótica. As pessoas falam "é gato, cachorro", mas não é só isso. É muito importante, pra quem tem uma galinha, tem um porco, e aquilo é uma fonte de subsistência para ela, ter certeza que aquilo é um recurso que ela ainda tem, porque elas perderam tudo. Isso pode ser uma forma de ajudar essa pessoa a pensar que ainda tem perspectiva de recuperar de alguma forma a vida que tinha.

(Animais salvos no desastre de Mariana)





17/12/2015

Juliano Dip não tinha culpa!

        O último CQC estava bastante estranho. Apresentadores falavam em pedir emprego na Globo; repórteres, entre os quais o valoroso Juliano Dip, mostraram-se tensos, parecem ter participado do programa por dever de ofício, fizeram tudo sem emoção, burocraticamente. Não demorou muito para surgir a notícia: o CQC vai sair do ar em 2016 para só voltar, se voltar, em 2017.
        Eu vi aquilo decepcionado, achando que a emissora (Band) havia cedido ao tilintar das moedas da SAMARCO, atacada com a virulência do bom jornalismo nos programas anteriores, que vinham apresentando a melhor cobertura da TV sobre a tragédia de Mariana.
        Não titubeei em desancar o pau no programa, na Band, e no pobre Juliano Dip, chamado por mim de “fanfarrão” em artigo anterior. Peço desculpas a ele e a toda equipe do programa, que eu sempre admirei.
        Farejei pressão da SAMARCO sobre a emissora, o que não é nada improvável que tenha acontecido. Essas coisas são invisíveis e não deixam rastros; ficaremos sabendo muito tempo depois.
        Não nos esqueçamos que a sócia da SAMARCO é a Vale do Rio Doce, que foi privatizada lá atrás, mas devagar devagarinho veio se aninhar mansamente no colo do PT. Personalidades do partido não conseguiam viver sem os afagos (pixulecos) da Vale. É pois uma empresa demasiadamente influente para ser atacada por “um bando de engraçadinhos” a serviço de uma emissorazinha de TV qualquer.
        Já escrevi aqui neste blog que as emissoras de segunda linha, como poderiam ser chamadas BAND, RECORD e SBT, têm muita dificuldade em competir com a líder de audiência, pois não possuem uma estratégia competitiva clara e definida como seria exigível. Agora mesmo, a BAND tira do ar um programa, o CQC, que ao lado do PÂNICO havia conquistado a audiência de milhões de jovens que pouco se interessam por TV. Ela mesma, a emissora, não deve ter descoberto a importância dessa conquista.
        A justificativa para o programa sair do ar é que sua audiência havia caído muito. A BAND imitou aqueles sertanejos, tão bem descritos nos romances de Graciliano Ramos, que atiravam nas aves migratórias por achar que elas, que chegavam naquelas terras sempre antes de uma longa estiagem, é que traziam a seca.
        Atirar numa equipe de boa qualidade é fechar os olhos para as péssimas invenções da emissora, como aquele horrível CQC 3.0, feito só para retardar, inexplicavelmente, a entrada no ar do verdadeiro CQC. Não há  audiência que possa se manter incólume com tamanha besteira como essa.
ACABEM COM A INFLUÊNCIA NOCIVA DA SAMARCO! ASSINEM O ABAIXO-ASSINADO PELA CASSAÇÃO DE SUA OUTORGA DE MINERAÇÃO: https://www.change.org/p/cassem-a-outorga-de-extra%C3%A7%C3%A3o-mineral-da-samarco

Errei, desculpe cavalheiro Dip ! 

16/12/2015

E o CQC, hem? Já fugiu de Mariana

        Era muita indignação pra ser verdade. Menos de 15 dias depois de o CQC baixar em Mariana com raiva e ímpeto de bom jornalismo, esqueceu o assunto na maior cara dura, depois de haver prometido ir até o fim. O dim-dim da SAMARCO deve ter falado mais alto.
        E o bobo aqui acreditou que era pra valer, mandou e-mails para o “destemido” Juliano Dip, para o PROTESTE JÁ!, sonhando em conquistar uma mídia de massa para apoiar o seu abaixo-assinado pela cassação da outorga de mineração da criminosa SAMARCO.
        Era tudo de mentirinha, o repórter Juliano Dip não passava de um fanfarrão à procura de alguns minutos de fama. Depois de “enfrentar” um executivo da SAMARCO em Mariana, e falar grosso, afinou a voz, virou uma doce gatinha já no último CQC, pautado para cobrir uma bobagenzinha qualquer no Congresso, em Brasília.
        A TV Bandeirantes deveria mudar o nome do CQC (Custe o Que Custar) para MQG (Me Engane Que Eu Gosto).

ASSINEM O ABAIXO-ASSINADO. VAMOS MOSTRAR QUE É POSSÍVEL VENCER ESSA BATALHA SEM AJUDA DO CQC!  https://www.change.org/p/cassem-a-outorga-de-extra%C3%A7%C3%A3o-mineral-da-samarco


(Vem, vem que eu já estou correndo!)

11/12/2015

Histórias nada exemplares de nossa mineração (III)

        Ganha um doce quem adivinhar quem foi a Marion. Ela morreu no início dos anos 90, mas enquanto esteve viva! Nossa Senhora! Pintou e bordou na mãe natureza e sem dó nem piedade.
        Ela destruiu mil hectares (eu disse MIL) de terras férteis no município de Siderópolis, no sul de Santa Catarina. Só eucalipto cresce nos lugares por onde ela passou e olhe lá. Há lagos contaminados com rejeitos de carvão mineral que são puros reservatórios de veneno. O solo ali tornou-se pestilento!
        Mas, afinal, quem foi a famosa Marion? Foi uma drag-line ou simplesmente draga de proporções gigantescas; tinha uma caçamba que media 23 metros cúbicos e uma lança (guindaste) de 70 metros de altura. Eu já a vi em operação: o guindaste erguia a caçamba lá para cima e depois a soltava. E ela, a caçamba, caia de boca no solo.  A operação chegava a provocar tremores na terra. Depois vinham escavadeiras e caminhões para remover o material arrancado do solo numa só paulada.
        Foi a maneira portentosa que a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), estatal do aço, encontrou para retirar o carvão mineral que ali em Siderópolis surgiu em pouca profundidade; foi necessária apenas uma metodologia do tipo “arrasa quarteirão” para arrancar o carvão e deixar tudo revirado; a imensa área “trabalhada” pela Marion chegou a ser conhecida no mundo inteiro como “a paisagem lunar brasileira”.
        Como se vê agora em Mariana, os homens da mineração brasileira detestam a natureza e o meio ambiente. Amam as burras cheias de dinheiro!
        Não foi apenas a CSN que cometeu esse tipo de crime ambiental no Sul de Santa Catarina: outra criminosa, na exploração do carvão mineral a céu aberto, foi a Treviso, que chegou a usar cinco dragas no estilo da Marion, mas de porte menor. A regra era arrancar o carvão e tchau, deixar o solo naquela condição deplorável.
        As dragas só desapareceram do Sul catarinense depois de 1990, quando o presidente Fernando Collor (ele mesmo!) suspendeu a lei criada por Getúlio Vargas que tornava obrigatório às siderúrgicas nacionais usar 20% de carvão mineral brasileiro para alimentar seus fornos. Com o fim da obrigatoriedade, a atividade mineradora do Sul de Santa  Catarina entrou  em recesso e interrompeu aquele ciclo irracional que poderia ser chamado de “a farra do carvão”.
        A farra do carvão, bem pior do que aquela outra invenção catarinense, “a farra do boi”, não se restringiu às imensas áreas de exploração à céu aberto. Toda a atividade mineradora da região prosperou de costas viradas tanto para a natureza quanto para o homem. Em artigo anterior, denunciamos a morte de milhares de homens atacados por pneumoconiose. Não falei das atrocidades cometidas contra o meio ambiente.
        O carvão sai da mina envolto num rejeito chamado de pirita, puro veneno. Pior que isso: a pirita reage com a chuva e libera uma fumaça branca (gás sulfídrico) com cheiro de ovo podre; as populações de Criciúma, Siderópolis, Lauro Muller e tantas outras localidades da área carbonífera passaram anos e anos respirando aquele cheiro de ovo podre, pois havia montanhas de pirita por todos os lados.
        A recomposição de áreas e recursos naturais degradados pela mineração carbonífera é uma atividade super complexa - (segue link com detalhamento: (http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/1674/1/Tiago%20Alexandre%20Manenti%20Silvestrini.pdf) - mas o Ministério Público Federal impôs esta obrigatoriedade a todas as empresas infratoras do Sul catarinense em 1993. Mais da metade delas não levou a exigência a sério, de modo que só em 2007 ficaram prontos os projetos que tentavam reestruturar tudo aquilo que foi destruído. Com a lentidão presumível, muita coisa foi feita nesses últimos dez anos.

SÃO HISTÓRIAS QUE TORNAM INADMISSIVEL A CONTINUIDADE EM MINERAÇÃO DE EMPRESAS, COMO A SAMARCO, QUE OPERAM SEM A MENOR POSTURA ÉTICA.
ASSINEM MEU ABAIXO-ASSINADO PELA CASSAÇÃO DA OUTORGA DE MINERAÇÃO À SAMARCO: 

https://www.change.org/p/cassem-a-outorga-de-extra%C3%A7%C3%A3o-mineral-da-samarco


(Ei-la: a Drag-line Marion em plena atividade. É só destruição!)


(Paisagem Lunar de Siderópolis, como ficou conhecida no mundo inteiro a área destruída pela Marion)

(Ela, em seu tempo, era imbatível: foi a maior Drag-line do Mundo)



07/12/2015

Histórias nada exemplares da nossa mineração (II)

        Morrer de pneumoconiose é mais do que terrível ! Acho que nem os chineses, inventores das técnicas mais sofisticadas de tortura, pensaram em algo assim, tão atroz.
        Pois bem, os mineradores de carvão do sul do Brasil, hoje homens que devem figurar na galeria dos seres mais ricos do país, mataram várias gerações de mineiros de pneumoconiose... e sem nenhuma piedade!
        Pode-se dizer que a pneumoconiose é uma doença profissional que ataca, por exemplo, os mineiros que trabalham nas minas subterrâneas de carvão mineral. Para quem não sabe, o carvão mineral aparece em veios horizontais extensos e a uma profundidade que no sul de Santa Catarina (região de Criciúma) atinge em torno de 100 metros.
        O veio do carvão mineral tem quando muito um metro e meio de altura; para extraí-lo, os mineiros fazem furos em cima do veio e enfiam neles bananas de dinamite; depois, explodem.
        Eu já assisti a uma dessas explosões. Elas levantam tanta poeira que o ar parece ter ficado sólido; deixar homens respirando aquele ar é um crime pra lá de hediondo.
        Depois de alguns meses respirando pura poeira, surge a pneumoconiose; é um pequeno grânulo, do tamanho de um grão de arroz, feito de pura sílica, que se instala nos dois pulmões, um em cada. A sílica, componente de quase toda a crosta terrestre, é fibrogênica. O organismo tenta expulsar o grânulo, não consegue e vai envolvendo-o de fibra, em expansão contínua até tomar todo pulmão. A evolução é lenta, pode levar em alguns casos três ou quatro anos.
        Eu já toquei um pulmão atacado pela doença: tem a consistência de um tijolo ou algo assim, como se fosse uma pedra. Também já estive com vários homens atacados pela pneumoconiose em diferentes estágios da doença. Um deles estava hospitalizado, em estado terminal: “De repente, meu coração começa a soquear, soquear... dá impressão que vou morrer”, ele me disse com a voz ofegante, puxando pelo ar que não aparecia.
        Outros três eu fui visitar na Praia do Rincão, a mais próxima de Criciúma. Têm todos algumas características em comum: são ainda jovens, musculosos, bonitos. Todos condenados à morte com menos de 35 anos. Podem sair da mina, mas a doença continua avançando até deixá-los absolutamente sem respiração. Parece coisa do demônio.
        Foi em 1988, eu estava em Criciúma num barzinho quando vejo um jato cruzar o céu, fazendo um risco branco em quase toda abóbada celeste. Pessoas que estavam próximas de mim comentaram com naturalidade: “Lá vai o Guglielmi, talvez para mais uma reunião de negócios em Brasília”. O Guglielmi (Santos Guglielmi, falecido em 2001), eu já sabia, era uma espécie de “Rei do Carvão”, dono de várias minas na região de Criciúma. Provoquei uma senhora que estava sentada a meu lado: “Ele tem muito dinheiro?” e ela deu uma resposta do tipo inesquecível: “Olha, meu filho, se juntarmos todas as escrituras dos imóveis desse homem, podemos encher uma piscina olímpica!”
        Não acho que ganhar dinheiro seja crime, mas tenho um dado do tipo também inesquecível: as minas de carvão do sul de Santa Catarina foram mecanizadas durante a década de 70; unidos, os empresários foram às compras no exterior; por medida de economia não trouxeram os equipamentos destinados a combater o pó nas frentes de extração, como aspersores. Não é preciso dizer mais nada, não é?

BOM, MEUS AMIGOS E MINHAS AMIGAS: NOSSO ABAIXO-ASSINADO JÁ PASSOU DAS 200 ASSINATURAS; PRECISAMOS MANTER A CHAMA ACESA ! A VITÓRIA NA CASSAÇÃO DA OUTORGA DA SAMARCO SÓ ACONTECERÁ COM MILHARES DE ADESÕES.
SEGUE LINK: 
https://www.change.org/p/cassem-a-outorga-de-extra%C3%A7%C3%A3o-mineral-da-samarco


04/12/2015

Histórias nada exemplares da nossa mineração (I)

        Chamava-se Grupo Lume porque tomava as iniciais do nome de seu dono, Lynaldo Uchoa de Medeiros, um dos maiores estelionatários deste país. Em Pernambuco, seu estado natal, antes de galgar a carreira dos grandes ladrões nacionais, já dava demonstrações explícitas de sua arte – a esperteza: aproximava-se de um alto funcionário da Caixa Econômica Federal à qual havia solicitado um empréstimo de milhões; propunha uma aposta: “ aposto um Galaxie se esse meu contrato sair”; saía, é claro, e ele pagava a “aposta” com um largo sorriso na cara de malandro; o Galaxi, o carro mais caro da época, era o sonho de consumo dos funcionários públicos que já amavam pixuleco.
        O Grupo Lume era um império; possuía de banco, que nadava de braçada no dinheiro do BNH para financiamento da casa própria, à mineradora, que ainda no começo dos anos 70 ganhou da Petrobras a exploração da jazida de potássio do Sergipe, uma das maiores do mundo; o potássio é um dos componentes do adubo químico.
        Os jornais da época se encheram de manchetes alvissareiras: agora sim o Brasil deu a largada para  conquistar a autossuficiência em potássio, agora vai, agora vai, mas acabou não “fondo” como diria aquele jogador gaúcho. O Grupo Lume simplesmente sentou sobre as jazidas e preferiu ganhar dinheiro com a tradicional esperteza de Lynaldo: o grupo negociou uma montanha de propina com os países que exportavam potássio para o Brasil com a promessa de não abrir-lhes concorrência em terras sergipanas.
        A manobra só foi descoberta mais de 20 anos depois quando o Brasil gastara zilhões de dólares com a importação do bendito potássio; era o final do governo Figueiredo e a paralisia do Grupo Lume já dava muito na cara; a outorga foi retirada do Lume e entregue à Petrobras.
        Agora vai, agora vai, mas outra vez deu a lógica do jogador de futebol gaúcho: acabou não fondo; a máfia que quase destrói a maior estatal do país deve ter descoberto o Jeito Lume de Ser, de modo que a empresa também sentou no potássio e pouco fez para a extração.
        Em 1991, a Petrobras arrendou o direito de exploração do Potássio sergipano, adivinhem para quem? Para a – tcham, tcham, tcham! – Vale do Rio Doce; Lynaldo foi realmente um mestre: ensinou o caminho das pedras para todos, democraticamente.
        Talvez para “inglês ver”, a Vale deu início imediato à exploração de uma pequena jazida em território sergipano (Taquari–Vassouras) e só fez arranjar desculpas, as mais esfarrapadas, para atrasar a exploração da jazida principal. Só a história de que dois pequenos municípios – Japaratuba e Capela, onde estão localizadas as jazidas principais – brigavam pela arrecadação de impostos fez com que a Vale ganhasse 5 preciosos anos de tempo de atraso no início da exploração. Quer dizer, mais uma vez os interesses da Nação são submetidos aos interesses regionais e de uma empresa que depois de ser privatizada voltou para o “doce capitalismo” à lá PT.
        O início da produção agora está previsto para 2017 e não é de todo improvável que a Vale adie por mais alguns aninhos, isto se o juiz Sérgio Moro não resolver investigar essa história. Com a produção da jazida sergipana em todo o seu potencial, o Brasil pode não alcançar a autossuficiência, mas deve arranhá-la.
        A produção brasileira de potássio ainda é ridícula, sobretudo se considerarmos que as reservas sergipanas e amazonenses podem nos trazer uma folgada autossuficiência. Nesta semana foi lançada na Câmara dos Deputados a “Frente Parlamentar pela Defesa, Apoio ao Potássio Brasileiro”. O deputado roraimense, Edio Lopes (PMDB), atuará como vice-presidente da Frente e é ele quem diz que os gastos do país com a importação do potássio chegam a R$ 5 bilhões anuais.


NOSSO ABAIXO-ASSINADO PELA CASSAÇÃO DA OUTORGA DE MINERAÇÃO DA SAMARCO JÁ ESTÁ PRÓXIMO DAS PRIMEIRAS DUZENTAS ASSINATURAS. AJUDEM A ENGROSSAR AS ADESÕES PELO BEM DO BRASIL, SEGUE LINK:
https://www.change.org/p/cassem-a-outorga-de-extra%C3%A7%C3%A3o-mineral-da-samarco


01/12/2015

Prezados amigos e amigas

        Postei há dias atrás um abaixo-assinado com a intenção de cassar a outorga de mineração da SAMARCO, a empresa que provocou o maior desastre ambiental da história do país. Acho que só mesmo essa cassação para levar esta e outras empresas do setor de mineração a tratar com respeito às comunidades no entorno de suas atividades e a natureza.
        Muitos de vocês já assinaram, pelo que eu fico  agradecido. Agora precisamos envolver seus amigos e conhecidos.
        O desastre de Mariana, em Minas Gerais, foi causado por pura negligência dessa empresa na construção e manutenção das barragens de rejeitos da mineração. E também pela omissão criminosa na fiscalização do DNPM e do Ministério das Minas e Energia, a quem dirijo o abaixo-assinado.
         Conto com você e com sua rede de amigos para tornar esse pleito vitorioso.
        Assine (e divulgue) no LINK abaixo; as comunidades atingidas, tanto em Minas Gerais como no Espírito Santo, ficarão gratas e comovidas com o seu apoio


LINK DO ABAIXO ASSINADO:
https://www.change.org/p/cassem-a-outorga-de-extra%C3%A7%C3%A3o-mineral-da-samarco