Os controladores resolveram por à venda o HSBC brasileiro, o sucessor do
Bamerindus, o qual representava o sonho de uma família paranaense – os Vieiras –
de ter um grande banco fora de São Paulo
onde nasceram e floresceram os grandes impérios bancários do país. O Bamerindus
nasceu em terra paranaense e nela permaneceu até transformar-se num banco que
chegou a disputar com BRADESCO e ITAÚ a hegemonia dos depósitos bancários e
outros símbolos da grandeza bancária nacional.
“O tempo passa, o tempo voa, mas a poupança Bamerindus continua numa boa,
numa booa”, o jingle com uma musiquinha graciosa embalou o Paraná durante anos
a fio, até que a maioria da população sentisse orgulho de ter dado origem a um
banco capaz de concorrer com os grandões paulistas, Itaú e Bradesco. O
Bamerindus nascera como casa bancária no chamado Norte Pioneiro do Paraná, no
município de Tomazina (1929) – nome que foi inventado para homenagear o
fundador do Bamerindus, Tomás Avelino Vieira.
Mas havia um acidente de avião no seu caminho e o sonho dos Vieiras não
conseguiu ultrapassá-lo, pois morreram nele (julho de 1981) os dois Vieiras
mais importantes da organização – o presidente, Tomás Edson de Andrade Vieira e
o vice-presidente, Cláudio Enoch de
Andrade Vieira , junto com os filhos mais velhos, um de cada um. Foi uma
tragédia de grande porte na linha sucessória do banco.
O comando foi então passado a José Eduardo Andrade
Vieira, que se encontrava meio no limbo,
posto pelos irmãos para administrar uma pequena corretora nos EUA. José Eduardo
assumiu o comando em meio à grande consternação. Não demorou muito para revelar
a faceta que seria responsável pela rápida ruína do império: sua exagerada
ambição política, um território cheio de serpentes e que ele, “um caipira”,
estava longe de dominar.
Fez alianças ruins tanto fora como dentro do Paraná.
Nomeou um famoso empresário paranaense como “boss” da fábrica de papel do
banco, demitiu-o algum tempo depois, e admitiu o erro com uma frase: “Imaginei
que havia contratado um executivo e contratei um ladrão”. Elegeu-se senador
pelo Paraná em 1992 e do Senado pulou para o Ministério da Agricultura a
convite do presidente Fernando Henrique Cardoso cuja campanha para presidente
foi o principal financiador. Como ministro, começou a articular sua candidatura
a presidente da República. Foi quando deu início a uma mistura explosiva que só
podia dar naquilo que deu: política com dinheiro. O grande patrimônio da
família Vieira foi transformado em pó com a incorporação do Bamerindus pelo
HSBC em 1997.
Dali em diante, José Eduardo virou um “poço de
mágoas”, recolheu-se à uma fazenda no interior do Paraná – das poucas que lhe
sobraram entre as muitas que o banco possuía, repassou o jornal Folha de
Londrina (que ele mesmo comprou em 1999) para as filhas, e saiu do circuito,
até morrer em 1º de janeiro de 2015. Eu estive com ele várias vezes algum tempo
antes da morte. Ele queria me levar para dirigir o jornal, mas infelizmente
para mim, não conseguimos chegar a um acordo. Descobri então que ele tinha ódio
do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, “esse é um FDP”, dizia em alto e
bom som sempre que alguém pronunciava o nome de FHC em conversas com ele.
Alguns meses antes de morrer ele deu, por telefone, ao
repórter Evandro Fadel, então correspondente do Estado de S. Paulo, de sua
fazenda em Presidente Venceslau, uma última entrevista acusando o governo de
FHC de ter vendido o Bamerindus por 9 milhões de dólares, embora tivesse em
caixa mais de 100 milhões de dólares.
O HSBC mundial está em crise causada por uma série de
escândalos financeiros, mas o banco brasileiro está saudável e pode ser uma
espécie de joia da coroa, numa trajetória que só teve dois ciclos virtuosos – o
nascedouro em Tomasina e o desenvolvimento na fase em que os primogênitos de
Avelino estiveram à frente do empreendimento e que durou até o acidente com o
pequeno Sêneca numa planície próxima a Jaguariaíva, a capital do norte pioneiro
do Paraná.
(Sede do HSBC no centro de Curitiba)
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