Alguém precisaria dizer ao menino Neymar
que um ídolo não se completa apenas marcando Gols. É preciso um pouco mais que
isso. Também não se completará nunca com agressividade. Futebol não é boxe e
nem taekendo.
Ele, dizem os cronistas esportivos,
ficou irritado com as vaias que a Seleção Brasileira recebeu da torcida após o
jogo amistoso contra a Guatemala. Chovia, as duas seleções apresentaram um
péssimo espetáculo e, ensopada, a torcida estava proibida de vaiar. Pode?
A crise de vedetismo havia sido contida
pelo pai ainda quando o garoto, antes de completar 18 anos, teve um “piti” em
campo após um jogo e foi responsável pelo golpe de misericórdia a um técnico do
Santos, com reclamações públicas e impiedosas contra a orientação que recebera.
Depois que o pai chamou sua atenção, o público presenciou o surgimento de um outro Neymar,muito mais
tolerante com técnicos e amigos, muito mais educado e menos arrogante.
A fama na carreira meteórica parece
ter-lhe subido novamente à cabeça. Talvez o pai tenha de lhe aplicar mais
um bom corretivo. Resta saber que
autoridade o pai conseguiu preservar sobre ele depois de tanto dinheiro conquistado
pelo trabalho do filho, na condição de seu empresário. É dinheiro que pode ser
juntado a rodo.
A história de pai e filho parece um
conto de fadas. Graças à habilidade estupenda do menino para o futebol ambos
saíram de uma condição de pobreza em Santos para viver uma fase de fortuna e
glória no exterior, tudo dentro de um tempo incrivelmente rápido que não
permitiu grandes reflexões. Foi viver e viver, desfrutar e desfrutar, a bordo
de um cometa chamado Barcelona. A transação financeira que o levou para a
Espanha ainda está sob investigação. Aguardemos pois para conhecer o desfecho.
Se coubesse a mim dar uns conselhos ao
rapaz eu diria que ele precisa sintonizar-se melhor com a realidade brasileira,
de dentro e de fora do futebol. A seleção brasileira subscreveu um passivo na
malfadada Copa jogada em terras nacionais que está longe de ser pago. O povo
está carente de tudo, inclusive daquela auto-estima que o futebol de Garrincha,
Pelé, Zico, Falcão, Gerson, Ronaldo, Romário e Sócrates sempre lhe proporcionaram.
Ele tem o direito de vaiar e de protestar quando vai ao estádio, compra
ingresso, toma chuva e não vê futebol, só vê um bando de peladeiros chutando de
lá para cá, e daqui para lá, sofrivelmente.
O passivo não será pago com vitórias de
um a zero e futebol sofrível. E menos ainda com derrotas do tipo essa, contra a
Colômbia, onde não se viu futebol. Vimos apenas o gênio briguento do rapaz,
arrogante, nervozinho, agressivo. O passivo aumentou bastante depois dessa
partida contra a Colômbia. Não se tem mais esperança de que ele possa ser
reduzido nesta Copa América. Será pago
com ginga, cadência, gols desconcertantes, enfim, com o estilo do futebol
brasileiro e que Neymar representa com galhardia e não com grosseria, mal humor,
biquinhos, caretinhas, má vontade e agressividade. Se vaias houver, menino,
saiba suportá-las com a mesma elegância de quem vence e marca gols espetaculares. Seja mais tolerante se não com
os colegas ao menos com o futebol que já lhe deu régua e compasso, além de
muitas outras coisas.
Pede para seu pai lhe contar como foi a
Copa de 82 em que o Brasil não ganhou , mas voltou para casa como se tivesse
ganhado, tal a qualidade e a beleza do futebol apresentado em todas as
partidas. Uma Copa perdida com Telê Santana pode valer por quatro ou cinco conquistadas
por Parreira, Zagalo, Felipão ou Dunga. Pense nessas coisas e abaixe um pouco o
facho, meu rapaz. Humildade (não muita) e canja de galinha não fazem mal a
ninguém. Arrogância é a atitude mais indesejável, atitude dos pobres de
espírito, dos mal agradecidos.
Nunca se esqueça de jogar bonito e não
dê muita importância a quem critica suas gracinhas com a bola, tudo vai passar
e elas, as gracinhas, vão ficar para sempre no imaginário do público que lhe
quer bem. Só não decepcione a galera com máscara ou arrogância. Se o
meninozinho quer um autógrafo seu numa bola, vá até ele e dê a assinatura, não
permita que o Dunga vá em seu lugar.
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