06/06/2015

Liberdade para Marin

Gostaria de produzir uma grande mobilização mundial para conseguir a liberdade de José Maria Marin, o santo. Menos mal que ele esteja preso na Suíça, onde, mesmo numa cela de 12 metros quadrados, é tratado a pandeló. Afinal, Suíça é Suíça!
De que o acusam? De ter roubado dinheiro da FIFA e da CBF, não sei direito e nem pretendo descobrir. De quem é o dinheiro dessas entidades? É do futebol. Não poderia haver dono mais abstrato. Mais abstrato que o dono do dinheiro do Vaticano, que dizem que é a Igreja ou o Papa, não sei.
Tenho visto à distância o noticiário da TV sobre o que se passa na FIFA, culminando com a renúncia de Josef Blatter. Não consigo imaginar como o roubo na FIFA ou na CBF pode me atingir, exceto quando o Bicho-Homem extrapola. De repente, surgem informações de que o direito de sediar a copa do mundo virou uma espécie de moeda, permutável, por exemplo, por armas. Algo abominável.
Durante essa turbulência toda, prisões, renúncia, roubo pra cá, roubo pra lá, desenvolvi uma tese que gostaria de propor nalgum fórum mundial: acho que o dinheiro dessas entidades – FIFA, CBF, Vaticano – deveria ser uma espécie de “boi de piranha”, oferecido aos ladrões e corruptos de todo o mundo; todos poderiam nadar de braçada nessa grana mediante a condição de deixarem em paz o dinheiro do povo, que é juntado para financiar a educação, a saúde, a alimentação das populações – este sim um dinheiro com um dono nada abstrato.
A imprensa é implacável contra o velhinho Marin desde que foi flagrado surrupiando uma medalha que seria entregue a um atleta, não sei de que modalidade. Ora, que impiedade é essa? Para que servem as medalhas? Nunca vi nenhum atleta ostentar alguma medalha no pescoço, a não ser naqueles efêmeros momentos após a prova. Vão certamente sair do pescoço e migrar para o escuro das gavetas onde enferrujarão. Aconteceu comigo com todas as que ganhei nos torneios de bocha. Deveriam cunhar um porrilhão de medalhas e entregar para o velhinho Marin, ao invés de o criticarem tanto.
O dinheiro deve liberar o mesmo hormônio que as cadelas no cio liberam para enlouquecer os machos, com ou sem pedigree. Onde há grande ajuntamento de dinheiro podem contar com o assédio dos vira-latas de todas as nacionalidades. Foi assim na Petrobras, na CBF, na FIFA, no Vaticano. Aqui no Brasil, o cheiro de progesterona está em toda parte, e isso explica o crescimento da violência, a epidemia de corrupção, roubo atrás de roubo em todo o canto. Todos correm atrás do enriquecimento fácil.

Foi assim também com o nosso velhinho que pelo menos teve o cuidado de avançar sobre um dinheiro meio sem dono que, uma vez desviado, não deixará ninguém, em tese, na miséria ou morrendo à míngua por falta de atendimento médico ou hospitalar. É por isso que considero sua prisão uma tremenda injustiça.

(José Maria Marin)

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