29/04/2015

Apresentadores de notícia na TV

        A televisão é lúdica, ensinou-me Leonardo Petrelli, o dono da Rede de Televisão onde eu trabalhava como diretor de jornalismo no Paraná – minha primeira e grande escola de televisão, já que para assumir esse cargo eu tive de interromper minha próspera carreira de jornalista de texto na chefia da sucursal de Curitiba dos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde. “O telespectador observa esse defeito na boca do apresentador e viaja em torno dele, não presta atenção em mais nada”, continuou Leonardo, fazendo-me voltar atrás na decisão de contratar como apresentadora do nosso jornalismo uma moça bonita, inteligente, sagaz, mas que tinha a boca um pouquinho torta, eu que selecionava um casal de apresentadores sequer havia notado.
        Digo isso a propósito das intenções da Globo de trazer de volta para apresentação do jornalismo dois ícones da apresentação da notícia afastados do metier há algum tempo: Pedro Bial e Fátima Bernardes, o primeiro já notabilizado como apresentador de um dos programas-símbolo da futilidade na TV, o BBB ; e a segunda, a dona de um programa de variedades matinal, Encontro com Fátima.
        Acho sinceramente que ambos cavaram a própria sepultura do jornalista que havia dentro deles ao se entregarem com tanto ardor às suas novas funções nada jornalísticas. Fátima ainda acrescentou ao distanciamento uma outra função anti-jornalística, a de garota propaganda de uma fábrica de mortadela e outros embutidos que os nutricionistas condenam como alimentos para  cardíacos e diabéticos.
        Pedro Bial conseguiu colar sua imagem de tal modo ao BBB que com certeza arrastará atrás de si o sarcasmo do humor bem brasileiro: parece que já ouço a primeira piadinha que o acompanhará para sempre. Bial, o único jornalista brasileiro que não precisa de fonte, pois tem um Boráculo sempre à sua disposição.
        Houve um tempo em que a mídia preocupava-se mais seriamente com a ética; hoje, nem tanto. Joelmir Beting foi afastado instantaneamente como colunista do Estadão por ter feito propaganda de um fundo financeiro, ele que era o especialista em finanças do jornal.


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