05/03/2015

Sete Quedas, sete tiros... E fim!

        Estou entre os poucos e privilegiados jornalistas que conheceram – e bem – as maravilhas de Sete Quedas, que as águas do lago de Itaipu apagaram da face da terra talvez para sempre; digo talvez porque havia uma possibilidade de que no dia em que o país pudesse dispensar a energia da ex-maior hidrelétrica do mundo, ou uma parte dela, o lago poderia ser eliminado ou reduzido e os saltos pudessem reaparecer tão majestosos quanto já foram.
        Hoje, há pouca esperança que isso possa acontecer. De medo que o movimento ambientalista forçasse a barra e resolvesse fazer encolher Itaipu antes da hora (especialistas garantiam que as quedas poderiam sobreviver com uma potência pouco menor da usina), os militares – os donos da bola na época – tocaram dinamite dentro d’água para descaracterizar os saltos, a pretexto de eliminar a ponta das pedras que poderia atrapalhar a navegação, quer dizer não havia nada ali que uma boa sinalização não pudesse resolver; a imprensa conseguiu deter a loucura com uma certa demora e hoje as águas do lago escondem um mistério: até que ponto os saltos foram destruídos?


         Seria um bom desafio para mergulhadores descobrir o tamanho do estrago. Eis uma boa pauta para um bom programa de TV de jornalismo investigativo.

        Era tudo imponente. Eu conheci as quedas abaixo e acima dos saltos. Para quem não teve a mesma felicidade que eu vou contar um pouquinho do que vi por lá antes de virar a aquele mar “sem graça” em que o local se transformou.
        Acima dos saltos, o rio Paraná se esparramava a mais não poder. Chegava a ter nas cheias 24 quilômetros de largura, separando, do lado brasileiro, os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. Do outro lado, o rio cortava uma ponta do Paraguai. Sete Quedas ficavam dentro do município de Guaíra, no Oeste do Paraná.
        Aquela imensidão de água, de repente, começava a confluir para o meio até desabar, com grande estrondo, nos imensos taludes. Os saltos eram bem mais de sete, mas o nome surgiu lá atrás quando nem se cogitava destruí-los.
        Toda aquela imensidão de água dali para baixo corria por um cânion de duzentos e poucos quilômetros de comprimento e nada mais de 350 metros de largura; lá embaixo, o turbilhão de água foi barrado até formar o lago de Itaipu que encobriu uma das maravilhas do mundo.    Itaipu começou a ser erguida em 1979 e concluída em 1982. 

        A poucos dias da inundação começou a aparecer pelos muros de Curitiba um poema anônimo que dizia:"sete quedas sete tiros. E pum!"
        Ainda tenho muita coisa para contar sobre as quedas que vi e amei, mas deixemos para o próximo capítulo.


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