Jogar conversa fora foi força de expressão porque há muitos ensinamentos transmitidos por ele que penetraram em minha alma e ali ficaram até hoje, quase 30 anos depois da morte prematura do senador. Ele havia preparado uma reforma completa do Judiciário, a matéria ainda tramitava no Congresso, quando estive com ele para uma de nossas conversas e perguntei:
- E se o Congresso não aprovar essa reforma o que vai acontecer com o Brasil?
E ele respondeu com a serenidade que lhe era peculiar:
- Um país sem Justiça se transforma num país dos espertos.
A reforma proposta por Acioly ficou para as calendas e há muito tempo viramos o País dos espertos e só estes têm Justiça. Uma indecência e uma vergonha!
Eu mesmo não pude prever como essa previsão do senador iria se materializar e voltar-se contra mim de maneira atroz. É o que acontece hoje e começou a acontecer há alguns anos atrás, em torno da ação que movo contra o hoje “espólio” do jornal Gazeta Mercantil, para o qual trabalhei, em doses alternadas, um ano a fio sem receber salário. Foi um horror!
Os créditos trabalhistas são prioritários, me disseram, e eu tive de descobrir na carne que isso tudo é conversa pra boi dormir. Cito esse meu exemplo porque sei que milhares e milhares de pessoas vivem – ou vão viver em breve – o mesmo drama pelo qual eu estou passando agora, o de precisar desesperadamente do dinheiro que os tribunais aprisionam sem se importar com o que acontece comigo e com ninguém – ministros do STF e STJ só têm uma única preocupação, e a sociedade brasileira sabe bem qual é, com o próprio bolso.
Somos, definitivamente, o país dos espertos. O que fizeram o PT e o PSDB em favor de uma Justiça mais ágil, mais justa, mais moderna? Nada, absolutamente nada. Todos só pensam em se eleger, correr atrás de privilégios.
Posso ser injusto com alguns, mas foram eles que me ensinaram a pensar assim. Todos os dias recebemos novas lições de esperteza. E assim vamos indo, minha ação trabalhista, através da qual sonhava em receber um dinheiro que me permitiria terminar minha vida com um certo conforto está parada nos dois tribunais superiores, sem prazo para voltar a andar.
A justiça trabalhista até que tentou me ajudar. Com quatro ou cinco anos de tramitação, me foi liberada, por causa do leilão de um imóvel do meu devedor, uma pequena parte do todo reivindicado, mas a espertalhona da minha advogada passou a mão no dinheiro e me deixou a ver navios. Movo três ações contra ela, incluindo um processo pela comissão de ética da OAB. Tudo anda lentamente, mas na ação cível obtive uma boa sentença, recentemente, obrigando a espertalhona a devolver-me uma parte do dinheiro em suaves prestações mensais.
Oba! Comemorei, ainda sem saber que ela tem direito a recurso. Quando meu advogado me liga para me informar que ela entrou com recurso e vou ter de esperar, por baixo, mais um ano, quase desmaiei... (Esse meu advogado, Pedro Cascaes, é de Blumenau, porque não consegui arranjar um, em SP, que aceitasse trabalhar contra um colega da mesma praça).
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