22/02/2015

Dilema na apresentação da notícia

         Desde a morte de Armando Nogueira (2010) ou de sua saída da Globo, ocorrida poucos anos antes, a apresentação da notícia pela emissora-líder perde qualidade dia após dia. Sozinho, William Bonner não consegue controlar tudo e nem tem poderes para isso. Mal consegue impor qualidade mais ampla ao Jornal Nacional, onde há rumores de que tem havido alguma rebeldia ao seu poder de mando.
         William é o apresentador dos sonhos de qualquer editor-chefe: equilibrado, voz e timbre muito adequados. Começou a dar umas derrapadas durante a Copa do Mundo, mas se recompôs a tempo de não se perder  em pieguice e babaquice, que contaminaram grande parte dos demais apresentadores da emissora. Os 7 a 1 enfiados pela Alemanha na gloriosa seleção canarinho deve ter assustado a todos e servido de lição a quem se esqueceu que apresentação da notícia exige equilíbrio, em todas as circunstâncias.
         A parceira de Wiliam no jornal nacional, Renata Vasconcellos, também é um exemplo da seriedade e compostura que a função exige; nela, também, é tudo muito consistente: voz, postura, beleza (televisão é um meio das pessoas bonitas, dizem), elegância. Diria que fez uma ótima substituição a Patrícia Poeta, cuja saída repentina ninguém conseguiu entender.
         Outra que merece respeito é Leilane Neubarth, âncora magnífica da Globo News. Todos os demais, a meu ver, merecem uma orientação mais severa de cima, o que hoje não existe mais. Armando Nogueira, como eu dizia, deixou um vazio muito grande.
         Chico Pinheiro, por exemplo, tem todas as qualidades  para ser um âncora extraordinário, mas ainda vai precisar ajustar sua tendência de se dedicar com freqüência ao entretenimento, separando bem os personagens. Ele já misturou tanto sua condição de âncora com a de ator cômico que às vezes o telespectador fica sem saber quem está em sua frente – se o apresentador de uma notícia ou quem vai contar uma anedota ou um “causo” engraçado.
         O maior problema é o desequilíbrio de humor; a apresentação do Jornal Hoje, por exemplo, chega a dar gargalhadas, sem pensar que atrás de uma notícia que produz risos pode vir outra que produz lágrimas ou chocante, como algo sobre a cobertura do vírus ebola. Todos deveriam se mirar no exemplo de Renata Vasconcellos, que lê uma notícia engraçada sempre com equilíbrio, nunca de modo debochado, e está sempre preparada para sair do bom humor e passar para o trágico. É assim que tem de ser.                          Há outros aspectos do problema de modo que voltarei ao assunto em outra ocasião.


(William e Renata, exemplos) 

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