16/09/2014

Uma terapia super eficaz no Lucy Montoro

        Mantido pelo SUS, o Instituto de Reabilitação Lucy Montoro, em São Paulo, funciona num prédio de dez andares, bem equipado, num cantinho do Morumbi. Não há instrumentos de fisioterapia ou terapia ocupacional que não exista lá dentro. O prédio, que é espaçoso, confortável, tem muito mais que isso: tem talvez o mais avançado centro de robótica aplicada à reabilitação da América Latina; uma pequena e eficaz indústria de órteses (peças confeccionadas a partir do molde em gesso que servem para corrigir deformidades de mãos, pernas e braços) e um setor especializado na aplicação de química botulínica e fenol como “auxiliares” da recuperação. Três andares do prédio são reservados à internação; dois andares – ou mais, não sei precisar – ficam disponíveis para atendimento ambulatorial daqueles pacientes, inclusive crianças, muitas crianças, que vão e voltam sem necessidade de internação.
        O Lucy Montoro tem fama de ser o mais eficaz centro de reabilitação do país, mas talvez nem seus idealizadores, mantenedores, gestores saibam qual é a melhor terapia que a entidade tem para oferecer naquele prédio do Morumbi. A melhor terapia que é praticada timidamente ali dentro chama-se CONVÍVIO. Já passei por duas internações ali, estou a caminho da terceira e, portanto, sei o que digo. Cada quarto abriga inúmeras histórias de superação e é nos raros momentos de convívio que essas histórias são reveladas por quem as protagonizou, com forte desinibição.
        Este é um momento mágico que o Instituto proporciona a uns poucos que têm espaço para se reunir na copa de seus andares. Dei sorte, fiquei, nas duas internações, no andar que tem a maior copa, o sétimo, de modo a permitir que quase todos os internos do andar possam se reunir e conversar animadamente. Saía desses encontros diários com meus estímulos no alto; funcionavam, esses encontros, no almoço e no jantar, como um grande lenitivo para persistirmos no tratamento e melhor suportarmos a nova vida, cheia de restrições.
        Aprendi com a vida que a melhor comunicação entre médicos, terapeutas, enfermeiros, com seus pacientes nasce dentro da empatia, que é, em linhas gerais, comunicar-se sendo capaz de mentalizar a condição do paciente, ter uma boa noção do que ele sente, o que pensa, porque age deste ou daquele jeito. Como estudioso e conhecedor dos meandros da comunicação posso dizer que a eficácia do Instituto daria um enorme salto de qualidade se elevasse os níveis de convívio com os pacientes de todos os profissionais mobilizados na reabilitação. Uma vez perguntei à uma terapeuta ocupacional porque ela, ainda que fosse um dia por semana, não almoçava “com a gente” na copa do sétimo andar e ela respondeu: “Seria ótimo se isso acontecesse, mas não dá tempo. Além dos internos, temos de atender o ambulatório, uma loucura diária”.
        O único andar que tem copa razoavelmente espaçosa é o sétimo. Os demais andares têm uma copa minúscula, que pode receber quando muito cinco pacientes acompanhados, cada qual, com o seu cuidador. Há boatos lá dentro de que os espaços para refeições serão aumentados em todos os andares. Se isso acontecer faltará apenas um arranjo de gestão para permitir que a corporação Lucy Montoro amplie seus momentos de convívio com os pacientes para além do atendimento profissional.
              Em todo prédio, quem melhor se comunica com os pacientes e seus cuidadores são as enfermeiras de quarto. Por que será, hem? Simples: o convívio entre elas e os pacientes é também bem maior pela natureza do trabalho.


(foto da frente do instituto Lucy Montoro)



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