O Lucy Montoro tem fama de ser o mais eficaz centro de reabilitação do país, mas talvez nem seus idealizadores, mantenedores, gestores saibam qual é a melhor terapia que a entidade tem para oferecer naquele prédio do Morumbi. A melhor terapia que é praticada timidamente ali dentro chama-se CONVÍVIO. Já passei por duas internações ali, estou a caminho da terceira e, portanto, sei o que digo. Cada quarto abriga inúmeras histórias de superação e é nos raros momentos de convívio que essas histórias são reveladas por quem as protagonizou, com forte desinibição.
Este é um momento mágico que o Instituto proporciona a uns poucos que têm espaço para se reunir na copa de seus andares. Dei sorte, fiquei, nas duas internações, no andar que tem a maior copa, o sétimo, de modo a permitir que quase todos os internos do andar possam se reunir e conversar animadamente. Saía desses encontros diários com meus estímulos no alto; funcionavam, esses encontros, no almoço e no jantar, como um grande lenitivo para persistirmos no tratamento e melhor suportarmos a nova vida, cheia de restrições.
Aprendi com a vida que a melhor comunicação entre médicos, terapeutas, enfermeiros, com seus pacientes nasce dentro da empatia, que é, em linhas gerais, comunicar-se sendo capaz de mentalizar a condição do paciente, ter uma boa noção do que ele sente, o que pensa, porque age deste ou daquele jeito. Como estudioso e conhecedor dos meandros da comunicação posso dizer que a eficácia do Instituto daria um enorme salto de qualidade se elevasse os níveis de convívio com os pacientes de todos os profissionais mobilizados na reabilitação. Uma vez perguntei à uma terapeuta ocupacional porque ela, ainda que fosse um dia por semana, não almoçava “com a gente” na copa do sétimo andar e ela respondeu: “Seria ótimo se isso acontecesse, mas não dá tempo. Além dos internos, temos de atender o ambulatório, uma loucura diária”.
O único andar que tem copa razoavelmente espaçosa é o sétimo. Os demais andares têm uma copa minúscula, que pode receber quando muito cinco pacientes acompanhados, cada qual, com o seu cuidador. Há boatos lá dentro de que os espaços para refeições serão aumentados em todos os andares. Se isso acontecer faltará apenas um arranjo de gestão para permitir que a corporação Lucy Montoro amplie seus momentos de convívio com os pacientes para além do atendimento profissional.
Em todo prédio, quem melhor se comunica com os pacientes e seus cuidadores são as enfermeiras de quarto. Por que será, hem? Simples: o convívio entre elas e os pacientes é também bem maior pela natureza do trabalho.
(foto da frente do instituto Lucy Montoro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário