A fama me levou a procurar a Unicamp assim que o
cardiologista de Vinhedo recomendou que eu fizesse o cateterismo para descobrir
o que se passava com minhas coronárias. Pode-se dizer tudo sobre a
universidade, menos que não seja competente na área médica. Seus procedimentos
cirúrgicos, por exemplo, são de ponta em várias áreas inclusive no setor
cardiovascular, que era o alvo do meu interesse. Logo no início da minha
internação para fazer o cateterismo fiquei no quarto com um senhor do interior
paulista que estava vencendo três meses de internação e uma situação para lá de
crítica: tinha um aneurisma do tipo gravíssimo na aorta e no ponto em que a
artéria se aproxima do coração. O problema teve de ser contornado com um transplante
de um pedaço da artéria.
O relato de superação do meu companheiro de
quarto na véspera de sua alta deixava-me ainda mais seguro da escolha que eu
havia feito para enfrentar os problemas coronários que eu resolvera encarar com
esperança de que fossem os menos graves. Fiquei alguns dias internado para
esperar minha vez de fazer o cateterismo.
Numa noite percebi que morrera uma senhora vizinha
de quarto. Eu a tinha visto de relance . Era muito idosa e eu notei que não
estava bem pela movimentação dos enfermeiros. Percebi que a morte é um choque para todos os
que se envolvem com a cura.
De repente ouço gritos e barulho de soco na
parede. O barulho era de alguém que se encontrava no quarto ao lado, da senhora
que acabara de falecer. Fui rápido até
lá e me deparei com um moço forte, atarracado. Seus murros contra a parede
davam a impressão que faziam o andar estremecer. Dizia, aos gritos, frases
agressivas contra os médicos que atenderam sua mãe até o fim da vida. Pensei no
conforto daquele quarto, na dedicação do corpo de enfermagem que atendeu aquela
senhora até seus últimos minutos (o mesmo corpo de enfermagem que me atendia),
dei uma boa acalmada no rapaz, que mais tarde entrou no meu quarto para me agradecer
pelas “sábias palavras” de conforto. Disse-lhe: “Olha moço, você proporcionou a
ela o melhor que existe em medicina e em hospital no Brasil. Quantas pessoas
neste país não gostariam de estar em seu lugar?”.
Em casa, enquanto aguardava ser chamado pela
Unicamp para fazer o cateterismo, não saía do computador. Apertei o “dr.
Google” de tudo quanto é lado. Queria saber tudo sobre meu estado de saúde, da
hipótese mais pesada (cirurgia com ponte de safena) à mais leve (desobstrução
das artérias com medicamentos). Minha opinião é que a Internet foi uma das
maiores invenções do século passado. Pode ter passado pelos leitos daquele
hospital um leigo tão bem informado sobre apropria saúde quanto eu, melhor que
eu, duvido.
Sabia, por exemplo, que há um tipo de stent
(minúsculo aparelho, flexível, que é implantado dentro da artéria
obstruída, abrindo-a) que libera
medicamentos para combater os trombos. Perguntei ao cardiologista que me atendeu
nessa fase inicial – Dr. Otávio Rizzi Filho - se a Unicamp dispunha desse tipo de aparelho e
a resposta foi não, mas que se houvesse indicação no meu caso eles dariam um jeito
de arranjar (soube depois que os grandes hospitais mantem regimes de cooperação
entre si através dos quais é possível permutar muita coisa e conseguir, por
exemplo, um stent medicamentoso para um ou
outro paciente que precisem).
Sabia também que há um tipo de cirurgia cardíaca
que evita a circulação extracorpórea, um momento em que coração e pulmões são
“desligados” e a máquina assume por horas a circulação do sangue. A
alternativa, menos invasiva e menos agressiva, é conhecida por “cirurgia com o coração
batendo”. Cheguei a indagar ao dr. Rizzi , após o cateterismo, se era possível
evitar a circulação extra corpórea no meu caso e a resposta foi não: ”no seu
caso, por ser uma cirurgia muito complexa, não dá tempo de fazer com o coração
batendo”.
E lá fui eu
atrás das minhas três horas de circulação extracorpórea que trouxe à tiracolo
um AVC isquêmico que me jogou numa cadeira de rodas onde permaneço já por um
ano. Sou persistente. Quero crer que ainda este ano voltarei a andar.
(Imagem aérea da Unicamp)
Bravo guerreiro, não tenho dúvidas de que voltará a andar. Mas tenho cá outras interrogações: você deixará o jornalismo definitivamente (ou já deixou) e se especializará em psicologia médica? Ou fará um curso de medicina com especialização em cardiologia? Ou continuará no jornalismo focado na medicina? De qualquer modo, é sempre bom ler seus textos. Abraço, gordinho velho de guerra
ResponderExcluirJOAO LEITE JUNIOR !
ResponderExcluirMEU GRANDE AMIGO PIO!! TENHO PEDIDO A DEUS PELA SUA SAUDE , E TENHO PLENA CONVICÇAO QUE "ELE"NOS ATENDERÁ !SEI DA SUA LUTA E DA SUA PERSEVERANÇA !!ESTAMOS JUNTOS MEU QUERIDO!!! AINDA VAMOS DISPUTAR NOSSAS FERRENHAS PARTIDAS DE BOCHA E DE TRANCA ! MIL PERDOES PELAS VEZES QUE DEIXEI DE VISITA-LO , MAS ISSO NAO QUER VC ESTÁ SÓ ,ESTAMOS JUNTOS SEMPRE E PARA SEMPRE !!! UM GRANDE ABRAÇO !! DEUS ESTÁ CONTIGO !!!!