22/12/2019

EMPREENDER NÃO É PRA QUEM QUER, É PRA QUEM SABE!

Por Dirceu Pio

        Gravem bem este nome: Carlos Bombonatti, o dono de um dos melhores restaurantes da região de Campinas, o já famoso Maria Zabé, na região central de Vinhedo.

        É o que se pode chamar de “empreendedor nato”, uma espécie de Midas da gastronomia - tudo o que toca vira ouro !

        Há pouco mais de 40 anos, ele fundou o Rocinha, especializado em “comida da roça”, às margens das pistas de acesso a Vinhedo, à direita da Rodovia Anhanguera no sentido SP – Campinas.

        Foram 27 anos de sucesso. Atraía frequentadores de várias regiões do Estado de S. Paulo e da própria capital. Sempre lotado e aos fins de semana formavam-se filas de espera que chegava a demorar três horas.

        A receita do sucesso era simples: comida caseira, onde nunca faltou a leitoa assada; atendimento impecável. Quem se via obrigado a esperar horas para ser atendido, ganhava de presente uns petiscos para enganar a fome. E havia um enorme pátio com animais domésticos (patos, galinhas e até carneiros) para passeios e play ground.

        E a presença, mesa a mesa, do afável proprietário.

        Ah, faltou dizer que no vigésimo aniversário do Rocinha, Carlos Bombonatti abriu uma pizzaria/sorveteria à frente do restaurante e não precisou de seis meses para transformá-la numa verdadeira coqueluche para os moradores de Vinhedo.

VENDA E FRACASSO

        Com 27 anos de sucesso, Bombonatti vendeu as duas casas para um caminhoneiro endinheirado. Eu o conheci: não foi difícil prever que ele fracassaria... Era simpático, mas tosco, não tinha o carisma e o refinamento do fundador do Rocinha!

        Não precisou de mais de cinco anos para levar à falência as duas casas, cujo sucesso deve tê-lo inspirado a trocar o setor de transporte pelo de gastronomia.

        Dá pena, hoje, ver o abandono dos prédios onde funcionavam os dois negócios de sucesso de Bombonatti: o mato toma conta dos pátios e parte das construções ameaça desabar.

E NASCE O MARIA ZABÉ

        Com menos de 12 anos de vida, a nova casa de Bombonatti , o Maria Zabé, já conquistou fama na região de Campinas. Fica na região central de Vinhedo, mas além do atendimento impecável, o detalhe de modernidade é a acessibilidade: chega-se fácil de cadeira de rodas da entrada ás mesas – rampas suaves, nenhum degrau e nenhum obstáculo do tipo intransponível.

        Soma-se à comida de qualidade (um à la carte que combina simplicidade com sofisticação), a doçura da recepcionista Regina Torres e o trabalho prestativo e rápido dos garçons.

        Frequentamos o Maria Zabé desde que foi inaugurada e nunca deixamos de concluir, após cada refeição, que empreender não é pra quem quer... É pra quem pode!



Enquanto almoça, feliz por estar em companhia da vovó Antônia, cadeirante, a família Cenciareli, recebe a visita do dono do restaurante, Carlos Bombonatti,  curioso pra saber se todos gostaram da comida e do atendimento


Carlos Bombonatti - já nasceu empreeendedor!


Carlos Bombonatti recebe seus clientes atrás do balcão

A recepcionista Regina Torres entre os dois  garçons, Antonio Xavier (o da frente) e Raimundo Ferreira, atrás....

03/12/2019

VALEU A PENA?


Por Dirceu Pio

        Já são tantos os efeitos perversos do assombroso desenvolvimento das tecnologias de informação que deveríamos nos perguntar: será que valeu a pena?

        Quem ver com atenção o vídeo que circula na internet  para mostrar a capacidade e a sofisticação das operações mundiais das quadrilhas de pedófilos que fazem da web o seu paraíso se apressará em dizer que NÂO. É de se temer que a pedofilia seja apenas a ponta do iceberg de monstruosidades maiores já instaladas ou por serem instaladas.

        Reproduzo o vídeo sobre a pedofilia ao pé deste artigo e informo que ele foi compartilhado pela internauta Mariza Leal, com experiência profissional em proteção a crianças... Talvez por segurança pessoal, a moça que denuncia não se identifica, mas pode-se dizer que ela apenas confirmou, depois de ouvir uma médica legista que atuou em recente desmantelamento de uma das redes internacionais de pedofilia, tudo aquilo que a ministra da Família, da Criança e dos Direitos Humanos, Damares Alves, havia denunciado aos deputados da Comissão de Seguridade Social e Família em junho deste ano.

        Alinhavo abaixo trechos dos dois depoimentos, começando pelo que diz a moça que se protege no anonimato:

- Circula dinheiro graúdo nas redes internacionais de pedofilia... Trata-se, portanto, de um comércio de milhões de dólares. As redes mantem agenciadores em praticamente todos os países e estes atendem, por dinheiro, qualquer pedido, desde a captação de milhares de fotos de crianças na internet até sequestro de uma determinada criança pela qual o patrocinador se interessou. Um agente não precisa mais de dez minutos para atrair a criança, dopá-la e desaparecer com ela.

- O patrocinador fica com a criança por um tempo, até enjoar... Depois, devolve-a para os mesmos agentes que a sequestraram e estes decidem o que fazer com ela: podem vendê-la a uma rede de prostituição ou a redes de tráfico de órgãos. E isto não é uma lenda urbana!

- Há casais “especializados” em fazer filhos para atender encomendas das redes de pedofilia.

SODOMA É AQUI

Do depoimento de Damares Alves aos deputados:

- Ainda não sabemos as causas, mas há um surto de estupro de bebês no Brasil. Em 2010, na CPI da Pedofilia identificamos uma bebê estuprada aos 29 dias. Era recorde... Agora, já foram encontrados bebes estuprados aos seis e nove dias. Há pouco tempo, em Manaus, um médico levou a um motel um bebê de 9 meses.

- Na internet, um vídeo  de uma criança abusada vale de mil a dois mil reais e de um bebê estuprado chega a valer 50 mil reais.

- Em Campo Grande, foi preso um homem com 56 vídeos de bebês estuprados.

- Na internet profunda (deep-web), existem grupos formados apenas para discutir estupros a bebês. Já ouvi diálogos estarrecedores, como o daquele pai que pedia dicas de anestésicos eficazes porque iria estuprar o seu bebê dentro de alguns dias.

MAIS UMA TRAGÉDIA A CAMINHO

        Ainda em março de 2019, o Brasil perdeu o certificado de país livre de sarampo recebido em 2016. Até o último agosto, foram confirmados 1.388 casos da doença, enquanto o Ministério da Saúde encontrou sérias dificuldades em atingir uma cobertura vacinal de 95% (a meta) em 14 estados, esforçando-se agora para atingi-la em outros 12, que ficaram para trás.

        Não adianta tapar o sol com a peneira: estamos diante de mais uma aterradora consequência dos meios digitais !  Posso estar enganado, mas o déficit de cobertura por vacinas das doenças infecciosas se alargará daqui para frente, um pouco a cada ano.

        Pela web, não param de se espalhar os grupos chamados de “antivacinas”. Há muito tempo deixaram de ser iniciativas locais e laterais. E é impressionante tanto a capacidade de pessoas que jogaram a Ética na lata do lixo em produzir e propagar mentiras que parecem verdade, quanto a capacidade de milhões de outras de acreditar em tudo o que a web propaga.

        Ainda é possível enxergar a matriz de tanta mistificação: os grupos antivacinas começaram a nascer com mais força, ainda em 1998, logo depois que o “médico” inglês Andrew Wakefield publicou um artigo na revista Lancet associando o aumento do número de casos de crianças autistas com a vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba).

        Já no ano 2000, o “cientista” foi desmascarado pois descobriu-se que ele  recebia pagamentos de advogados em processos por compensação de danos vacinais. De nada adiantou: em mais uma demonstração grave e explícita de uma das características principais do meio eletrônico, a verdade se perde nesse turbilhão infindável de informações da web e raramente chega ao destino certo. Ainda hoje, há profissionais de saúde que usam o dr. Andrew Wakefield como referência.

E ISTO NÃO É TUDO

        Entre os danos que a web produziu – e ainda produzirá – a todas as sociedades do mundo, nada pode ser comparado à implacável destruição do modelo de negócios que sustentava as mídias impressas.

        Neste momento, pouquíssimas pessoas conseguem enxergar o tamanho do estrago, que é imenso, verdadeiro cataclisma.

        É impossível num simples artigo descrever tudo o que acontece e que ainda está por acontecer... Limito-me, portanto, a dar alguns pontos de inflexão:

- Ficamos sem grande parte das referências informativas...Nada é confiável na web e foi assim institucionalizada a insegurança, tudo pode ser verdade  e ao mesmo tempo não ser...Estamos quase sem aquela mídia confiável...

- O contraditório precisa de mídias confiáveis para se estabelecer. Pensem no exemplo dos grupos “antivacinas”...Que jornal – ou revista - pode combatê-los com vigor e contundência se falta credibilidade a quase todos eles ?

- As grandes plataformas da web – facebook, google, twitter, linkedin, instagram, youtube, entre algumas outras -  operam com total liberdade operacional, atrelam-se aos poderosos e censuram, cerceiam, manipulam, organizam-se em monopólios, vendem arquivos com dados de seus usuários.
Aquilo que foi considerado há menos de 15 anos , uma benesse -a internet - transforma-se hoje num bicho-de-sete-cabeças, voraz, tenebroso, com muito pouca utilidade.



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        Neste vídeo você  se informa sobre a “internet profunda”, fonte da ministra Damares Alves para o depoimento dado aos deputados da Comissão de Seguridade Social:

youtube.com/watch?v=8LHBXBrIeJM&feature=share&fbclid=IwAR2Wg7FJ7mn1WEGtDX2qPsgvLwIce0TtyLVC5udvCVwWFr6GxJ13xRYMcBo

        Neste vídeo você conhece o depoimento, chocante, da moça que se mantem no anonimato para preservar sua segurança pessoal:

https://www.facebook.com/eliza.leal.58/videos/10212259658445322/UzpfSTEwMDAwODMzMzkyNDg3NjoyNDg5MjU5ODA4MDI4NDU5

        Neste vídeo você vê o depoimento – estarrecedor! – da ministra Damares Alves aos deputados da Comissão de Seguridade Social e Família (um aviso, antes de entrar no assunto pedofilia, a ministra faz uma explanação sobre a composição do Ministério):

https://www.youtube.com/watch?v=VxGHV7wCuQ4 

27/11/2019

O dia em que Deltan Dallagnol acertou na mosca


(Este artigo foi publicado em meu blog em janeiro de 2018... Republico agora em homenagem a Deltan Dalagnol)

        Quem se der ao trabalho de reler o depoimento de Emílio Odebrecht aos promotores da Lava Jato poderá começar a descobrir, se é que ainda não o fez, a grande fraude que sempre se escondeu atrás desse pernambucano de Caetés, 72 anos, que hoje perambula pelo país à caça de apoio para voltar ao poder neste 2018, Luiz Inácio Lula da Silva...

        O capo da Odebrecht descreve em minudências o caráter gelatinoso do líder sindical e o jeito promíscuo de ser do líder político, um continuou o outro sem nenhuma interrupção e qualquer concessão à Ética e à moralidade...

        Ah, mas essas são conclusões tiradas da versão de uma única pessoa!

        Nada disso! Há uma infinidade de outros depoimentos que corroboram as declarações do chefão da Odebrecht e, acima de tudo, há a confirmação pelo próprio Lula de que se tornou amigo de Emílio Odebrecht, de seu filho Marcello Odebrecht e de Léo Pinheiro, o presidente da OAS...

        Um jornalista não pode ser amigo da fonte e um líder operário não pode ser amigo dos patrões, a menos que não se importem em ser colocados sob suspeição...

        Há que se manter a chamada distância crítica – é o que a Ética recomenda. Jamais se pode encarar como normal e decente a amizade de um presidente da República com empreiteiros de obras públicas.

        Mas Luiz Inácio Lula da Silva, cuja ascensão como líder sindical o levou à presidência, quer que a sociedade enxergue como normal e insuspeita sua relação promíscua com empresários historicamente envolvidos em episódios de corrupção...

            30 ANOS DE INTIMIDADE

        A amizade de Lula com Emílio Odebrecht durou mais de 30 anos e foi feita de intensiva troca de favores que resultou no enriquecimento do ex-líder sindical e de toda a sua família – a esposa, filhos e até de um sobrinho obscuro, Taiguara Rodrigues dos Santos, que vivia, sem que ninguém soubesse, em plagas africanas...

        Foi o tucano Mário Covas quem apresentou Emilio Odebrecht a Lula e foi por assim dizer a junção da fome com a vontade de comer: “Lula criou as condições para que eu pudesse ter uma relação diferenciada com os sindicatos”, delatou Emilio...

        Nasceu a amizade e com ela a total promiscuidade:  a Odebrecht contribuiu para todas as campanhas de Lula. Quando o líder sindical virou presidente da República bastava que a empresa tivesse um problema, Emílio ia até o Palácio do Planalto pedir a intervenção direta do amigo... O empresário delatou também que todos os favores que recebeu do presidente ou do líder sindical foram regiamente pagos com dinheiro de caixa um ou caixa dois...

        O empresário que todos viam como grande corruptor usava os banheiros do Palácio do Planalto de porta aberta, como diz o populacho quando quer se referir a uma amizade levada aos extremos da intimidade...

        Emílio tinha total liberdade de ir até o presidente e reivindicar que negócios feitos pela Petrobras em prejuízo da Braskem (braço da Odebrecht no setor petroquímico) fossem desfeitos. Em outro momento, foi a Lula impedir que a Petrobras comprasse os ativos da Petroquímica Ipiranga, o que liquidaria os planos da subsidiária da Odebrecht de ampliar seus mercados.

        Dois anos depois de conseguir impedir a compra pela Petrobras, a própria Braskem comprou a Petroquímica Ipiranga. Tudo muito adequado aos interesses de ambas as partes.

         O TIRO DE DALLAGNOL FOI NO ALVO

        Já não se pode ter qualquer dúvida de que o Power Point do procurador Deltan Dallagnol, da Operação Lava Jato, acertara o alvo ao apresentar Luiz Inácio Lula da Silva como o poderoso chefão de todas as organizações criminosas que emergiram a partir de seu governo, penetrando o governo de Dilma Rousseff, da mesma forma envolvida em casos escabrosos de corrupção...

        Tanto Lula quanto Dilma tiveram conta corrente na empreiteira, roubo de milhões e milhões que tornam as propinas para a posse e reforma do Triplex do Guarujá, para a reforma do sítio de Atibaia, para a compra do terreno para o Instituto Lula, e a remuneração por palestras a 150/200 mil reais cada uma, dinheirinho de cachaça...

        A mesma intimidade que ele manteve com o pai, estabeleceu com o filho, Marcello, que assumiu o poder na empresa da família em 2009... Há vários episódios que demonstram isso, mas fiquemos com apenas um, sem qualquer dúvida, o mais forte para demonstrar a intimidade, a promiscuidade e o compadrio na relação de um governo com empreiteiras de obras públicas: fato inédito na história da República, reuniões de governo para acertar detalhes da construção da Arena Corinthians, em Itaquera, SP, erguida pela Odebrecht, eram realizadas na mansão de Marcello, a mesma onde ele vive hoje a reclusão imposta pela lei após cumprir parte da pena numa cela em Curitiba...

        Tanto Lula quanto Dilma tiveram também conta corrente de milhões na J&F, mas estes talvez sejam crimes que vão prescrever antes de serem totalmente apurados... Não é à toa que as organizações criminosas que açambarcaram grande parte do Congresso Nacional, que marcam forte presença nos demais poderes da República, combatam com tanto ardor e efetividade a Operação Lava Jato...

            E AINDA TEM PASADENA

        Cá no meu canto, tenho grande curiosidade em saber qual foi a propina que Lula e Dilma receberam na compra, pela Petrobras, de uma sucata chamada Pasadena.

        Fora a corrupção deslavada nas obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco; fora também a roubalheira de bilhões no BNDES para financiar a internacionalização do grupo J&F, Pasadena foi o maior escândalo da ERA PT.

        A história de Pasadena tem uma cronologia espantosa: como ministra das Minas e Energia (2003 a 2005), Dilma Rousseff conheceu Albert Frère, um dos homens mais ricos da Bélgica, dono, entre tantas outras empresas, da Astra Transcor Energy, que em 2005 comprara, como sucata, a tal “refinaria” de Pasadena, no Texas (EUA) por US$ 42, 5 milhões.

        Foi Dilma que apresentou Mr. Albert Frère a Lula. Foi outra vez a junção da fome com a vontade de comer...

        Lula, Dilma e Albert Frère formaram um trio inseparável... Viam-se semana sim, semana também...

        Albert Frère transbordava generosidade: deu dinheiro graúdo para a campanha de Lula (reeleição) e financiou o filme “Lula, o filho do Brasil” com a célebre Glória Pires no papel principal....

        Dilma deixaria o Ministério das Minas e Energia para assumir a Casa Civil da presidência da República certamente para estar ainda mais próxima de seu parceiro de governo e de grandes negócios...

        Dilma deixou o Ministério das Minas e Energia, mas manteria um pé vigoroso na Petrobras: ficou como presidente do Conselho de Administração...

        Então, parece que eu ouço Lula cochichando no ouvido de Dilma: “Olha companheira, o Albert me ofereceu uma bela refinaria lá no Texas; se a Petrobras comprar, nós dois nunca mais teremos problema de caixa pra campanha!”

        Foi assim que, em 2006, a sucata chamada Pasadena foi comprada pela Petrobras por US$ 1,12 bilhão, preço mais de 27 vezes maior que o valor desembolsado um  ano antes pela Astra de Albert Frère.

        São todas obras do grande líder que tem nos brindado todas as semanas com mais algumas de suas fraudes: pesquisas que o apontam como candidato imbatível nas eleições presidenciais deste ano! 


  
Deltan Dallagnol: tiro certeiro!
Luiz Inacio Lula da Silva, brinquedinho de luxo do empresário Emílio Odebrecht


Albert Frére: generosidade em pessoa !

04/10/2019

Os Assassinatos do PT

        Publiquei este artigo neste blog em 18 de junho de 2016 e, ao relê-lo, ontem, 04-10, surpreendi-me em ver o quanto continua atual....só faria uma única correção: o número de testemunhas mortas no Caso Celso Daniel subiu de 08 para 10, num roteiro de mistério e impunidade assombroso....uma boa leitura para todos...

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        Ninguém me tira da cabeça que foi a cúpula do PT que planejou e executou o assassinato de dois de seus prefeitos, os mais proeminentes, que comandavam duas das prefeituras mais ricas do país – Antônio da Costa Santos (Toninho do PT), de Campinas, e Celso Daniel, de Santo André, no ABC Paulista.
        Foi no comecinho do Novo Século, quando começaram a circular também fortes boatos de que havia um terceiro nome a ser eliminado: Antônio Palocci, prefeito de Ribeirão Preto, considerada a capital do Agronegócio Brasileiro.
        Um passeio rápido por essa época nos ajudará a entender as razões dessa minha tese: Lula começava a aquecer as baterias para uma nova eleição presidencial e seu partido avaliara cuidadosamente as razões de três derrotas consecutivas, a primeira para Fernando Collor e as outras duas para Fernando Henrique Cardoso.
        Havia grande convergência interna de que o PT sofrera as três derrotas por falta de recursos.
        Parece que assisti às reuniões da cúpula do Partido que decidiram a quarta candidatura, em 2002. 
        Lula bateu o pé: “Sem dinheiro, eu não vou mais entrar... Escolham outro para a missão” (Isso chegou a ser noticiado pelos jornais).
        O Partido estava convencido de que “ou era com Lula, ou não seria com mais ninguém”. Sua única alternativa, portanto, era abarrotar seus cofres.
        Como então conseguir o dinheiro que Lula exigia? Aí entra com mão pesada Zé Dirceu, o gênio do mal.
        O PT avançava celeremente a cada eleição. Avançava sobretudo na conquista de prefeituras de cidades ricas, como Campinas (a segunda maior cidade do interior paulista) e fincara uma boa cunha na região-berço do partido, o ABC Paulista, elegendo para um segundo mandato o economista Celso Daniel. Ainda em São Paulo, conquistara a prefeitura da capital do agronegócio brasileiro, Ribeirão Preto, território dominado pelo médico Antônio Palocci.

TORPEZA ENTRA EM CENA

Zé Dirceu propôs:
        - Temos de buscar dinheiro onde há dinheiro: não vamos nos esquecer de que as três prefeituras mais ricas de São Paulo, depois da Capital, estão nas mãos do partido – Santo André, Campinas e Ribeirão Preto. Esses três prefeitos têm de criar um caixa para estas eleições que levarão o partido ao topo do poder.
        Atraente, a proposta de Zé Dirceu foi aprovada com louvor. Nascia também ali a revitalização da tese que Zé Dirceu voltaria a usar para urdir e implementar o Mensalão – os fins justificam os meios (Maquiavel direto na veia).
        Havia detalhes para acertar: as prefeituras “doadoras” precisariam de um “fiscal” permanente para garantir o fluxo do dinheiro; não há informação de quem foi mandado para Campinas e Ribeirão Preto. Para Santo André, com certeza, foi mandado o fiel escudeiro de Lula, aquele jovem oriundo do Paraná que seria o homem da mais absoluta confiança de seu gabinete, Gilberto Carvalho.
        Quando vi Gilberto Carvalho posando de assessor de gabinete do prefeito assassinado Celso Daniel (Santo André) consegui imaginar tudo o que efetivamente havia acontecido.
        Conheci Gilberto Carvalho nos anos 80 em Curitiba. Era o grevista de plantão. Tinha um discurso bem articulado, o que chamou a atenção da Executiva Nacional do PT. Recepcionava Lula nas viagens que fazia a Curitiba.
        Foi Lula que o tirou de Curitiba e o levou para São Paulo. Ficaram muito amigos.
        Para mim, já não foi surpresa quando Gilberto Carvalho é acusado de levar dinheiro em seu carro de Santo André para São Paulo. Ele nega, sem explicar o que um homem bem posicionado na hierarquia do partido fazia numa prefeitura de uma cidade com 400 mil habitantes, se tanto.

        "MATEM TODOS ELES!"

        Nos pensamentos sórdidos de Zé Dirceu começaram a brotar, eu imagino, uma futura ameaça: a possibilidade de um desses prefeitos dar com a língua nos dentes, mais tarde, quando tudo passasse. Entra em cena outro preceito fundamental de Maquiavel, autor de cabeceira de Zé Dirceu: “faça o bem aos poucos, devagarinho; já o mal, faça de uma só vez”.
        Os prefeitos “doadores” tinham, portanto, de ser eliminados. Imagino que Antônio Palocci, de Ribeirão Preto, tenha escapado do fuzilamento graças aos seus pendores intelectuais e ao seu caráter gelatinoso. Foi o primeiro a ser chamado a Brasília para compor o governo de seu amigo, Luís Ignácio Lula da Silva, iniciado em 2003.
        Toninho do PT, como era conhecido em Campinas, na época com pouco mais de um milhão de habitantes, foi assassinado a tiros por homens que o perseguiram de moto logo após ter saído, de carro, do Shopping Iguatemi, dia 14 de junho de 2001.
        A viúva de Toninho, Roseana Garcia, investigou o assassínio e reuniu fortes indícios de que a morte do marido foi crime encomendado. Pensava em revelar tudo, pessoalmente, a Lula, já empossado na Presidência da República.
        Esperava que Lula fosse visitá-la na primeira viagem presidencial a Campinas, logo no início de seu governo. Está à espera do ilustre visitante até hoje. Roseana descobre, indignada, que Lula não é de prestar qualquer solidariedade às mulheres do PT que perderam seus maridos precocemente e em condições misteriosas e estúpidas.
        Pouco mais de seis meses depois, no dia 18 de janeiro de 2002, foi também assassinado Celso Daniel, prefeito de Santo André, no ABC Paulista; Luiz Ignácio Lula da Silva foi metalúrgico e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, cidade vizinha a Santo André.
        Celso Daniel foi sequestrado por homens fortemente armados enquanto era conduzido para casa, em Santo André, no carro do mesmo “amigo” que lhe serviu de companhia no último jantar de sua vida, no refinado restaurante Rubayiat, em São Paulo. O “amigo” era Sérgio Gomes da Silva, conhecido por Sombra. 
        Dali, Celso Daniel foi levado para uma favela em Diadema e da favela para um lugar ermo da BR 116, estrada que liga São Paulo a Curitiba, onde foi executado por 11 tiros à queima roupa, segundo a perícia.
        A partir daí o caso é envolvido em mistério atrás de mistério, nenhum deles realmente desvendado. Todas as pessoas, num total de oito, que tinham algo a revelar sobre autoria, mandantes, intermediários, etc., foram mortas.
        Com certeza, uma força oculta e poderosa fez todos os esforços para que o assassinato de Celso Daniel permanecesse encoberto por uma nuvem infindável de mistérios. Não foi algo que apenas a província pretendeu esconder, embora toda província seja também perversa e ardilosa.

IMPRENSA EM DECLÍNIO

        Quem quiser hoje aproximar-se da verdade no caso Celso Daniel, tem de procurar os arquivos virtuais de blogs e sites informativos. Diria que a Internet, com seu espírito libertário, foi a mídia que mais noticiou o caso e, consequentemente, mais se aproximou da verdade.
        A verdade, a verdade mesmo, ainda está por ser desvendada.
        Eu mesmo recorri aos arquivos do Blog de Reinaldo Azevedo para conhecer, um a um, todos os crimes associados à morte do prefeito. Está tudo lá, claro, explícito, contundente.
        O escândalo que poderia ter mudado a história da República, começando por derrubar Lula da Presidência e expurgar o PT do poder, precocemente, algo muito pior que Whatergate, não teve o seu Washington Post.
        Reinaldo de Azevedo não tem a força institucional do meio impresso.
        Os envolvidos no assassinato de Celso Daniel e Toninho do PT foram altamente beneficiados pela crise que progressivamente destrói a mídia impressa como um câncer que se espalha em metástase.
        A crise já corria solta, impetuosa, no início deste Século quando teve início o reinado do PT. Os petistas se queixam com veemência da “imprensa golpista” que joga em seu caminho algumas cascas de banana.
        Imagino o que seriam capazes de dizer se ela ainda operasse com a força de outrora, quando, por exemplo, um dos grandes jornais brasileiros tinha no ABC Paulista um time qualificado para investigar, muitas vezes, à frente da polícia. Sei disso porque já chefiei também a Sucursal do ABC do Estadão.
        Há mais de 20 anos, a mídia impressa estava transformada num arremedo do que já foi, perdia toda a sua estrutura e ficou sem recursos para apuração. Alguns jornais nem arremedo conseguem ser, transformados que foram em mídias partidárias, aduladoras do poder.
        Foi o que aconteceu inclusive com o Diário do Grande ABC, onde já trabalhei no início da carreira. A crise anda tão brava que o Diário do Grande ABC é controlado hoje por um “empresário” – Ronan Maria Pinto – que já foi acusado de envolvimento no caso Celso Daniel.
        Deve ter comprado a única mídia impressa da região para defender-se de acusações como essa e também para produzir chantagens e ameaças de porte nacional.
        A sociedade brasileira ainda vai descobrir quais segredos Ronan Maria Pinto guarda para receber do amigo de Lula, José Carlos Bumlai, que esteve preso em Curitiba, metade do empréstimo fraudulento obtido junto ao Banco Schahin (6 milhões de reais).
        Esse dinheiro jamais teria sido repassado a Ronan sem ordem
expressa de Lula. Releia este artigo e conclua junto comigo: Ronan
conhece os mandantes do assassinato de Celso Daniel e Lula sabe
que ele sabe. 
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(Toninho ao lado de Roseana)

10/09/2019

MEIA LIMPEZA





Os caminhos a percorrer pelo governo de Jair Messias Bolsonaro estão minados e assim continuarão até o último dia deste mandato. Por mais forte que tenha sido o movimento que o elegeu, não foi suficiente para promover uma limpeza ampla, geral e irrestrita das instituições que ainda permanecem com um forte grau de contaminação pelas práticas deletérias e perversas do passado....

Serão necessárias mais duas ou três eleições – e sem retrocesso – para que possamos ter um governo democrático, liberal e desenvolvimentista, e em ritmo acelerado, com que sonha a maioria da população brasileira.

Se bem entendi, é isso o que o filho Carlos Bolsonaro quis dizer com o seu controverso texto no twitter.

PACIÊNCIA, MUITA PACIÊNCIA

Que os eleitores do presidente se preparem para apoiar um governo cauteloso, impregnado de avanços e recuos e de conquistas moderadas...É assim que será !

O que é recomendável para as circunstâncias ? Enfrentar um STF contaminado pela presença de Dias Tóffoli, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio de Mello ou fazer pequenas concessões em troca de governabilidade ?

O que fazer com um TSE do mesmo modo contaminado, até por influência da banda podre do STF ? Brigar ou tolerar ? Já seria uma grande conquista se ao menos tivermos a substituição das urnas eletrônicas, com a volta do voto impresso...

DEZ MESES DIFÍCEIS

Esses quase dez meses de governo demonstraram o quanto é difícil manter uma relação decente com Câmara e Senado ainda controlados pela “banda larga” da corrupção. Dadas as dificuldades, pode-se dizer hoje que houve progresso na relação, com a drástica redução do fisiologismo e uma brusca queda do famoso “toma-lá-dá-cá”.

Ainda assim, é de se prever que nessa relação o céu continuará tempestuoso...de um lado, temos deputados e senadores que querem o fim do combate à corrupção, e de outro temos um presidente eleito com a promessa da dar combate sem tréguas a corruptos e corruptores...

Já há quem diga que o governo capitulou e um sinal evidente disso foi o que ele fez com COAF...é gente de memória curta que, por certo, já se esqueceu de que, quem tirou o COAF de Sergio Moro, foi o Parlamento e sua transferência da Economia para o Banco Central foi feita com anuência do Ministério de Justiça e Segurança...

Se me perguntassem que nota daria a esses nove meses de governo Bolsonaro, não hesitaria em responder: dadas todas as dificuldades, esse governo merece 9,9 !
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24/08/2019

MEIO AMBIENTE PODERÁ SER FOCO DE CRISE

Por Dirceu Pio  

NÃO SERÁ POR FALTA DE AVISO... Ainda a 1º de dezembro de 2018, antes mesmo, portanto, da formação do atual governo, publiquei este artigo em meu blog. Foi como se eu previsse a atual crise inteiramente fabricada por influência das Ongs que perderam o bonde com o cancelamento dos acordos do Brasil com Alemanha e Noruega pela preservação da Amazônia e realimentada pela esquerda corrupta que quer a desestabilização  do governo Bolsonaro...

   

Está escrito nas estrelas: o meio ambiente pode ser o fator que vai gerar grandes turbulências e desestabilização ao novo governo - se Bolsonaro não se acautelar!      
 Dizem que se conselho fosse bom, ninguém daria de graça, mas eu não dou de graça – apenas retribuo uma ínfima parcela daquilo que ele, Jair Messias Bolsonaro, fez ao Brasil impedindo a volta ao poder das quadrilhas e dos quadrilheiros!       

Sugiro, portanto, que ele forme imediatamente um grupo de trabalho, com a participação do Itamaraty, do CNPQ, do Inpa, do Inpe, da Embrapa, entre as várias outras entidades que têm se dedicado, ao longo do tempo, ao estudo e à pesquisa dos recursos amazônicos e tenham conhecimento de políticas de relacionamento e comércio externo.       

O objetivo desse grupo de trabalho deve ser a ampliação de massa crítica governamental sobre o assunto, pois há evidências de que o próprio presidente eleito tem (o que é compreensível, dada a complexidade do assunto) baixo nível de entendimento da dimensão real das questões ambientais...       

Isso ficou claro na hesitação frente à ideia de fundir os ministérios do Meio Ambiente/Agricultura ou da famosa frase que ele pronunciou lá atrás, nos primórdios da campanha: “Estão matando o Agronegócio, não dá mais pra desmatar pra criar boi, pra plantar soja...”       

É uma frase forte, que, provavelmente, explica o aumento do desmatamento da Amazônia neste 2018, pois devemos nos perguntar até que ponto o desempenho eleitoral de Bolsonaro não encorajou os pecuaristas, madeireiros e predadores em geral a intensificar suas práticas criminosas? (https://imazon.org.br/publicacoes/boletim-do-desmatamento-da-amazonia-legal-marco-2018-sad/)

FRASE FORTE E SIMBÓLICA
       

Desmatar pra criar boi na Amazônia é uma prática que o novo governo tem por obrigação combater e nunca incentivar. 

A pecuária extensiva ainda ocupa 200 milhões de hectares no Brasil e com o avanço da genética animal e a evolução das técnicas de confinamento, bem mais da metade dessa área terá de ser devolvida à agricultura, de modo que haverá terra sim para atender, com racionalidade, a demanda do agronegócio por mais 50 anos, pelo menos...       

Uma cabeça de gado levava quase cinco anos pra chegar ao ponto de abate. Hoje, com a introdução do “novilho precoce”, um boi é abatido com dois anos de confinamento... E a pecuária tornou-se muito mais rentável.      
 Esqueçamos a reação internacional que, certamente, funcionará como uma orquestra ampla e irrestrita capaz de executar a sinfonia da preservação toda vez que for adotada uma prática que possa ser entendida como ameaça à floresta.

É A BIODIVERSIDADE QUE CONTA
      

 Pensemos apenas na biodiversidade. Nesses 15 anos de PT, o governo foi escandalosamente permissivo com o contrabando de espécies nativas.      

 Essa floresta é considerada a maior reserva em termos de biodiversidade do planeta. Ela abriga mais de 30 mil espécies de plantas, na imensa maioria desconhecidas.       

 A biodiversidade é um patrimônio que deve ser estudado e preservado e é tão ou mais importante que qualquer reserva mineral.

NOVO MARCO REGULATÓRIO
       

Por falar em reserva mineral, é bom que se diga que o Brasil ainda não tem um marco regulatório minimamente decente para orientar a exploração de seus recursos de subsolo dentro da racionalidade e sustentabilidade.        

Caberá, portanto, ao novo governo pensar detidamente no assunto e criar condições para que um novo marco seja construído, votado e aprovado com a urgência necessária, pois não há governo que possa resistir a novas tragédias do porte de Mariana.       

Lembro que por ocasião do desastre de Mariana vieram à tona centenas de ameaças com o mesmo potencial devastador, representadas pelas mais de 600 barragens de rejeitos minerais sem nenhuma fiscalização.       

Temos desmandos de todos os portes e gravidade na exploração mineral, sem esquecer que o bombardeio de rochas para extração de ouro no município de Paracatu (MG), produzido pela Kinross, tem levado ao ano centenas de pessoas para tratamento de câncer no Hospital de Barretos (SP)...

E A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL?
       

Na época em que Bolsonaro manteve-se trepado no palanque, ele clamava pela exploração do potássio na reserva indígena do alto do Rio Madeira, no Amazonas. Ganhou a eleição, desceu do palanque e deve cuidar agora de descobrir as verdadeiras razões que têm levado a Vale do Rio Doce a imitar o grupo Lume e ficar sentada sobre a concessão do potássio do Sergipe.       

Não há de ter mais nenhuma justificativa para atraso de várias décadas na extração de um mineral que tem representado a perda de milhões de dólares em divisa todos os anos...

        Ou produza – e produza imediatamente – o potássio que o Brasil precisa ou perde a concessão ! Esta deveria ser a nova ordem ! 

        Além disso, há que reformar a legislação ambiental para que ela seja eficaz e não crie obstáculos irracionais ao agronegócio ou ao desenvolvimento da infraestrutura do país...e é preciso também, junto com as reformas da lei, aumentar o poder de polícia dos órgãos ambientais, lembrando que o Ibama só consegue receber 8% das multas que aplica...

        Responder às pressões com políticas mais racionais e eficazes me parece ser a melhor opção pelo novo governo.





30/07/2019

O ENCONTRO DO FEIO E BONITO NO INCÊNDIO AMAZÔNICO


Por Dirceu Pio

        Grande parte das minhas raízes está ligada à agricultura: meu pai era agricultor, meus irmãos mais velhos foram agricultores e eu nasci dentro de um cafezal florido no distrito de Macucos, município de Getulina, noroeste do Estado de São Paulo....

        Com 26 anos, já casado e jornalista, com meu primeiro filho, ainda bebê, fui-me embora de São Paulo para Curitiba com a missão de chefiar a sucursal do Paraná dos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde...

        Nos quase 20 anos que passei por lá, minhas atenções de jornalista estiveram sempre divididas à metade entre a temática rural e a urbana...

        Vi de bem perto, portanto, o lento desenvolvimento da agropecuária desde a sua fase predatória, meramente extrativista, até chegar ao perfil atual que já começa, verdadeiramente, a produzir cultura, ou seja, a descoberta da importância da qualidade e da preservação do solo e das matas para que seja possível lucrar com a atividade...

        Presenciei os primórdios do plantio direto!

        A ignorância – enfim, os agricultores descobriram – custa muito caro a todos: eu vi famílias inteiras contaminadas por agrotóxico; eu vi o surgimento de áreas desérticas em algumas regiões do Paraná; eu vi a erosão causando danos graves a comunidades inteiras.

        Eu vi de perto o desespero de inúmeras famílias com as restrições impostas por barreiras sanitárias para evitar o alastramento da aftosa ou da vaca louca...

        Eu vi também a consciência despertada a fórceps pelas barreiras sanitárias impostas pelos países importadores de nossas commodities agrícolas...

CERCA DE PINHEIROS

        E ouvi muitas histórias comoventes e dramáticas, quando daquela vez que eu e minha família – mulher e quatro filhos – de mãos dadas não conseguimos abraçar o tronco de um majestoso pinheiro araucária, preservado por mero valor estético ou histórico num parque público do município catarinense de Fraiburgo, enquanto um homem, que fizera parte da colonização do lugar, nos contava:
- Quando a gente chegou aqui nessa região havia tantos pinheiros dessa grossura pra mais que, para evitar o ataque dos caititus no roçado, a gente derrubava uma árvore dessas pra lá, outra pra cá, mais uma lá na frente, formando um quadrado que nenhum bicho do mato conseguia pular...

        Em 1979, ao lado do repórter Paulo Anfreoli, produzimos uma série de reportagens sobre corrupção no antigo IBC (Instituto Brasileiro do Café), trabalho que me valeu especialização em sabor de café... A série produziu uma CPI na Câmara de Deputados e eu tive de depor...

        Em 1982, na crise da carne, viajei de carro mais de 20 mil quilômetros pelas regiões de pecuária extensiva do Brasil e da Argentina à procura do boi gordo que havia desaparecido dos frigoríficos e dos açougues... Sou, portanto, desses raros jornalistas que sabe identificar um boi gordo e quando ele está ou não em ponto de abate...

FOGUEIRAS MONUMENTAIS

        Tempos depois, acompanhei de perto a tentativa fracassada do Banco Bamerindus (de origem paranaense) de abrir uma fazenda de pecuária na Amazônia... Assisti pela televisão aquele que foi o maior incêndio florestal até então registrado no mundo, captado por satélite, na fazenda amazônica da Volkswagen, outro fracasso...

        Vi de perto também, já pela Gazeta Mercantil, os primeiros experimentos de agricultura de precisão (maquinas agrícolas monitoradas por satélite depositam no solo enquanto sulcam a terra apenas aquela quantidade de nutriente indicada por análises) empreendidos pelo grupo Algar, no Triângulo mineiro....

        Fui também o primeiro jornalista a entrevistar o agrônomo Roberto Rodrigues (2006) tão logo se afastou do Ministério da Agricultura do governo Lula... Foi quando tomei conhecimento, em detalhes, que a pecuária extensiva que ainda ocupava 200 milhões de hectares no Brasil há 20 anos atrás, com o avanço da genética animal e a evolução das técnicas de confinamento, começava a devolver à agricultura bem mais da metade dessa área, assim aliviando severamente a pressão pelo desmatamento da Amazônia...

O FEIO E O BONITO NAS CHAMAS


        Em 2011, eu começava a escrever um romance (ainda inconcluso) para contar a saga da abertura de uma mega fazenda a norte do Pará, iniciada com um incêndio apoteótico, descrito neste trecho por um pistoleiro de nome Ataíde:

- A gente veio aqui pra ajudar o Patrão a botar fogo no mato. O que correu de onça e veado dessas matas foi uma desgraça. O Patrão é vivo. Antes de ordenar o incêndio, que demorou quatro dias para findar, ele arrastou isso e aquilo de madeira de dentro da mata, de dentro de suas terras e de fora delas, daquele eitão de solo também queimado para intenções futuras de expansão do território, o senhor entende. Esse eito de terra livre onde o senhor avista essa imundície de colonião ficou entupido de monte de tora e tora da boa. Ele separava tudo: mandava o trator acomodar peroba num canto, castanheira no outro, o tal de mogno, então, parecia praga ali dentro. No começo, ele queria construir as nossas casas todas de madeira. Chegou a implantar aquela serra elétrica que o senhor viu lá nos fundos. Depois, os homens de Sinop que mexem com madeira vieram aqui e... Devem ter oferecido uma dinheirama danada pelas toras... Por que o Patrão vendeu tudo, só ficaram pra uso da gente umas dez dúzias de troncos, talvez nem isso. Madeira dura pra lasca de cerca tem pela pastagem à fora. Não existiu fogo que acabasse com elas. Pra quem não tem compaixão com os bichinhos rasteiros, esses quatis e cotias, pacas e tatu, preguiça e tamanduá, o fogo foi bonito de se ver. O João Piancó aproveitou um tatu assado que apareceu naquele varejamento de cinzas, ali perto donde hoje ele mora. Foi uma perdição, seu Julinho. O feio e o bonito se encontraram no meio da chama que alvoroçou esse mundo de mata sem fim” .

        Está guardado... Como me acusam de não ser mais jornalista, quem sabe termino o romance, publico, ganho prêmios e vou viver de Literatura, sonho impossível de ser realizado num país em que a população perde o prazer da leitura... rsrsrs.