Neste 17 de
dezembro de 2017, um domingo, recebi a visita, em casa, em Vinhedo, SP, do meu
amigo Raul Bastos e de sua companheira de tantos anos, Beatriz Revoredo... Matamos
a saudade, conversamos, almoçamos... Fazia mais de 20 anos que não nos
víamos... Foi na antevéspera do meu aniversário de 70 anos... Emoções
indescritíveis!
Pra quem não sabe, Raul Bastos é uma lenda do jornalismo brasileiro. Se houvesse uma academia dos imortais do jornalismo, deveria ser entronizado como presidente emérito e vitalício... Foi meu guru, incentivador e inspirador.
Ao longo da vida, não cheguei a conhecer ninguém com sua argúcia, sua percepção fina da notícia, sua dedicação ao trabalho jornalístico... Raul sempre foi jornalista nas 30 horas do dia!
E é denso! Sempre leu muito... Na visita, presenteou-me com “História da Riqueza no Brasil”, de Jorge Caldeira... Comecei a ler... Tenho de me preparar para um mergulho profundo na história deste país que ainda insisto em amar...
UMA REDE IMORTAL
Foi Raul Bastos quem montou, tijolo a tijolo, passo a passo, a Rede de Sucursais e Correspondentes do jornal O Estado de São Paulo, hoje uma referência histórica de qualidade em jornalismo...
Nomeava o jornalista e depois o orientava, acompanhava seu trabalho, incentivava voos cada vez mais altos e mais seguros... Tive o privilégio de entrar para a rede em 1973 pela Sucursal do ABC.
Em 1975, eu já trabalhava ao lado dele em São Paulo, no antigo prédio da Major Quedinho... Então, ele me mandou, ao lado do Chefe da Sucursal de Campinas, Roberto Godoy, e do fotógrafo Waldemar Padovani (já falecido), para fazer uma primeira reportagem sobre Itaipu... Iriam começar as obras de construção da maior hidrelétrica do mundo em Foz do Iguaçu e na zona da fronteira de Brasil, Paraguai e Argentina...
Antes da partida, chamou-me para uma conversa: foram trinta minutos de orientação sobre o trabalho que esperava que eu fizesse... Uma orientação clara, ampla, profunda: saí em viagem compenetrado de que a região que eu iria visitar era especialíssima – fora palco da Guerra do Paraguai, território indígena dizimado, envolvida por questões geopolíticas relevantes...
Coincidiu que um ano depois, fui enviado pelo mesmo Raul Bastos para reestruturar a Sucursal de Curitiba e lá fiquei por 16 anos, como responsável pela cobertura da construção de Itaipu, da assinatura do tratado Brasil-Paraguai, em 1971, até a inauguração de quase todas as turbinas, em 1998...
Foi a primeira orientação de Raul Bastos que iria balizar todo o meu trabalho de mais de 15 anos em Foz do Iguaçu... Mais do que isso, aquela conversa de 30 minutos influenciaria toda minha vida de repórter e de jornalista, pois aprendi ali que uma informação é sempre muito mais do que se registra no caderno de anotações... Nunca mais enxerguei Itaipu como uma simples usina hidrelétrica e sim como uma obra estratégica, que ainda há de mudar a história da economia do Paraguai, representando uma super-arma num possível conflito Brasil/Argentina – se as comportas de Itaipu forem abertas de uma só vez quase metade do território argentino será inundada...
DOIS LIVROS, UMA MISSÃO
De volta ao almoço de Vinhedo, digo que dois assuntos dominaram a conversa... O primeiro, provocado por mim, é a necessidade emergente de escrevermos dois livros – o primeiro contará a história da rede de sucursais e correspondentes do jornal O Estado de São Paulo e o segundo contará a história da criação e do desenvolvimento da Agência Estado...
A rede foi, sem dúvida, um capítulo importantíssimo da história do jornalismo brasileiro, um capítulo que precisa ser documentado em livro para que não se percam da memória nacional experiências e iniciativas de um jornalismo que pretendeu ser nacional num território imenso, servido por telex, telégrafo e uma rede de telefonia precaríssima... Só mesmo Raul Bastos para produzir qualidade em condições tão adversas...
Foi Raul quem criou a Agência Estado... Ela nasceu em 1970 como agência de notícias e foi transformada em agência de informações por Rodrigo Mesquita a contar de 1989. Uma agência de notícias produz material informativo para mídias (reprodução) e uma agência de informações fornece notícias e dados também para mercados, para orientar operações de compra e venda de ativos financeiros, como exemplo...
Eu participei de ambas as experiências... Fui chefe de duas sucursais (ABC e Curitiba) da rede de Raul Bastos e diretor da Agência Estado nos tempos de Rodrigo Mesquita... Talvez por isso, tenha sido escalado para coordenar o projeto de ambos os livros e já peço ajuda de todos os jornalistas que de algum modo foram envolvidos por um ou por ambos os projetos... Rodrigo Bastos, um dos filhos de Raul, já embarcou no projeto com entusiasmo... Entramos na fase de catalogar sugestões...
PREOCUPAÇÃO À PARTE
Durante o almoço, com alguma apreensão e tristeza, falamos da condição de jornalistas da nossa faixa de idade – dos 60 aos 80 anos – que vivem em dificuldades causadas, de um lado pelas transformações arrasadoras dos meios de comunicação, e de outro pela miserabilidade do sistema previdenciário...
Pessoas sábias, experientes, que já não encontram empregos minimamente decentes obrigadas a viver de uma aposentadoria ridícula e a pedir ajuda aos filhos para sobreviver com dignidade...
Em artigo anterior em meu blog (“Capacho Sindical”), reclamei com severidade da falta de um sindicato para liderar uma discussão mais ampla que trouxesse luz e apoio aos jornalistas nesta hora de disrupção violenta dos meios de comunicação...
Relembre aqui:
"Poucas profissões - escrevi em meu Blog - têm sofrido um impacto tão forte com as mudanças decretadas pela evolução das tecnologias de informação, quanto a do jornalista, transformado, de verdade, numa borboleta perdida na tempestade... E o Sindicato (dos jornalistas do Estado de São Paulo) poderia neste momento ser um “think-tank”, ou seja, um centro de conhecimento e um farol a iluminar os caminhos do presente e do futuro...
Só que não!
O Sindicato que já foi de Audálio Dantas, depois de submergir nas trevas e nela permanecer por muitos anos, resolve transformar-se numa espécie de capacho do PT e do Lula!
Isto é uma vergonha, diria Bóris Casoy, aquele mesmo jornalista que em maio de 1979 impediu que a redação da Folha de São Paulo parasse em razão de uma greve que fora decretada pela primeira influência nefasta da CUT, à qual o Sindicato está até hoje filiado...”
COOPERATIVAS, UMA SAÍDA
Pois bem, na falta de um “think-tank”, eu mesmo proponho uma possível saída: que tal começarmos a criar “cooperativas temáticas” que possam remunerar os jornalistas por produção? Meu amigo Elmar Bones, lá do Rio grande do Sul, poderia se envolver e nos passar detalhes de sua experiência na Coojornal, uma memorável experiência de cooperativismo entre jornalistas...
Pelo pouco que eu entendo das novas e novíssimas mídias que surgem na esteira do desenvolvimento da internet, digo que a ideia pode dar muito certo... Meu amigo Rodrigo Mesquita, uma das cabeças mais sintonizadas com as mudanças do mercado de comunicações no Brasil, tem-nos mostrado que a informação, hoje, está nas redes sociais, canais de acesso a todas as fontes...
Vejo que captar, selecionar, tratar (preparar para divulgação), curar (sinônimo de validar ou certificar), informações disponíveis nas redes deve representar um valor que pode ser precificado... Todas essas funções devem ser entregues a boas cooperativas temáticas, pois vão de encontro a tudo aquilo que o jornalista experiente sabe fazer....
É claro que a ideia precisa ser amplamente discutida, ampliada, melhorada, aperfeiçoada, mas dou a largada na discussão indicando duas cooperativas que poderiam ser criadas já, sem mais hesitação – a Cooperativa da Agricultura Familiar e a Cooperativa de Arquitetura e Urbanismo...
O campo para produção de conteúdos para a primeira delas é imenso... A Agricultura Familiar vive um momento especial na medida em que tem todas as condições de acompanhar o ritmo acelerado de desenvolvimento do agronegócio... Suas carências – incorporação de novas tecnologias, barreiras da comercialização, como exemplos – podem ser atendidas a começar pela difusão de conteúdos apropriados...
Já a cooperativa de arquitetura e urbanismo poderia centrar fogo nas questões da acessibilidade urbana e nas novas tecnologias aplicadas às cidades, do saneamento básico às edificações... Onde houver uma inovação, uma solução urbana, haverá um jornalista cooperativado pensando em compartilhá-la...
Entenda-se que o cooperativismo pode abrir espaços também a bons ilustradores, chargistas, fotógrafos, especialistas na produção de vídeos... Antes de tudo, é preciso que se entenda que todo e qualquer espaço só poderá ser aberto por boas iniciativas empreendedoras...
O empreendedorismo há de vencer a perplexidade e a inércia!
Pra quem não sabe, Raul Bastos é uma lenda do jornalismo brasileiro. Se houvesse uma academia dos imortais do jornalismo, deveria ser entronizado como presidente emérito e vitalício... Foi meu guru, incentivador e inspirador.
Ao longo da vida, não cheguei a conhecer ninguém com sua argúcia, sua percepção fina da notícia, sua dedicação ao trabalho jornalístico... Raul sempre foi jornalista nas 30 horas do dia!
E é denso! Sempre leu muito... Na visita, presenteou-me com “História da Riqueza no Brasil”, de Jorge Caldeira... Comecei a ler... Tenho de me preparar para um mergulho profundo na história deste país que ainda insisto em amar...
UMA REDE IMORTAL
Foi Raul Bastos quem montou, tijolo a tijolo, passo a passo, a Rede de Sucursais e Correspondentes do jornal O Estado de São Paulo, hoje uma referência histórica de qualidade em jornalismo...
Nomeava o jornalista e depois o orientava, acompanhava seu trabalho, incentivava voos cada vez mais altos e mais seguros... Tive o privilégio de entrar para a rede em 1973 pela Sucursal do ABC.
Em 1975, eu já trabalhava ao lado dele em São Paulo, no antigo prédio da Major Quedinho... Então, ele me mandou, ao lado do Chefe da Sucursal de Campinas, Roberto Godoy, e do fotógrafo Waldemar Padovani (já falecido), para fazer uma primeira reportagem sobre Itaipu... Iriam começar as obras de construção da maior hidrelétrica do mundo em Foz do Iguaçu e na zona da fronteira de Brasil, Paraguai e Argentina...
Antes da partida, chamou-me para uma conversa: foram trinta minutos de orientação sobre o trabalho que esperava que eu fizesse... Uma orientação clara, ampla, profunda: saí em viagem compenetrado de que a região que eu iria visitar era especialíssima – fora palco da Guerra do Paraguai, território indígena dizimado, envolvida por questões geopolíticas relevantes...
Coincidiu que um ano depois, fui enviado pelo mesmo Raul Bastos para reestruturar a Sucursal de Curitiba e lá fiquei por 16 anos, como responsável pela cobertura da construção de Itaipu, da assinatura do tratado Brasil-Paraguai, em 1971, até a inauguração de quase todas as turbinas, em 1998...
Foi a primeira orientação de Raul Bastos que iria balizar todo o meu trabalho de mais de 15 anos em Foz do Iguaçu... Mais do que isso, aquela conversa de 30 minutos influenciaria toda minha vida de repórter e de jornalista, pois aprendi ali que uma informação é sempre muito mais do que se registra no caderno de anotações... Nunca mais enxerguei Itaipu como uma simples usina hidrelétrica e sim como uma obra estratégica, que ainda há de mudar a história da economia do Paraguai, representando uma super-arma num possível conflito Brasil/Argentina – se as comportas de Itaipu forem abertas de uma só vez quase metade do território argentino será inundada...
DOIS LIVROS, UMA MISSÃO
De volta ao almoço de Vinhedo, digo que dois assuntos dominaram a conversa... O primeiro, provocado por mim, é a necessidade emergente de escrevermos dois livros – o primeiro contará a história da rede de sucursais e correspondentes do jornal O Estado de São Paulo e o segundo contará a história da criação e do desenvolvimento da Agência Estado...
A rede foi, sem dúvida, um capítulo importantíssimo da história do jornalismo brasileiro, um capítulo que precisa ser documentado em livro para que não se percam da memória nacional experiências e iniciativas de um jornalismo que pretendeu ser nacional num território imenso, servido por telex, telégrafo e uma rede de telefonia precaríssima... Só mesmo Raul Bastos para produzir qualidade em condições tão adversas...
Foi Raul quem criou a Agência Estado... Ela nasceu em 1970 como agência de notícias e foi transformada em agência de informações por Rodrigo Mesquita a contar de 1989. Uma agência de notícias produz material informativo para mídias (reprodução) e uma agência de informações fornece notícias e dados também para mercados, para orientar operações de compra e venda de ativos financeiros, como exemplo...
Eu participei de ambas as experiências... Fui chefe de duas sucursais (ABC e Curitiba) da rede de Raul Bastos e diretor da Agência Estado nos tempos de Rodrigo Mesquita... Talvez por isso, tenha sido escalado para coordenar o projeto de ambos os livros e já peço ajuda de todos os jornalistas que de algum modo foram envolvidos por um ou por ambos os projetos... Rodrigo Bastos, um dos filhos de Raul, já embarcou no projeto com entusiasmo... Entramos na fase de catalogar sugestões...
PREOCUPAÇÃO À PARTE
Durante o almoço, com alguma apreensão e tristeza, falamos da condição de jornalistas da nossa faixa de idade – dos 60 aos 80 anos – que vivem em dificuldades causadas, de um lado pelas transformações arrasadoras dos meios de comunicação, e de outro pela miserabilidade do sistema previdenciário...
Pessoas sábias, experientes, que já não encontram empregos minimamente decentes obrigadas a viver de uma aposentadoria ridícula e a pedir ajuda aos filhos para sobreviver com dignidade...
Em artigo anterior em meu blog (“Capacho Sindical”), reclamei com severidade da falta de um sindicato para liderar uma discussão mais ampla que trouxesse luz e apoio aos jornalistas nesta hora de disrupção violenta dos meios de comunicação...
Relembre aqui:
"Poucas profissões - escrevi em meu Blog - têm sofrido um impacto tão forte com as mudanças decretadas pela evolução das tecnologias de informação, quanto a do jornalista, transformado, de verdade, numa borboleta perdida na tempestade... E o Sindicato (dos jornalistas do Estado de São Paulo) poderia neste momento ser um “think-tank”, ou seja, um centro de conhecimento e um farol a iluminar os caminhos do presente e do futuro...
Só que não!
O Sindicato que já foi de Audálio Dantas, depois de submergir nas trevas e nela permanecer por muitos anos, resolve transformar-se numa espécie de capacho do PT e do Lula!
Isto é uma vergonha, diria Bóris Casoy, aquele mesmo jornalista que em maio de 1979 impediu que a redação da Folha de São Paulo parasse em razão de uma greve que fora decretada pela primeira influência nefasta da CUT, à qual o Sindicato está até hoje filiado...”
COOPERATIVAS, UMA SAÍDA
Pois bem, na falta de um “think-tank”, eu mesmo proponho uma possível saída: que tal começarmos a criar “cooperativas temáticas” que possam remunerar os jornalistas por produção? Meu amigo Elmar Bones, lá do Rio grande do Sul, poderia se envolver e nos passar detalhes de sua experiência na Coojornal, uma memorável experiência de cooperativismo entre jornalistas...
Pelo pouco que eu entendo das novas e novíssimas mídias que surgem na esteira do desenvolvimento da internet, digo que a ideia pode dar muito certo... Meu amigo Rodrigo Mesquita, uma das cabeças mais sintonizadas com as mudanças do mercado de comunicações no Brasil, tem-nos mostrado que a informação, hoje, está nas redes sociais, canais de acesso a todas as fontes...
Vejo que captar, selecionar, tratar (preparar para divulgação), curar (sinônimo de validar ou certificar), informações disponíveis nas redes deve representar um valor que pode ser precificado... Todas essas funções devem ser entregues a boas cooperativas temáticas, pois vão de encontro a tudo aquilo que o jornalista experiente sabe fazer....
É claro que a ideia precisa ser amplamente discutida, ampliada, melhorada, aperfeiçoada, mas dou a largada na discussão indicando duas cooperativas que poderiam ser criadas já, sem mais hesitação – a Cooperativa da Agricultura Familiar e a Cooperativa de Arquitetura e Urbanismo...
O campo para produção de conteúdos para a primeira delas é imenso... A Agricultura Familiar vive um momento especial na medida em que tem todas as condições de acompanhar o ritmo acelerado de desenvolvimento do agronegócio... Suas carências – incorporação de novas tecnologias, barreiras da comercialização, como exemplos – podem ser atendidas a começar pela difusão de conteúdos apropriados...
Já a cooperativa de arquitetura e urbanismo poderia centrar fogo nas questões da acessibilidade urbana e nas novas tecnologias aplicadas às cidades, do saneamento básico às edificações... Onde houver uma inovação, uma solução urbana, haverá um jornalista cooperativado pensando em compartilhá-la...
Entenda-se que o cooperativismo pode abrir espaços também a bons ilustradores, chargistas, fotógrafos, especialistas na produção de vídeos... Antes de tudo, é preciso que se entenda que todo e qualquer espaço só poderá ser aberto por boas iniciativas empreendedoras...
O empreendedorismo há de vencer a perplexidade e a inércia!
Um trio que teve fortes ligações com a rede de sucursais e correspondentes do Estadão...Tanto Adhemar quanto Rodolfo já são falecidos...
Raul Bastos, Toninho, Armindo, Adhemar, Realindo e Olivier, um sexteto comprometido com a rede de sucursais e correspondentes do jornal O Estado de São Paulo...
Olá Dirceu Pio, sou prima do Raul Bastos e gostaria de contatá-lo. Achei muito legal seu post. Será que você consegue me passar o contato dele? No FB tenho perfil. Obrigada! Zília Nazarian
ResponderExcluirOlá, apelo para este meio, para tentar um contato com Raul Bastos.Você tem os canais para falar com ele? Chamo-me Nélio Palheta, de Belém do Pará.
ResponderExcluirAudiência do Raul Bastos aumentando. Sou de Manaus e gostaria muito de contato com ele. Tenho perfis no Instagram, Twitter e Facebook.
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