10/07/2017

Uber e moto, aliança explosiva!

Quero deixar claro, pra início de conversa, que este alerta não é contra o Uber, que eu considero uma das maravilhas da Internet! Este alerta é para as autoridades dos municípios de grande porte, com mais de cem mil habitantes, para que olhem com desdobrada atenção a entrada do Uber no mercado de entregas rápidas!

Tenham certeza de que, se nada for feito, assistiremos a partir de agora a um crescimento ainda mais vertiginoso dos acidentes com motos nas grandes cidades, a começar pela gigantesca malha da Grande São Paulo, onde o Uber já marca presença...

É preciso notar primeiro que os acidentes com motos são os que mais têm engordado as estatísticas de mortes no trânsito do Brasil nos últimos 15 anos. Só no período que vai de 1996 a 2011, o número de motociclistas mortos em acidentes no Brasil subiu 932,1%...

O aumento do número de acidentes envolvendo motos tem sido contínuo em todo o Brasil. Há algum tempo se fala em epidemia no trânsito brasileiro e as motos marcam forte presença em toda e qualquer estatística...

Os acidentes com motos mataram dez pessoas só nos três primeiros meses deste ano nas avenidas marginais de São Paulo, mas as estatísticas não mostram quantos desses condutores acidentados estavam ou não a serviço do Uber… A Sociedade vai demorar algum tempo para confirmar se o Uber tem contribuído – como é mais provável – para o aumento de acidentes com motos,  mas até lá pode ser tarde demais para que evitemos uma total degradação do controle sobre esse modal de transporte...

Meu raciocínio nasce da observação do que acontece  na Moto Lig, uma empresa que atua no mercado de entregas rápidas de São Paulo há nada menos de 30 anos...Pois é exatamente este – 30 anos – o tempo que ela passa sem registrar acidente com vítima fatal com sua frota de 100 motos.

Agora, pasmem ! A Moto Lig já chegou a passar 18 anos – eu disse de-zo-i-to-a-nos – sem registrar nenhum acidente, ne-nhum, nem leve, nem grave, com a sua frota de 100 condutores !

Qual o segredo da Moto Lig ? Simples: todos os seus motociclistas  são registrados em carteira, recebem o salário sem atraso, recebem as horas extras rigorosamente dento do combinado; têm direito a um plano de saúde, vale refeição e seguro de vida !

A contrapartida é uma só: respeitar as leis de trânsito e sobretudo aquela norma que estabelece que a moto deve ocupar o lugar de um carro em ruas e avenidas...

O dono da Moto Lig, Wander Antonio de Souza, fala com orgulho da  química que introduz para fazer da empresa um “case de sucesso” num mercado ultra competitivo como o da entrega rápida:

- Para fazer sucesso neste setor, é preciso tratar bem o colaborador, selecionar aqueles que realmente querem trabalhar para se sustentar com responsabilidade; pagar salários conforme manda a legislação da categoria, nunca atrasar  salários e benefícios;  e ainda  o tratamento diário com respeito e dignidade. Sempre valorizamos a nossa  equipe e nunca forçamos os nossos colaboradores  a fazer coisas impossíveis, arriscando a própria vida....

Já a informalidade é o grande mérito do Uber e é nisto que a meu ver mora o perigo no caso de aplicativos do gênero para motos...

A moto é muito mais perigosa que o carro pela simples razão de ter duas rodas a menos; no caso do Uber, motoristas e motociclistas não têm patrão ou ninguém que lhes faça qualquer tipo de exigência. Quem manda no Uber é o aplicativo.

Anoto aqui os cinco pontos que eu vejo como sérios problemas na introdução do Uber para motos:

1- Pelo Uber, quanto mais você trabalha, mais você ganha...a predominância do Uber virá com a predominância da pressa, quanto mais depressa eu entregar, mais eu ganho...essa competição de desesperados, que sempre existiu, será institucionalizada...

2- As condições de segurança da moto – desgaste de pneus, problemas de freios, equipamentos de segurança de passageiros e motociclistas – jamais serão observadas....O aplicativo, no caso dos carros, não faz exigências, a não ser as de quatro portas, ar condicionado e menos de cinco anos de uso do veículo...

3- Não existe empresa responsável pelo acidente...o único responsável será o condutor da moto...

4- O condutor não precisa ser dono da moto...pode cadastrar no aplicativo qualquer uma, emprestada, alugada ou roubada...

5- Não existe treinamento para condutores...no Uber, é cada um por si e Deus – ou o demônio – para todos...

Mas o que podem fazer as autoridades para prevenir o pior ? Embora eu não seja o que se pode chamar de especialista em Uber ou em trânsito, digo que é sim possível fazer muita coisa sem engessar o aplicativo...

Penso que certas exigências para cadastramento que já existem para algumas  categorias de aplicativos para carros – como a do atestado de antecedentes – devem ser obrigatórias para motos.

Creio também que deve ser proibido o cadastramento de motociclistas com menos de dois anos de experiência profissional e carteira de habilitação suja em excesso...




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