Nossa história começa na plataforma da
balsa que atravessa o Rio Ivaí, na altura de Cândido de Abreu, nos confins do
Paraná.
Nela, viajavam num carro, com um belo
dístico da Assembleia Legislativa na porta (AL), dois políticos muito
conhecidos, ambos candidatos à reeleição, Maurício Fruet a deputado estadual e
Alencar Furtado a deputado federal. Formaram
uma dobradinha, pegaram um carro na Assembleia e saíram para o interior do
Paraná com uma agenda lotada de compromissos de campanha.
Fazia calor e Maurício desceu do carro
para tomar “uma fresca”, enquanto seu companheiro dormitava no banco traseiro.
Com o cotovelo apoiado no parapeito da balsa, não demorou para que um possível
eleitor, morador de Cândido de Abreu, se aproximasse; olhava para o carro e
tentava decifrar a sigla que resplandecia ao sol da tarde:
- "A éle"?
O que quer dizer "a éle"?, perguntou.
-
Arquidiocese de Londrina... Respondeu rápido Maurício ao estender as costas da
mão, como que sugerindo que o homenzinho a beijasse... Eu sou cônego e aquele
senhor lá dentro do carro é o Arcebispo de Londrina, dom Geraldo Martins... Ele
chegou anteontem de Roma onde foi ver o Papa... Está com os bolsos cheios de
santinhos benzidos pelo Papa... Vai lá, pede um santinho que ele lhe dá...
E o caboclinho foi... Maurício continuou
à distância, na observação... Demorou pouco mais de um minuto e o homenzinho
volta a Maurício para reclamar:
- Êta
bispo mal educado, sô!
-
Ué, por que?
- Eu
fui lá pedir o santinho conforme o senhor falou e ele me mandou tomar no...
- Dá
um desconto pra ele, porque ele tá muito nervoso! Nós vamos a Cândido de Abreu
resolver o problema de um padre que roubou o dinheiro da Igreja...
-
Roubou? Eu sempre desconfiei daquele padre !
Os dois se elegeram. Maurício faleceu com 59 anos em 1998. Alencar Furtado, um pernambucano que
veio fazer política no Sul, foi cassado pela ditadura por ter denunciado tortura pelo regime militar. Mora hoje em Brasília, onde tem um sítio. Tem 91 anos de idade.
Essa história aconteceu no final dos
anos 70, um tempo em que todos nós ainda podíamos rir das façanhas de nossos
políticos; hoje, choramos. São geralmente histórias de roubo, de assalto aos
cofres públicos ou de oportunismo. Oportunismo, esperteza, roubo – assim se move
o mundo político brasileiro!
ALIANÇAS
DESTRUTIVAS
Mas, para não perder o fio da meada,
conto que Maurício deixou um filho, Gustavo Fruet; elegeu-se deputado federal pelo
PSDB. Chamou a atenção do Brasil pela coragem e pelo discurso combativo.
Quis ser o candidato do partido à
prefeitura de Curitiba, mas o PSDB negou-lhe a legenda. Oportunista, filiou-se
ao PDT, que o recebeu de braços abertos. Ganhou a eleição com apoio – adivinha
de quem? – do PT de Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann.
Por alguma razão que a própria razão
desconhece, sua campanha nunca foi alvo do curitibano Sérgio Moro. Se
investigarem, é claro que vão encontrar dinheiro sujo roubado dos aposentados
(Paulo Bernardo) ou dinheiro de propina do Petroduto (Gleisi Hoffmann)!
PRINCEZINHA
DA DILMA
Gleisi Hoffmann, hoje senadora pelo PT,
talvez a mais ardorosa defensora do mandato de sua, digamos, protetora e amiga
Dilma Rousseff, ganhou vários apelidos nos últimos tempos, todos impregnados de
ironia e escárnio. É chamada de Gleisi Petrolão em inúmeros textos que
denunciam, na imprensa, seu envolvimento no escândalo da Petrobras. No
Facebook, é chamada de Princesinha da Dilma, Princesinha do Senado e também Princesinha
da Propina.
Pense numa empreiteira envolvida na Lava
Jato, qualquer uma delas. Muito
provavelmente estará no enorme rol de empreiteiras que alimentou as burras da
campanha da “Princesinha” ao Senado (2010). Seu marido, o ex-ministro Paulo
Bernardo, era o contato, para não sujar o nome da defensora mais eloquente “da
Presidenta”.
Enquanto escrevo, olho pra TV e a vejo
aos gritos, histérica: “Quem aqui nesta casa tem moral para chamar a Presidenta
Dilma de criminosa, quem?” Alguns poucos, menos quem faz a pergunta, eu diria.
Fez por merecer outro apelido: “Gleisi, a ré confessa” !
Ela não contava é que seus gritos
despertariam a ira do seu colega e presidente do Senado, Renan Calheiros, que no
dia seguinte tomou o microfone para desabafar: “Como pode a senadora Gleisi Hoffmann
dizer uma coisa dessas, logo ela que deve a mim uma interferência junto ao STF
para livrar a ela e ao marido do indiciamento pedido pela polícia federal?!”
Renan se arrependeria do que disse mais
tarde mas não conseguiu evitar que os milhões de brasileiros que o ouviram pela
TV concluíssem: devagar, os bastidores sórdidos do Planalto vêm a público com
uma virulência de envergonhar.
Voltando à Gleisi, ela já foi denunciada
por vários delatores da Lava Jato, a começar pelo doleiro Alberto Youssef. O
Supremo Tribunal Federal deve realizar no próximo dia 30 um primeiro julgamento
dela e do marido para decidir em alguns processos que os envolvem se serão ou não réus. Outros julgamentos virão.
Gleisi é nascida num bairro de classe
média baixa de Curitiba (Vila Lindoia); a ascendência alemã deu-lhe o nome,
inspirado em Grace Kelly. Formou-se em Direito pela Faculdade de Curitiba e
obteve especialização em gestão de organizações públicas e administração
financeira na Associação
Brasileira de Orçamento Público, e na Escola Superior de Assuntos Fazendários, do Ministério
da Fazenda.
Ainda mantinha o sonho aceso em 2012 quando,
ao lado do marido Paulo Bernardo, negociou seu apoio a Gustavo Fruet em troca
de reciprocidade para sua pretensão de chegar ao governo em 2018.
Há, contudo, um juizinho poderoso em seu
caminho, em seu caminho há um juizinho poderoso. Quem vencerá? Aguardemos os
próximos capítulos.
O
MARIDÃO
Seu marido, o ex-ministro Paulo
Bernardo, já frequentou a lista dos 60 homens mais poderosos do Brasil, lista
organizada pelo jornal Brasil Econômico, fechado para não falir.
Paulo Bernardo também pôs em falência
quase todo seu poderio: não faz muito tempo, esteve preso por envolvimento num
caso escabroso – desvio de dinheiro de aposentados que fizeram empréstimos
consignados pelo Banco do Brasil. O bando que ele liderava desviou mais de 100
milhões de velhinhos aposentados.
Quando vi a notícia da prisão nos
jornais, escrevi uma nota para o Facebook: “Paulo Bernardo foi preso por roubar
velhinhos aposentados, e Gleisi Hoffmann será presa por qual motivo? Por roubar
velhinhos aposentados cegos”.
É o meu jeito corintiano de ser, perco a
compostura mas não perco a piada.
Paulo Bernardo parece encarnar também a
nova “Ética” que vem montada numa enormidade de lideranças do PT, algumas das
quais continuam presas na cidade natal de Gleisi Hoffmann, Curitiba. Se ele foi
capaz de desviar dinheiro de velhinhos aposentados, é de se imaginar o que deve
ter aprontado durante sua longa carreira de burocrata a serviço do PT.
Ele nasceu em São Paulo, mas ainda jovem
migrou para o Paraná e não demorou para ingressar nos quadros burocráticos do
Sindicato dos Bancários do Estado. No sindicato, filiou-se ao PT e daí em
diante, durante a Era PT, se deslocava para as regiões onde o partido ocupava o
poder.
Passou por Londrina, Campo Grande, no
Mato Grosso do Sul, onde ocupou postos de destaque nas administrações petistas.
Deve ter conhecido Gleisi Hoffmann em Londrina e a partir daí, já casados,
formaram o “Casal Maravilha” que todos conhecemos hoje.
Os dois se encontraram primeiro, creio, no
governo mal cheiroso do Zeca do PT no Mato Grosso do Sul; depois, já casados,
ressurgiram em Londrina, onde
permaneceram por longo tempo; e, por
último, coroando a carreira “esplendorosa”,
voltaram a dividir a mesma cama e o mesmo cofre em Brasília, ela como
senadora e ministra-chefe da Casa Civil
no governo Dilma e ele como ministro do Planejamento (Governo Lula) e depois
ministro das Comunicações (Governo Dilma).
APOIO
ATÉ NO STF
Uma pena Fernando Sabino ter morrido,
porque a vida desse casal daria um romance quiçá mais saboroso que aquele que
ele escreveu sobre Zélia Cardoso e seu tórrido namoro com Bernardo Cabral (há
sempre um Bernardo metido nesses escândalos que mexem com a República).
Reparem que no início deste capítulo
sobre Paulo Bernardo, escrevo que ele pôs em falência “quase” todo o seu poder.
Disse-o bem: “quase”. Vê-se que ainda sobra a ele e à esposa fatias expressivas
de poder.
A prisão de Paulo Bernardo,
surpreendente, e sua libertação em apenas seis dias com penas suaves (nem tornozeleira
eletrônica terá de usar) abalou e ainda abala os poderes da República, a
começar pelo nada impoluto STF.
O
responsável por devolver Bernardo às ruas é o super-ultra controverso Dias
Toffoli. A liberdade foi produzida por uma só canetada, monocrática, no
isolamento de um dos gabinetes do STF.
A decisão atropela todas as instâncias
que o mandaram para a cadeia junto com vários de seus parceiros no desvio de
100 milhões de reais. Dias Toffoli soltou todos eles sem que um só tostão do
dinheiro roubado fosse devolvido.
Dias Toffoli foi advogado do PT, é amigo
pessoal de Lula, que o indicou para o STF e já o havia indicado Procurador
Geral da União e presidente do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) em 2013.
Pode-se dizer, portanto, que o poder do
Casal Bernardo/Gleisi emana de Lula que, por sua vez, tem poder emanado do
compadrio que deixou nas instituições para as quais nomeou ministros,
procuradores, nomes de proa em toda parte.
Mais recentemente, Dias Toffoli foi
citado na delação de Leo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS – o
ministro teria usado de seu poder para pedir uma reforma de sua casa em São
Paulo.
Essa história veio a público como
resultado dos característicos vazamentos de delações. Agindo sob pressão,
segundo se diz, o procurador Rodrigo Janot mandou suspender a delação de Leo
Pinheiro enquanto os ministros do STF, tendo como porta-voz Gilmar Mendes,
falaram de sua indignação pelos vazamentos e do excesso de liberdade de
investigadores e delegados da Lava Jato.
Quem não sabe o que é corporativismo vai
aprender a partir de agora.
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* Precisamos expulsar a Samarco da mineração brasileira. Assine o abaixo-assinado pelo link:
Paulo Bernardo e Gleisi, um casal explosivo!
Alencar Furtado e Maurício Fruet, uma dobradinha em campanha pelos confins do Paraná.
Dias Toffoli e Gilmar Mendes, tremores corporativistas no STF.
Não esqueçamos de Mariana. Nunca!