29/06/2016

Os Assassinatos do PT

        
        Publiquei este artigo neste blog em 28 de junho de 2016 e, ao relê-lo, ontem, 04-10, surpreendi-me em ver o quanto continua atual....só faria uma única correção: o número de testemunhas mortas no Caso Celso Daniel subiu de 08 para 10, num roteiro de mistério e impunidade assombroso....uma boa leitura para todos...

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        Ninguém me tira da cabeça que foi a cúpula do PT que planejou e executou o assassinato de dois de seus prefeitos, os mais proeminentes, que comandavam duas das prefeituras mais ricas do país – Antônio da Costa Santos (Toninho do PT), de Campinas, e Celso Daniel, de Santo André, no ABC Paulista.
        Foi no comecinho do Novo Século, quando começaram a circular também fortes boatos de que havia um terceiro nome a ser eliminado: Antônio Palocci, prefeito de Ribeirão Preto, considerada a capital do Agronegócio Brasileiro.
        Um passeio rápido por essa época nos ajudará a entender as razões dessa minha tese: Lula começava a aquecer as baterias para uma nova eleição presidencial e seu partido avaliara cuidadosamente as razões de três derrotas consecutivas, a primeira para Fernando Collor e as outras duas para Fernando Henrique Cardoso.
        Havia grande convergência interna de que o PT sofrera as três derrotas por falta de recursos.
        Parece que assisti às reuniões da cúpula do Partido que decidiram a quarta candidatura, em 2002. 
        Lula bateu o pé: “Sem dinheiro, eu não vou mais entrar... Escolham outro para a missão” (Isso chegou a ser noticiado pelos jornais).
        O Partido estava convencido de que “ou era com Lula, ou não seria com mais ninguém”. Sua única alternativa, portanto, era abarrotar seus cofres.
        Como então conseguir o dinheiro que Lula exigia? Aí entra com mão pesada Zé Dirceu, o gênio do mal.
        O PT avançava celeremente a cada eleição. Avançava sobretudo na conquista de prefeituras de cidades ricas, como Campinas (a segunda maior cidade do interior paulista) e fincara uma boa cunha na região-berço do partido, o ABC Paulista, elegendo para um segundo mandato o economista Celso Daniel. Ainda em São Paulo, conquistara a prefeitura da capital do agronegócio brasileiro, Ribeirão Preto, território dominado pelo médico Antônio Palocci.

TORPEZA ENTRA EM CENA

Zé Dirceu propôs:
        - Temos de buscar dinheiro onde há dinheiro: não vamos nos esquecer de que as três prefeituras mais ricas de São Paulo, depois da Capital, estão nas mãos do partido – Santo André, Campinas e Ribeirão Preto. Esses três prefeitos têm de criar um caixa para estas eleições que levarão o partido ao topo do poder.
        Atraente, a proposta de Zé Dirceu foi aprovada com louvor. Nascia também ali a revitalização da tese que Zé Dirceu voltaria a usar para urdir e implementar o Mensalão – os fins justificam os meios (Maquiavel direto na veia).
        Havia detalhes para acertar: as prefeituras “doadoras” precisariam de um “fiscal” permanente para garantir o fluxo do dinheiro; não há informação de quem foi mandado para Campinas e Ribeirão Preto. Para Santo André, com certeza, foi mandado o fiel escudeiro de Lula, aquele jovem oriundo do Paraná que seria o homem da mais absoluta confiança de seu gabinete, Gilberto Carvalho.
        Quando vi Gilberto Carvalho posando de assessor de gabinete do prefeito assassinado Celso Daniel (Santo André) consegui imaginar tudo o que efetivamente havia acontecido.
        Conheci Gilberto Carvalho nos anos 80 em Curitiba. Era o grevista de plantão. Tinha um discurso bem articulado, o que chamou a atenção da Executiva Nacional do PT. Recepcionava Lula nas viagens que fazia a Curitiba.
        Foi Lula que o tirou de Curitiba e o levou para São Paulo. Ficaram muito amigos.
        Para mim, já não foi surpresa quando Gilberto Carvalho é acusado de levar dinheiro em seu carro de Santo André para São Paulo. Ele nega, sem explicar o que um homem bem posicionado na hierarquia do partido fazia numa prefeitura de uma cidade com 400 mil habitantes, se tanto.

        "MATEM TODOS ELES!"

        Nos pensamentos sórdidos de Zé Dirceu começaram a brotar, eu imagino, uma futura ameaça: a possibilidade de um desses prefeitos dar com a língua nos dentes, mais tarde, quando tudo passasse. Entra em cena outro preceito fundamental de Maquiavel, autor de cabeceira de Zé Dirceu: “faça o bem aos poucos, devagarinho; já o mal, faça de uma só vez”.
        Os prefeitos “doadores” tinham, portanto, de ser eliminados. Imagino que Antônio Palocci, de Ribeirão Preto, tenha escapado do fuzilamento graças aos seus pendores intelectuais e ao seu caráter gelatinoso. Foi o primeiro a ser chamado a Brasília para compor o governo de seu amigo, Luís Ignácio Lula da Silva, iniciado em 2003.
        Toninho do PT, como era conhecido em Campinas, na época com pouco mais de um milhão de habitantes, foi assassinado a tiros por homens que o perseguiram de moto logo após ter saído, de carro, do Shopping Iguatemi, dia 14 de junho de 2001.
        A viúva de Toninho, Roseana Garcia, investigou o assassínio e reuniu fortes indícios de que a morte do marido foi crime encomendado. Pensava em revelar tudo, pessoalmente, a Lula, já empossado na Presidência da República.
        Esperava que Lula fosse visitá-la na primeira viagem presidencial a Campinas, logo no início de seu governo. Está à espera do ilustre visitante até hoje. Roseana descobre, indignada, que Lula não é de prestar qualquer solidariedade às mulheres do PT que perderam seus maridos precocemente e em condições misteriosas e estúpidas.
        Pouco mais de seis meses depois, no dia 18 de janeiro de 2002, foi também assassinado Celso Daniel, prefeito de Santo André, no ABC Paulista; Luiz Ignácio Lula da Silva foi metalúrgico e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, cidade vizinha a Santo André.
        Celso Daniel foi sequestrado por homens fortemente armados enquanto era conduzido para casa, em Santo André, no carro do mesmo “amigo” que lhe serviu de companhia no último jantar de sua vida, no refinado restaurante Rubayiat, em São Paulo. O “amigo” era Sérgio Gomes da Silva, conhecido por Sombra. 
        Dali, Celso Daniel foi levado para uma favela em Diadema e da favela para um lugar ermo da BR 116, estrada que liga São Paulo a Curitiba, onde foi executado por 11 tiros à queima roupa, segundo a perícia.
        A partir daí o caso é envolvido em mistério atrás de mistério, nenhum deles realmente desvendado. Todas as pessoas, num total de oito, que tinham algo a revelar sobre autoria, mandantes, intermediários, etc., foram mortas.
        Com certeza, uma força oculta e poderosa fez todos os esforços para que o assassinato de Celso Daniel permanecesse encoberto por uma nuvem infindável de mistérios. Não foi algo que apenas a província pretendeu esconder, embora toda província seja também perversa e ardilosa.

IMPRENSA EM DECLÍNIO

        Quem quiser hoje aproximar-se da verdade no caso Celso Daniel, tem de procurar os arquivos virtuais de blogs e sites informativos. Diria que a Internet, com seu espírito libertário, foi a mídia que mais noticiou o caso e, consequentemente, mais se aproximou da verdade.
        A verdade, a verdade mesmo, ainda está por ser desvendada.
        Eu mesmo recorri aos arquivos do Blog de Reinaldo Azevedo para conhecer, um a um, todos os crimes associados à morte do prefeito. Está tudo lá, claro, explícito, contundente.
        O escândalo que poderia ter mudado a história da República, começando por derrubar Lula da Presidência e expurgar o PT do poder, precocemente, algo muito pior que Whatergate, não teve o seu Washington Post.
        Reinaldo de Azevedo não tem a força institucional do meio impresso.
        Os envolvidos no assassinato de Celso Daniel e Toninho do PT foram altamente beneficiados pela crise que progressivamente destrói a mídia impressa como um câncer que se espalha em metástase.
        A crise já corria solta, impetuosa, no início deste Século quando teve início o reinado do PT. Os petistas se queixam com veemência da “imprensa golpista” que joga em seu caminho algumas cascas de banana.
        Imagino o que seriam capazes de dizer se ela ainda operasse com a força de outrora, quando, por exemplo, um dos grandes jornais brasileiros tinha no ABC Paulista um time qualificado para investigar, muitas vezes, à frente da polícia. Sei disso porque já chefiei também a Sucursal do ABC do Estadão.
        Há mais de 20 anos, a mídia impressa estava transformada num arremedo do que já foi, perdia toda a sua estrutura e ficou sem recursos para apuração. Alguns jornais nem arremedo conseguem ser, transformados que foram em mídias partidárias, aduladoras do poder.
        Foi o que aconteceu inclusive com o Diário do Grande ABC, onde já trabalhei no início da carreira. A crise anda tão brava que o Diário do Grande ABC é controlado hoje por um “empresário” – Ronan Maria Pinto – que já foi acusado de envolvimento no caso Celso Daniel.
        Deve ter comprado a única mídia impressa da região para defender-se de acusações como essa e também para produzir chantagens e ameaças de porte nacional.
        A sociedade brasileira ainda vai descobrir quais segredos Ronan Maria Pinto guarda para receber do amigo de Lula, José Carlos Bumlai, que esteve preso em Curitiba, metade do empréstimo fraudulento obtido junto ao Banco Schahin (6 milhões de reais).
        Esse dinheiro jamais teria sido repassado a Ronan sem ordem
expressa de Lula. Releia este artigo e conclua junto comigo: Ronan
conhece os mandantes do assassinato de Celso Daniel e Lula sabe
que ele sabe. 
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(Toninho ao lado de Roseana)

21/06/2016

Maldito dia em que trocamos a Olivetti pelo teclado!

       Tendinite? Já tive. De tanto escrever em computador, o nervo do braço (no meu caso, foi no direito) se contraiu , se retesou, encurtou e eu passei a sentir aquela dorzinha chata com a qual tive de conviver por meses. Doem a mão e o punho, algo extremamente desagradável. Chama-se LER (Lesão de Esforço Repetitivo).

        A cura vem pela fisioterapia, pois é preciso repuxar o nervo atrofiado, devolvê-lo à sua condição anterior. Curei-me sem querer: fui jogar boliche por três ou quatro vezes.
        Ao segurar a bola de boliche com a ponta dos dedos e depois arremessá-la repuxei o nervo com força, como nos exercícios de fisioterapia. A bola de boliche pesa de seis a sete quilos. O tempo de longas e dispendiosas terapias foi sensivelmente encurtado.
        No momento, sinto que o computador me passou um outro mal, bem mais grave. É o que os médicos começam a chamar de "Síndrome da Visão do Usuário de Computador”, ou “a Doença dos Olhos Secos”.
        Depois de passar mais de cinco horas trabalhando no computador, levanto-me zonzo, com os olhos embaçados, ardentes, doloridos, como se tivessem sido levados à exaustão. Como tenho a vista cansada (“O tempo não pára”, já dizia Cazuza!), mandei fazer  óculos especialmente para trabalhar no computador (meio grau a menos que meu déficit de 2,5 graus). Alivia, mas não resolve.
        Hoje, encontro-me num estágio avançado da síndrome: mais fortes, potencializados, os sintomas aparecem com 15 a 20 minutos de uso; antes, demoravam de quatro a cinco horas para surgir.
        A internet já tem extenso volume de informações sobre essa síndrome, que ataca de 75 a 90% dos usuários de computador.
        Os sintomas são estes (eu já sinto todos eles): olhos irritados ou vermelhos, coceira, olhos ressecados ou lacrimejamento, cansaço ocular, sensibilidade à luz, dificuldade de conseguir foco, visão de cores alteradas e halos ao redor dos objetos, visão embaçada ou dupla.
        O problema surge porque o computador exige muito de seus olhos.
        As imagens do monitor são formadas por "pixels" ou minúsculos pontinhos nos quais os nossos olhos não conseguem manter o foco, necessitando "focar e refocar" continuamente. Isto provoca um "stress" dos músculos oculares.
        Longe do computador, você pisca 26 vezes por minuto. Diante do computador, pisca de seis a oito vezes. O ato de piscar lubrifica os olhos. Ao reduzir o número de piscadas, os olhos ficam ressequidos e aí começa a série de complicações.
        A maneira de evitar a síndrome é dar tréguas aos olhos enquanto trabalha no computador: iluminar com luz incandescente o ambiente de trabalho, piscar mais vezes, descansar as vistas por cinco minutos a cada hora, sair da frente do computador por alguns momentos, olhar por instantes a paisagem pela janela.
       
MAIS E MAIS DOENÇAS
        O celular e seus aplicativos (que não param de se multiplicar) já são responsáveis pelo aparecimento de outras síndromes, como, por exemplo, uma que é chamada de Síndrome do Smartphone.
        O smartphone é um dos dispositivos eletrônicos que mais conquistaram usuários no mundo. Estimam-se que mais de 4 bilhões de pessoas tenham pelo menos um  aparelho, que só falta falar com Deus.
        Por um Smartphone, você fala com uma ou mais pessoas a qualquer distância, realiza operações financeiras, transfere e recebe imagens (inclusive, em movimento), paga e recebe contas, etc etc etc... e ponha etc nisso porque a cada hora são disponibilizados novos e novos aplicativos. A indústria desenvolvedora é inesgotável e incansável.
        Os primeiros a sofrer são também os olhos. Isso ocorre porque a luz que estes dispositivos emitem vai deteriorando a visão. A luz dos celulares é aproximada o mais possível dos olhos.
        É um constante bombardeio de luminosidade que destrói, irreversivelmente, as células fotossensíveis da retina, ocasionando distúrbios graves da visão.
        Usar o smartphone por várias horas sem descanso leva a ter fortes incômodos musculares em áreas como as costas e o pescoço.
        Não saber dar a ele um uso moderado e tê-lo nas mãos até na hora de dormir é arriscar a saúde e sofrer de tensão e dor nestas partes do corpo.
        Os fisioterapeutas que estudaram estes comportamentos revelam que a postura que a maioria das pessoas adota ao usar estes aparelhos não costuma ser a mais adequada.
        Diante disso, eles recomendam fazê-lo sentados em uma cadeira, usando ambas as mãos e com o dispositivo apoiado na mesa.
        Utilizar somente o polegar ou um só dedo da mão para manipulá-lo aumenta o risco de ter tendinite.
        A dependência que estes dispositivos criam aumenta a sensação de depressão, ansiedade, estresse e outros estados emocionais que afetam a vida privada, social e profissional da pessoa.

PREÇO ALTÍSSIMO
        Já dizem que esses problemas são o preço que temos de pagar pelas facilidades que o computador e os celulares nos oferecem. O diabo é que ninguém garante que os problemas que ainda enfrentaremos pelo uso intensivo do computador serão apenas estes. Algo me diz que isto tudo é apenas o começo. Muito mais doenças virão com o tempo.
        São razões já suficientes para refletirmos sobre a qualidade das trocas que fizemos na virada do século. A deliciosa máquina datilográfica (nunca ouvi dizer que ela transmitisse alguma doença) cedeu lugar ao teclado de computador que produz LER. E a tela do computador, que, por enquanto, ataca contundentemente os seus olhos, entra no lugar do papel, o material que a humanidade usa para consumir informações há mais de dois mil anos.
        Vivemos, contudo, sob o império da Lei de Murphy: se essas substituições tiverem de dar errado, darão errado. Não há nada mais a fazer para evitá-las.
        As novas tecnologias já alteram o comportamento das pessoas de alto abaixo.
        Todos ficamos menos propensos à escolha e muito mais receptivos a tudo o que nos mandam os desenvolvedores. Prestamos atenção apenas na funcionalidade.
        A realidade virtual é um segundo útero materno e é confortabilíssimo ficarmos imersos nela.
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11/06/2016

Velho Chico, símbolo de retrocesso!

        A cena é patética: ajoelhado sobre o chão de terra arada, Santo (Domingos Montagner), o presidente da cooperativa de pequenos agricultores nas margens do rio São Francisco, pega punhados do solo com as duas mãos e, de braços abertos, solta-os devagar.  Sua filha, Olívia, (Giullia Buscacio) se aproxima e pergunta, espantada:
        - O que o senhor está fazendo aí, Pai?
        - Quero ouvir o que a terra tem pra me dizer, filha...
        Benedito Ruy Barbosa, o autor de Velho Chico, novela das nove da Globo, deve desconhecer que não é assim que as coisas funcionam na prática;  a terra não fala no atacado com ninguém que a cultive; ela fala no varejinho do dia a dia; ela fala a cada plantio, a cada colheita, a cada processo de comercialização. Fala pelo sereno, pela fase da lua, pela chuva, pela estiagem. A terra fala, fala e fala!
        Sua fala ajuda os indígenas da Amazônia a domesticar as plantas que tiram, selvagens, da floresta;  ajuda no desenvolvimento de novas práticas de manejo do solo, no desenvolvimento de sementes mais produtivas e mais resistentes a pragas e a intempéries.
        A soma desse diálogo resulta no que é chamado de  agri-cultura. Agricultores que não conseguem ouvir o que a terra diz, com a freqüência que a terra diz, não são agricultores, são meros extrativistas.
        É a cultura que orienta, armazena e transfere conhecimentos para grandes ou pequenas mudanças no jeito de plantar, no jeito de colher, no jeito de vender os produtos agrícolas. E os extrativistas não criam cultura, apenas exaurem todo e qualquer nutriente da terra até a levarem à aridez e à exaustão.
        Aprendi isso há mais de trinta anos com os líderes da comunidade japonesa de Guaraçaí (SP), responsáveis pela introdução do bicho da seda no município para conter, com sucesso absoluto, o avanço da pecuária extensiva sobre as pequenas propriedades. A seda substituiu com inúmeras vantagens o gado de corte.
        Isto posto, torna-se necessária a pergunta:  por que Ruy Barbosa  introduziu aquela cena tão esdrúxula na trama de Velho Chico?
        Ainda não se pode dizer com certeza, mas presume-se que o autor prepara uma mudança de fundo no panorama agrícola da região onde pequenos agricultores cooperativados estão em conflito permanente com o latifundiário, Coronel Saruê (Antônio Fagundes).
        Velho Chico deve passar para a história da teledramaturgia brasileira como símbolo de retrocesso e atraso.
        Agora mesmo assistimos a mais uma grave heresia: o genro do coronel Saruê, deputado federal Carlos Eduardo (Marcelo Serrado), é enviado a Brasília pelo sogro para reunir-se com a bancada ruralista para organizar a reação ao novo código florestal e às leis ambientais.
        A era do coronelismo já passou e a bancada ruralista não deve ser vista como inimiga dos avanços ambientais. Deve ser vista como aliada para mudanças e avanços em tudo que envolva o agronegócio.
        Eu estava na sede da Sociedade Rural Brasileira, em São Paulo, como diretor da Agência Estado e Publisher de um novo produto informativo para agricultores, no dia em que o governo de Fernando Henrique Cardoso lançou as normas para recadastramento das propriedades rurais.
         A diretoria da entidade foi convocada às pressas para analisar o texto que o fax vomitava sem parar. O primeiro contato com o texto que chegava de Brasília causou estupefação! O novo marco do cadastramento tinha erros grosseiros de conceitos e sua aplicação era simplesmente inviável.
        Envergonhado, o governo teve de recuar. A inviabilidade do projeto era previsível: foi escrito por tecnocratas em Brasília e sem uma só consulta a entidades do setor.

MAIS HERESIAS
        O neto do Coronel Saruê, Miguel (Gabriel Leone), encontra-se com a filha de Santo, Olívia (Giullia Buscacio), e propõe a “agricultura sintrópica” como grande alternativa para a recuperação do solo e preservação ambiental das extensas áreas que margeiam o rio São Francisco, degradado que foi por “práticas irracionais”.
        Miguel chegou há pouco tempo da França onde foi estudar e se preparar para assumir o “império do avô”, localizado na cidade baiana de Grotas.
        Não será por mera coincidência que o grande e único experimento com a tal agricultura sintrópica no Brasil  esteja no sul da  Bahia: uma área de cerca de 500 hectares, com o nome de Fazenda Fugidos da Seca e hoje conhecida por Fazenda Olhos D’água. 
        A agricultura sintrópica é um invento do suíço Enst Gots, que encontrou nessa área da Bahia a oportunidade de colocar seus experimentos acadêmicos em prática.
       
        Veja o que diz sobre Ernst Gots a jornalista e ambientalista Dayana Andrade:
        “Gots chega ao Brasil em 1982 e, em 1984, fixa-se numa fazenda no sul da Bahia, de aproximadamente 500 hectares tornados improdutivos devido às práticas de corte de madeira, repetidos ciclos de cultivo de mandioca nas encostas dos morros, criação de suínos nas baixadas e formação de pastagens por meio de fogo ao longo das margens da estrada que corta a fazenda. Ali, Gots continuaria o desenvolvimento obsessivo de seus experimentos em Sistemas Agroflorestais Sucessionais, alcançando alta produtividade em grande variedade de espécies vegetais, com destaque para o cacau e a banana. A Mata Atlântica ressurgiu na área, com todas as suas características de flora e fauna. Hoje são cerca de 410 hectares de área reflorestada, dos quais 350 foram transformados em RPPN, além de 120 hectares de Reserva Legal. Cerca de 14 nascentes ressurgiram na fazenda ”.

        Ainda é cedo para dizer como o novo “modelo agrícola” surgirá na trama de Velho Chico, mas já é possível prever, pela introdução em curso, que os telespectadores serão brindados com um festival de bobagens de alta audiência.
        Eu conheci a fruticultura irrigada das margens do São Francisco. Viajava como jornalista integrando o grupo de editores e diretores da Gazeta Mercantil (jornal fechado em 2007).
        Falamos com inúmeros produtores, percorremos pomares e parreirais e não vimos nada das “práticas degradantes” que Velho Chico tenta mostrar como marca da agricultura que ocupa a região.
        Quem quiser saber o que acontece realmente com a agricultura da região deve ler recente artigo do geógrafo e pesquisador Evaristo Miranda (procurar por “Velho Chico” na página pessoal de Evaristo Miranda no Facebook).
       
        No artigo, Evaristo diz: “A natureza não tem mais como salvar o rio. Ele está nas mãos de quem vive nas cidades, sobretudo no Nordeste. Sertanejos, irrigantes, agricultores e pescadores são mais vítimas do que causadores de problemas à vida do rio. Não há como compará-los à dimensão dos problemas ambientais criados por quem implantou barragens e se beneficia da geração de energia elétrica no mundo urbano”.

        Voltando à viagem que fiz à área irrigada das margens do São Francisco, vimos ali pequenos e grandes produtores conscientes de suas responsabilidades com o meio-ambiente e devidamente informados sobre as exigências sanitárias rigorosas dos importadores de suas frutas, que saem dali em caminhões e seguem para portos da Bahia, de Pernambuco ou do Ceará. Se assistem à Velho Chico vão se sentir ofendidos.
        Miguel, o neto de Saruê, fala ainda de sua indignação em perceber que os agricultores,  pequenos ou grandes, “só pensam em lucro, em lucro, ninguém olha para o meio ambiente”.  O telespectador mais atilado começa a imaginar que ele mentiu ao avô ao dizer que iria estudar na França, pois foi, na verdade, aprender o que diz saber na Venezuela ou em outro país bolivariano qualquer.
        Mal sabe ele que se não for impulsionado pelo lucro fracassará antes de começar o seu modelo de agricultura sintrópica, a menos que este seja salvo pela imaginação demagógica de um novelista ignorante. É o que deve acontecer!
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Precisamos expulsar a Samarco da mineração brasileira. Assine o abaixo-assinado  pelo link:


(Coronel Saruê abraça o neto Miguel)

(Ernst Gots, inventor da agricultura sintrópica, em suas fazenda Olhos D`água, sul da Bahia)

(Fruticultura irrigada nas margens do São Francisco)

(Cãozinho perdido na lama da Samarco. Desastre de Mariana)


  

01/06/2016

Um erro chamado Dilma Rousseff!

        Surgiu nesta última semana de maio de 2016 a primeira informação de que o ex-presidente Luiz Inácio LULA da Silva admite ter cometido um “grande erro” - seu maior erro dos últimos tempos – ao indicar e ajudar na eleição de Dilma Rousseff para sucedê-lo em 2010. É o que ele teria dito a outro ex-presidente, José Sarney.
        Verdade ou não, esse possível “mea culpa” de Lula chega com mais de seis anos de atraso. Lula deveria ser também responsabilizado pelos males que sua pupila causou ao Brasil.
        O fato é que os empresários do setor elétrico já conheciam esse erro bem antes de ser cometido, conheciam desde 2002, quando Dilma foi nomeada por Lula sua ministra das Minas e Energia.
        Eu era nessa época Diretor Regional da Gazeta Mercantil (desaparecido em 2009), atuava no interior de São Paulo e tinha por missão conhecer e me relacionar com empresários. Visitei duas elétricas da região de Campinas (CPFL e Electro) e tive várias reuniões com executivos que viajavam constantemente a Brasília para interagir com a Ministra.
        O ambiente que encontrei nessas empresas era de medo, medo de que se cumprissem as ameaças que Dilma disparava em reuniões com empresários. Tive longas conversas com esses executivos e eles me impunham como condição para falar  das reuniões que tinham com a Ministra que eu não publicasse nenhuma só linha do que ouvisse.
        Eles e eu começamos a perceber qual o estilo de Dilma Rousseff: impor  suas ordens na base do medo e das ameaças. Seu estilo de liderança, baseado no autoritarismo, já estava na contramão do ambiente que nascia e progredia no setor empresarial brasileiro e mundial.
        Eu, por exemplo, já havia aprendido na Agência Estado, onde fora também diretor de Marketing, que o melhor método de liderança é aquele baseado no diálogo, no convencimento, no “estilo democrático de trabalho”, defendido por inúmeros consultores empresariais que me forneceram a base para o exercício da liderança. Há muitos anos que o autoritarismo não tem mais vez nas empresas modernas, do Brasil e do Mundo. Administrar uma empresa equivale a gerir um governo.
        Sorvi com avidez a literatura de Flávio de Toledo, Oscar Motomura, no Brasil, e Peter Drucker, Herbert Marshall McLuhan, 
Karl Wiig e vários outros estudiosos da gestão empresarial no mundo. 
        Dilma Rousseff deveria ter seguido o caminho do aprendizado, mas preferiu o caminho do autoritarismo e da arrogância. Produziu talvez o governo mais errático e tortuoso da história da República Brasileira.

        HERANÇA MALDITA


        Seu autoritarismo deixa como herança ao povo brasileiro um desgoverno imenso; levaremos muitos anos para conhecer  a profundidade e a dimensão dos erros que ela produziu em seis anos.
        A investigação nem sequer teve início e já sabemos que o déficit das contas públicas quase encosta em 200 bilhões de reais. Vários estados da Federação encontram-se à beira da insolvência; houve o encolhimento de 30 mil leitos para internação no SUS (Sistema Único de Saúde); o Estado perdeu visivelmente o controle de epidemias. Dengue, Xicungunha, Zica vírus se espalham de norte a sul do País, ameaçando os atletas que virão para as Olimpíadas. Foi estabelecido o caos em muitos hospitais públicos e as universidades brasileiras despencam no ranking de qualidade mundial.
        Faltavam recursos para saúde e educação, mas seu governo continuava a irrigar com dinheiro do contribuinte brasileiro obras em países “bolivarianos”, como Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e até mesmo El Salvador.
        Se ela deixa ao País essa herança maldita, já se percebe, claramente, que Dilma Rousseff herdou o autoritarismo e a arrogância das organizações de esquerda das quais participou na juventude. Var Palmares, a última delas, ficou conhecida como a mais violenta de todas.
        A Var Palmares pregava a luta armada como único meio capaz de derrubar a ditadura militar. Ela enviou vários de seus membros a  Cuba para treinamento em guerrilha. E isso com certeza explica a idolatria que boa parte dos militantes pró-Dilma têm pela ditadura cubana. “Não queríamos a Democracia; lutávamos para derrubar a ditadura militar e colocar uma outra ditadura em seu lugar, a ditadura comunista ou a ditadura do proletariado”, disse em recente entrevista o jornalista Fernando Gabeira, também guerrilheiro nas décadas de 60 e 70.
        “Não matarás” não é apenas um mandamento cristão. É  um fundamento de auto preservação do mundo civilizado.


         Quem já militou numa organização paramilitar teve de jogar fora seus valores morais para adotar a coragem como princípio básico da vida; uns fazem o caminho de volta, outros não conseguem fazê-lo, como parece ser o caso de Dilma Rousseff. Ela ficou parada na coragem e na audácia, que são os parentes mais próximos do autoritarismo e da arrogância.
        O autoritarismo explica a inapetência de Dilma para o diálogo. As relações de seu governo com o Congresso regrediram para um estado deplorável. Não foi à toa que Câmara e Senado mostram disposição para fuzilá-la com o Impeatchment. “Seu governo tinha inúmeras ministras mulheres, mas ela mesma nunca chamou uma mulher parlamentar para uma conversa”, declarou, recentemente, a deputada Mara Gabrilli (PSDB).
        O autoritarismo é seu trauma de guerra assim como a cleptomania é o trauma de Zé Dirceu e todos os demais, ex-guerrilheiros, que fazem do roubo a sua razão de viver.
        Dilma Rousseff foi um ser dominado pelo mau-humor no isolamento do Palácio do Planalto. Seu destempero era a matéria-prima dos bastidores que vazavam de seu gabinete. E foi a matéria-prima das suas imitações  que infestaram os humorísticos da televisão e da internet.
        Para os humoristas, o Brasil foi governado nos últimos tempos por uma mulher caricata, áspera com todos os seus interlocutores, uma mulher que parecia ter ódio da própria vida.
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