Publiquei este artigo neste blog em 28 de junho de 2016 e, ao relê-lo, ontem, 04-10, surpreendi-me em ver o quanto continua atual....só faria uma única correção: o número de testemunhas mortas no Caso Celso Daniel subiu de 08 para 10, num roteiro de mistério e impunidade assombroso....uma boa leitura para todos...
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Ninguém me tira da cabeça que foi a cúpula do PT que planejou e executou o assassinato de dois de seus prefeitos, os mais proeminentes, que comandavam duas das prefeituras mais ricas do país – Antônio da Costa Santos (Toninho do PT), de Campinas, e Celso Daniel, de Santo André, no ABC Paulista.
Foi no comecinho do
Novo Século, quando começaram a circular também fortes boatos de que havia um
terceiro nome a ser eliminado: Antônio Palocci, prefeito de Ribeirão Preto,
considerada a capital do Agronegócio Brasileiro.
Um passeio rápido por
essa época nos ajudará a entender as razões dessa minha tese: Lula começava a
aquecer as baterias para uma nova eleição presidencial e seu partido avaliara
cuidadosamente as razões de três derrotas consecutivas, a primeira para
Fernando Collor e as outras duas para Fernando Henrique Cardoso.
Havia grande
convergência interna de que o PT sofrera as três derrotas por falta de
recursos.
Parece que assisti às
reuniões da cúpula do Partido que decidiram a quarta candidatura, em 2002.
Lula bateu o pé: “Sem
dinheiro, eu não vou mais entrar... Escolham outro para a missão” (Isso chegou
a ser noticiado pelos jornais).
O Partido estava
convencido de que “ou era com Lula, ou não seria com mais ninguém”. Sua única
alternativa, portanto, era abarrotar seus cofres.
Como então conseguir
o dinheiro que Lula exigia? Aí entra com mão pesada Zé Dirceu, o gênio do mal.
O PT avançava
celeremente a cada eleição. Avançava sobretudo na conquista de prefeituras de
cidades ricas, como Campinas (a segunda maior cidade do interior paulista) e
fincara uma boa cunha na região-berço do partido, o ABC Paulista, elegendo para
um segundo mandato o economista Celso Daniel. Ainda em São Paulo, conquistara a
prefeitura da capital do agronegócio brasileiro, Ribeirão Preto, território
dominado pelo médico Antônio Palocci.
TORPEZA ENTRA EM CENA
Zé Dirceu propôs:
- Temos de buscar
dinheiro onde há dinheiro: não vamos nos esquecer de que as três prefeituras
mais ricas de São Paulo, depois da Capital, estão nas mãos do partido – Santo
André, Campinas e Ribeirão Preto. Esses três prefeitos têm de criar um caixa
para estas eleições que levarão o partido ao topo do poder.
Atraente, a proposta
de Zé Dirceu foi aprovada com louvor. Nascia também ali a revitalização da tese
que Zé Dirceu voltaria a usar para urdir e implementar o Mensalão – os fins
justificam os meios (Maquiavel direto na veia).
Havia detalhes para
acertar: as prefeituras “doadoras” precisariam de um “fiscal” permanente para
garantir o fluxo do dinheiro; não há informação de quem foi mandado para
Campinas e Ribeirão Preto. Para Santo André, com certeza, foi mandado o fiel
escudeiro de Lula, aquele jovem oriundo do Paraná que seria o homem da mais
absoluta confiança de seu gabinete, Gilberto Carvalho.
Quando vi Gilberto
Carvalho posando de assessor de gabinete do prefeito assassinado Celso Daniel
(Santo André) consegui imaginar tudo o que efetivamente havia acontecido.
Conheci Gilberto
Carvalho nos anos 80 em Curitiba. Era o grevista de plantão. Tinha um discurso
bem articulado, o que chamou a atenção da Executiva Nacional do PT.
Recepcionava Lula nas viagens que fazia a Curitiba.
Foi Lula que o tirou
de Curitiba e o levou para São Paulo. Ficaram muito amigos.
Para mim, já não foi
surpresa quando Gilberto Carvalho é acusado de levar dinheiro em seu carro de
Santo André para São Paulo. Ele nega, sem explicar o que um homem bem
posicionado na hierarquia do partido fazia numa prefeitura de uma cidade com
400 mil habitantes, se tanto.
"MATEM TODOS ELES!"
"MATEM TODOS ELES!"
Nos pensamentos
sórdidos de Zé Dirceu começaram a brotar, eu imagino, uma futura ameaça: a
possibilidade de um desses prefeitos dar com a língua nos dentes, mais tarde,
quando tudo passasse. Entra em cena outro preceito fundamental de Maquiavel,
autor de cabeceira de Zé Dirceu: “faça o bem aos poucos, devagarinho; já o mal, faça de uma só
vez”.
Os prefeitos
“doadores” tinham, portanto, de ser eliminados. Imagino que Antônio Palocci, de
Ribeirão Preto, tenha escapado do fuzilamento graças aos seus pendores
intelectuais e ao seu caráter gelatinoso. Foi o primeiro a ser chamado a
Brasília para compor o governo de seu amigo, Luís Ignácio Lula da Silva,
iniciado em 2003.
Toninho do PT, como era conhecido em Campinas, na época com
pouco mais de um milhão de habitantes, foi assassinado a tiros por homens que o
perseguiram de moto logo após ter saído, de carro, do Shopping Iguatemi, dia 14
de junho de 2001.
A viúva de Toninho,
Roseana Garcia, investigou o assassínio e reuniu fortes indícios de que a morte
do marido foi crime encomendado. Pensava em revelar tudo, pessoalmente, a Lula,
já empossado na Presidência da República.
Esperava que Lula
fosse visitá-la na primeira viagem presidencial a Campinas, logo no início de
seu governo. Está à espera do ilustre visitante até hoje. Roseana descobre,
indignada, que Lula não é de prestar qualquer solidariedade às mulheres do PT
que perderam seus maridos precocemente e em condições misteriosas e estúpidas.
Pouco mais de seis
meses depois, no dia 18 de janeiro de 2002, foi também assassinado Celso Daniel,
prefeito de Santo André, no ABC Paulista; Luiz Ignácio Lula da Silva foi
metalúrgico e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do
Campo, cidade vizinha a Santo André.
Celso Daniel foi sequestrado
por homens fortemente armados enquanto era conduzido para casa, em Santo André,
no carro do mesmo “amigo” que lhe serviu de companhia no último jantar de sua
vida, no refinado restaurante Rubayiat, em São Paulo. O “amigo” era Sérgio Gomes
da Silva, conhecido por Sombra.
Dali, Celso Daniel
foi levado para uma favela em Diadema e da favela para um lugar ermo da BR 116,
estrada que liga São Paulo a Curitiba, onde foi executado por 11 tiros à queima
roupa, segundo a perícia.
A partir daí o caso é
envolvido em mistério atrás de mistério, nenhum deles realmente desvendado.
Todas as pessoas, num total de oito, que tinham algo a revelar sobre autoria,
mandantes, intermediários, etc., foram mortas.
Com certeza, uma
força oculta e poderosa fez todos os esforços para que o assassinato de Celso
Daniel permanecesse encoberto por uma nuvem infindável de mistérios. Não foi
algo que apenas a província pretendeu esconder, embora toda província seja também
perversa e ardilosa.
IMPRENSA EM DECLÍNIO
Quem quiser hoje
aproximar-se da verdade no caso Celso Daniel, tem de procurar os arquivos
virtuais de blogs e sites informativos. Diria que a Internet, com seu espírito
libertário, foi a mídia que mais noticiou o caso e, consequentemente, mais se
aproximou da verdade.
A verdade, a verdade
mesmo, ainda está por ser desvendada.
Eu mesmo recorri aos
arquivos do Blog de Reinaldo Azevedo para conhecer, um a um, todos os crimes
associados à morte do prefeito. Está tudo lá, claro, explícito, contundente.
O escândalo que
poderia ter mudado a história da República, começando por derrubar Lula da
Presidência e expurgar o PT do poder, precocemente, algo muito pior que
Whatergate, não teve o seu Washington Post.
Reinaldo de Azevedo
não tem a força institucional do meio impresso.
Os envolvidos no assassinato de Celso Daniel e Toninho do PT foram
altamente beneficiados pela crise que progressivamente destrói a mídia impressa
como um câncer que se espalha em metástase.
A crise já corria
solta, impetuosa, no início deste Século quando teve início o reinado do PT. Os
petistas se queixam com veemência da “imprensa golpista” que joga em seu
caminho algumas cascas de banana.
Imagino o que seriam
capazes de dizer se ela ainda operasse com a força de outrora, quando, por
exemplo, um dos grandes jornais brasileiros tinha no ABC Paulista um time
qualificado para investigar, muitas vezes, à frente da polícia. Sei disso
porque já chefiei também a Sucursal do ABC do Estadão.
Há mais de 20 anos, a
mídia impressa estava transformada num arremedo do que já foi, perdia toda a
sua estrutura e ficou sem recursos para apuração. Alguns jornais nem arremedo
conseguem ser, transformados que foram em mídias partidárias, aduladoras do
poder.
Foi o que aconteceu
inclusive com o Diário do Grande ABC, onde já trabalhei no início da carreira.
A crise anda tão brava que o Diário do Grande ABC é controlado hoje por um
“empresário” – Ronan Maria Pinto – que já foi acusado de envolvimento no caso
Celso Daniel.
Deve ter comprado a
única mídia impressa da região para defender-se de acusações como essa e também
para produzir chantagens e ameaças de porte nacional.
A sociedade
brasileira ainda vai descobrir quais segredos Ronan Maria Pinto guarda para
receber do amigo de Lula, José Carlos Bumlai, que esteve preso em Curitiba, metade do
empréstimo fraudulento obtido junto ao Banco Schahin (6 milhões de reais).
Esse dinheiro jamais teria sido repassado a
Ronan sem ordem
expressa
de Lula. Releia este artigo e conclua junto comigo: Ronan
conhece
os mandantes do assassinato de Celso Daniel e Lula sabe
que
ele sabe.
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(Toninho ao lado de Roseana)