Em 1983, eu cobri, como repórter dos
jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, as enchentes do Vale do Itajaí,
em Santa Catarina; a população do Vale, além de flagelada, estava perplexa.
Nunca ninguém tinha visto tanta chuva e tanta água represada. O rio Itajaí-Açu
que corta todo o vale subira mais de 10 metros acima da caixa.
O consenso entre as populações das cidades inundadas é que aquela inundação era única, inaugurava um novo paradigma de enchentes no Vale. Um professor da Universidade de Blumenau convidou-me, quando as águas baixaram, para um passeio pela cidade, totalmente devastada. Ele queria mostrar-me algumas coisas, como o velho aterro da ferrovia que atravessou incólume toda aquela aguaceira; estava transformado na única avenida trafegável da cidade.
A ferrovia fora construída pelos ingleses no século retrasado, quando já se trabalhava – há mais de cem anos – com a referência de uma enchente daquele porte ou até maior.
Mais recentemente, como jornalista independente, eu voltei a Santa Catarina para uma longa permanência na capital, a ilha de Florianópolis. Aos fins de semana, gostava de frequentar os restaurantes da região sul da cidade.
Num deles, havia fotos na parede – fotos aterradoras! – do mar engolindo as praias; perguntei a um garçom se sabia as razões do fenômeno e a resposta veio imediata:
- É o aquecimento global! Com o derretimento das geleiras lá no Polo Norte, a coisa está preta...
Perguntei a outro garçom, e a outro, perguntei ao dono do restaurante e todos pareciam ter uma resposta combinada: é o aquecimento global, o derretimento das geleiras no Polo Norte, etc etc...
Não tive tempo de investigar o fenômeno, passei apenas pautas para os jornais locais. A Ilha parece desconhecer aquele velho e sábio dito de que o mar um dia exige de volta o espaço que lhe roubaram. Florianópolis implantou nos últimos anos vários e extensos aterros de baías e reentrâncias para ampliar o espaço para os automóveis.
Em 1976, eu conversava com um radialista de Tubarão, ao sul de Santa Catarina, e ele me contava histórias eletrizantes da enchente avassaladora de 1975. O time de futebol local iria jogar em Recife num domingo e ele transmitiria a partida. No sábado, viajou de carro para Florianópolis onde pretendia tomar o avião para o Nordeste.
Antes das dez horas da manhã recebeu um telefonema da família que havia ficado em Tubarão. Sua mulher já lhe fazia apelos veementes para que não viajasse.
A mulher foi atendida e outro telefonema informava que ele não podia mais regressar de carro: a ponte da BR 101, único acesso à cidade, havia sido levada pelas águas do rio Tubarão. É o dilúvio, presumiu, enquanto fretava um pequeno avião para poder voltar para casa. Para desviar-se da tormenta que encobria a cidade, o pequeno aparelho, monomotor, teve de subir à altura de jatos.
Meteorologistas japoneses vieram depois estudar o fenômeno de Tubarão e constataram que o volume de chuva caído sobre a cidade foi absurdo, causado por uma série de coincidências climáticas simplesmente inacreditável. As chances de voltar a ocorrer algo assim é de uma em mais de 100 milhões, disse-me o radialista.
O consenso entre as populações das cidades inundadas é que aquela inundação era única, inaugurava um novo paradigma de enchentes no Vale. Um professor da Universidade de Blumenau convidou-me, quando as águas baixaram, para um passeio pela cidade, totalmente devastada. Ele queria mostrar-me algumas coisas, como o velho aterro da ferrovia que atravessou incólume toda aquela aguaceira; estava transformado na única avenida trafegável da cidade.
A ferrovia fora construída pelos ingleses no século retrasado, quando já se trabalhava – há mais de cem anos – com a referência de uma enchente daquele porte ou até maior.
Mais recentemente, como jornalista independente, eu voltei a Santa Catarina para uma longa permanência na capital, a ilha de Florianópolis. Aos fins de semana, gostava de frequentar os restaurantes da região sul da cidade.
Num deles, havia fotos na parede – fotos aterradoras! – do mar engolindo as praias; perguntei a um garçom se sabia as razões do fenômeno e a resposta veio imediata:
- É o aquecimento global! Com o derretimento das geleiras lá no Polo Norte, a coisa está preta...
Perguntei a outro garçom, e a outro, perguntei ao dono do restaurante e todos pareciam ter uma resposta combinada: é o aquecimento global, o derretimento das geleiras no Polo Norte, etc etc...
Não tive tempo de investigar o fenômeno, passei apenas pautas para os jornais locais. A Ilha parece desconhecer aquele velho e sábio dito de que o mar um dia exige de volta o espaço que lhe roubaram. Florianópolis implantou nos últimos anos vários e extensos aterros de baías e reentrâncias para ampliar o espaço para os automóveis.
Em 1976, eu conversava com um radialista de Tubarão, ao sul de Santa Catarina, e ele me contava histórias eletrizantes da enchente avassaladora de 1975. O time de futebol local iria jogar em Recife num domingo e ele transmitiria a partida. No sábado, viajou de carro para Florianópolis onde pretendia tomar o avião para o Nordeste.
Antes das dez horas da manhã recebeu um telefonema da família que havia ficado em Tubarão. Sua mulher já lhe fazia apelos veementes para que não viajasse.
A mulher foi atendida e outro telefonema informava que ele não podia mais regressar de carro: a ponte da BR 101, único acesso à cidade, havia sido levada pelas águas do rio Tubarão. É o dilúvio, presumiu, enquanto fretava um pequeno avião para poder voltar para casa. Para desviar-se da tormenta que encobria a cidade, o pequeno aparelho, monomotor, teve de subir à altura de jatos.
Meteorologistas japoneses vieram depois estudar o fenômeno de Tubarão e constataram que o volume de chuva caído sobre a cidade foi absurdo, causado por uma série de coincidências climáticas simplesmente inacreditável. As chances de voltar a ocorrer algo assim é de uma em mais de 100 milhões, disse-me o radialista.
Quero dizer com essas histórias que “há
mais mistérios entre o céu e a terra do que imagina a nossa vã filosofia”; acho
que a teoria do aquecimento global é reducionista e maléfica de um lado,
benéfica de outro . Benéfica porque ajuda o mundo a reduzir as diferentes
formas de poluição do ar, reducionista e maléfica porque é usada para explicar
de tudo, afastando milhões de pessoas das verdadeiras causas de certos
fenômenos sobre as quais poderiam agir. A preocupação em salvar o planeta ocupa
em certos casos todo o tempo que deveria ser empregado em salvar o rio, a
fauna, a mata, a biodiversidade.
Já disse e repito que o país que não consegue salvar seus rios, a exemplo do que aconteceu em Mariana (MG), deveria ter vergonha de dizer que deseja salvar o Planeta. Quis dizer que o país investe energia, tempo e dinheiro para estudar o aquecimento global, e não se indigna com o que aconteceu em Mariana, não na escala que teria de se indignar.
A
Samarco, a grande responsável pela tragédia de Mariana, é claro, não pode
continuar minerando no Brasil. É hora de cassarmos sua outorga de mineração
antes que ela provoque mais um desastre. Assine o abaixo-assinado:Já disse e repito que o país que não consegue salvar seus rios, a exemplo do que aconteceu em Mariana (MG), deveria ter vergonha de dizer que deseja salvar o Planeta. Quis dizer que o país investe energia, tempo e dinheiro para estudar o aquecimento global, e não se indigna com o que aconteceu em Mariana, não na escala que teria de se indignar.
(Enchentes do
Vale do Itajaí, em 1983 - Santa Catarina)
(Casa derrubada pela força do mar, Praia da Armação - Florianópolis)
(Enchente em Tubarão SC – 1975)
(Tragédia em Mariana causada pela Samarco – 2015)
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