A paisagem era dividida em duas partes distintas, lá em frente às Quedas várias pedras enormes pareciam espreitar as águas que não paravam de chegar lá do alto, se apertarem para poder caber no canal que as levaria embora; pescadores do lugar contam que antes do início das obras de Itaipu, era comum jogarem ali naquele ponto linhadas da grossura de um dedo e saírem de perto; quando um daqueles peixes enormes ferrava uma das linhadas, ela podia esticar até arrebentar; se arrebentassem voltavam-se contra quem arremessou com violência letal. Disseram que já foram retirados da boca do canal jaús com mais de 300 quilos. Devagar, Itaipu acabou com a festa.
Aliás, quando ali estivemos, os peixões já haviam desaparecido; Itaipu, 200 quilômetros abaixo do ponto onde estávamos, começou a construir um canal de desvio do Paranazão muito mais estreito que o canal natural. Nele, as águas se apertaram de tal modo que os peixes, que vinham lá debaixo, do Paraguai, não estavam conseguindo vencer a pressão. Vinham e voltavam.
Conto em reportagens anteriores à inundação que os peixes em piracema faziam uma festa ali em Guaíra, eles chegavam aos milhares nos pés das Quedas, mas eram um obstáculo alto demais para ultrapassarem pulando, de modo que a população da cidade se mobilizava, pegava os peixes com as mãos e os levava em baldes para além das Quedas. Voltei a Guaíra algumas vezes depois da inundação; a cidade, hoje, lembra um cemitério das minhas lembranças, tudo muito triste.
Ainda abaixo das Quedas, bastava descer um pouco acompanhando o canal para nos deslumbrarmos com mais belezas naturais; as pedras das bordas do canal ficaram pretas, mas de um negro que resplandecia com o sol; e um córrego de águas cristalinas cismou de encontrar-se com o turbulento Paranazão, formando uma cascata sobre o negro reluzente das pedras.
Tiramos a roupa do Eli e o levamos, embaixo do calorzão da fronteira, para tomar um belo banho naquela cascata, condenada ao desaparecimento. Quando via as fotos do meu filho (infelizmente desaparecidas) se esbaldando de felicidade embaixo daquelas águas cristalinas sentia vontade de chorar.
(Peixe em piracema subindo um rio aos pulos)
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