06/11/2014

Meus amigos da bocha

        João Vitamina, Cláudio Seleiro e Rodrigo Mesquita, ele mesmo, um dos herdeiros do Estadão, vieram me visitar entre a penúltima sexta-feira e o domingo. São hoje o que eu chamo de “amigos da bocha”.
        Vitamina é uma figura engraçada, tem sempre uma piada nova para contar. Desta vez, por exemplo, contou-nos a “história do melhor vendedor do mundo”, que foi contratado por uma grande loja de departamento de São Paulo. Após o primeiro dia de trabalho, o gerente de vendas promoveu uma reunião com os vendedores; quis saber o valor de todas as vendas e quantos clientes cada um havia atendido naquele dia; o primeiro revelou que havia atendido 40 clientes e atingido um total de 200 mil reais em vendas; o segundo havia atendido 45 clientes e vendido um total de 160 mil em mercadorias; e assim foi, seguindo todos o mesmo padrão.
        Havia grande expectativa na reunião em conhecer o resultado alcançado pelo “melhor vendedor do mundo”. Quando chegou a vez dele a estupefação foi geral - ele, imaginem, havia atendido apenas UM cliente :
- Mas como é possível, o melhor vendedor do mundo passa o dia inteiro e atende apenas um, UM, cliente!? Eu ouvi mal ou foi isso mesmo!!!??? - esbravejou o gerente.
- O senhor ouviu direitinho. Peguei apenas um cliente e passei o dia vendendo coisa pra ele.
- Está bem, está bem ! Agora podemos saber qual o valor total de suas vendas ?
O melhor vendedor do mundo quase derruba de costas todos os seus colegas :
- Tá aqui nas notas, deu um total de 16 milhões e 440 mil reais.
- PQP! - exclamaram todos ao mesmo tempo.
- Foi isso mesmo que vocês ouviram. Deu pouco mais de 16 milhões de reais, reagiu o melhor vendedor do mundo.
- Pois então conta aí o que foi que você vendeu pra ele para dar esse valor astronômico, pediu o gerente.
Sentaram-se todos diante do “melhor” e ouviram, silenciosos, curiosos:
- Comecei pelos anzóis, pois ele disse que ia pescar no fim-de-semana; em seguida, vendi um monte de carretilha, de todos os tamanhos. Como ele disse que ia pescar em alto mar, vendi aquele barcão para mais de doze passageiros; e tem mais, vendi também uma caminhonete três por quatro para levar o barco pra praia; vendi ainda lona pra cobrir o barco. Só de repelente para mosquito ele levou uma sacola cheia... somando tudo...
- Maravilhoso, espetacular, quer dizer que o cara entrou na loja para comprar um anzol  e você empurrou todas essas coisas para ele ? - disse o gerente, estupefato.
- Não foi bem assim. Na verdade, ele entrou na loja para comprar um absorvente feminino e eu lhe perguntei – Quem está menstruada, sua esposa?-  Ele respondeu afirmativamente.Foi quando eu lhe sugeri:- Olha cara, já que seu fim-de-semana foi pro espaço, porque você não vai pescar?
        Rimos bastante. Sobrou muito tempo para falarmos da bocha, relembrarmos histórias vividas juntos, pequenas viagens nas disputas do campeonato metropolitano, etc. etc. etc. Os dois – Vitamina e Seleiro – vêm em casa com frequência. Quando se ausentam por muito tempo, reclamo pelo meu Blog.
        Rodrigo Mesquita é mais constante. A família dele tem um casarão de lazer perto da minha casa. Sempre que Rodrigo vem para o casarão, passa em casa. Há sempre muitos assuntos para tricotarmos – o desenvolvimento da Internet (Rodrigo acompanha esse tema como nenhum outro no Brasil); a crise na mídia escrita, motivo de preocupação permanente de um dos herdeiros do Grupo Estado; eleições, pois faltavam ainda duas semanas para fechar o segundo turno e o caldeirão estava fervendo;  a conversa gira, gira e termina sempre na...bocha.
        O casarão da família Mesquita fica num terreno muito acidentado e a cancha de bocha foi erguida no alto de uma colina. Subir até ela é quase um exercício de rapel. Cada vez que Rodrigo me visita, discutimos  mais uma etapa do plano de me levar, eu e minha cadeira de rodas, lá para cima, na cancha de bocha, cuja construção eu ajudei a definir. Grandes momentos da minha vida passei lá em cima, respirando ar puro, comendo um bom churrasco, admirando a paisagem ornamentada por uma piscina de águas azuis circundada por imponentes palmeiras imperiais.  E o mais importante: tudo no convívio dos amigos.



(Imagem da cancha de bocha na chácara de Rodrigo Mesquita)

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