08/10/2014

Uma gerente para as coisas do ALÉM - (1 de 5)

       Algumas semanas depois de eu haver sofrido o AVC, meus filhos contrataram uma enfermeira - Edilene, mineira de Porteirinha, torcedora fanática do Cruzeiro - para ajudar minha mulher a cuidar de mim. Era gordinha, alegre, faladeira e tinha um grande senso de humor. Quando chegava em casa eufórica, já sabíamos: o Cruzeiro havia ganhado mais uma. Aliás, o time deu a ela muitas alegrias naquele ano - 2013.
       Passávamos o tempo conversando no meu quarto, um contando histórias para o outro. Um dia ela me conta que, antes de começar a trabalhar comigo, havia feito várias entrevistas com os filhos de uma mulher que estava hospitalizada em Valinhos. A missão seria cuidar dessa paciente. Saiu da última entrevista com a certeza de que fora aprovada e seria chamada para iniciar o trabalho dali a três dias:
    - O prazo venceu e cadê que me chamam? Fiquei até irritada com a família. Deixei passar uns quatro dias e resolvi ligar para saber o que havia acontecido. É lógico que não podiam ter-me chamado: a paciente havia morrido.
       Aí resolvi brincar com a engraçada Edilene:
    - Já pensou se ela, a morta, liga e ...
       Na mesma hora,  Edilene, com uma das mãos imita estar recebendo uma ligação pelo “celular” e “conversa” com a morta:
    - Alô, quem fala? Dona Fulana, o que a senhora deseja?
    - Vem me ver, Edilene.
    - Onde a senhora está, dona Fulana?
    - Estou no inferno, Edilene.
        No mesmo instante, ainda rindo, meu filho Ives, que ouvira toda a história, desde o começo, diz para Edilene, interpretando também a falecida:
     - Parabéns, Edilene. Você acaba de ser promovida: vai cuidar agora do nosso departamento do Além!
     - Deus me livre!, reagiu Edilene.
     Contei essa história para o pessoal reunido na copa do sétimo andar do Lucy Montoro e todos ali deram boas risadas.



(Desenho de um fantasma com um celular)

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