Meu voto a deputado estadual será numa candidata da região de Campinas, onde moro, que se tornou paraplégica durante um acidente automobilístico aos 19 anos de idade. Eu já a conhecia como diretor do jornal Gazeta Mercantil em Campinas, quando promovi vários projetos de cunho ambiental e social e ela, Célia Leão, os apoiou com entusiasmo.
Ela sempre me foi muito simpática como política, mas minha decisão de votar nela se deu lá dentro do Instituto de Reabilitação Lucy Montoro, em SP, onde estive internado por duas vezes. Soube lá dentro que ela foi decisiva na internação de um garoto – Roger, 21 anos- que ficou paraplégico após um acidente na piscina de um clube em SP. Foi atendido por um hospital público da cidade, onde recebeu alta sem a realização de uma cirurgia que os fisiatras (a fisiatria é uma especialidade médica nova, que surgiu no curso do desenvolvimento do moderno tratamento das lesões medulares e todas as suas implicações) do Instituto Lucy Montoro consideravam indispensável para que Roger desse início à reabilitação. O hospital público se recusava a fazer a cirurgia. Foi a deputada que removeu a resistência, sinônimo da mais pura crueldade. Quando conheci Roger ele já havia realizado a cirurgia, estava internado no Lucy Montoro, onde deu início à reabilitação com um grande potencial de melhora. Sonhava então com a possibilidade de poder concluir o curso de arquitetura que foi obrigado a abandonar após o acidente.
Para deputada federal terei desta vez um imenso prazer em votar, pela primeira vez, em Mara Gabrilli. A decisão nada tem a ver com minha condição de cadeirante. Foi algo natural ao descobrir a revolução que esta mulher empreendeu na abertura e expansão de um tema que já me era caro e agora, diante da minha nova condição, tornou-se mais caro ainda- a acessibilidade urbana. Mara fez uso de sua condição de tetraplégica para despertar as atenções da sociedade para uma discriminação típica brasileira: a expansão, o crescimento e até mesmo a implantação de cidades inteiras ignorando a existência dos diferentes- hemiplégicos, paraplégicos, tetraplégicos, cegos, surdos, autistas, portadores de albinismo, de qualquer doença de cunho neurológico, enfim todas aquelas milhares e milhares de pessoas que têm alguma restrição de acesso.
Todos devemos muito a essa linda mulher que se tornou tetraplégica num acidente do carro que dirigia a caminho do litoral norte de São Paulo. Ela parece movida a energia solar, não para, não descansa. Começou sua vida pública como vereadora em São Paulo, assumiu depois um cargo criado especialmente para ela na Prefeitura da cidade - secretária da acessibilidade. Quem a nomeou, o então prefeito José Serra, não se arrependeu: ela produziu o que pode ser chamado de revolução de acessibilidade no transporte coletivo. Mais do que obras, ela propagou o conceito e levou toda a grande cidade a refletir sobre a inclusão.
Logo em seguida, elegeu-se deputada federal e, em Brasília, enxergou problemas de acesso até na rampa- famosa rampa- do Palácio do Planalto. Como deputada ela está por trás de toda a legislação que inclui e protege os deficientes no sistema de Saúde e Previdenciário. Olha, quem quiser conhecer melhor o que ela guarda para o seu segundo mandato como deputada federal precisa ligar para seu comitê em SP (11-3052 3913) ou escrever para ela (informativo@maragabrilli.com.br) e pedir suas propostas para o segundo mandato. E se preparar para ficar deslumbrado, assim como eu fiquei.
Para Senador, meu voto vai para José Serra, de quem me tornei eleitor cativo depois de sua magistral gestão no Ministério da Saúde.
Para governador, seria injusto se não votasse em Geraldo Alckmin. Moro em Vinhedo, uma cidade da região de Campinas com cerca de 75 mil habitantes.
É de uma cidade assim e de uma região assim que os cidadãos têm uma visão mais objetiva da qualidade dos serviços públicos: nas mãos de Geraldo Alckmin, os serviços públicos estaduais funcionam muito bem e não sinto que eles poderiam evoluir nas mãos de seus adversários. Um dos grandes problemas de São Paulo é água. Houve sim negligência governamental frente ao assunto. O susto que São Pedro aplicou na moçada em 1914 deve ter sido suficiente para Alckmin e sua tropa acordarem.
Bom, o enigma é o voto para presidente. Ainda sou um eleitor indeciso.
Lamento que nenhum dos candidatos a presidente, nenhum, nem mesmo os nanicos, enxergue com mais clareza qual é o grande nó ambiental do Brasil. Acho que esse nó está em Angra dos Reis, onde uma a uma vão instalando usinas nucleares. Não adianta preservar o mico-leão-dourado. Uma hora qualquer uma daquelas usinas explode e vai tudo pelos ares—mico-leão, tartaruga marinha, onça pintada, parda, branca ou cor-de-rosa, vai tudo pelos ares, inclusive as rotativas e os geradores de uma mídia que, salvo honrosas exceções, não combate com severidade a energia nuclear e as enormes ameaças que ela representa. Pois bem, o meu candidato a presidente gostaria que fosse aquele que se manifestasse entusiasticamente contra a energia nuclear, até porque, José Goldenberg, o mais importante físico nuclear do Brasil já disse em alto e bom som que o país não vai precisar dela. Tenho inclusive uma proposta para quem quiser agir: cancelar no Congresso Nacional todas as iniciativas que impulsionaram o assunto. Fechar e lacrar as usinas já implantadas e usar uma delas como depósito do lixo radioativo (toneladas e mais toneladas) até agora acumulado.
(Uma foto de Célia Leão e outra da Mara Gabrilli)
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