A vida não tem
sido nada fácil para Nilton, um pequeno empresário do setor gráfico que
acompanhou seu filho, Rafael, como cuidador, numa primeira internação no Lucy
Montoro, Morumbi, São Paulo. Rafael é um moço de 35 anos, alto, forte. Era
lutador de Taekwondo. Fez um exame cardíaco que apontou um problema grave a
sugerir que ele deveria parar de lutar. O que fez? Talvez por amor ao esporte,
não se sabe, escondeu o problema do pai e da esposa e continuou a vida de
atleta como se não soubesse de nada.
Era sábado e Rafael foi participar de uma competição no ginásio de esportes de São José dos Campos. O previsível então aconteceu: Rafael teve uma parada cardíaca durante a luta; foi colocado numa ambulância e, a caminho do hospital, faltou oxigênio (maldita imprevidência brasileira) e Rafael teve severa lesão cerebral que depois de muitos meses ainda o mantém dependente de terapia intensiva e de um cuidador para se alimentar, fazer as necessidades fisiológicas, guiá-lo em caminhadas curtas, para onde quer que vá. Seu maior problema é o cérebro, que acorda lentamente e responde com lentidão aos estímulos. Após semanas de internação, a melhora ainda é muito tímida para desespero do pai.
Rafael é filho único. Na minha primeira internação fiquei num quarto em frente à copa do sétimo andar. Antes do almoço e do jantar era só olhar para a copa e ver os dois, pai alimentando o filho, colher a colher, para depois ele, pai, poder tomar também a sua refeição. Às vezes Nilton se desesperava:
- Rafael, levanta a cabeça, levanta a cabeça, levanta a cabeça, lev...
Ficava muitas vezes irritado e não conseguia perceber que o filho fazia progresso. Um dia Nilton repetiu umas cinco vezes o pedido - levanta a cabeça - e Rafael continuou de cabeça apontada para o chão. Em seguida foi Nilton que derrubou sua cabeça, irritado e desanimado. Nesse instante, revelando ter preservado o senso de humor, Rafael levanta a cabeça e ordena ao pai: - Levanta a cabeça! - E quase ao mesmo tempo olha para mim que sentara ao lado dos dois e dá, junto comigo, uma sonora gargalhada. Foi muito engraçado.
Ainda não faz cinco anos que Nilton perdeu a esposa, de um mal cardíaco. Eu tive de sair do Lucy antes dos dois. Era visível que Nilton se estressava cada dia mais. Outro dia liguei para Nilton. Queria notícias do pai e do filho. Ambos vão bem. O pai pareceu-me mais conformado com a lentidão da recuperação do filho. O Lucy Montoro quis propiciar uma nova internação de Rafael, o pai preferiu esperar mais uns meses pela evolução do tratamento cardiológico e neurológico. “Acho que voltaremos ao Lucy no começo do próximo ano” disse Nilton, sem esconder a alegria pelo meu telefonema.
Era sábado e Rafael foi participar de uma competição no ginásio de esportes de São José dos Campos. O previsível então aconteceu: Rafael teve uma parada cardíaca durante a luta; foi colocado numa ambulância e, a caminho do hospital, faltou oxigênio (maldita imprevidência brasileira) e Rafael teve severa lesão cerebral que depois de muitos meses ainda o mantém dependente de terapia intensiva e de um cuidador para se alimentar, fazer as necessidades fisiológicas, guiá-lo em caminhadas curtas, para onde quer que vá. Seu maior problema é o cérebro, que acorda lentamente e responde com lentidão aos estímulos. Após semanas de internação, a melhora ainda é muito tímida para desespero do pai.
Rafael é filho único. Na minha primeira internação fiquei num quarto em frente à copa do sétimo andar. Antes do almoço e do jantar era só olhar para a copa e ver os dois, pai alimentando o filho, colher a colher, para depois ele, pai, poder tomar também a sua refeição. Às vezes Nilton se desesperava:
- Rafael, levanta a cabeça, levanta a cabeça, levanta a cabeça, lev...
Ficava muitas vezes irritado e não conseguia perceber que o filho fazia progresso. Um dia Nilton repetiu umas cinco vezes o pedido - levanta a cabeça - e Rafael continuou de cabeça apontada para o chão. Em seguida foi Nilton que derrubou sua cabeça, irritado e desanimado. Nesse instante, revelando ter preservado o senso de humor, Rafael levanta a cabeça e ordena ao pai: - Levanta a cabeça! - E quase ao mesmo tempo olha para mim que sentara ao lado dos dois e dá, junto comigo, uma sonora gargalhada. Foi muito engraçado.
Ainda não faz cinco anos que Nilton perdeu a esposa, de um mal cardíaco. Eu tive de sair do Lucy antes dos dois. Era visível que Nilton se estressava cada dia mais. Outro dia liguei para Nilton. Queria notícias do pai e do filho. Ambos vão bem. O pai pareceu-me mais conformado com a lentidão da recuperação do filho. O Lucy Montoro quis propiciar uma nova internação de Rafael, o pai preferiu esperar mais uns meses pela evolução do tratamento cardiológico e neurológico. “Acho que voltaremos ao Lucy no começo do próximo ano” disse Nilton, sem esconder a alegria pelo meu telefonema.
(Imagem de luta de Taekwondo)
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