Especial
Era criança ainda e não tenho a memória daquela
derrota da seleção brasileira para o Uruguai. Foi no Maracanã num domingo, 16
de julho de 1950. Ficou conhecida, a partida, como maracanaço.
Tenho a impressão que a partida contra a Alemanha
em que a seleção brasileira neste inesquecível 8 de julho de 1914 foi derrotada
por 7 a 1 passará para história como mineiraço, pois aconteceu no estádio de
Belo Horizonte conhecido por Mineirão.
Maracanaço e mineiraço foram travados num clima
comum: uma certa soberba acompanha a seleção brasileira desde aquela época e
parece não ter tempo para desaparecer, aliás, recrudesce a cada ciclo de quatro
anos quando somos obrigados demonstrar porque nos chamam de a pátria de
chuteiras e porque conquistamos cinco – eu disse cinco – títulos mundiais.
Ainda não havíamos conquistado nenhum em 1950,
mas era como se tivéssemos 100 deles na prateleira a concluir pelo tom ufanista
da mídia e dos políticos convidados a discursar nos grandes eventos da Copa -
discursavam sem maiores preocupações, pois naquela época o povo ainda não havia
aprendido a vaiar.
A soberba introduz o clima do “já ganhou” e este
traz a tira-colo sua amiguinha de sempre: a negligência, aquilo que o "populacho" resolveu chamar sabiamente de “chuteira alta”. Se prestarmos atenção vamos
notar que essas coisas foram a marca da seleção brasileira em toda esta Copa do
Mundo. A soberba era expressa até na frase cravada nas laterais do ônibus usado
pela seleção brasileira para os deslocamentos internos no Brasil: preparem-se,
o hexa está chegando. Em outras palavras: mais esse título mundial não será
alvo de conquistas. Fiquem todos em seus lugares que o hexa chegará até vocês. Oxalá
essa derrota de sete a um e depois outra por três a zero, para a Holanda, reponham
as coisas no seu devido lugar.
A soberba não esteve sozinha. Ela se aninhou no
espírito de cada jogador em companhia de uma falta de experiência e uma falta
de carisma nunca antes observada numa seleção brasileira. Quem assistiu à serie
de Tino Marcos , repórter da Tv Globo, com um perfil dos convocados por Felipão,
sentiu vontade de levar aqueles meninos para casa e terminar de criá-los. Digo bem, terminar. A série exaltava as virtudes e nem se referia
à imaturidade, sobretudo para lidar com a responsabilidade ”monstruosa” que é
jogar uma Copa do Mundo representando a pátria de chuteiras, para cuja população
perder é pecado mortal e perder de goleada é crime hediondo e inafiançável.
Deu tudo errado e nem os mais experientes “boleiros”, contratados como
analistas pelas duas emissoras de televisão que transmitiram os jogos da
Copa, conseguiram prever o desastre que a cada dia ficava mais previsível. A
imaturidade da seleção brasileira foi escancarada quando o capitão – eu disse o
Ca-pi-tão - Tiago Silva pedia para ficar de fora da lista de cobradores de
pênaltis contra a Colômbia. Casagrande, um dos “boleiros” a serviço da Globo, deu
a entender que enxergava a catástrofe iminente, mas preferiu subir no muro,
ficar no jogo de insinuações, sem coragem de disparar de sua tribuna poderosa
um alerta veemente. Não adiantaria muita coisa, mas o comentarista teria hoje
mais condições de justificar seu alto salário e a fidelidade de seus muitos
admiradores.
(foto do ônibus da seleção brasileira com a frase citada no texto)
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