Lula ou seja lá quem for o
candidato dos partidos de oposição vai enfrentar um osso duro de roer na
campanha de 2018: o osso chama-se João Doria, é prefeito da maior cidade da
América Latina e uma das maiores do mundo, São Paulo; é paulistano, sagitariano
e tem 58 anos de idade; muitas virtudes e nenhum defeito aparente; ficha limpa,
comunicador excepcional, bem relacionado com lideranças empresariais do país,
memória prodigiosa, o que mais?
Em resumo, é o candidato que todos
os partidos, sem exceção, gostariam de ter para lançar na campanha que se
avizinha num clima de convulsão política!
Mas, afinal, quem é João Dória?
Antes de ser político, é um comunicador e, como tal, ganhou dinheiro, se
enriqueceu – tinha uma empresa de eventos e marketing. Organizava excursões
internacionais e levava empresários – os mais proeminentes – para convescotes
no exterior. E ele ia junto, criando uma portentosa network: entre os grandes
líderes empresariais de todo o país, não há um só que não o conheça. É por isso
que sua administração em São Paulo já nasceu com vigoroso apoio das empresas.
Sua empresa criou ainda um fórum
para reunir empresários e discutir os problemas da economia brasileira. O fórum
alimentava seu programa de televisão semanal com entrevistados de todos os
calibres e de todos os segmentos; pessoas que se destacavam na atividade
empresarial, na esportiva, nas passarelas da moda tinham espaço garantido em
seu programa de TV para entrevistas competentes, pois o entrevistador nadava de
braçada em quase todos os assuntos. E se preparava para entrevistar...
Outras marcas de João Doria,
popularizadas em sua enorme rede de contatos, são seu gosto pelo trabalho – é
um exemplar típico do que chamam de workaholic – sua pontualidade e o rigor na
cobrança de responsabilidades de seus colaboradores... Levanta cedo, estica ao
máximo seu tempo de trabalho e cobra, com elegância e rigor, quem desafina... Folgou
com ele é demissão na certa, como aconteceu, recentemente, com a amiga Sônia
Francine, representante de um partido aliado, o PPS. Nomeada secretária do
Desenvolvimento Social, a própria Soninha, como é conhecida em São Paulo,
admitiu que falhara no exercício da função. Foi demitida pelo prefeito ao vivo
e em cores frente a câmeras de TV.
O AMIGO, UM SÁBIO
Ah, não poderia deixar de
mencionar um dos quadros de seu programa de TV: a fala de seu amigo Luiz
Marins, antropólogo e um dos consultores empresariais mais brilhantes do país
(eu já assisti a uma de suas palestras, em Curitiba, há quatro anos: foi um dos
eventos mais instrutivos que já presenciei na vida).
Não é difícil imaginar qual deve
ser seu desempenho nas eleições de 2018 (Já parece certo que as lideranças
todas do seu partido, o PSDB – Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra –
seriamente implicadas na Lavajato se afastarão para abrir passagem para ele).
Eu zapeava na frente do televisor
e percebi que ele era entrevistado,
parei e vi com atenção. O entrevistador era ninguém menos que o Ratinho, o
ícone dos programas populares do SBT.
Impossível mudar de canal, suas
palavras cortam como lâmina e ele parece retirar da boca de cada um de nós as
palavras que gostaríamos de dizer...
Era visível tratar-se de uma
daquelas entrevistas “arranjadas” pela alta direção da emissora... Como a
Polícia Federal investiga o ainda misterioso caso da venda do Banco
Panamericano por Sílvio Santos para o BTG Pactual, o SBT vive neste momento
mais um surto de puxa-saquismo explícito...
Ainda assim, João Dória mostrou
porque vai ser um osso duro de roer em 2018:
- Comunicador excepcional:
linguagem direta, objetiva e clara. Frases curtas, sempre na ordem direta, não
usa nenhum dos termos empregados rotineiramente por seu padrinho Geraldo
Alckmin e que obrigam os telespectadores a recorrer a dicionários.
- Memória prodigiosa, relembra
números, datas, leis... ”Até 2020, São Paulo terá 10 mil câmeras vigiando ruas,
avenidas e praças...” E é exatamente isso que aparece no Google e mais: o
número – 10 mil – será atingido porque empresas que já implantaram câmeras de
vigilância aceitaram o pedido do prefeito para conectá-las ao sistema municipal...
- Um recorde na Saúde: ao pegar a
prefeitura das mãos do petista e amigo do Lula, Fernando Haddad, havia nada
menos de 600 mil consultas em atraso no sistema público... Pois bem, depois de
pedir e conseguir a colaboração de todos os grandes e famosos hospitais de São
Paulo – Albert Einstein, Beneficência Portuguesa, etc. etc. – João Doria zerou
essa vergonhosa conta em 82 dias de gestão: “Já acabamos com a fila das
consultas e mais: milhares de pessoas foram atendidas em hospitais de ricos e
que nos cobram preço do SUS”, diz com justo orgulho.
- Pichação é crime... Quem
circulou de carro ou de ônibus pelas ruas de São Paulo nos últimos tempos deve
ter ficado horrorizado com as pichações, em todas as paredes, em todos os
muros, em todos os monumentos... São Paulo vinha carregando essa sujeira
obstinadamente... Ao desfraldar o lema “pichação é crime”, Dória, aliado à
Câmara de Vereadores, decretou guerra aos pichadores e começa a vencê-la! “Pela
lei recentemente aprovada pela Câmara, o indivíduo que for flagrado na primeira
pichação leva multa de R$ 4 mil; no segundo flagrante, a multa dobra, sem
contar as prisões... Já somos a administração que mais prendeu pichadores na
história de São Paulo”.
COMPREENSÃO FINA DOS PROBLEMAS URBANOS
- Lixo & Enchentes... Outro
horror típico de São Paulo são as calçadas transformadas em depósito de lixo...
O prefeito disserta com clareza sobre as consequências de mais esse crime
contra a cidade: “A água da chuva arrasta o lixo para bueiros e galerias e tudo
vai entupindo... Com certeza, grande parte das enchentes é causada por esse
lixo... Aumentamos substancialmente a fiscalização e ampliamos também
substancialmente o número de câmeras de vigilância... Serão dez mil câmeras em
2020... Não demora muito, saberemos identificar os infratores...”
- Um prefeito-fiscal... Sem
avisar, ele desembarca em escolas, postos de saúde e outros equipamentos públicos...
Vistoria tudo, adverte com energia e elegância quando encontra negligência ou
omissão, identifica problemas e dali mesmo, pelo celular, busca soluções; se
tudo estiver em ordem, reúne toda equipe responsável e distribui elogios e
parabéns... ”Agora mesmo, a caminho daqui, visitei um posto de saúde... Gostei
de tudo o que vi... Elogiei muito, médicos, enfermeiros, equipes de apoio...”
-
Doou a entidades de apoio social todos os salários que recebeu como
prefeito – valor bruto de R$ 24 mil, R$ 17,4 mil, com descontos de praxe – e
promete fazer o mesmo com todos os salários que receberá até o final do
mandato: “...não estou na política pra ganhar dinheiro, estou na política para
servir o público, sou um servidor público, gosto do que faço !
Sua casa em São Paulo – dizem –
vale mais de 50 milhões de reais... O valor foi usado por Lula pra dizer às
vésperas das eleições:
- Não acredito que São Paulo vai
eleger um homem que mora numa casa que vale mais de 50 milhões...
Doria soube e fuzilou: “Vale mais
de 50 milhões, mas eu a comprei com meu dinheiro... Falas pro Lula que eu vou
visitá-lo em Curitiba...”
São Paulo o elegeu em primeiro turno
e, pelo que revelam as últimas pesquisas, está muito satisfeita com ele: em
fins de março já tinha 70% de aprovação!
"Implicada na Lava
Jato, a cúpula tucana - Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin - já começa
abrir alas para a passagem de João Dória (acima)"